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Os sujeitos da pesquisa são alunos de três turmas de primeiro ano do Ensino Fundamental, turnos matutino e vespertino e suas professoras. Os sujeitos envolvidos tiveram a sua identidade preservada, não sendo divulgada nenhuma informação que possibilite a identificação deles. As informações fornecidas e dados coletados foram utilizados somente para a realização da pesquisa. Conta com autorização do diretor dessa instituição de ensino, anuência da equipe técnico-

pedagógica, assinatura dos responsáveis dos alunos do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, a autorização do uso do depoimento oral, a cessão de direitos sobre o depoimento oral segundo as orientações do Comitê de Ética em Pesquisa do Ifes. Os dados coletados na escola foram empregados exclusivamente na pesquisa, que não foi submetida à plataforma Brasil, para ser encaminhada ao Comitê de Ética e Pesquisa do Ifes, uma vez que o Comitê ficou fechado em 2012 por motivos institucionais. Dessa forma, procurou-se obedecer a todos os procedimentos de controle de dados, a fim de não ter nenhum problema ético e legal.

Os sujeitos envolvidos foram previamente informados sobre a pesquisa e que eles poderiam desistir de sua participação em qualquer momento, não sofrendo nenhum tipo de dano moral ou econômico. Para o sigilo da identidade dos sujeitos, os alunos foram denominados por números.

As turmas investigadas foram os primeiros anos denominados A, B e C da referida escola. Os alunos do 1.º ano A estavam matriculados no turno matutino, com 25 alunos – 13 meninos e 12 meninas. Oito deles liam fluentemente, dez liam com mediação, cinco estavam no início do processo e dois ainda não liam. Eram interessados e seus cadernos eram muito organizados, com letras bastante caprichadas. A professora do 1.º ano A é graduada em Letras, com pós-graduação em Estudos Linguísticos, atuando em outra escola como professora de Português. Ela também possui o magistério, tem 22 anos de serviço, treze são nessa escola.

Os primeiros anos B e C frequentavam o turno vespertino. A turma B possuía 13 meninos, 11 meninas. Dezoito deles estavam lendo, três com mediação e três ainda não liam. Os alunos eram falantes, muito participativos, produziam muitos textos coletivos e contavam com o auxílio de um estagiário. A sala também possuía ar refrigerado. Esse espaço anteriormente foi um laboratório de cartografia. A professora é graduada em Pedagogia, com especialização em Educação Especial, e atua há 22 anos no Magistério.

A turma C possuía 22 alunos frequentes: treze meninos e nove meninas; sete lendo correntemente, seis com mediação e nove ainda não liam. Os alunos eram um pouco dispersos e os meninos, indisciplinados. Além disso, essa turma era faltosa. A sala é a mesma do 1.º ano A. A professora é graduada em Pedagogia e possui seis anos de Magistério. O primeiro ano C nos trouxe uma situação inusitada, que foi a presença de uma mãe que insistia em acompanhar a filha na sala de aula, de forma que nos acompanhou até o final da primeira sequência didática.

As professoras relataram que, durante o Curso de Pedagogia, 60 horas foram destinadas ao ensino de Ciências, numa disciplina denominada Didática das Ciências Naturais. A Universidade Federal do Espírito Santo mantém esse mesmo programa até os dias atuais. Diante dessa formação, as professoras colocaram que estão sempre pesquisando em livros e sites sobre temas relacionados com Ciência para implementar suas aulas. Elas não confirmaram um quadro de insegurança para ministrar essa disciplina.

Pelos documentos oficiais que regem a implementação do Ensino Fundamental de nove anos, esses alunos estão inseridos num ciclo de três anos, e aqueles que ainda não adquiriram a leitura e a escrita seguirão para os anos seguintes e continuarão no processo de alfabetização. No que diz respeito aos alunos, as crianças de seis anos, desde 2010, estão inseridas no Ensino Fundamental de nove anos. No município de Vitória, Espírito Santo, foi implementado o ciclo inicial de aprendizagem de três anos, dentre outras ações para que esses sujeitos fossem adequadamente recebidos nesse contexto. A justificativa para a sua implementação reside, entre outras questões, em atender às necessidades dos indivíduos colocados à margem do processo educativo baseado na seriação, tendo como resultado a evasão escolar e altos índices de reprovação.

