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A categoria de juventude, assim como todas as categorias instituídas no imaginário social, pode ser compreendida como parte constitutiva da “lógica conjuntista- identitária”. Segundo Castoriadis (1986), a lógica conjuntista-identitária é um conjunto de elementos com funções definidas e determinadas pelos fatores socio-históricos. Uma vez ligado ao socio-histórico, esse elemento (categoria) sofre significativas transformações à medida que a própria sociedade se modifica com o passar dos anos. Por isso, é complexo estabelecer uma definição que seja capaz de abranger todas as significações sociais, culturais e históricas do “ser jovem”.

De acordo com o senso comum, a juventude é a fase intermediária entre a infância e a vida adulta, caracterizando-se por significativas modificações biopsicossociais. O seu início é marcado por alterações físicas e hormonais com influência psíquica (alterações físicas e hormonais com repercussões psíquicas) e o fim, por transformações de âmbito social (entrada no mercado de trabalho, responsabilidade com encargos cívicos, constituição da própria família e ingresso no ensino superior).

Não é apenas difícil determinar um conceito para a categoria juventude. Outro ponto polêmico capaz de gerar discussões é a determinação da faixa etária. Segundo o Plano Nacional da Juventude (PNJ) 21·, o jovem é o indivíduo que se encontra na faixa etária entre 15 a 29 anos. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), jovem é o aquele que se encontra entre 12 a 18 anos. Por isso, o amparo judicial é até os 18 anos. Salvo algumas exceções, o sujeito de até 21 anos consegue usufruir dos benefícios estabelecidos pela lei (ECA). Já a UNESCO considera jovem a pessoa entre 16 a 25 anos. E a OMS (Organização Mundial de Saúde) define o período entre 10 a 20 anos. Diante dessa discordância quanto à faixa etária, este Trabalho utilizará o termo para nomear os sujeitos entre 14 a 17 anos que representam o corpus desta Pesquisa.

Historicamente, a juventude passou por várias transformações. Na antiguidade, os jovens assumiam responsabilidade com as tarefas ligada à prática da cidadania. Em Atenas, por exemplo, os jovens do sexo masculino, maiores de 18 anos, freqüentavam um “noviciado cívico” de preparação moral e religiosa com o objetivo de

21 É o conjunto de políticas públicas e medidas que beneficiam os jovens brasileiros entre 14 a 29 anos. O PNJ

foi elaborado pela Comissão Especial da Juventude. O Plano estabelece como prioridade erradicar o analfabetismo juvenil, oferecer bolsas de estudo e alternativas de financiamento aos jovens com dificuldades econômicas, manutenção e permanência no ensino superior, incentivo e empreendedorismo juvenil e ampliação de programas de incentivo ao primeiro emprego. Em 2006, o PNJ teve parecer aprovado e aguarda votação em plenário.

exercer, plenamente, – quando adulto – sua cidadania. Também em Roma, o jovem auxiliava os mais velhos durante os combates e participava das assembléias políticas, cabendo-lhe o direito ao voto. As mulheres jovens, tanto em Atenas quanto em Roma, dedicavam-se em aprender as tarefas domésticas, preparando-se para um futuro casamento. Nessa época, a transição de uma fase para a outra, era ritualizada e, por isso, as funções sociais eram bem definidas. No entanto, a modernidade causou alterações no mundo do trabalho que, consequentemente, influenciaram no modelo de família. Também durante essa época, surgiram inúmeras teorias pedagógicas com a finalidade de compreender o desenvolvimento humano e melhorar a formação daqueles sujeitos que ainda não haviam ingressado na vida adulta. Dessa forma, o jovem passou a permanecer mais tempo na escola, afastado das responsabilidades com o trabalho (mundo adulto) e distante da família, fator que contribuiu para o aparecimento e fortalecimento da classe jovem. Dessa forma,

Morin (1977) lembra que a juventude, por não ser uma categoria antropologicamente e sociologicamente definida, só pode existir nas sociedades em que a transformação da criança em adulto não ocorre de forma brusca, mas sim de maneira gradativa, desenvolvendo-se num espaço de cultura e de história que não pertencente ao universo infantil e nem a vida adulta (ibid. p. 137). Esse crescimento gradativo é marcado por mudanças que vão desde a maturação sexual até o desejo de tornar-se autônomo, ficando evidente a necessidade de romper com os limites estabelecidos pela família e pela comunidade e buscar dentro de si referências que o possibilite construir sua própria identidade. No entanto, ao mesmo tempo em que procura se libertar dos ideais da família, compactua com o pensamento de um novo grupo, os amigos. De acordo com psicólogo e sociólogo Jean Piaget22, a partir dos 12 anos, o indivíduo encontra-se com todas as suas

habilidades cognitivas em pleno funcionamento. Tal fato colabora para o desencadeamento de reflexões sobre a sua existência, estimulando a construções de projetos para o futuro. Porém, o dualismo entre o amadurecimento do corpo e o amadurecimento psicológico causa, frequentemente, susceptibilidade à instabilidade emocional, desencadeando alguns problemas que podem levar ao consumo de drogas, doenças psíquicas, distúrbios alimentares (como anorexia e bulimia) e, na grande maioria das vezes, a compulsividade por aquisição de produtos propagados pelos media.

