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2.3 A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NO MEIO ESCOLAR

2.3.2 O ensino da leitura

2.3.2.1 Estratégias cognitivas e metacognitivas

O ensino da leitura na escola é fundamental para que nossos alunos se tornem leitores estratégicos, autônomos e críticos. A ciência da Psicolinguística aborda duas grandes esferas de estratégias envolvidas no processamento da leitura, a saber, as estratégias de natureza cognitiva e metacognitiva. As de natureza cognitiva são estratégias que se utilizam de habilidades automatizadas e, portanto, inconsciente por parte do leitor, ou seja, ele não necessita empregar grande carga cognitiva deliberadamente para a realização (KLEIMAN, 2011; RIBEIRO, 2003). As estratégias cognitivas estão, normalmente, relacionadas ao processamento do conhecimento linguístico do leitor, pois, são as habilidades que ele possui do âmbito gramatical e vocabular, que facilitam ao leitor ligar as informações presentes no texto. O processo de coerência textual é feito a partir das estratégias cognitivas (inconsciente) que o leitor utiliza. Finger-Kratochvil destaca que quanto mais prática de habilidades em leitura, mais automatismo haverá no processamento do texto (FINGER-KRATOCHVIL, 2010, p. 87). O leitor compreende o que lê sem parar para refletir nas etapas dos processos que utiliza para essa ou aquela atividade.

Entretanto, quando a leitura se torna difícil por causa de novos vocábulos ou por conter um tema complexo, ela precisa ser desautomazida. Quando a estratégia de leitura passa a ser algo consciente ao leitor, torna-se uma estratégia metacognitiva. Ribeiro (2003) afirma que a metacognição “diz respeito, entre outras coisas, ao conhecimento do próprio conhecimento, à avaliação, à regulação e à organização dos próprios processos cognitivos”. A metacognição pode ser conceituada a partir de três procedimentos, conforme apresentam Ribeiro (2003) e Finger-Kratochvil (2010): 1) Conhecimento declarativo (saber quê, ter consciência do que sabe e das estratégias que devem ser usadas); 2) Conhecimento procedimental (saber como realizar uma tarefa e aplicar uma estratégia; 3) Conhecimento condicional (saber quando e onde usar cada estratégia). Sobre essa questão, Souza destaca que as principais atividades relacionadas à metacognição são: definição de objetivos, focalização da atenção, acionamento de conhecimentos prévios relevantes, monitoramento e avaliação (SOUZA, 2012, p. 72).

Leffa (1996) contribui afirmando que na atividade de metacognição o leitor deve se voltar para si mesmo e se concentrar no processo que ele está utilizando para chegar até o conteúdo do texto. Ao utilizar as estratégias metacognitivas, o leitor usa sua consciência para regular o que está sendo feito a cada momento da leitura, quando se faz necessário parar e

voltar no texto, quando um parágrafo pareceu sem sentido, quando se percebeu uma contradição no texto, ou o porquê de não a ter percebido (SANTORUM, 2005).

Assim, por se tratar de estratégias conscientes, a metacognição pode e deve ser ensinada na escola. O trabalho com a leitura, a partir do ensino de estratégias, deve estar centrado no “aprender a aprender”. Finger-Kratochvil sustenta que

O pensar sobre o próprio pensar é o cerne do comportamento estratégico. O pensamento reflexivo que se estabelece quando se observam retrospectivamente os sucessos e os fracassos tidos diante de uma tarefa, racionalizando-os, é um marco importante no comportamento estratégico e, por consequência, no processo de aprender a aprender (FINGER-KRATOCHVIL, 2010, p. 87).

A formação do leitor competente é de suma importância para a visão educacional que ruma no sentido da autonomia. Deste modo, o ensino das estratégias metacognitivas deve ser trabalhado nas escolas de forma gradativa, dando cada vez mais independência ao estudante. Este é um processo crucial para a formação do leitor, e deve ser desenvolvido na escola a partir de um ensino que tenha como foco as estratégias cognitivas e metacognitivas. Neste processo de ensino, o professor pode servir de modelo para os estudantes, por isto, Ribeiro (2003) sustenta que é a partir do estilo de ensino do professor que os estudantes vão adquirir as estratégias necessárias para a leitura. A autora acrescenta que o adulto deve, progressivamente, deixar a criança assumir o controle da atividade de leitura.

Ou seja, inicialmente é o adulto (pais, professores, etc.) que controla e guia a atividade da criança; gradualmente o adulto e a criança partilham as funções de resolução do problema, em que a criança toma a iniciativa e o adulto a corrige quando falha; finalmente, a criança assume o controle da própria atividade (RIBEIRO, 2003).

O educador, então, tem o papel de levar o seu aluno a ser um leitor independente. Ele deve preparar o estudante para que este seja capaz de elaborar perguntas indiretas fazendo suas próprias relações com o texto e seu conhecimento prévio. O estudante deve usar a metacognição para avaliar seu nível de compreensão na leitura. É através do controle da sua própria compreensão que o leitor interage com o texto, traça um objetivo de leitura, formula perguntas e hipóteses, verifica as informações, sintetiza as ideias do texto, e compreende o que se lê. Somente um leitor competente é capaz de utilizar tais processos de forma consciente e regulá-los conforme a sua necessidade.

Relembrando o que vimos até aqui, para que o ensino da leitura se concretize, precisamos de estudantes motivados e envolvidos com as atividades de leitura. Essas atividades devem atender aos interesses e necessidades dos alunos, com objetivos pré-estabelecidos, a fim de

proporcionar a reflexão e a regulação da compreensão daquilo que se lê. Se nossos alunos desenvolverem habilidades de leitura e souberem usar as estratégias metacognitivas, serão leitores proficientes, e isso facilitará em muito o trabalho dos professores em todas as disciplinas da escola. Mas, para que tal movimento ocorra, os professores precisam compreender o verdadeiro sentido do trabalho com a leitura no ambiente escolar. Precisam enxergar a leitura como uma prática de formação individual, em uma relação social de aquisição de novos conhecimentos.

Se os professores conseguirem conduzir seus alunos a uma leitura reflexiva, interativa e independente, então os projetos de leitura terão mais sentido nas escolas. Por isto, Baretta, Finger-Kratochvil e Silveira (2012, p. 3) enfatizam que “ensinar a ler estrategicamente é um desafio a qualquer educador, o qual pode ser ainda maior, se o educador não dominar as competências e as habilidades necessárias à sua própria leitura proficiente”. Assim, cabe-nos refletir: os professores têm recebido uma formação capaz de prepará-los para este trabalho? Os cursos de licenciatura abordam o trabalho com a leitura em sala de aula, de modo a preparar o professor na execução desta tarefa? Destinaremos a próxima seção à formação do professor em leitura, a partir das pesquisas e teorias apresentadas a respeito deste tema.