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Sem imaginação, nada no mundo poderia ser significativo. Sem imaginação, nunca poderíamos fazer o sentido de nossa experiência. Sem imaginação, nunca poderíamos raciocinar para o conhecimento da realidade.

Mark Johnson Para organização desta seção, fizemos as transcrições das narrativas selecionadas e, em seguida, as descrições e análises de cada uma.

As análises foram conduzidas pelos guias linguísticos destacados nos BCs, os quais nortearam a discussão acerca de como construímos os sentidos decorrentes das estruturas cognitivas no processamento cognitivo da narrativa. Esses guias linguísticos são apresentados em quadros sinópticos, nos quais destacamos essas ocorrências, apontando as estruturas cognitivas identificadas, a fim de facilitar as análises.

No quadro, a primeira coluna apresenta os BCs40 e a segunda coluna delineia as estruturas cognitivas, subdividida em três colunas: a primeira para a perspectiva dêitica; a segunda coluna, com os domínios experienciais (frames e esquemas imagéticos) que, conforme dito anteriormente, são estruturas cognitivas construídas e ativadas a partir de experiências sociais e corporais; e a terceira coluna, que descreve os modelos de situação e a simulação mental construídos pelo compreendedor a partir dos frames e esquemas imagéticos.

Após exposição no quadro sinóptico, explicitamos as análises dos BCs das narrativas selecionadas. Nesta etapa, expusemos cada uma das estruturas destacadas, explicamos os significados intuídos de cada uma, relacionando-as com os estudos teóricos que embasaram a pesquisa.

É conveniente lembrar o caráter introspectivo deste trabalho, o qual está baseado na percepção da pesquisadora/compreendedora, e que, de nenhuma forma, as análises exauriram as possibilidades de outras ocorrências não enfocadas.

Para tornar a análise mais didática, fizemos a descrição interpretativa para cada Bloco Construcional (BC). Analisamos as estruturas cognitivas a partir de guias linguísticos, aspectos culturais e comportamentais, os quais ofereceram o entendimento e a criação dos significados

40 A delimitação dos BCs foi um dos primeiros desafios para a análise. Procuramos fazê-la de acordo com algumas

que encontramos nas narrativas.41 No apêndice deste trabalho, encontram-se os textos que constituíram o universo de que resultou o corpus aqui analisado.

TEXTO A1P1 Itália 10/junho de 2005 Querido diário,

Hoje de manhã estava na escola. Quando cheguei em casa meu pai tinha acabado de chegar do trabalho, ele disse que queria falar uma noticia muito boa depois do almoço. Tudo bem!

Quando acabamos de almoçar ele disse que íamos mudar de país! Pois ia ser gerente de uma filial no Brasil! Todos ficaram felizes, mas eu então pensei:

- Como vai ficar meus amigos? Será que nunca mais os verei de novo?

Eu não acreditei mais depois cai na real, fiquei assustada e muito triste, mas se é assim, vamos lá! Sentirei muitas saudades daqui e principalmente dos meus amigos e amigas!

Hoje era só isso que tinha para falar diário. Espero ter um bom dia amanhã! Apesar de que só tenho três [3] semanas para organizar as coisas e partir ao Brasil

Ass. Paola

Quadro 1: Quadro sinóptico da análise da narrativa A1P1 Fonte: Quadro elaborado pela autora

Blocos Construcionais (BCs) Estruturas Cognitivas Perspectiva Dêitica Domínios Experienciais Modelos de Situação e simulação construídos pelo compreendedor (BC1) “Hoje de manhã estava

na escola” QUANDO (“Hoje de

manhã”) ONDE (“na escola”) QUEM (QUEM narrador - Paola) Frame cenário Esquema CONTÊINER Representação mental do cenário (situação escolar)

41 No apêndice deste trabalho, encontram-se os textos que constituíram o universo de que resultou o corpus aqui

(BC2)“Quando cheguei em casa meu pai tinha acabado de chegar do trabalho, ele disse que queria falar uma noticia muito boa depois do almoço. Tudo bem!

Quando acabamos de almoçar ele disse que íamos mudar de país! Pois ia ser gerente de uma filial no Brasil! Todos ficaram felizes, mas eu então pensei: - Como vai ficar meus amigos? Será que nunca mais os verei de novo?” QUANDO (“Quando, depois do almoço”) ONDE (“em casa, do trabalho, Brasil”) QUEM Frame cenário/ ligação Esquema CONTÊINER OCM Representação mental do cenário (ambiente familiar/ pai chegando em casa/sala de refeições/ a refeição) (BC3) “Sentirei muitas saudades daqui e

principalmente dos meus amigos e amigas!

