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A sequência didática “Vim Ver a Vida” teve como objetivo proporcionar uma discussão sobre os seres vivos em geral, favorecer o conhecimento de uma Horta Educativa e dos seres vivos que circunstancialmente lá habitem, permitir o conhecimento de alguns cultivares e sua importância nutricional, além de proporcionar vivências lúdicas e sensoriais, como tocar a terra, plantar, regar, cuidar. Essa sequência foi planejada seguindo os três momentos pedagógicos conforme demonstramos no Quadro 6.

Quadro 6 – Esquematização da sequência didática de Ciências para debater a Horta Educativa

Etapa da Sequência Aulas Atividade

Problematização Aula 1 Visita monitorada á Horta Educativa da escola Organização do

conhecimento

Aulas de 2 a 14 -As plantas são seres vivos -Vídeo “Microcosmo”

-Animais da horta/vertebrados -O ciclo da lagarta da couve

-A germinação e o ciclo de vida das plantas -Partes das plantas

-A fotossíntese -Cadeia alimentar

-Cuidados com as plantas e o solo - Agricultura orgânica

- Relação dos fatores bióticos e abióticos -Jogo interativo na informática

Aplicação do conhecimento Aulas 15 e 16 - Jogo: trilha da horta

- Mostra cultural com: livro da lagarta da couve, mudas, teatro “Vida de lagarta”

Fonte: Elaborado pela pesquisadora.

Os conteúdos dessa sequência didática também estão articulados com as temáticas dos norteadores legais consultados para o primeiro ano. Apontamos possíveis conexões com os temas transversais Saúde, Meio Ambiente, Ética, Pluralidade Cultural, Trabalho e Consumo. É o que nos mostra o diagrama conceitual apresentado na Figura 7. Sabemos que as hortaliças possuem um período sazonal específico para o plantio e requerem condições de luminosidade própria. Essas considerações permitem avançar nos conteúdos do tema transversal Terra e

Universo, quando discutimos sobre as estações do ano e sobre a importância do Sol para o planeta Terra. Buscamos instigar os alunos a ver os seres vivos, o homem e o meio abiótico em uma estreita relação na teia alimentar, conforme o mapa conceitual da Figura 8.

Como exemplo da relação dessa SD com os temas transversais, podemos inferir que, ao tratarmos das técnicas de semeadura, plantio, cuidados com o solo, referentes ao item recursos tecnológicos, permitirmos a troca de saberes científicos e populares, uma vez que estratégias de cultivo de jardinagem e hortaliças são do domínio da população. Estaríamos, então, no território do tema transversal Pluralidade Cultural. É pertinente, nos dias atuais, o debate sobre a utilização dos agroquímicos, e os produtos ditos orgânicos vêm ganhando cada vez maior número de adeptos dentre os consumidores. Esta discussão perpassa os temas transversais Ética, Saúde e Trabalho e Consumo.

Figura 7 – Diagrama conceitual da SD de Ciências “Vim ver a vida”

6 ALGUMAS QUESTÕES EPISTEMOLÓGICAS DA SD PEQUENINOS SERES VIVOS

Elencamos cinco atividades desta sequência didática, para uma análise pedagógica e epistemilógica, que passaremos a descrever a seguir. A Figura 8 nos mostra o mapa conceitual do desenvolvimento desta SD e da aprendizagem dos alunos.

Figura 8 – Mapa conceitual da SD “Pequeninos seres vivos”

ATIVIDADE 1 – CONHECENDO OS MICRO-ORGANISMOS

As aulas relacionadas com essa atividade são referentes ao primeiro momento pedagógico (DELIZOICOV; AGOTTI; PERNAMBUCO, 2012), à problematização. Seu objetivo foi levantar os conhecimentos prévios sobre micro-organismos, higiene e doenças causadas por eles, por meio da contação de história do livro “Binho”, de Magna Diniz Matos. As questões elaboradas foram: quais micróbios conhecemos? Os micróbios são iguais ao Binho? Por que devemos adotar hábitos saudáveis de higiene? O que acontece se um micro-organismo invadir o nosso corpo? Onde vivem os micro-organismos?

