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Motivação e envolvimento dos estudantes nas atividades de leitura

2.3 A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NO MEIO ESCOLAR

2.3.1 Motivação e envolvimento dos estudantes nas atividades de leitura

Ao considerarmos o processo de ensino e aprendizagem da leitura, dentre os vários fatores que são importantes e fundamentais para um processo bem-sucedido, dois deles são condição sine qua non para sua realização: envolvimento e motivação dos aprendizes. Estudantes motivados e envolvidos nas tarefas de leitura é condição necessária para o trabalho de formação de leitores competentes em sala de aula. Pesquisas têm apontado que quando os estudantes se envolvem com a leitura, os processos motivacionais e a mobilização de estratégias cognitivas são ativados com maior frequência. Afflerbach. et.al. (2013) afirmam que quando os alunos visualizam a leitura como uma oportunidade de construir novos conhecimentos, eles usam processos cognitivos superiores com mais frequência do que os estudantes que acreditam que o objetivo da leitura é estabelecer apenas uma compreensão literal do texto para dar uma resposta ao professor. Ainda, de acordo com Protacio (2012), se os alunos estão motivados a ler, leem mais. Quando leem mais, eles são mais propensos a melhorar suas habilidades de leitura, especificamente de sua compreensão. Assim, a leitura se transforma em um caminho para a aprendizagem.

Sabendo que a motivação e o envolvimento dos estudantes são fundamentais para o sucesso na formação de leitores, a questão que surge neste ponto é: como podemos motivar e envolver nossos estudantes nas atividades de leitura propostas em sala de aula? Solé (1998) afirma que uma boa forma do educador fomentar a leitura é mostrar o gosto por ela, comentando sobre os livros preferidos, recomendando títulos, levando um livro para si mesmo quando os alunos forem à biblioteca. Outro modelo que pode ser adotado para incentivar a leitura é a “leitura silenciosa” em contexto de sala de aula. Clark e Foster (2005), em uma pesquisa com alunos de escolas inglesas, verificaram que a atividade de leitura silenciosa oportuniza a promoção da leitura voluntária, uma vez que os estudantes afirmaram gostar de ler livros na escola, principalmente quando têm a possibilidade de escolher livremente o material de leitura e o podem fazer durante um longo período de tempo. Os alunos que demonstraram menos entusiasmo afirmaram que esta estratégia não os motiva a ler porque depois da leitura não lhes é dada a oportunidade para falarem sobre o que leram.

Ainda, uma forma de colaborar com o envolvimento dos estudantes nas tarefas de leitura é levar em conta o contexto sociocultural dos estudantes. Wood e Jocius (2013) investigaram as dificuldades de leitura dos jovens afro-americanos. Um dos apontamentos dos autores na pesquisa é que a leitura imposta, nas salas de aulas americanas, não leva em conta a realidade que cerca os jovens negros. A maioria dos livros retrata a realidade da classe média/

alta, e não a realidade da população negra. Deste modo, os estudantes negros não conseguem se enxergar dentro dos textos propostos, havendo um grande desinteresse pela leitura. Seguindo o exemplo da pesquisa americana, escolas e professores, devem atentar para a realidade que cerca os seus estudantes, o bairro onde está inserida a escola, a classe econômica e a idade dos alunos, tentando trazer para a sala de aula textos que vão ao encontro dos interesses dos estudantes e que possibilitem sua aproximação e envolvimento com a leitura. De acordo com Azevedo (2013, p. 18) “torna-se evidente que devem ser exploradas estratégias alternativas para incentivar a prática de leitura, que se adequem não apenas à idade e gênero, mas, também, aos seus interesses e necessidades”.

A motivação também está ligada à clareza que a tarefa de leitura tem, ou seja, os objetivos de cada uma das leituras presentes em sala de aula. Para que o trabalho com a leitura tenha êxito no âmbito escolar, os estudantes precisam ter interesse pelo o que leem, ou precisam estar cientes de que aquela leitura é necessária para o seu desenvolvimento em diversas esferas. Seja por prazer ou interesse, seja por necessidade, a leitura precisa fazer sentido para o aluno. Os estudantes precisam ser envolvidos nas atividades de leitura, por meio de objetivos que deem uma significação ao ato de ler. A falta de sentido nas atividades de leitura torna o trabalho algo desmotivador.

[...] a leitura que não surge de uma necessidade para chegar a um propósito não é propriamente leitura; quando lemos porque outra pessoa nos manda ler, como acontece frequentemente na escola, estamos apenas exercendo atividades mecânicas que pouco tem a ver com significado e sentido (KLEIMAN, 2011, p. 35).

Solé (1998, p. 43) acrescenta que “a atividade de leitura será motivadora para alguém se o conteúdo estiver ligado aos interesses da pessoa que tem que ler e, naturalmente, se a tarefa em si corresponder a um objetivo”. De acordo com a autora, o estudante precisa estar ciente do que deve fazer, conhecer os objetivos que se pretende alcançar com sua atuação, sentir que é capaz de fazê-lo e achar interessante o que se propõe que ele faça (SOLÉ, 1998). Outro ponto apresentado por Solé (1998) é que a tarefa de leitura deve trazer algum desafio ao aluno de modo com que ele se sinta envolvido com a tarefa, entretanto, este desafio deve ser algo alcançável e deve estimular o aluno a realizar a tarefa.

Ter objetivos claros contribui para que a tarefa seja cumprida com êxito e para que o estudante compreenda verdadeiramente o que leu. Kleiman (2011) defende que quando se estabelece objetivos para a leitura, a capacidade de processamento e de memória melhora significativamente, colaborando na compreensão do texto. O leitor que tem clareza do que

está fazendo e para que está fazendo consegue relacionar melhor a tarefa com o seu conhecimento prévio, estabelecendo uma relação mais profunda com o texto, pois há interesse e objetividade para tal ação.

Estabelecer objetivos para a tarefa de leitura também contribui para que, na interação com o texto, o leitor consiga formular hipóteses, “estas fazem com que certos aspectos do processo essenciais à compreensão se tornem possíveis” (SANTORUM, 2005, p. 7). Assim, quando o professor estabelece um objetivo para a tarefa de leitura ele cria condições estimuladoras e desafiadoras para que os alunos possam refletir e buscar alternativas para solucionar, de maneira criativa, os problemas que surgem. O educador deve oportunizar aos estudantes um momento em que eles mesmos possam estabelecer objetivos para suas leituras, dando, assim, autonomia aos alunos, e ensinando-lhes as estratégias para a compreensão do texto.

A compreensão dos estudantes a respeito da importância da leitura para as atividades do cotidiano é um desafio para o professor, que precisa de uma classe envolvida, desafiada e motivada para as tarefas de leitura que propõe. Por isso, as atividades elaboradas para a construção desse leitor estratégico, autônomo e crítico carecem de um professor bem amparado teoricamente e um contexto de discussão e suporte bem constituído na escola. Diante dessas condições mínimas, o contato com a leitura, quer por meio do livro, quer por meio de outros portadores de texto e gêneros, poderá ocorrer de forma a estabelecer o envolvimento esperado dos estudantes nas atividades de leitura, tornando-se uma consequência da prática desenvolvida pelo professor, pelo contato que se tem com os materiais escritos, em especial o livro, e pelos desafios oferecidos aos estudantes.

Quando temos alunos mais motivados e envolvidos nas atividades de leitura, o ensino das estratégias se torna uma consequência do processo de formação de leitores proficientes. Na próxima subseção iremos discorrer sobre as questões relacionadas ao ensino da leitura e como podemos formar leitores estratégicos que consigam compreender de fato o texto escrito.