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3.4 ETAPAS E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

3.4.2 Análise qualiquantitativa

As pesquisas que utilizam o método do Grupo Focal são, frequentemente, qualitativas devido à ausência de medidas numéricas e análises estatísticas. Assim, o foco deste tipo de pesquisa está em qualificar os dados obtidos através das respostas e interações durante entrevistas ou discussões em grupos (DUARTE, 2002). Enquanto pesquisa qualitativa, este trabalho está voltado para o método de estudo de caso. Assim, a pesquisa qualitativa leva à produção de interpretações e explicações que procuram dar conta, em alguma medida, do problema e das questões que motivaram a investigação. É necessária muita leitura do material de que se dispõe, cruzando informações, interpretando respostas, notas e textos integrais (DUARTE, 2002). A pesquisa qualitativa deve levar em conta o contexto ou o ambiente dos participantes, por isso o pesquisador se insere neste meio (no nosso caso, a escola) para tentar vivenciar melhor a realidade dos participantes da pesquisa. O processo de pesquisa qualitativa é muito indutivo, com o pesquisador gerando significado a partir dos dados coletados no campo (CRESWELL, 2007).

Por estas razões, os dados obtidos durante os grupos focais serão devidamente analisados para que possamos compreender qual é a concepção de leitura que tem norteado o trabalho dos professores em sala de aula. Faremos uma sistematização dos dados e uma análise aprofundada das questões pertinentes à concepção e ao ensino da leitura, além de observar os pontos em comum nas falas dos professores e a relação desses pontos com a fundamentação teórica deste trabalho. A análise será feita a partir das respostas obtidas a partir dos formulários e das transcrições dos Grupos Focais de cada uma das escolas participantes do projeto. Ao final, iremos analisar as respostas que se aproximam com relação à concepção de leitura e o entendimento sobre o ensino da leitura dos professores participantes da

pesquisa. Deste modo, buscaremos verificar se os professores possuem algum conhecimento das teorias da Psicolinguística para o trabalho com a leitura em sala de aula, assim como, a falta deste conhecimento e a sua influência no processo de ensino da leitura.

Esta pesquisa também utilizará o método quantitativo para atingir seus objetivos. A pesquisa quantitativa se torna importante para o desenvolvimento desta pesquisa a partir do momento que conseguimos mostrar através de números as diferentes concepções e propostas de ensino da leitura dos diversos professores de língua portuguesa e estrangeira e das demais disciplinas. Trata-se também de um levantamento.

A partir dos dados levantados na análise qualitativa, iremos quantificar as respostas obtidas durante os grupos focais. Neste sentido, nosso objetivo é de verificar quantos professores compreendem a leitura como processo de decodificação ou extração de significado do texto, quantos a compreendem como processo de atribuição de significado, como processo de interação, e quantos não possuem uma concepção clara de leitura, conceituando-a a partir da sua funcionalidade e importância. Também iremos quantificar quantos professores compreendem o ensino da leitura como um processo de formação de leitores proficientes, que façam uso de estratégias metacognitivas para alcançar seus objetivos, e quantos entendem que a leitura não é ensinada, pois basta o aluno ser alfabetizado para saber ler. Outro ponto que merece destaque é verificarmos se os professores de língua portuguesa e/ou estrangeira se diferem quanto à concepção e ensino da leitura dos professores das demais disciplinas. Para isto, quantificaremos os dados obtidos pelos dois grupos de professores, os que trabalham com ensino de língua e os das demais disciplinas.

3.5 QUESTÃO DE PESQUISA

A concepção de leitura e a compreensão do ensino da leitura por parte dos professores do ensino fundamental e médio estão de acordo com as atuais teorias da ciência cognitiva sobre formação de estudantes proficientes em leitura?

3.6 HIPÓTESES

 O modo como o professor entende e conceitua a leitura vai influenciar diretamente na sua compreensão de ensino da leitura em sala de aula.

 Se o professor compreende que ler é decodificar, logo, ele acredita que basta o aluno ser alfabetizado para saber ler.

 Os professores das diversas disciplinas escolares, não têm recebido uma formação que os preparem para formar estudantes enquanto leitores proficientes, que saibam interagir com o texto de forma estratégica a partir de seus objetivos de leitura.

 Os professores não compreendem seu papel no ensino da leitura no ensino fundamental e médio.

 Eles não têm recebido uma formação que proporcione o conhecimento necessário sobre as habilidades e estratégias de leitura que deveriam ser ensinadas em sala de aula para que os estudantes cheguem, de fato, à compreensão do texto escrito.

3.7 OBJETIVOS

3.7.1 Objetivo geral

Diagnosticar qual é a concepção de leitura que permeia o trabalho dos professores participantes dos Grupos Focais do projeto Ler & Educar (OBEDUC) e como eles compreendem a prática do ensino da leitura na escola.