As crianças de seis anos chegam ao Ensino Fundamental com algumas noções de higiene e mencionam os micróbios como causadores de doenças, porém desconhecem essas doenças, os grupos desses micro-organismos, sua aparência e inclusão na categoria Seres Vivos. Para algumas estes seres são “bichinhos” e, devido à estimulação da mídia em comerciais de sabonetes e sabão em pó, são “germes”. A maioria cita como doenças causadas por micro-organismos dor de cabeça, dor de barriga, dor de ouvido etc., ou seja, os sintomas das doenças. Binho conta a trajetória de um “micróbio” que procura um lugar para morar e acaba encontrando Neca, um menino sem hábitos de higiene. A partir dessa etapa, a professora problematiza, por meio da técnica tempestade de ideias, “O que acontece se Binho conseguir uma barriga para morar, a de Neca?”. Como evitar o contágio com esses micro-organismos? Todos os micro-organismos se parecem com Binho, com cabelos esvoaçantes e um grande sorriso? É realmente possível ver um micro-organismo? Que doenças conhecemos passíveis de contágio da mesma forma que Neca? Os alunos são instigados a se posicionar, considerando que o problema identificado no livro é que as crianças continuem a história.

Justificamos a utilização desse livro na presente pesquisa por se tratar de um título com vários exemplares à disposição na biblioteca da escola, permitindo aos alunos sua leitura posterior. Os livros utilizados e indicados nessa SD foram bastante solicitados pelos alunos conforme relato da bibliotecária, de forma que, pela aula de

Ciências, estamos fomentando a leitura nas turmas envolvidas, o que é muito importante no contexto da alfabetização.

A utilização de livros de literatura infantil, que tenham alguma relação com a Ciência, pode ser uma das formas de desenvolver a alfabetização e a alfabetização científica.

Incentivar a leitura de livros infanto-juvenis sobre assuntos relacionados às ciências naturais, mesmo que não sejam sobre os temas tratados diretamente em sala de aula, é uma prática que amplia os repertórios de conhecimentos da criança, tendo reflexos em sua aprendizagem (BRASIL, 1997a, p. 124).

Figura 9 – Contação de história do livro Binho no laboratório de ciências

Fonte: Arquivo da pesquisadora.

Após a contação de história, conforme a Figura 9, propusemos a visualização de uma gota d’água ao microscópio óptico para investigarmos a presença de micro- organismos. Esse microscópio estava adaptado a uma câmera e a uma TV,

facilitando a observação de todos os presentes ao mesmo tempo. Geralmente, os micro-organismos estão associados à sujeira e não ao ambiente natural como um todo, por isso é importante a prática experimental de análise de uma gota de água de poças, da terra dos canteiros e até mesmo de um laguinho, se houver por perto, ao microscópio (Figura 10). Quanto à utilização do microscópio, antes da observação, é interessante conversar com os alunos sobre a história e o funcionamento desse aparelho de forma sucinta. Sempre é válido mostrar como um fio de cabelo se apresenta no campo para que eles entendam a capacidade do microscópio em ampliar imagens, inclusive daquilo que não vemos a olho nu.

Figura 10 – Imagem de uma gota de água ao microscópio óptico

Fonte: Arquivo da pesquisadora.

Após a observação, os alunos escreveram um relatório coletivo ou individual. É importante o registro por meio de desenhos ou esquemas (Figura 11).

Figura 11 – Registro do caderno sobre a história e esquema da visualização de micro-organismos

Fonte: Arquivo da pesquisadora.

Nota: A: Laboratório de Ciências. Onde vivem os micróbios? Na sujeira, no lixo, na mão suja. Binho é

um micróbio. Ele que quer morar em uma barriga. B: Microrganismos- Livro: Binho. Binho é um micróbio. Ele queria morar ... (uma barriga).

Os alunos demonstraram grande interesse e motivação durante a observação dos seres vivos que surgiam “correndo” ou flutuando na tela da TV. Solicitavam que fossemos atrás deles quando desapareciam do campo. Essa atividade despertou a curiosidade desses sujeitos, que se sentiram, então, instigados a prosseguir nas investigações sobre o mundo dos micro-organismos. “Sem a curiosidade que nos torna seres em permanente disponibilidade à indagação, seres da pergunta-bem- feita ou mal fundada, não importa, não haveria a atividade gnosiológica, expressão concreta da nossa possibilidade de conhecer” (FREIRE,1995, p. 76).

No início das atividades, os alunos relacionam MICRO-ORGANISMOS à sujeira e à falta de higiene, conforme apresentamos no recorte abaixo:

- “Micróbios são bichinhos que vivem na sujeira.”

- “Eles causam dor de barriga, dor de cabeça, diarreia, vômito e furúnculo.”

