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Embora façam parte de uma totalidade, os discursos produzidos nos grupos focais de professores e alunos são constituídos por aspectos sócio-históricos, políticos e culturais comuns ao campo educacional, notadamente ao da educação superior. Assim, os sentidos e significados de indisciplina para docentes e discentes, apreendidos por meio dos núcleos de significação, permitiram um constructo teórico explicativo, capaz de apreender o fenômeno da indisciplina em uma educação superior privada.

Esses núcleos de significação indicaram que a indisciplina na educação superior é um fenômeno que se constitui numa realidade com múltiplos determinantes. Para entender esse fenômeno, não basta estudá-lo isoladamente: é preciso fazê-lo nas relações que se estabelecem na e pela frequência à educação superior. Se, como postula Marx (1987, p. 216), “o concreto é concreto porque é a síntese de múltiplas determinações e, por isso, é a unidade do diverso”, fazem parte da materialidade da educação superior privada a própria instituição,

o ensino nela oferecido, os professores e os alunos, aspectos constitutivos do contexto e da indisciplina em sala de aula.

As questões com as quais iniciamos esta análise internúcleos que auxiliaram a alcançar os objetivos desta pesquisa foram as seguintes: (i) quais são os problemas de indisciplina que o professor universitário enfrenta? (ii) Como os problemas de indisciplina manifestam-se e como são explicados pelos docentes e discentes?

No grupo focal de professores, não houve consenso quanto ao significado de indisciplina na graduação. Para a maioria dos professores, as condutas inadequadas não podem ser chamadas de “indisciplina”, mas devem ser vistas como falta de educação. Na opinião dos participantes, a indisciplina é um fenômeno típico da educação básica e configura-se como uma reação do estudante a algo que ele é obrigado a fazer, como, por exemplo, ir à escola. Como o aluno adulto não sofre qualquer tipo de coerção – e está na faculdade porque assim o deseja –, não há nada contra o que ele possa insurgir-se recorrendo à indisciplina.

Para os professores, o que predomina em suas aulas são comportamentos marcados pelo descaso com o outro: conversas paralelas, bater as portas, desacatar o professor, gritar, falar palavrão, portar objetos inadequados para a sala de aula, utilizar roupa e linguajar impróprios, comer e fazer barulho durante a aula etc. Todas essas condutas são consideradas típicas de quem não recebeu uma educação esmerada, no sentido de saber como se portar em determinadas circunstâncias (como as de sala de aula) e/ou saber conviver respeitosamente com os demais. É justamente por isso que constituem problemas diariamente enfrentados pelos docentes no ambiente acadêmico. Entende-se que, para a maioria dos membros desse grupo, o significado dessas condutas centra-se na má educação, justamente porque pessoas adultas bem-educadas não protagonizariam tais ações em sala de aula.

Segundo o grupo focal de alunos, o que caracteriza a conduta inadequada do aluno, nomeada como indisciplina, é fazer bagunça na sala de aula, conversar durante a explicação do professor, fazer o professor de “gato e sapato” (sic), fazer chacota durante a participação dos alunos na aula, apelidar pejorativamente os alunos, comer na sala e faltar ao respeito com o professor.

Daí ser importante não somente analisar mais de perto os aspectos envolvidos no conceito de indisciplina como também o cenário da instituição pesquisada, recorrendo à orientação metodológica de Vygotski (1989). De acordo com esse autor, não basta apenas descrever o fenômeno, porque a mera descrição não vai além da aparência dos fenômenos e, portanto, não alcança sua essência. O importante, diz Vygotski, é explicar o fenômeno,

entender seu nível mais profundo, que nunca coincide com o plano do aparente. As condutas inadequadas dos alunos descritas pelos grupos focais de professores e alunos, nomeadas, respectivamente, como “falta de educação” e “indisciplina” não podem ser consideradas como uma explicação do fenômeno em estudo. Na instituição pesquisada, ambas – apesar de fazerem parte do fenômeno indisciplina – não o determinam e, para entende-lo, é preciso aliar à análise do conceito de indisciplina a como atua essa instituição de educação superior particular.