3.7.2 Objetivos específicos

a) Identificar a concepção de leitura que os professores, das diversas disciplinas, possuem;

b) Verificar como os professores compreendem o ensino da leitura no ensino fundamental e médio;

c) Investigar a relação entre a concepção de leitura dos professores e a forma que eles propõem o ensino da leitura em sala de aula;

d) Analisar se há diferenças relevantes entre a concepção e a proposta de ensino dos professores de línguas e séries iniciais com relação aos professores das demais disciplinas;

e) Diagnosticar, se os professores possuem um conhecimento sistematizado sobre os processos e o ensino da leitura de acordo com as ciências cognitivas e a Psicolinguística.

4 ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS

Neste capítulo, iremos apresentar o resultado da análise a partir das perguntas, respostas e interações obtidas durante a realização dos grupos focais, sobre o professor enquanto sujeito-leitor, a concepção de leitura dos professores e a relação desta concepção com a compreensão do ensino da leitura em sala de aula. O que eles entendem por leitura, como eles compreendem o seu processamento e, então, como os professores acreditam que possam ensinar seus alunos a ler. Os dados serão expostos de acordo com o formulário preenchido pelos professores, referente ao seu perfil, e a partir das perguntas e respostas obtidas nas interações dos Grupos Focais das seis escolas participantes do projeto.

4.1 O PERFIL DOS PROFESSORES10

Com relação ao tempo de trabalho, temos o gráfico abaixo que nos mostra em porcentagem os professores que atuam em sua área de formação entre 1 a 5 anos, 5 a 10 anos, 10 a 20 anos, mais de 20 anos e aqueles que não completaram esta questão.

GRÁFICO 1 – Tempo de trabalho

Fonte: a autora

Os dados mostrados pelo gráfico 1 revelam que a maior parte dos professores participantes da pesquisa atuam há mais de 10 anos na área da educação, o que nos leva a refletir que estes sujeitos possuem uma formação inicial mais antiga, e também, mais experiência na prática escolar. O gráfico também aponta que dentre os participantes temos um número significativo de profissionais que atuam na área há menos de 10 anos, logo, que provavelmente, tenham uma formação acadêmica mais recente, e possivelmente, mais atualizada teoricamente. Tais dados podem ser importantes ao levantarmos as informações sobre a concepção da leitura dos professores, e podem, ou não, demonstrar uma disparidade nas respostas dadas pelos educadores a partir do tempo de sua formação ou do tempo dedicado à prática escolar.

O gráfico 2 nos mostra as disciplinas lecionadas pelos professores participantes da pesquisa, revelando o número de professores de cada disciplina.

GRÁFICO 2 – Disciplinas ministradas

Fonte: a autora

A partir do gráfico 2, podemos verificar que houve uma grande diversidade de professores das mais variadas disciplinas do currículo escolar que se inscreveram para participar dos grupos focais nas escolas. Estes dados podem demonstrar, até certo ponto, que há uma preocupação da parte dos professores, de um modo geral, da escola com relação às

atividades de leitura, e não somente por parte do professor de língua portuguesa, língua estrangeira e séries inicias. Entretanto, quando observamos os números por disciplinas, ainda há um número expressivo entre professores de língua portuguesa, estrangeira e séries iniciais na participação do trabalho. Os dados revelam que dos 49 professores participantes da pesquisa, 20 são de língua portuguesa, estrangeira e séries iniciais.

No gráfico 3 podemos verificar a frequência dos professores em cursos de formação continuada. Os professores tiveram que preencher esta questão dentre as seguintes opções: 1 ao ano, 2 a 5 ao ano, 5 a 10 ao ano ou mais. Alguns professores não responderam a questão. Os resultados estão expostos no gráfico a seguir.

GRÁFICO 3 – Frequência em cursos de formação continuada

Fonte: a autora

É possível constatarmos a partir dos dados expostos no gráfico 3 que a maior parte dos professores procura dar sequência à sua formação por meio da participação em cursos de formação continuada. Este interesse pode estar ligado ao desejo de se aperfeiçoar teoricamente, ou ainda, à ascensão de nível dos professores no plano de carreira. Nenhum professor participa de mais de 10 cursos ao ano. A maior parte dos professores afirma participar de 2 a 5 cursos de formação ao ano. Há, também, um número significativo de professores que participam de apenas um curso por ano, no entanto, isto pode ser um reflexo da falta de tempo e sobrecarga de trabalho do professor.