Hoje era só isso que tinha para falar diário. Espero ter um bom dia amanhã! Apesar de que só tenho três [3] semanas para organizar as coisas e partir ao Brasil” ONDE (“daqui, Brasil”) QUANDO (“Hoje, amanhã, três semanas”) QUEM (QUEM narrador - Paola) Esquema CONTÊINER OCM Representação mental do espaço (lugar onde

mora o QUEM

narrador)

Para melhor compreensão das descrições narrativas, esclarecemos que assumimos a perspectiva do QUEM narrador.

No BC1, “Hoje de manhã estava na escola”, cognitivamente, situamos essa cena numa dimensão temporal (QUANDO) com “Hoje de manhã” e espacial (ONDE) com “na escola” e por meio desses termos somos guiados por centros dêiticos que dizem respeito ao momento e espaço da narrativa (RAPAPORT et al, 1994). Assim, criamos uma representação mental na qual simulamos uma situação escolar, assumindo mentalmente o layout do cenário da narrativa, por exemplo, a aula e a constituição dos elementos que a compõem.

No BC2, “Quando cheguei em casa meu pai tinha acabado de chegar do trabalho ele disse que queria falar uma noticia muito boa depois do almoço. Tudo bem! Quando acabamos de almoçar ele disse que íamos mudar de país! Pois ia ser gerente de uma filial no Brasil! Todos ficaram felizes, mas eu então pensei: - Como vai ficar meus amigos? Será que nunca mais os

verei de novo?”, orientamo-nos pelo dispositivo dêitico “Quando” e há a captura de nossa atenção para aquele momento. O centro dêitico se moveu na dimensão temporal e espacial (RAPAPORT et al, 1994), com isso inferimos que houve um deslocamento e temos a ativação do esquema imagético ORIGEM/CAMINHO/META, pois houve um percurso do QUEM narrador, a quem associamos o papel de TRAJETOR - embora não tenha sido mencionada a origem. Nesse processo, ativamos o frame cenário, construímos a representação mental de uma sala preparada para a refeição, a mesa posta e uma situação de convívio familiar, ou seja, a simulação mental e a construção de um modelo de situação a partir de experiências vivificadas.

Para a construção do modelo de situação, identificamos as dimensões situacionais de intencionalidade e causa (ZWAAN, 1998) quando, em “ele disse que queria falar uma noticia muito boa depois do almoço”, abre-se também uma nova configuração espacial, o frame “almoço”, além disso, a situação mencionada na narrativa deixa evidente que há uma intenção de que algo vai ser falado. No momento descrito da fala, são criadas expectativas que só são desfeitas no instante em que a esperada notícia é dada. Após a revelação, atingido o objetivo, temos a causalidade em “quando acabamos de almoçar ele disse que íamos mudar de país, pois ia ser gerente de uma filial no Brasil”. Nesse caso, o conhecimento da nova informação “ser gerente de uma filial no Brasil” valida a relação de causalidade de que este foi o motivo da mudança do país, além de inferirmos a transferência do país onde se localiza a empresa de trabalho.

No BC3, “Sentirei muitas saudades daqui e principalmente dos meus amigos e amigas! Hoje era só isso que tinha para falar diário. Espero ter um bom dia amanhã! Apesar de que só tenho três [3] semanas para organizar as coisas e partir ao Brasil”, com os termos dêiticos “hoje” e “três [3] semanas”, situamo-nos numa dimensão espaço-temporal e, a partir do momento atual do QUEM narrador, processamos o percurso do tempo (QUANDO) que o QUEM narrativo terá para se movimentar (ALMEIDA, 1995). Construímos um espaço (ONDE) configurado com pessoas e objetos. O dispositivo “daqui” refere-se ao lugar no qual o QUEM narrador se encontra naquele momento e, pela palavra “saudade”, inferimos que há um sentimento de pesar pela possível ausência de amigos, apresentado pelas situações de ligações afetuosas e emocionais como: ficar triste, sentir saudades. A partir dessas pistas, ativamos o esquema LIGAÇÃO e o associamos às experiências afetivas ligadas aos amigos.