22 Jean Piaget dedicou-se a estudar o desenvolvimento humano a partir do processo de aprendizagem. Segundo o

teórico, a aprendizagem ocorre por meio de dois princípios básicos: a assimilação e a acomodação. A teoria piagetiana influenciou muitos autores, entre eles destaca-se Jürgen Habermas, no campo da teoria da comunicação e na área da pedagogia, campo fértil de propagação dos estudos de Piaget, um nome de destaque é de Emília Ferreiro.

Tanto para Piaget quanto para Vigostki23, o processo de maturidade está

subordinado as significações sociais. Diante desse aspecto é possível entender o motivo pelo qual a ação da juventude na sociedade mudou com o passar dos anos. Durante a modernidade, os jovens eram preparados para trilhar o caminho estabelecido pelos pais. As jovens do sexo feminino preparavam-se para se tornarem “esposas”. Saiam do controle dos pais para o convívio submisso ao lado dos maridos. Os homens jovens, por sua vez, aprendiam o ofício do pai e, de acordo com o poder aquisitivo, saiam de casa para estudarem em faculdades situadas nas capitais. Já a pós-modernidade, como estudado no capítulo I, traz consigo consideráveis transformações, dentre elas, o aparecimento da juventude cética. Diante dos horrores da guerra, o idealismo caiu por terra e os sonhos perderam o encanto. Os jovens passaram a “enxergar” o futuro com desconfiança. Mas, mesmo assim, a juventude queria reconstruir a história, resgatando os seus ideais. Nas décadas de 50, 60 e 70, os movimentos juvenis24 atingiram o seu ápice de contribuição política e social através de atitudes de caráter

revolucionário.

Na ânsia de reescrever a história, apagando o passado sangrento, os jovens tornaram-se alvo fácil dos media que, naquele período, surgiam propagando uma nova utopia, a reconstrução do mundo destroçado. Os mass media conseguiram se infiltrar e se fortalecer no imaginário social persuadindo os jovens através de seu discurso de vanguarda democrático. Diminuindo a distância entre as culturas, possibilitando o livre acesso de tudo aquilo que, antes, pertencia ao mundo do adulto: a violência, o erotismo, os comportamentos controversos etc. (BARBÉRO, 1998, p. 28); quebrando as hierarquias por meio de ações anarquistas e propiciando a separação e fortalecimento dos grupos juvenis.

Na América, na U.R.S.S, na Suécia, na Polônia, na Inglaterra, na França, no Marrocos, vemos uma tendência comum aos grupos adolescentes a afirmar sua própria moral, a arvorar seu uniforme (blue jeans, tênis, suéteres) a seguir sempre a moda, a reconhecer-se nos heróis, uns exibidos no cinema (James Dean, Belmondo), outros oriundos da imprensa sensacionalista; ao mesmo tempo, uma sensibilidade adolescente se infiltra na cultura (filmes novelle vague, romances de Sagan). (MORIN, 1997, p. 148).

Diante desse panorama social, é interessante observar que apesar da juventude ao procurar se distanciar dos valores e ideologias estabelecidas na cultura integrou-

23 Lev Semenovich Vogostki foi o grande fundador da escola soviética de psicologia histórico-cultural.O autor

construiu a teoria Sociointeracionista a partir de sua experiência de vida, testemunhou todo o processo da Revolução Russa, e através da leitura crítica dos textos de Karl Marx e de Frederich Engels e das teorias da psicologia: behaviorismo, gestalt, psicanálise e do desenvolvimento humano, de Piaget.

se ao sistema através do ávido consumo dos produtos culturais. Sabiamente, os meios de comunicação apoderaram-se dos sonhos e carências juvenis e passaram a “produzi-la em larga escala” e a “vendê-la” como ideal de vida para todos, inclusive para aqueles que ainda não são ou, até mesmo, já são adultos.

3.2. PÓS-MODERNIDADE E CIBERCULTURA NO CONTEXTO