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4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 ANÁLISE SINÓTICA PARA O PERÍODO

A poluição atmosférica é fortemente influenciada pelas condições meteorológicas que determinam o aumento ou a diminuição das concentrações dos poluentes atmosféricos em suspensão. Neste trabalho é utilizada uma série de dados meteorológicos coletados via internet durante a realização do experimento. As principais páginas visitadas foram: www.master.iag.usp.br, www.cptec.inpe.br e www.dhn.mar.mil.br, coletando-se cartas sinóticas do período, imagens de satélite, monitoramento de queimadas e dados da estação meteorológica do IAG na cidade universitária (local de realização do experimento).

Na RMSP a estação de inverno é caracterizada como seca. Neste período a região encontra-se sob o domínio dos anticiclones (sistemas de altas pressões). Os anticiclones que atuam nesse período são de dois tipos: os anticiclones polares que podem ser continentais ou marítimos e anticiclone subtropical marítimo. Os sistemas frontais, provenientes do extremo sul do continente, atuam de maneira rápida na região, causando pouca precipitação.

Estudos mostram que quando a RMSP, durante o período seco, está sob a atuação do anticiclone subtropical marítimo e uma frente fria se encontra ao sul do estado, a condição meteorológica na região provoca uma diminuição da velocidade do vento (normalmente inferior a 1,5 m/s), muitas horas de calmaria (velocidade do vento em superfície inferior a 0,5m/s), céu claro, grande estabilidade atmosférica e formação de inversão térmica muito próxima à superfície (abaixo de 200m) - condições estas desfavoráveis à dispersão dos poluentes emitidos na RMSP (CETESB, 2006). Normalmente, essa situação de estagnação atmosférica é interrompida com a chegada na região de uma nova massa de ar associada a um sistema frontal, aumentando a ventilação, instabilidade e, em muitos casos, provocando a ocorrência de precipitação. Outra peculiaridade é que no período seco a umidade relativa chega a atingir valores de

15%, principalmente no mês de setembro, acarretando um grande desconforto à população (CETESB, 2006).

Apresenta-se a seguir uma discussão das condições meteorológicas relativas aos meses de agosto, setembro e outubro de 2005, período que envolve a realização do experimento.

Em agosto, as chuvas foram mais freqüentes no leste da Região Nordeste e estiveram associadas à intensificação dos alísios de sudeste, chovendo pouco em grande parte da Região Sudeste. Esta situação foi consistente com a época de estiagem e os valores observados foram próximos ou ligeiramente abaixo da média histórica na maior parte da Região. Destacaram-se os desvios negativos em até 50 mm no centro-leste de São Paulo, no sudeste de Minas Gerais e no sul do Rio de Janeiro. Somente no norte do Espírito Santo, as chuvas excederam a média em mais que 25 mm.

Agosto foi marcado por temperaturas elevadas em praticamente todo o País. A temperatura máxima superou os 36ºC em extensa área no interior do Brasil, na fronteira entre os Estados do Pará, Tocantins, Mato Grosso e Goiás. Os valores excederam a média histórica em mais que 4ºC no noroeste do Paraná, oeste do Mato Grosso do Sul, norte de Goiás, sul do Tocantins e no Vale do Paraíba, em São Paulo. A temperatura mínima também apresentou valores acima da média em grande parte do Brasil. Nas serras catarinenses e em Campos do Jordão-SP, os valores variaram entre 8ºC e 10ºC. No Estado de São Paulo, a temperatura média variou entre 18ºC e 21ºC, ficando acima da média entre 0,5ºC a 3ºC (Climanálise, 2005).

Seis sistemas frontais atuaram no País neste período. A média climatológica é de sete sistemas frontais para latitudes entre 35ºS e 25ºS. A maioria dos sistemas frontais esteve associada à formação de sistemas de baixa pressão que contribuíram para o seu rápido deslocamento.

Nos dias 28 e 29 de agosto, a sexta frente fria permaneceu semi-estacionária no Rio Grande do Sul, deslocando-se até o litoral de Santos-SP no dia 31 (Figura 4.1). Na Figura 4.2 pode-se observar uma região de baixa pressão, sobre São Paulo, acompanhando a passagem da frente fria até o dia 31, pelo interior, quando o sistema deslocou-se até Presidente Prudente-SP e Guaira-PR. Este sistema frontal passou

sobre a região do experimento no dia 31 de agosto, causando uma forte queda nas concentrações dos poluentes através de remoção pela chuva e vento.