TEXTO A1P2

Data: 18 de desembro de 2005 Querido, diário

Desde o dia em que meu pai deu a notícia que íamos mudar de país fiquei feliz mais ao mesmo tempo triste porque terei que deixar meus amigos, minhas amigas, o lugar onde nasci, cresci, vivi toda a minha infância e a minha casa. Ontem então, na escola foi muito difícil quando dei a notícia, todos ficaram tristes e me emocionaram muito também. Sentirei saudades daqui e de todos, mas já que não posso fazer nada mesmo então vou aproveitar o tempinho que me resta né! Aléndo mais vou embora logo. Não estou gostando dessa viagem por que meu aniversario de 15 anos seria aqui ! O dia que eu ia sair para o shopping fazer compras com minhas amigas não dá porque vai ser o dia que irei viajar!

Sim, eu acabo de chegar da festa surpresa que fizeram para mim! Foi show de bola! Foi melhor festa que já fui! É né tirando a parte da despedida, uma coisa que não queria me separar dos meus amigos. Tirando a parte da despedida como acabei de falar a festa foi otima!

Era só isso que tinha a falar hoje.

ASS: Paola

Quadro 2: Quadro sinóptico da análise da narrativa A1P2 Fonte: Quadro elaborado pela autora

Blocos Construcionais (BCs) Estruturas Cognitivas Perspectiva Dêitica

Domínios Experienciais Modelos de Situação e simulação construídos pelo

compreendedor (BC1) “Desde o dia

em que meu pai deu a notícia que íamos mudar de país fiquei feliz mais ao mesmo tempo triste porque terei que deixar meus

amigos, minhas

amigas, o lugar onde nasci, cresci, vivi toda a minha infância e a minha casa.” QUANDO (“Desde o dia”) ONDE (“lugar onde nasci, cresci, vivi; minha casa”) QUEM (QUEM narrador - Paola) Frame cenário Esquema OCM ESCALA CONTÊINER Representação mental do estado emocional do QUEM narrador, do lugar onde ele

nasceu

(BC2) “Ontem então, na escola foi muito difícil quando dei a notícia, todos ficaram

tristes e me QUANDO (“Ontem”) Frame cenário Esquema CONTÊINER Representação mental da escola, do estado emocional do QUEM narrador

emocionaram muito também. Sentirei saudades daqui e de todos, mas já que não posso fazer nada mesmo então vou aproveitar o tempinho que me resta né!” ONDE (“na escola, daqui”) QUEM (QUEM narrador - Paola) (BC3) “Não estou gostando dessa

viagem por que meu aniversario de 15 anos seria aqui! O dia que eu ia sair para o

shopping fazer

compras com minhas amigas não dá porque vai ser o dia que irei viajar” ONDE (“aqui, o shopping”) QUEM (QUEM narrador - Paola) Frame cenário Roteiro Esquema OCM Representação mental do estado emocional do QUEM narrador e do cenário de compras shopping

No BC1, “Desde o dia em que meu pai deu a notícia que íamos mudar de país fiquei feliz mais ao mesmo tempo triste porque terei que deixar meus amigos, minhas amigas, o lugar onde nasci, cresci, vivi toda a minha infância e a minha casa.” , embora o QUEM narrador inicie o bloco indicando uma relação temporal no passado, o centro dêitico se move num tempo curto entre o evento e a situação mencionada e, num processo online, conceptualizamos o "agora” da narrativa (QUANDO) no presente, isto é, no momento em que o QUEM narrador e TRAJETOR vive e escreve a cena (RAPAPORT et al, 1984). No mesmo bloco, com o emprego do verbo “deixar” em “terei que deixar meus amigos”, inferimos que o QUEε narrador vai partir, deslocar-se para algum local e acionamos o esquema ORIGEM/CAMINHO/META. Inferimos também que, a partir do momento em que foi dada a notícia de que iam mudar de país, há uma mudança no estado emocional do QUEM narrador, levando-o a ficar feliz e triste ao mesmo tempo, estado causado pela separação dos amigos (ZWAAN e RADVANSKY, 1998).

Num espaço de tempo imaginário, comprimindo a narrativa numa sequência temporal, no enunciado “nasci, cresci, vivi toda a minha infância e a minha casa”, reconhecemos os seguintes esquemas imagéticos: ESCALA, que é compreendido à medida que o QUEM narrador cita as fases da vida, mostrando que o ser humano tem ciclo vital, delineado num processo gradativo de desenvolvimento; ORIGEM/CAMINHO/META, quando imaginamos essas fases como um percurso da vida; e CONTÊINER, a casa, na qual identificamos as paredes

como limites entre as partes externas e as partes internas, as pessoas e objetos que estão dentro da casa como o conteúdo, além do portal, que permite entrar e sair do recipiente.