Por meio dessa atividade, os alunos compreendem que, em uma gota d’água, existem milhões de micro-organismos e assimilam o papel do microscópio como instrumento que possibilita a ampliação das imagens permitindo a visualização desses seres. Essa relação traz em si a inserção dos temas CTSA nessa SD, quando explicita as contribuições dos recursos tecnológicos para a nossa vida cotidiana e para a Ciência.

Consideramos, por meio da análise das interações ocorridas em sala de aula, que a atividade 1 alcançou seus objetivos de instigar a curiosidades dos alunos, explicitar suas concepções prévias e estabelecer conexões com o seu cotidiano. Muitos alunos se reconheceram nas atitudes do personagem principal e passaram a refletir sobre sua conduta em relação aos hábitos de higiene.

ATIVIDADE 2 – ONDE ENCONTRAMOS OS MICRO-ORGANISMOS?

Após uma revisão dos conteúdos desenvolvidos na última aula, realizamos os seguintes questionamentos aos alunos: em quais locais da escola é possível encontrar micro-organismos? E em que locais não é possível encontrá-los? Solicitamos que os alunos registrassem as hipóteses levantadas. A maioria deles continua associando os micro-organismos á sujeira. Quando perguntamos se eles não habitam em outros ambientes, responderam: “Na água”. Entendemos que estão fazendo uma associação com o experimento de visualização da gota d’água ao microscópio. O objetivo desta atividade foi promover uma iniciação ao ensino investigativo, enunciando um problema para os alunos, concedendo-lhes a oportunidade de levantar e testar suas hipóteses de forma autônoma.

Após o levantamento das hipóteses, os alunos foram divididos em grupos para coleta de material. Os locais escolhidos por eles foram: caderno, mesa, banheiro, chão, mão, lixeira (que estão presentes na história do Binho); sugerimos moedas, maçaneta e ouvido.

Esclarecemos que nas placas de Petri existe um material nutritivo (meio de cultura) que permitirá o crescimento dos micro-organismos; na estufa eles foram submetidos a uma temperatura ideal para o seu desenvolvimento. A coleta de secreções, como saliva, esfregaço de língua e dentes, pode ser obtida pela participação de alunos voluntários anônimos, ou na presença de toda a turma, tomando-se o cuidado de, no caso de resultado positivo, deixar claro que o mesmo fato ocorreria com qualquer pessoa que doasse o material, evitando-se assim comentários sobre o doador.

Os alunos escolheram locais em que as condições de higiene são baixas e também relacionadas com a história contada, como banheiro, lixeira e chão. As mãos também foram citadas, mas ouvido, maçanetas e moedas constituem importantes itens de investigação. A indicação da carteira escolar e do caderno foi surpreendente e contestada por alguns colegas, pois geralmente imaginamos que a limpeza da escola transcorre de forma eficaz e que os nossos materiais escolares estão isentos dessa preocupação.

Os meios de cultura foram colocados na estufa, à temperatura de 25oC a 30oC por 24h. Ao final desse período, as crianças puderam observar o crescimento de colônias de fungos e bactérias. Esse experimento permite compreender que, para o seu desenvolvimento, os micro-organismos necessitam de condições adequadas de temperatura, umidade e nutrientes que foram fornecidos nas placas de Petri e estufa.

Os fenômenos biológicos exigem tempo na maioria das vezes e o resultado desse experimento decorre em uma média de três dias, não sendo, portanto, possível a descoberta e análise dos resultados na mesma aula ou na mesma semana. O fator tempo é importante, quando investigamos os fenômenos biológicos, diferentemente dos físicos e químicos que permitem resultados imediatos, em sua maioria. Identificamos o crescimento de colônias de fungos e bactérias nos meios de cultura das mãos, maçanetas, chão, lixeira, terra, capa de cadernos etc., conforme nos mostra a Figura 12. A placa controle que permanece fechada não apresenta

crescimento. Esses dados indicam que os micro-organismos estão em toda a parte, inclusive no ar.

Figura 12 – Meio de cultura com resultado positivo para material proveniente da boca e do caderno: colônias de fungos e bactérias

Fonte: Arquivo da pesquisadora.

Os registros e desenhos nos cadernos foram produzidos após a análise do experimento, e as crianças explicaram o que aprenderam com a prática realizada, provocando uma relação crítica com o cotidiano (Figura 13). Aqui percebemos que as crianças compreenderam o problema que foi investigar onde, na Escola, poderíamos encontrar micro-organismos. Propuseram locais alternativos para sua localização, ou seja, levantaram hipóteses, realizaram previsões, ancoradas em seus conhecimentos anteriores, como sujeira, e também nos conhecimentos apreendidos na história contada. Durante a observação, os alunos demonstraram dificuldade em associar as colônias aos micro-organismos: Tia, porque ele não está se mexendo?.