Figura 4. 1. Imagens do satélite GOES-12 no canal infravermelho mostrando a chegada da frente fria a SP do dia 30 a 31/08/05.

Figura 4. 2. Cartas sinóticas dos dias 30 e 31 de agosto de 2005 as 00Z. Fonte: DHN (Departamento de Hidrografia e Navegação).

No Brasil, o número de queimadas detectadas pelo satélite NOAA-12 atingiu 53447 em agosto de 2005 (Figura 4.3). Este valor foi 375% superior aos focos observados em julho de 2004, embora já se esperasse um aumento em função do ciclo climático de estiagem. Em relação ao mesmo período de 2004, o número de focos foi aproximadamente 40% superior, como conseqüência das anomalias negativas de precipitação e anomalias positivas da temperatura máxima verificada no Mato Grosso do Sul (especialmente no Pantanal) e na Amazônia (Climanálise, 2005).

Figura 4. 3. Imagem de satélite (NOAA-12) mostrando os focos de queimadas sobre o Brasil no mês de agosto de 2005. Fonte: CPTEC/INPE.

A primavera teve início no dia 22 de setembro, às 19:23h. Nesse mês, observou- se o início de um ligeiro aumento das chuvas nas Regiões Sul e Sudeste. Seis sistemas frontais atuaram no mês de setembro. Este número ficou ligeiramente abaixo da climatologia que é de sete sistemas para latitudes entre 35ºS e 25ºS. A formação de ciclogêneses contribuiu para a ocorrência de chuvas acima da média em grande parte da Região Sul do Brasil e no sudeste de São Paulo. Em grande parte do Estado de São Paulo, norte do Rio de Janeiro, sul do Espírito Santo e em algumas áreas no centro-sul

de Minas Gerais, as chuvas ficaram acima da média histórica. Nestas áreas, a atuação de sistemas frontais provocou chuvas fortes e granizo, que causaram perdas materiais à população.

A Figura 4.4 mostra os meteogramas para agosto, dias 29, 30 e 31 (esquerda), e para setembro, dias 13, 14 e 15 (direita), pode-se observar claramente as diferenças na direção e intensidade dos ventos (em setembro as condições de dispersão pelo vento são mais favoráveis), na variação de temperatura e umidade relativa do ar (a umidade em agosto atinge valores mais baixos) e principalmente as constantes chuvas ocorridas em setembro. Estas informações podem indicar, de uma forma geral, as diferenças entre os respectivos meses, mesmo para um período curto.

Figura 4. 4. Meteogramas para os dias 29, 30 e 31 de agosto (à esquerda) e 13, 14 e 15 de setembro (à direita). Fonte: Laboratório Master/IAG.

Ainda em setembro, cerca de 63000 focos de queimadas foram detectados no País pelo satélite NOAA-12. Este valor foi 22% superior ao número de focos registrados em agosto de 2005. Em relação a setembro de 2004, este número de focos foi aproximadamente 5% inferior, em função das anomalias positivas de precipitação

verificadas no Mato Grosso do Sul, Rondônia, no sul do Pará e no Mato Grosso (Climanálise, 2005).

Em outubro, as chuvas foram mais freqüentes no sul do Brasil. Além da influência das frentes frias, foram observados alguns eventos de chuva intensa e de curta duração nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste. Na segunda quinzena do mês, iniciaram-se as chuvas no sudoeste da Amazônia, amenizando a situação de estiagem nesta área. No centro-norte do País, as chuvas foram poucas e prevaleceram totais acumulados inferiores à média histórica. Neste mesmo mês, oito sistemas frontais atuaram no País. Na primeira quinzena do mês, as frentes frias, ao ingressarem até a Região Sudeste, deslocavam-se para o oceano devido à presença de vórtices ciclônicos em altos níveis (VCAN) na Região Nordeste. Na segunda quinzena, notou-se que a formação de vórtices ciclônicos e cavados na Região Sul do Brasil intensificaram a ocorrência de frontogênese e ciclogênese entre os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Somente dois sistemas frontais deslocaram-se para latitudes acima de 20ºS. Neste mês foram detectados 48247 focos de queimadas no País pelo satélite NOAA- 12. Este valor foi 25% inferior aos focos observados em setembro de 2005, porém dentro do esperado de acordo com o ciclo climático da estiagem. Em relação ao mesmo período de 2004, o número de focos foi 22% superior, em função das anomalias negativas de precipitação verificadas em Minas Gerais, na Região Nordeste e na Amazônia (Climanálise, 2005).