A grande maioria dos comportamentos dos alunos descritos acima pelos dois grupos focais pode ser caracterizada, para Nanci Oliveira (2009) e Vasconcellos (2009), como comportamentos indisciplinados. No entanto, segundo este último autor, a indisciplina só acontece quando as leis, regras e/ou normas – instituídas por um grupo para determinados fins – são quebradas, razão pela qual a indisciplina equivale a quebrar regras (com ou sem razão, para o bem ou para o mal). Mas um sistema de normas e/ou regras só tem razão para existir se nortear e regular o agir humano, tanto na esfera privada, como e, sobretudo, nos espaços públicos, como escolas e universidades. Além de existir, esse sistema precisa ser divulgado e significado pelos indivíduos que compartilham espaços comuns. As condutas inadequadas de professores e alunos atrapalham, conforme informaram os grupos focais, quem deseja ensinar e quem deseja aprender. Entretanto, a instituição investigada funciona, se assim se pode dizer, praticamente sem regras, exceto aquelas imprescindíveis que, mesmo assim, são muito pouco divulgadas. Com base nisso, pode-se afirmar que não há indisciplina na educação superior nessa instituição, mas desconhecimento das regras que regulam as condutas de professores e alunos para uma boa e saudável convivência acadêmica.

De fato, as condutas inadequadas acontecem, segundo os grupos focais, porque há um desconhecimento do aluno e do professor das regras institucionais, as quais não são devidamente divulgadas e, portanto, não podem ser nem compartilhadas nem obedecidas. É preciso considerar, ainda, que os alunos participantes deste estudo provêm de um ensino médio que, como indicaram os professores, parece não lhes ter ajudado a constituir o significado das regras que regem as instituições de ensino. Com isso, ao chegarem à educação superior, não podem reconhecer que as infringiram. Com efeito, essas condutas inadequadas poderiam ser evitadas se a instituição possuísse regras claras de convivência e os professores sistematicamente trabalhassem com elas e por elas orientados.

No grupo focal de alunos, diferentemente do grupo de professores, reconhece-se que, além da indisciplina do aluno, existe, também, a daquele professor que não se compromete a trabalhar por uma educação de boa qualidade, algo que significa falta de respeito com os

alunos, com a docência e com o processo de ensino-aprendizagem. Como o grupo focal de professores viu isso? Muito embora não tenha nomeado essa conduta docente inadequada como indisciplina, os participantes mencionaram que alguns colegas deixavam de cumprir o plano de ensino e, inclusive, as poucas regras existentes na instituição, atrapalhando a relação do corpo docente com o discente. Assim, parece que, para o grupo focal de professores, a conduta inadequada do colega constitui falta de responsabilidade para com a instituição, para com os alunos e para com seus pares.

De acordo com Rios (2002), uma boa educação é construída pelos sujeitos – professores e estudantes – articulando competências (saber fazer bem) com a boa qualidade do ensino, algo que exige domínio dos saberes necessários ao curso que ministram e com a dimensão política do ato de educar, isto é, respeito pela formação profissional e cidadã. Mais uma vez, a instituição investigada parece ser a principal responsável pela conduta imprópria de professores e alunos, por não impedi-la. Um discurso institucional claro e acessível à comunidade acadêmica faz-se, portanto, extremamente necessário. Mas, como isso não é claro, o grupo focal de alunos atribui a indisciplina à família ou à personalidade do indisciplinado. Essa constatação faz parte, possivelmente, da rede de significados e sentidos que o aluno vivenciou na educação básica, em que, de acordo com Rego (1996) e Vasconcellos (2009), responsabiliza-se a família ou a própria pessoa pelo rompimento de regras escolares.