Inferimos, então, que os conceitos espontâneos, generalistas, constituem-se em obstáculos epistemológicos conforme nos alerta Bachelard (1996), para quem esses obstáculos dificultam a emergência de valores racionais; são os conhecimentos subjetivos, essencialmente do foro afetivo, que entravam o conhecimento objetivo. Esses conhecimentos dizem respeito a aspectos intuitivos, imediatos e sensíveis e

também a experiências iniciais e a conhecimentos gerais. Para as crianças, todos os seres vivos se locomovem, se movimentam e também são indivíduos particulares, únicos. A ideia de colônia, grupos de seres vivos interdependentes, contraria os seus conhecimentos prévios.

Figura 13 – Registro no caderno: esquema dos meios de cultura e identificação de micro-organismos e monitor com resultados dos meios de cultura

Fonte: Arquivo da pesquisadora.

Transcrição: “Nasceram... (ilegível) monte de bichinhos. Fungos brancos. Bactérias.”

Esse experimento permite associar que, quanto menos “higiênico”, menos “limpo” o local da coleta, maior o crescimento de colônias de micro-organismos patogênicos nas placas, favorecendo o desenvolvimento do raciocínio proporcional, embora permita também desmontar a relação micro-organismo/sujeira, uma vez que eles estão presentes no corpo humano também e nem sempre causando doenças.

Outro aspecto importante verificado foi a associação ao cotidiano, quando as crianças procuram mudar suas condutas de colocar dedos e objetos na boca, andar descalços etc. Essa associação e reflexão evidenciam a aprendizagem dos conhecimentos científicos. Um exemplo dessa contextualização é o caso de uma turminha de 1.º ano que foi questionar as assistentes de serviços gerais sobre a limpeza da sala de aula e de um dos bebedouros da escola em que estudam,

devido a presença de um nematelminto na amostra de água coletada, observado ao microscópio. Disso resultou que as servidoras nos procuraram para esclarecimentos e acabaram em uma aula sobre saúde e segurança pessoal, uma vez que é comum que elas descartem a ideia de usar luvas e botas impermeáveis durante o serviço. Como essa aula era uma atividade experimental investigativa, apresentamos os resultados iniciais no quadro a seguir, onde realizamos uma análise preliminar das categorias de alfabetização científica baseadas em Sasserom e Carvalho (2008):

Quadro 7 – Análise das categorias de alfabetização científica da atividade 2

Itens Episódios e recortes de falas

Compreensão do problema Propõem adequadamente locais para investigação Levantamento e teste de hipóteses Locais de investigação separados em grupos: locais de

“baixa higienização” e “material escolar”

Previsão “Na mesa e no caderno não tem micro-organismos” Justificativa “Na mesa e no caderno não tem micro-organismos

porque estão limpos”

Explicação “Os micro-organismos estão em todo lugar” Seriação de dados “No chão, na lixeira, no banheiro”

“Na mesa e no caderno!” Organização de dados “Fungos e bactérias”

“Todo lugar” “Deu micróbio” Classificação de dados “Fungos e bactérias”

“Todo lugar”

Raciocínio lógico “Que tem que limpar a escola”

Raciocínio proporcional Quando entendem que, quanto pior as condições sanitárias do local, maior é o crescimento de micro- organismos patogênicos

Prática social Quando confrontam as ASGs (assistentes de serviços gerais)

Que tem que limpar a escola Fonte:Elaborado pela autora.

“P: Na aula de hoje vamos investigar em quais locais da escola é possível encontrar micro-

organismos. Onde será? A: Na sujeira.

A: No chão, na lixeira. A: No banheiro.

A: No caderno e na mesa.

A: Ah, não. Tá limpo, a tia acabou de limpar. A: Caderno?

P: Vamos analisar o caderno e a mesa também. Será interessante. E as mãos? Vamos investigar as mãos?

Turma: Sim! [coro]

P: Será que na boca tem micro-organismos? Turma: Sim! [coro]

P: E no ouvido? Silêncio.

P: Como eu sempre vejo vocês com moedas nas mãos, brincando com elas, vou sugerir moedas também. Estão de acordo?

Turma: Sim!

A análise desse episódio permite inferir que, ao levantar possíveis locais para a execução do teste, as crianças se utilizam da seriação de dados na argumentação ancorada em seus conhecimentos prévios associados à história contada.

