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3.4 ETAPAS E PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

4.2.3 A leitura é algo que se ensina?

Quando indagados se a leitura é algo que se ensina, houve uma divisão entre as respostas e algumas incertezas com relação ao tema. A professora de Matemática (EAP1) disse que é possível ensinar e que o ensino se dá por meio do exemplo. De acordo com a professora, os pais que leem são modelos para seus filhos que certamente também serão leitores. Já a professora de LP (EAP3) demonstrou dúvida quanto ao tema. Ela afirmou que acha complicado o termo ensinar, pois acredita que ela motiva e incentiva o aluno, mas não ensina. A professora demonstrou confusão ao afirmar: “às vezes tenho dúvidas se motivo alguém a ler, ou se ensino, não sei por que meu objetivo seria ensinar. Ensinar a encontrar a resposta, a encontrar a ideia?” (EAP3). A professora ainda sustentou que ensinar está ligado à decodificação, quando o aluno olha um texto e não compreende o que está escrito. Assim, ela acredita que incentiva o seu aluno a ler, mas ensinar está relacionado ao processo da alfabetização.

O professor de Filosofia (EDP3) sustentou: “a questão do ensinar é um pouco complicada... em séries inicias eu acredito que tem que ensinar”. A professora de Artes (EDP1) concordou dizendo: “a gente alfabetiza a criança e a leitura a gente não ensina, só estimula...”. Os demais professores concordaram e acrescentaram afirmando que o hábito de ler deve ser ensinado, que por intermédio do estímulo o aluno passa a ter o gosto pela leitura e

que o exemplo é a melhor forma de ensinar. Alguns trechos das falas dos professores revelam que eles relacionam o ensino ao exemplo e à motivação:

“Eu acho que um modo bem particular de ensinar a leitura é o exemplo” (EBP1). “O hábito de ler, eu concordo que é possível ensinar. O hábito e o que a pessoa vai ler, depois a gente vai lapidando” (EAP5).

“Se ensina porque eles precisam ser estimulados a ter a leitura como hábito, a leitura não só científica, mas por prazer” (EEP5).

“Eu acho que a leitura é aquele exemplo clássico que só ensina com exemplo” (EFP12).

Já discorremos na fundamentação teórica que a motivação e o envolvimento dos estudantes nas atividades de leitura são de extrema relevância. Relembrando o que afirma Protácio (2012), se os alunos são motivados a ler, leem mais. Quando leem mais, eles são mais propensos a melhorar suas habilidades de leitura, especificamente de sua compreensão. Assim, a leitura se transforma em um caminho para a aprendizagem. Entretanto, o termo motivação deve ser entendido além de simplesmente tenta convencer ou impor ao aluno que ele precisa ler, mas como uma forma de mostrar, por meio de objetivos claros de leitura, o quão ela é necessária para o seu desenvolvimento. De acordo com Afflerbach. et.al (2013), quando os estudantes são envolvidos e motivados, a compreensão da leitura melhora. Outro ponto que devemos considerar é que a motivação não pode ser confundida com o ensino da leitura, são termos diferentes, mas juntos contribuem para a formação integral do leitor. O ensino da leitura deve estar focado no trabalho com as estratégias cognitivas e metacognitivas para a formação de um leitor estratégico (FINGER-KRATOCHVIL, 2012; KLEIMAN, 2011; RIBEIRO, 2003; SANTORUM, 2005; SOUZA, 2012).

Alguns professores afirmaram que é fundamental ensinar e que este é um objetivo do professor em sala de aula, no entanto, eles não sabem se cumprem com êxito esta tarefa. Após as afirmações gerais, a professora de Filosofia (EBP1) acrescentou que a leitura deve ser ensinada a partir do exemplo. Ela sustentou que o professor pode ser um exemplo de leitor para seus alunos, que a partir dele os alunos criam interesse pela leitura e se envolvem mais com as atividades propostas durante o projeto de leitura da escola. A professora de LP (EEP5) contribuiu dizendo: “se o professor não lê, como ele vai estimular o aluno?”. A fala das professoras é relevante, pois um dos objetivos do professor no processo de ensino da leitura é ser um modelo de leitor para os seus estudantes, apresentando-lhes propostas de leitura e ensinando-os a estabelecer objetivos para a leitura de um texto.

Apesar de afirmarem que mais estimulam do que ensinam e que o ensino se restringe à alfabetização, os educadores revelaram as debilidades dos seus alunos diante da leitura de um texto. O professor de Filosofia discorreu sobre as dificuldades que os estudantes têm para ler e compreender um texto, ainda que já tenham sido alfabetizados: “eu vejo que eles não conseguem compreender, eles leem mecanicamente e eles não conseguem entender o texto, então, eu não sei se isso poderia ser classificado como processamento da informação, não tem

processamento” (EDP3). Os demais professores do grupo concordaram com o professor e

passaram a relatar as dificuldades dos alunos em compreender os enunciados dos exercícios. Mesmo diante das debilidades dos estudantes, os educadores não sabem como reverter tais problemas e não compreendem seus papéis no ensino da leitura, além da motivação, para os alunos do ensino fundamental e médio, que já foram alfabetizados.

O professor precisa estar consciente de seu papel, tomando atitudes que auxiliem os alunos na compreensão do texto, fornecendo modelos para a atividade global, modelos de estratégias específicas de leitura, fazendo predições, perguntas, comentários (KLEIMAN, 2012). O professor pode fornecer os instrumentos necessários para que o aluno consiga compreender um texto, e aos poucos vá assumindo o controle da sua própria aquisição do saber e de sua formação enquanto leitor. Para tanto, não basta apenas ser um bom leitor, mas cabe ao professor ser um bom formador de leitores, para que tenhamos estudantes estratégicos em nossas escolas.

É possível notarmos que quando falamos do ensino da leitura com professores do ensino fundamental e médio, estes se sentem isentos deste trabalho, pois relacionam o ensino à alfabetização. Assim, se o aluno já está alfabetizado, ele já sabe ler, então o termo ensino se torna irrelevante, sendo o papel do professor centrado apenas no incentivo e estímulo à leitura. Sem dúvidas, a alfabetização é um importante processo para a aquisição da leitura e se o aluno não consegue decodificar o texto escrito, certamente, não irá compreender o que leu (MORAIS, 1997; GOMBERT, 2008). No entanto, para que haja compreensão, o ensino da leitura não pode ser pautado apenas na decodificação do texto. Nossos estudantes precisam ser ensinados a ler a partir de uma perspectiva da leitura como interação entre leitor e texto, a fim de que possam usar as habilidades de leitura que são próprias de um leitor proficiente. (DURAN, 2009; KLEIMAN 2012).