O grupo focal de professores, por outro lado, ora considera que a “falta de educação” é algo inerente aos alunos, ora resultado do meio social em que vivem. Essa visão que responsabiliza o aluno e seu meio social e/ou sua família é, tal como se entende aqui, uma forma simplista e reducionista de encarar a indisciplina: desconsidera os problemas postos pela totalidade e explanados nos dois grupos focais, constitutivos do problema da educação superior privada no país e, particularmente na instituição investigada, como o fato de:

1. Não prezar pela formação do aluno, não valorizar o corpo docente e equiparar a educação a um produto comercial.

2. Não se importar com a formação do professor: especialização, mestrado e doutorado nada significam e servem apenas para fazer frente às demandas do MEC. Como bem se sabe, uma boa formação profissional apoia-se no tripé ensino, pesquisa e extensão, que requer docentes bem formados e com seus respectivos títulos, com uma carreira pela frente e com um salário condizente. Ora, nas universidades privadas, esse tripé não existe: os professores são, em sua maioria, remunerados por hora trabalhada, ministram aulas em diversas instituições,

recebem um pagamento que está muito aquém do investimento feito na própria formação. O tempo que se está na instituição é dedicado exclusivamente a ministrar aulas. Nada de pesquisa, de extensão nem de articulação do ensino com uma e outra.

3. Contar com uma coordenação pedagógica meramente pro forma, de modo que temas candentes pouco são discutidos ou problematizados. De fato, a coordenação não exerce a função que dela se espera: nada decide ou resolve, sendo reduzida a uma instância que recebe queixas, se e quando os alunos conseguem encontrar o coordenador, geralmente muito ocupado, porque também ministra aulas. A falta dessa figura institucional para conversar, trocar informações, aprender e/ou repensar a prática docente faz com que o professor exerça a docência de maneira solitária e os alunos sintam-se desamparados.

4. Receber uma clientela que, em geral, passou alguns anos afastada da rotina acadêmica e, assim, não sabe o que ela implica. O ensino médio é visto como o grande vilão, responsável pela falta de base dos alunos, de modo que a graduação seria apenas uma extensão do nível de ensino anterior. Causa e consequência das dificuldades que professores e alunos enfrentam para ensinar, acompanhar os estudos, terminar o curso, a precariedade da escolarização prévia dificulta sobremaneira que novos conhecimentos e habilidades, necessários para exercer bem a profissão, sejam conquistados.

5. Ignorar a diversidade de sua clientela, pois a heterogeneidade é um atributo que hoje também faz parte do significado da educação superior particular. Diferentes gerações estão em uma mesma sala de aula: uma traz de sua história acadêmica o modelo tradicional de ensino, em que a passividade, a diretividade e a coerção são comuns; outra percebe e lida diferentemente com as questões educacionais, fazendo uso de condutas que, para as gerações anteriores, são transgressoras.

6. Não contar com um discurso institucional que especifique os direitos e deveres daqueles que transitam na instituição: professores, alunos e funcionários. Isso é atribuído ao fato de a educação não ser o foco (e, sim, o lucro) dessas instituições. Também é responsabilizada a coordenação pedagógica, que não consegue atuar como mediadora entre a instituição e o corpo docente, nem entre este último e os alunos. As regras institucionais são pouco conhecidas e, quando o são, pecam por falta de clareza e de divulgação.

7. Carecer de comunicação clara e diálogo franco sobre questões acadêmicas. Nas IES particulares, os professores ministram diferentes disciplinas e, assim, uma matéria pode ser ministrada por vários docentes. A queixa é que cada professor executa de sua maneira o plano de ensino, o qual é construído com base em uma ementa, que, por sua vez, faz parte de um projeto pedagógico regulamentado e aprovado pelo MEC. Mas, para alguns professores, os colegas, por questões pessoais, eliminam conteúdos e trocam os autores, sem comunicar à coordenação ou aos demais docentes que ministram a mesma disciplina. Se a ementa da disciplina deixa de ser cumprida, isso acaba por prejudicar a formação do aluno.

8. Descuidar da adequação do professor à disciplina que lhe cabe ministrar. Em muitas instituições particulares, a formação do professor não é respeitada. Na busca de completar a carga horária, muitos coordenadores delegam disciplinas aos docentes sem que eles tenham a formação necessária para ensiná-las. Essa é uma questão que precisa ser revista e monitorada pelas instituições, pois um professor insatisfeito com a disciplina não consegue criar um ambiente favorável à aprendizagem, situação que é um fator desencadeante de indisciplina.

9. Enfrentar, em função dos fatores acima arrolados, a evasão e a repetência, hoje fenômenos comuns na educação superior privada. Muitos estudantes iniciam o curso, mas não o conseguem concluir. Quem o faz enfrenta um leque variadíssimo de dificuldades.