Transcrevemos um recorte da aula referente a essa atividade, após a observação dos resultados:

(1)P: Muito bem, crianças. Em quais locais da escola identificamos o crescimento de micro- organismos? Em quais plaquinhas o crescimento deu positivo?

(2)A1: No chão, na lixeira, no banheiro... (3)A2: Na mesa e no caderno! [interrompe]. (4)P: E as plaquinhas das mãos?

(5)A3: Deu micróbio!

(6)P: Só nestas? E as outras? (7)A1: Moeda, maçaneta e ouvido.

(8)P: Por que será que nesses lugares o resultado foi positivo?

(10)A4: O caderno também.

(11)P: E quais são estes micro-organismos que identificamos? (12) Turma: Fungos e bactérias![em coro]

(13)P: E o que nós aprendemos, então? (14)A1: Que tem que limpar a escola. (15)P: E as mãos?

(16)A6: Lavar as mãos.

(17)P: Os micro-organismos também estão na mesa, na carteira, no caderno, na boca e no ouvido...Estão em...

(18) Turma: ...Todo lugar [em coro].

A análise dessa transcrição permite identificar a utilização da seriação, organização e classificação dos dados do resultado do experimento. Nos primeiros experimentos, foi importante analisar e organizar os dados de forma coletiva, promovendo o confronto entre os saberes cotidianos e os científicos, entre as hipóteses e os resultados. Entendemos que, quando aplicam os termos fungos e bactérias, estão utilizando a classificação, uma vez que estes seres ascendem da condição de micróbio e bichinho para a categoria de micro-organismos específicos. Além desses indicadores estão presentes os raciocínios lógico e proporcional, justificativa, explicação; a prática social surge quando concluem que a limpeza do espaço escolar deve ser mais eficaz e questionam as serventes. Conforme vimos em Shen (1975), essa é a “alfabetização científica prática”, aquela que contribui para a melhoria da qualidade de vida, tornando o indivíduo apto a resolver, de forma imediata, problemas básicos que afetam a sua vida.

ATIVIDADE 3 – ESTRAGANDO O MINGAU

O dia a dia do cidadão hoje é muito corrido. Temos pressa para tudo. Muitas vezes ouvimos educandos afirmar que seus responsáveis saem para o trabalho e deixam que o preparo dos alimentos fique por responsabilidade desses menores, ou já deixam a comida preparada sobre o fogão. É comum que nos abordem sobre manchas leitosas e malcheirosas nos alimentos, sobre o bolor no pão e prazos de validade vencidos. Dessa forma, essa atividade propõe a discussão de relações entre micro-organismos, alimentos e doenças e promove o conhecimento sobre a

conservação dos alimentos em nossas casas. Um personagem, Cláudio Todo Errado (TE), na verdade um fantoche, provoca e instiga as crianças num diálogo desenvolvido com a professora, em que ele deixa claro que não possui hábitos saudáveis de vida. Dentre eles, em sua casa, a comida fica fora da geladeira porque todos têm horários diferentes e não têm tempo de esquentar, não tomam banho com frequência, não bebem água filtrada, não lavam as mãos e não cortam as unhas. As crianças devem aplicar os conhecimentos para compartilhar o que aprenderam com o personagem apresentado na Figura 14.

Figura 14 – O Fantoche Cláudio Todo Errado em debate com a pesquisadora

Fonte: Arquivo pessoal da autora.

Segue abaixo um trecho selecionado desta etapa:

(27) TE: “Por que eu tenho que fazer estas coisas aí que vocês estão falando?” (28)A1: “Senão você pode pegar um micróbio”.

(29)A 2: “São os FUNGOS e BACTÉRIAS” [nomeiam; agora, os MO começam a ser identificados].

(30) TE: “Isso é conversa para boi dormir, não acredita nessa professora, não”. MO não

existe. Eu nem estou vendo eles”. (31)A3: ”Mas eles são reais”.

(32)P: “Como nós vimos os micro-organismos?”

(33)A1: “Com a lente [deve estar se referindo á lupa de mão]”. (34)A3: “Que lente, nada!”.

(35)A4: “Micoscóspio!” [sic] (36)A 2: “Telescópio!”. (37)A3: - MICROSCÓPIO!

Identificamos nesse trecho a interação das crianças com o fantoche. Para contestá- lo, em suas argumentações, elas se valeram dos indicadores de AC, além da aplicação da linguagem científica, quando nomeiam o aparelho responsável pela observação desses pequenos seres, o microscópio. Torna-se aparente a