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2 INVENTÁRIO E PARTILHA

2.3 DO PROCEDIMENTO DE INVENTÁRIO JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL

O inventário é o procedimento pelo qual o patrimônio deixado pelo de cujus, que se transmite desde logo aos sucessores legítimos e testamentários, possa ser regularizado a sua propriedade no Registro de imóveis, realizando-se a sua relação, descrição e avaliação dos bens deixados, para então realizar-se a sua partilha e expedir o respectivo formal que vai a registro (GONÇALVES, 2019). Nesse sentido, o conceito de inventário no sentido estrito pode ser definido como:

Todos os haveres e responsabilidades patrimoniais de um indivíduo; na acepção ampla e comum no foro, ou seja, no sentido sucessório, é o processo no qual se descrevem e avaliam bens de pessoa falecida, e partilham entre os seus sucessores o que sobra, depois de pagos os impostos, as despesas judiciais e as dívidas passivas reconhecidas pelos herdeiros. (1942, p. 268, apud GONÇALVES, 2019, p. 487).

O inventário judicial previsto no ordenamento jurídico constitui caráter contencioso, em razão da possibilidade de haver litígio entre as partes, durante as partes do procedimento, exigindo julgamento e não simples homologação judicial (GONÇALVES, 2019).

De outra banda, com o advento da Lei nº. 11.441, de 4 de janeiro de 2007, foi inserido o inventário extrajudicial ou administrativo no ordenamento jurídico, realizado por escritura pública, desde que as partes sejam maiores e capazes, haja acordo acerca da partilha e não exista testamento (OLIVEIRA; AMORIM, 2018).

Desta forma, passa-se a analisar as formas distintas aplicadas aos procedimentos de inventário, de acordo com o determinando no ordenamento jurídico, dependendo da modalidade escolhida.

2.3.1 Inventário Judicial

O Código de Processo Civil dispõe sobre três ritos distintos de inventário judicial, na definição concebida por Euclides de Oliveira são eles:

a) INVENTÁRIO COMUM: o inventário propriamente dito, com todas as fases procedimentais desde as primeiras até as últimas declarações e a realização da partilha (arts. 61050 a 658); aplica-se aos casos de falta de acordo entre os interessados ou quando há incapazes e o valor da herança supere o limite estabelecido para o rito de arrolamento; é de utilização residual, portanto, quando não caibam os procedimentos mais simples; b) ARROLAMENTO SUMÁRIO: modo simplificado de inventário e partilha, quando todos os interessados, maiores e capazes, estejam de acordo e não optem pelo inventário extrajudicial (arts. 65951 a 663; v. cap. 12);

c) ARROLAMENTO COMUM: modo simplificado de inventário, mediante apresentação da declaração dos bens e de plano de partilha, reservado para casos de menor valor não excedente a 1.000 salários-mínimos (arts. 66452 e 665; v. cap. 13). (OLIVEIRA; AMORIM, 2018, p. 321).

De forma resumida, o doutrinador aponta uma série de atos, realizados durante o procedimento de inventário judicial:

a) pedido de abertura do inventário, com a comunicação do falecimento do autor da herança, juntando-se procuração do requerente e certidão de óbito; 50 “Art. 610. Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial.

§ 1º Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha poderão ser feitos por escritura pública, a qual constituirá documento hábil para qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância depositada em instituições financeiras.

§ 2º O tabelião somente lavrará a escritura pública se todas as partes interessadas estiverem assistidas por advogado ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial.” (BRASIL, 2015).

51 “Art. 659. A partilha amigável, celebrada entre partes capazes, nos termos da lei, será homologada de plano pelo juiz, com observância dos arts. 660 a 663.

§ 1º O disposto neste artigo aplica-se, também, ao pedido de adjudicação, quando houver herdeiro único.

§ 2º Transitada em julgado a sentença de homologação de partilha ou de adjudicação, será lavrado o formal de partilha ou elaborada a carta de adjudicação e, em seguida, serão expedidos os alvarás referentes aos bens e às rendas por ele abrangidos, intimando-se o fisco para lançamento administrativo do imposto de transmissão e de outros tributos porventura incidentes, conforme dispuser a legislação tributária, nos termos do §2º do art. 662.” (BRASIL, 2015).

52 “Art. 664. Quando o valor dos bens do espólio for igual ou inferior a 1.000 (mil) salários-mínimos, o inventário processar-se-á na forma de arrolamento, cabendo ao inventariante nomeado, independentemente de assinatura de termo de compromisso, apresentar, com suas declarações, a atribuição de valor aos bens do espólio e o plano da partilha.

§ 1º Se qualquer das partes ou o Ministério Público impugnar a estimativa, o juiz nomeará avaliador, que oferecerá laudo em 10 (dez) dias.

§ 2º Apresentado o laudo, o juiz, em audiência que designar, deliberará sobre a partilha, decidindo de plano todas as reclamações e mandando pagar as dívidas não impugnadas.

§ 3º Lavrar-se-á de tudo um só termo, assinado pelo juiz, pelo inventariante e pelas partes presentes ou por seus advogados.

§ 4º Aplicam-se a essa espécie de arrolamento, no que couber, as disposições do art. 672, relativamente ao lançamento, ao pagamento e à quitação da taxa judiciária e do imposto sobre a transmissão da propriedade dos bens do espólio.

