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3 DA POSSIBILIDADE DE PARTILHA EXTRAJUDICIAL DIANTE DO

3.1 ANÁLISE DAS NORMAS LEGAIS APLICÁVEIS

Inicialmente deve-se analisar a interpretação conferida ao Código Civil 1916,e a possibilidade de realizar-se o inventário extrajudicialmente de acordo com a previsão de seu art. 1.77455, que era idêntico ao art. 2.016 do atual Código Civil de 2002, utilizando para isso o comentário do doutrinador Clovis Bevilaquia sobre a disposição legal:

O inventário não é, necessariamente, judicial. As leis do processo não guardam uniformidade a este respeito. Nos casos em que a partilha pode ser amigável, o inventário poderá deixar de ser judicial. O inventário e a partilha formam um todo, e é normal que as partes desse todo sejam da mesma espécie. E o Código Civil, só exigindo a partilha judicial quando os herdeiros divergirem ou forem incapazes, permite que, nos outros casos, tanto a partilha quanto o inventário se façam extrajudicialmente. (CLOVIS, 1976, p. 999 apud PACHECO, 2018, pg. 401).

Dessa forma, apesar de haver previsão em lei do art. 1.77056 do Código Civil de 1916 e do art. 46557 do Código de Processo Civil de 1939, em que entendia não

55 “Art. 1.774. Será sempre judicial a partilha, se os herdeiros divergirem, assim como se algum deles for menor, ou incapaz.” (BRASIL, 2002).

56 “Art. 1.770. Proceder-se-á ao inventário e partilha judiciais na forma das leis em vigor no domicílio do falecido, observado o que se dispõe no art. 1.603, começando-se dentro em um mês, a contar da abertura da sucessão, e ultimando-se nos três meses subseqüentes, prazo este que o juiz poderá dilatar, a requerimento do inventariante, por motivo justo.

ser cabível o inventário na forma extrajudicial, não se tinha uma uniformidade a respeito do processo previsto em lei, possuindo contrariedade entre o que estava disposto no próprio Código Civil em seu art. 1.773, em que previa “Se os herdeiros forem maiores e capazes, poderão fazer partilha amigável, por instrumento público, termo nos autos do inventário, ou escrito particular, homologado pelo juiz.” (PACHECO, 2018).

Neste contexto de evolução processual a implementação da Lei 11.441, de 4 de janeiro de 2007, que deu nova redação aos artigos 982 e 983 do Código de Processo Civil de 1973, com modificação correspondente aos artigos 610 e 611 do Código de Processo Civil de 2015, em que implementou um ato denominado de jurisdição voluntária, em que recebeu permissão legal para a sua formalização pela via extrajudicial, por meio de escritura pública, sem interferência ou necessidade de homologação judicial, desde que cumpridos seus requisitos.

3.1.1 Do Procedimento de Jurisdição Voluntária

O conceito de ato de jurisdição voluntária, pode ser definido como aquele em que por prévio acerto entre as partes, encontram-se em completo acordo, para realizar a autocomposição ou autorregulação das suas relações jurídicas, patrimoniais ou não, sem a necessidade de intervenção estatal. Destaca-se pela natureza colaborativa, em que os envolvidos procuram um consenso em suas posições jurídicas, de seus direitos e obrigações, não existindo conflito de interesse, nem litígio, e assim, em nada justifica levar tais questões ao judiciário em que serviria meramente para a função homologatória.