10. Ignorar a necessidade de discutir as muitas condutas inadequadas e incompatíveis com adultos civilizados, como as já comentadas acima. É preciso analisá-las à luz do processo de ensino-aprendizagem e das relações nele envolvidas, pois ambos são mediados pela desorganização da instituição, pela falta de tempo da coordenação, pela ausência de critérios comuns de atuação, pelo desconhecimento do plano de ensino, pela inadequação do professor à disciplina que leciona e, inclusive, pela própria indisciplina dos estudantes e, pior ainda, dos docentes.

Assim, entende-se que a falta de educação do estudante ou a indisciplina são fenômenos que, hoje, fazem parte de muitas IES privadas. Contudo, eles não podem ser entendidos e explicados por si mesmos ou como consequências do meio social do aluno, como o fez o grupo focal de professores. Os aspectos relacionados acima, que constituem a educação superior privada, demonstram que esse fenômeno constituiu-se “ao longo do tempo,

não pertence à natureza humana; não é preexistente ao homem; reflete a condição social, econômica e cultural em que vivem os homens” (BOCK, 2001, p. 22).

Quando o professor atribui a responsabilidade do problema da falta de educação apenas ao estudante, isto é, apenas à dimensão individual – não considerando os estruturantes sociais e culturais –, somente uma parte da realidade é explicada, de modo que a situação não ganha força motriz própria e, portanto, não se resolve por si só. “É na e pela relação com o mundo material e social que se desenvolvem as possibilidades humanas” (BOCK, 2001, p. 24). De fato, é preciso discutir e falar sobre todas as dimensões que constituem a educação superior privada, notadamente nessa instituição, situando o problema da falta de educação do aluno na diversidade de aspectos que o instituem.

Com a visão parcial do problema da falta de educação do estudante, o cenário vivenciado por professores e alunos diariamente na sala de aula estabelece aspectos que, provavelmente, geram dúvidas, irritação e criam condições para o aparecimento de problemas de indisciplina no ambiente universitário. Contudo, cabe ressaltar que, de modo geral, os grupos focais mostraram-se surpresos com a conduta indisciplinada e com a dificuldade de com ela lidar. Alunos e professores pareceram estar perplexos diante de condutas tão inadequadas em sala de aula, quer elas venham da parte dos estudantes ou dos docentes. Ao que consta, a indisciplina parece constituir um problema por tratar de pessoas adultas, que não sabem seu papel na sala de aula e com uma imensa dificuldade de relacionamento de professores com alunos, de professores entre si e de estudantes com seus colegas.

Segundo os grupos focais, a falta de educação/indisciplina é mais frequente nos primeiros semestres, justamente pela ausência de conhecimentos prévios, pelo esquecimento das normas de comportamento da escola básica, ou, ainda, pelo longo tempo em que ficaram afastados dos bancos escolares. Esses três aspectos, em conjunto, constituem uma dificuldade de adaptação a uma nova rotina, algo que exige esforços e dedicação quando se almeja uma boa formação profissional. Soma-se a isso a própria infraestrutura da instituição que, com sua carência de aparato administrativo e pedagógico, não consegue dar respaldo ao processo de formação do aluno. No enfrentamento da indisciplina, alguns alunos defenderam o emprego de punição (suspensão das aulas ou expulsão da sala de aula); outros acreditavam que os professores precisavam informar as regras novamente a cada semestre para que elas fossem gravadas. A maioria dos professores do grupo focal considerou que paciência e diálogo são essenciais no trato da falta de educação. Essas condições, na presença de regras institucionais claras e comuns para professores e alunos, possivelmente constituirão um ambiente enriquecedor, propício à aprendizagem e à boa formação profissional.