No BC2, “Ontem então, na escola foi muito difícil quando dei a notícia, todos ficaram tristes e me emocionaram muito também”, fica claro que o centro dêitico se move temporal (QUANDO) e espacialmente (ONDE). Com base no termo dêitico “ontem” e no locativo “na escola”, conceptualizamos que o evento aconteceu antes do ponto “agora” e aconteceu em um espaço diferente ao do momento de fala (RAPAPORT et al, 1984). Configurando essa sentença numa cena interior, apoiamo-nos no termo “na escola” e, a partir dos elementos estruturais que preenchem o frame cenário (MINSKY, 1974), acionamos objetos, como mesas, carteiras, professores, alunos etc., e cenas com os quais simulamos a representação mental desse cenário. Há uma reconfiguração de espaço, e em “Sentirei saudades daqui e de todos”, percebemos então uma mudança dêitica em que se constrói uma representação mental ativada no momento de fala do QUEM narrador, não mais a escola e sim um novo cenário: as ruas, a vida na Itália etc. Assim, esse conhecimento comum às nossas experiências constitui o frame cenário.

No BC3, “Não estou gostando dessa viagem por que meu aniversario de 15 anos seria aqui! O dia que eu ia sair para o shopping fazer compras com minhas amigas não dá porque vai ser o dia que irei viajar”, o centro dêitico focado no QUEM narrador fornece-nos informações sobre a localização espacial que podem ser usadas para inferirmos sobre o conhecimento atual do evento. Como é o caso em “Não estou gostando dessa viagem” e “vai ser o dia que irei viajar”, podemos depreender que o QUEε narrador e TRAJETOR vai viajar, há um deslocamento e, devido à nossa experiência corpórea, acionamos o esquema imagético ORIGEM/CAMINHO/META (JOHNSON, 1987).

Ainda nesse bloco, em “... meu aniversario de 15 anos seria aqui! O dia que eu ia sair para o shopping fazer compras...”, novamente temos situações espaciais nas quais construímos a representação mental de dois ambientes. Quando o QUEε narrador cita “aqui” e “shopping”, ambos nos dão coordenadas espaciais diferentes. No primeiro, reconhecemos o espaço ativado, lugar em que ele está, a Itália, no segundo, a partir de nossas vivências, podemos configurar a estrutura de um estabelecimento comercial, com lojas, praça de alimentação, salas de cinema, teatro e áreas de entretenimento infantil. Além dessa configuração, ao mencionar que vai “fazer compras” podemos construir um roteiro e imaginar uma sucessão de eventos (SEGAL, 1984).

TEXTO A1P3

Data: 09 de janeiro de 2006 Querido, diário

Essa primeira semana que passei na cidade do interior de São Paulo (Campos do Jordão) foi muito bom! Eu estou gostando, apesar de que estou com saudades dos meus amigos, mas isso passa! Além do mais a vida continua.

Aqui é muito bonito e o bairro Capivari é bastante iluminada disseram que fica assim o ano inteiro. A grama do jardim do meu condominio é bem verdinha. As pessoas que moram aqui são ótimas!

Não vejo a hora de ver e conhecer o resto da cidade, conhecer novas pessoas, a minha nova escola e meus novos amigos.

Amanhã será um novo dia de novas aventuras e novas histórias. Ass: Paola

Quadro 3: Quadro sinóptico da análise da narrativa A1P3 Fonte: Quadro elaborado pela autora (2014)

Blocos Construcionais (BCs) Estruturas Cognitivas Perspectiva Dêitica Domínios Experienciais Modelos de Situação e simulação construídos pelo compreendedor (BC1) “Essa primeira semana que passei na cidade do interior de São Paulo (Campos do Jordão) foi muito bom!” QUANDO (primeira semana) ONDE (“São Paulo, - Campos do Jordão”) QUEM (QUEM narrador - Paola) Frame cenário Esquema OCM PARTE/TODO Representação mental do cenário (a cidade, ruas, praças

etc)

(BC2) “Aqui é muito bonito e o bairro Capivari é bastante iluminada disseram que fica assim o ano inteiro.” ONDE (“Aqui, bairro Capivari”) QUEM (QUEM narrador - Paola) Frame cenário Esquema PARTE/TODO Representação mental do cenário (bairro)