§ 5º Provada a quitação dos tributos relativos aos bens do espólio e às suas rendas, o juiz julgará a partilha.” (BRASIL, 2015).

b) nomeação do inventariante, para que preste compromisso e dê andamento ao inventário;

c) apresentação das primeiras declarações, com a descrição dos bens, direitos, créditos, dívidas e obrigações do espólio, atribuição de valores e nomeação dos interessados – cônjuge ou companheiro, herdeiros, legatários, cessionários, bem como certidão autêntica do testamento, se houver;

d) citação dos interessados (salvo se já representados nos autos), da Fazenda Pública e do Ministério Público (se houver incapazes ou ausentes, ou interesses de Fundação);

e) avaliação dos bens, que poderá ser dispensada, quando se tratar de bens imóveis, caso sejam os valores comprovados com lançamentos fiscais, e desde que não haja impugnação;

f) últimas declarações;

g) cálculo do imposto de transmissão causa mortis, homologação e recolhimento, com verificação da Fazenda;

h) pedido de quinhões, deliberação de partilha, esboço e auto de partilha; quando houver herdeiro único, auto de adjudicação;

i) juntada das negativas fiscais do espólio e dos bens da herança;

j) sentença de partilha ou do auto de adjudicação; k) expedição do formal de partilha ou da carta de adjudicação (após o trânsito em julgado). (OLIVEIRA; AMORIM, 2018, p. 322).

Apontando ainda que, poderá haver modificações no caso de haver testamento, em que deve haver a prévia abertura e posterior registro concedido em sentença, ou ainda poderão ocorrer incidentes no inventário, ou processos paralelos, como pedido para alienação de bens, prestação de contas, colação de bens doados a herdeiros, ação de sonegação, habilitação de créditos, petição de herança, e demais ações relativas a herança, que acabam por retardar o andamento normal do inventário (OLIVEIRA; AMORIM, 2018). De regra as três modalidades de inventário judicial seguem um procedimento muito parecido, em que se diferencia de acordo com acordo ou não dos herdeiros, e do valor do patrimônio transmitido, tornando o procedimento mais complexo.

2.3.2 Inventário Extrajudicial

O inventário extrajudicial é concebido pela inovação trazida pela Lei nº 11.441, de 04 de janeiro de 2007, que modificou os artigos 982 e 983 do Código de Processo Civil de 1973, que tiveram suas concepções recepcionadas nos arts. 61053

53 “Art. 610. Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial.

§ 1º Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha poderão ser feitos por escritura pública, a qual constituirá documento hábil para qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância depositada em instituições financeiras.

e 61154 do Código de Processo Civil de 2015, com a possibilidade de realizar de forma facultativa o inventário partilha amigavelmente por meio de escritura pública, realizado na esfera administrativa, por ato do Tabelião de Notas da escolha das partes, sendo necessário como requisitos que todos os interessados sejam capazes e não haja testamento (OLIVEIRA; AMORIM, 2018).

Assim, o procedimento notarial é realizado pela feitura de escritura pública de inventário e partilha, que possui fins para registro imobiliário, mas não limita-se a isso, constituindo também documento hábil para qualquer ato de registro, observando ainda, que devido as exigências previstas no ordenamento de que todas as partes sejam de acordo, sejam maiores e capazes, o inventário por escritura pública pode ser facultado para substituir apenas uma das modalidades de inventário, qual seja, o inventário de arrolamento sumário (OLIVEIRA; AMORIM, 2018).

Outro requisito para a realização de inventário extrajudicial é a inexistência de testamento, conforme previsão expressa do art. 610 do Código de Processo Civil, possuindo algumas ressalvas, nas hipóteses de ter sido declarado nulo o testamento, ter sido revogado e por ter caducado. Apresenta-se ainda como exceção ao procedimento judicial, o testamento que não contenha disposição patrimonial, contendo apenas estipulações e recomendações, que não são objeto de inventário, nesses casos, o instrumento de última vontade deve ser levado previamente ao juízo, para a sua publicação e registro (OLIVEIRA; AMORIM, 2018).

De outro ponto, a possibilidade de inventário extrajudicial com testamento tem sido norteada por provimentos das corregedorias estatuais de justiça, em que de forma geral, acabam por dispor que, diante de sentença de registro do testamento, pode o juiz autorizar a realização de inventário por escritura pública, desde que os interessados sejam maiores e capazes (OLIVEIRA; AMORIM, 2018).

Dessa forma, com todo o exposto elucida-se que a sucessão testamentaria mediante o procedimento de abertura e cumprimento do testamento, com o devido registro judicial a ser feito por um procedimento de jurisdição voluntária antecede o inventário, e apenas então acaba por adotar o procedimento de jurisdição

§ 2º O tabelião somente lavrará a escritura pública se todas as partes interessadas estiverem assistidas por advogado ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial.” (BRASIL, 2015).

54 “Art. 611. O processo de inventário e de partilha deve ser instaurado dentro de 2 (dois) meses, a contar da abertura da sucessão, ultimando-se nos 12 (doze) meses subsequentes, podendo o juiz prorrogar esses prazos, de ofício ou a requerimento de parte.” (BRASIL, 2015).

contenciosa para a realização do inventário judicial, e que por meio desta lacuna e utilização da norma legal possibilita a realização do inventário extrajudicialmente.

Considerando tal reflexão será analisado no próximo capítulo a consolidação deste entendimento, que visa dar as partes a efetivação do acesso à justiça e celeridade do procedimento, buscando diminuir a judicialização, utilizando como visto o procedimento de jurisdição voluntária para revestir o testamento de legalidade e propiciar a parte a escolha pelo procedimento extrajudicial.

3 DA POSSIBILIDADE DE PARTILHA EXTRAJUDICIAL DIANTE DO REGISTRO

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