Outrossim, ao analisar a natureza do procedimento pontua-se que a atividade a ser desenvolvida pelo Poder Judiciário tem natureza judicial, pois é realizada perante o juiz, mas não tem natureza jurisdicional, não compondo o conflito de interesses e sim promovendo a integração do ato praticado, revestindo-o de força judicial. Em suma tornando dispensável a presença do juiz, podendo outro órgão do Estado praticar essa atividade. Desse ponto, quanto a sua aplicabilidade no

Parágrafo único. Quando se exceder a último prazo deste artigo, e por culpa do inventariante não se achar finda a partilha, poderá o juiz removê-lo, se algum herdeiro o requerer, e, se for testamenteiro, o privará do prêmio, a que tenha direito (art. 1.766).” (BRASIL, 2002).

procedimento de inventário por arrolamento e necessidade de intervenção jurisdicional, o Doutrinador Paulo Cesar Pinheiro Carneiro menciona:

Já o procedimento de arrolamento, regulado pelos artigos 659 a 663, embora enquadrado, na sistemática do Código, entre os procedimentos de jurisdição contenciosa (Seção IX, do Capítulo VI, do Título III, do Livro I, da Parte Especial), caracteriza, no nosso entendimento, atividade de jurisdição voluntária. Isso porque ele pressupõe, em primeiro lugar, a concordância de todos herdeiros que, em conjunto, devem celebrar uma partilha amigável, impedindo como consequência qualquer conflito. (CARNEIRO, 2018, p. 28).

Deve ser ressaltado que a transformação trazida pela Lei 11.441/07, como é observado por Maria Berenice Dias (DIAS, 2008, p. 539) “Foi pobremente regulado”, residindo no fato de que alterou apenas quatro artigos do Código de Processo Civil de 1973, que tratavam sobre o inventário, partilha e divórcio consensual, deixando de regular com uma maior complexidade principalmente o inventário consensual por escritura pública.

Assim, diante da ausência de maiores informações acerca do procedimento adotado, o Conselho Nacional de Justiça – CNJ, dentro do âmbito de competência correcional das atividades do Poder Judiciário e para as serventias extrajudiciais delegatárias dos serviços notariais e registrais apresentou a Resolução nº 35, chegou a regular sobre as disposições previstas na lei, com o objetivo de pacificar e uniformizar o entendimento sobre a lavratura das escrituras públicas de divórcio, inventário e partilha extrajudiciais.

Assim, as disposições concernentes à Lei nº 11.441/2007, com a regulamentação dada pela resolução nº 35/2007, ao disciplinar sobre o inventário extrajudicial, por escritura pública, passa a exigir os seguintes requisitos:

a) todas as partes, ou seja, os herdeiros e cônjuge sobrevivente, devem ser capazes; b) as partes devem estar de pleno acordo entre si, sem qualquer litígio; c) assistência de advogado, presente aos atos do procedimento extrajudicial; d) inexistência de testamento deixado pelo falecido e inventariado. (BRASIL, 2007).

No entanto, a própria doutrina admite que nos casos em que o testamento não possui disposição patrimonial, não impeça a formalização do inventário extrajudicial, pois não resultaria em partilha e transmissão de bens, contemplando

situações, em que mesmo existindo testamento, não justifica a vedação pelo inventário extrajudicial.

Mas tal exceção deve ser ainda mais abrangente, eis que mesmo que possua disposição patrimonial feita pelo testamento, verifica-se ainda que não seja regulado pela lei, de forma mais complexa, não é de ser admitido que a simples existência de testamento possa remeter a obrigatoriedade a ser regulamentada pelo procedimento de inventário contencioso e judicial, seja por sua disposição patrimonial ou não, eis que o procedimento de abertura do testamento, com seu registro e mandado de cumprir que antecede o inventário neste caso, enquadra-se como procedimento de jurisdição voluntária, que pode muito bem ser posteriormente a este procedimento ser facultado a parte a escolha pelo inventário extrajudicial, por estar revestida de legalidade em todo o procedimento.

Nesse sentido, é o entendimento da doutrina, pois quando há o acordo entre as partes, sem questionamento das disposições testamentárias, não há razão lógica para impedir a realização do inventário extrajudicial: “Se todos os interessados estiverem de acordo com o testamento, não há porque não aceitar o inventário por via administrativa.” (PENA JÚNIOR, 2009, p. 301).

3.2 DA JUSTIFICATIVA PARA A APLICAÇÃO DO PROCEDIMENTO

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