Torna-se relevante também observarmos o sujeito professor enquanto leitor. Assim como tratamos no referencial teórico desta pesquisa, a relação do professor com a leitura é um

fator importante, pois os professores são os principais responsáveis pela formação leitora dos estudantes. Apontamos na seção anterior à metodologia, que ficará cada vez mais difícil os professores ensinarem a ler se eles mesmos não forem exemplo de leitores, não conhecerem o objetivo de ensino e aprendizagem e não compreenderem os princípios de representação, organização e funcionamento da escrita (SOUZA, 2012). Por esta razão, antes de qualquer coisa, professores precisam ser bons leitores e necessitam de prática constante de leitura.

Deste modo, uma questão pertinente ao desenvolvimento desta pesquisa é quanto ao tempo investido pelos professores em leitura por prazer. Os dados obtidos a partir desta questão foram: 35% disseram que dedicam 30 minutos ou menos por dia em leitura por prazer, 41% afirmaram que dedicam de 30 a 55 minutos por dia, 13% marcaram que dedicam entre 1 ou 2 horas por dia, 7% disseram que dedicam mais de 2 horas por dia e 4% afirmaram que não leem por prazer.

No quadro 1, apresentamos algumas afirmações importantes sobre a leitura, em que os professores tiveram que se posicionar com afirmações de “sim” ou “não”. Os números correspondem à quantidade de professores que optaram por uma ou outra alternativa, sendo especificado o código dos professores que deram respostas negativas com relação à leitura, conforme segue abaixo.

*QUADRO 1 – Afirmações acerca da leitura

Afirmações sobre a leitura Sim Não Eu leio somente se sou obrigado (a). 0 49

A leitura é um dos meus hobbies. 37 12 (EBP7, EDP1, EDP3, EDP4, EEP3, EEP6, EEP1, EEP4, EFP1, EFP2, EFP3, EFP11)

Eu gosto de conversar sobre livros com outras pessoas.

45 4 (EBP1, EEP3, EEP4,

EFP11)

Eu acho difícil terminar livros. 5 (EBP5, ECP1, EDP4, EFP1, EFP2)

44

Sinto-me feliz quando recebo livro como presente. 48 1 (EDP5)

Para mim, ler é uma perda de tempo. 0 49

Eu aprecio ir a uma livraria ou a uma biblioteca. 48 1 (EBP1)

Eu leio somente para extrair a informação de que eu preciso.

1 (EDP4) 48

Eu não consigo me sentar e ler mais do que por alguns minutos.

3 (EDP4, EEP1, EFP1)

46

Fonte: a autora

Podemos constatar, a partir das afirmações dos professores sobre a leitura por prazer e dos dados revelados no quadro 1, que a maior parte das respostas dos professores foi concernente com seus papéis enquanto educadores e promovedores da leitura na escola, respondendo de forma positiva as questões que vão ao encontro de bons hábitos de leitura. Entretanto, devemos destacar que algumas respostas surpreenderam, pois alguns professores se posicionaram de forma negativa com relação à leitura, afirmando que: não leem por prazer, não gostam de falar sobre livros, acham difícil terminar a leitura de um livro, não gostam de receber livro como presente, não apreciam ir a uma livraria ou biblioteca, leem apenas para extrair o significado do texto e não conseguem ler durante muito tempo. É possível inferir que alguns professores foram sinceros em suas respostas sem medo de revelar a falta de hábito ou de gosto pela leitura e pelos livros. Por outro lado, podemos também inferir que as muitas respostas em favor do hábito de leitura, podem não ter sido verdadeiras, mas apenas respondidas de acordo com o esperado por professores que trabalham, de uma forma ou de outra, com a leitura.

Os dados apresentados nesta subseção serão confrontados com os dados obtidos nos Grupos Focais, na medida em que os professores discorrerem sobre seus hábitos de leitura, para verificarmos se há distinção entre o que foi preenchido no formulário e o que foi falado durante a interação dos grupos.

4.2 A CONCEPÇÃO E O ENSINO DA LEITURA POR PARTE DOS PROFESSORES

Nesta subseção, apresentamos os resultados obtidos com relação à concepção de leitura dos professores e a compreensão do ensino da leitura em sala de aula, a partir dos dados obtidos nos Grupos Focais de cada uma das escolas participantes do projeto Ler & Educar, no núcleo de Chapecó. A análise se dará a partir das questões-chave que foram articuladas durante as discussões em grupos e que vão ao encontro dos nossos objetivos de pesquisa. Primeiramente, apresentamos uma análise qualitativa dos dados, observando as falas dos professores e tentando compreender quais são as concepções de leitura que estão presentes nas falas e como eles entendem o trabalho de ensino da leitura em sala de aula. Posteriormente, apresentamos a análise quantitativa a partir de quadros e gráficos para mensurar as respostas obtidas quanto à concepção de leitura, habilidades de leitura e o seu ensino.