Assim, o Ciclo Inicial de Aprendizagem, proposto pela Secretaria Municipal de Educação de Vitória/ES, definido na Resolução nº. 07/2008 do Conselho Municipal de Educação de Vitória, como parte integrante do Ensino Fundamental de Nove Anos de duração, é defendido sob o argumento do respeito aos ritmos processos e percursos de aprendizagem das crianças,

da eliminação da cultura, da repetência instalada na escola, da preservação da autoestima das crianças e da melhor organização do tempo espaço escolar (VITÓRIA, 2011).

Ainda de acordo com esse documento, a ampliação do Ensino Fundamental começou a ser discutida no Brasil nos anos 90 e só teve início, em algumas regiões, a partir dos anos 2000. Conforme o Ministério da Educação, o Brasil tinha até 2010 para implementar o Ensino de Nove Anos, o que se tornou meta progressiva da Educação Nacional, com base na Lei n.º 10.172 de 9 de janeiro de 2001; meta 2 – propõe a inclusão das crianças de seis anos de idade, que visa a: a) assegurar que, ingressando mais cedo no sistema de ensino, as crianças prossigam nos estudos, alcançando maior nível de escolaridade; assegurar a todas as crianças um tempo mais longo no convívio escolar, mais oportunidade de aprender e um ensino de qualidade; oferecer maiores oportunidades de aprendizagem no período de escolarização obrigatória.

A legislação que regulamenta o Ensino Fundamental de nove anos está descrita abaixo:

a) Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, art. 208;

b) Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996 – admite a matrícula no Ensino Fundamental de nove anos, a iniciar-se aos seis anos de idade;

c) Lei n.º 10.172, de 9 de janeiro de 2001, estabelece o Ensino Fundamental de nove anos como meta da educação nacional;

d) Lei n.º 11.114, de 16 de maio de 2005, altera a LDB e torna obrigatória a matrícula das crianças de seis anos de idade no Ensino Fundamental.

e) Lei n.º 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, altera a LDB e amplia o Ensino Fundamental para nove anos de duração, com a matrícula de crianças de seis anos de idade. Também estabelece prazo de implantação pelos sistemas até 2010.

Segundo as orientações legais e normas estabelecidas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), a data de ingresso das crianças no Ensino Fundamental de nove anos é a partir dos seis anos de idade, completos ou a completar até a data de corte, que é estabelecida pelo sistema municipal de ensino. No caso de Vitória, a criança deverá ter seis anos completos ou a completar até 1.º de março, conforme o

art. 59 da RESOLUÇÃO do COMEV n.º 07/200. Os documentos norteadores da inserção da criança de seis anos de idade apontam que uma nova estrutura de organização curricular aconteça na esfera do Ensino Fundamental, como a (res)significação da concepção de:

[...] criança/infância, currículo, avaliação, planejamento, ensino/aprendizagem, conhecimento, mediação pedagógica, tempos espaços de aprendizagem, linguagem, alfabetização. Portanto não se trata de transferir para o trabalho pedagógico com as crianças de seis anos os conhecimentos e atividades da primeira série, nem de repetir conhecimentos trabalhados nas turmas de pré da Educação Infantil de seis anos, mas de retomar essas concepções considerando a criança como sujeito sócio-histórico [...] (VITÓRIA, 2011, p. 10).

A inclusão desses sujeitos no Ensino fundamental traz novas demandas, como a necessidade de instalação de mobiliário adequado, espaços para brincar e considerações de ordem pedagógica. Nesse contexto, o ensino de Ciências é revisitado bem como as possibilidades da oferta de aulas experimentais aos primeiros anos na escola pesquisada.