O que se espera de um discurso institucional é que explicite os direitos e deveres de professores e alunos. De acordo com os grupos focais, essa clareza não existe e, assim, rebeldia, descrença e desconfiança têm sido marcas constantes na relação professor-aluno, permitindo que este último, muitas vezes, acabe aproveitando-se da desorganização para obter sucesso acadêmico. Nesse contexto, é possível e provável que haja descrédito quanto à instituição, a sua função e a suas metas, algo que faz com que a instituição não seja respeitada por docentes nem mesmo por discentes: isso se evidencia, sobretudo, na forma como é referida: como “Unis da Vida” e como “bagunçada”. Segundo Luria (1979), a relação do indivíduo com o meio social em que está inserido é mediada, sendo a linguagem um sistema simbólico de destaque, por permitir a interação do homem com o meio social. Esse sistema simbólico tem origem histórica e social e busca representar o real. Nessa esteira, pode-se afirmar que os adjetivos pejorativos que qualificam a instituição foram constituídos por meio de experiências históricas e sociais vivenciadas por professores e alunos em instituições educacionais que não prezam pela qualidade do ensino.

A instituição não parece estar atenta ao que se espera de um aluno e de um professor de graduação. Assim, não se vai à universidade para aprender, mas para receber um diploma; não há como ensinar alunos que não têm um mínimo de base para seguir o curso. Kosik (2011, p. 127) afirma que o mundo objetivo sem o sujeito fica privado de sentido, assim como “o sujeito sem pressupostos materiais e produtos objetivos é uma miragem vazia”. Nessa perspectiva, o sentido dessa instituição é o de um “faz de conta”: os alunos fingem que aprendem e os professores, que ensinam. As “Unis da Vida” parecem constituir-se em parte como um local de encontros, com poucas regras e todas muito flexíveis, porque não se quer desagradar os alunos, considerados clientes. A pretensão é manter apenas as regras que o MEC exige, isentando-se do cumprimento da sua função social, que é a de formar bons profissionais.

Professores e alunos que frequentam a universidade privada de hoje parecem vivenciar a dicotomia entre o que se imagina e o que realmente é a educação superior no Brasil. Essa lacuna entre o desejado e a realidade precisa ser suprida para que seu sentido seja renovado. Sem diálogo que problematize e repense essa nova educação superior e as relações que são nela entabuladas, dificilmente esse novo sentido será constituído pela comunidade acadêmica. O presente trabalho foi um esforço nesse sentido.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi analisar os sentidos e os significados de indisciplina para docentes e discentes da educação superior de uma universidade privada. A seu final, restou a impressão de que o significado da indisciplina para professores e alunos é o mesmo: as condutas inadequadas em sala de aula são nomeadas como falta de educação ou como indisciplina, algo que se constitui quando não há regras institucionais claras que alicercem a convivência no ambiente universitário. A falta de educação faz parte da zona de sentidos que o professor atribui à indisciplina, notadamente por ver nela uma manifestação de um atributo próprio do aluno ou do meio em que ele vive. Quanto aos estudantes, o fenômeno da indisciplina (falta de respeito para com o professor e para com os próprios colegas) ganha outro sentido: o do desconhecimento das regras institucionais, as quais não puderam ser devidamente apropriadas na escolarização básica nem na educação superior, dadas as muitas dificuldades que enfrentam para vivenciar plenamente a vida acadêmica.

Professores e alunos demonstraram perplexidade, principalmente pelo fato de essas condutas serem protagonizadas por sujeitos adultos. Enquanto os alunos partem, muitas vezes, para o enfrentamento da indisciplina, considerada por eles prejudicial ao processo de ensino- aprendizagem, os professores tentam resolver os problemas solitariamente, já que não contam com o auxílio de uma coordenação pedagógica eficaz, nem com um discurso institucional reconhecido e praticado por todos que na instituição convivem. Esse novo contexto vivenciado pela atual geração que frequenta as IES precisa ser problematizado e devidamente situado nos aspectos que o constituem: as interações sociais de professores e alunos e a relação entre ensino e instituição. Todas essas instâncias são mediadores importantes na conduta do estudante de graduação e do valor e função que a ela atribui.

A educação superior privada contemporânea passa por uma crise visível, pois muitas instituições particulares funcionam com base na lógica do mercado, desconsiderando as necessidades pedagógicas inerentes ao processo de ensino-aprendizagem. Para essas instituições, os alunos – e seus sonhos – são condensados na figura de um potencial cliente a