(BC3) “A grama do jardim do meu condominio é bem verdinha. As pessoas que moram aqui são ótimas! Amanhã será um novo dia de novas aventuras e novas histórias”. ONDE (“condomínio, aqui”) QUANDO (“Amanhã”) QUEM (QUEM narrador - Paola) Frame cenário Representação mental do cenário (jardim, pessoas)

No BC1, na sentença “Essa primeira semana que passei na cidade do interior de São Paulo (Campos do Jordão) foi muito bom!”, a partir do momento atual do QUEM narrador, processamos que houve um percurso de tempo o tempo (ALMEIDA, 1995). Ao referir-se a “São Paulo (Campos do Jordão)”, o QUEM narrador marca linguisticamente o lugar (ONDE) em que está e a partir do verbo “passei” compreendemos que o QUEM narrador não residia na cidade. Com as informações da narrativa e as experiências sensório-motoras que temos armazenadas na memória fazemos uma representação mental do local (ZWAAN, 1999) e, consequentemente, ativamos o esquema imagético PARTE/TODO, em cuja materialização geográfica reconhecemos que São Paulo é estado, o TODO, e Campos do Jordão é uma cidade, a PARTE. Ativamos também o esquema ORIGEM/CAMINHO/META ao imaginarmos a locomoção que houve do TRAJETOR de outro lugar para Campos do Jordão.

No BC2, “Aqui é muito bonito e o bairro Capivari é bastante iluminada disseram que fica assim o ano inteiro”, com o dispositivo dêitico “aqui”, construímos um espaço mental, um local (ONDE) especificado, o bairro de Capivari, que, semelhante ao que ocorre no bloco anterior, também ativa o esquema imagético PARTE/TODO. Nesse caso, temos o bairro Capivari, que é uma das partes que compõem a cidade de Campos de Jordão. O QUEM narrador captura nossa atenção para o espaço de forma que acionamos o frame cenário e construímos uma representação mental do bairro, das pessoas etc. Há uma representação mental do local, em que podemos imaginar as ruas, a iluminação as pessoas, o movimento.

No BC3, “A grama do jardim do meu condominio é bem verdinha. As pessoas que moram aqui são ótimas! Amanhã será um novo dia de novas aventuras e novas histórias”, verificamos que, a partir do ponto “agora” do QUEε narrador, o termo dêitico “amanhã” (QUANDO) marca um tempo em movimento com projeções imagéticas para frente, cujo foco

de atenção nos dá a impressão de que o futuro trará a possibilidade de novas vivências e experiências (ALMEIDA, 1995) e ativamos.

Como estamos trabalhando com as narrativas do mesmo autor, vejamos a seguir a análise de A1P4.

TEXTO A1P4

Data: 15 de fevereiro de 2006 Querido, diário

Passaram-se uma semana de aula, no primeiro dia foi muito bom! Todos me receberam muito bem! Eu também adorei porque e eu reencontrei com uma velha amiga, ela é popular na escola e eu pensei:

- Que legal e acho que ela não vai ficar andando comigo como antigamente.

Mais eu estava muito enganada, nós estamos nos dando tão bem quanto antes. Ela me apresentou a todos da sala e aos amigos de outras turmas, foi realmente muito bem. Há! O nome dela é Paulina, já foi miss da minha escola é muito bonita assim como eu também fui. Meus novos amigos são muito legais, mas a minha nunca irei esquecer os antigos.

Já conheci todos os meus professores todos explicam bem, gostei deles, mas a minha professora de Biologia é muito chata no primeiro dia ela passou assunto novo e um trabalho para entregar no dia seguinte! Ninguem merece! Mas adorei as aulas. Eu aprendir muitas coisas nessa semana, tudo isso é uma nova experiência para mim e espero aprender muito mais. Isso é tudo.

ASS: Paola

Quadro 4: Quadro sinóptico da análise da narrativa A1P4 Fonte: Quadro elaborado pela autora (2014)

Blocos Construcionais (BCs) Estruturas Cognitivas Perspectiva Dêitica Domínios Experienciais Modelos de Situação e simulação construídos pelo compreendedor (BC1) “Passaram-se uma

semana de aula, no primeiro dia foi muito bom! Todos me receberam muito bem! Eu também adorei porque e eu reencontrei com uma velha amiga, ela é popular na escola”

QUANDO (“uma semana, primeiro dia”) ONDE (“na escola”) QUEM

Frame cenário Representação mental do cenário escolar, chegada , reencontro com

(QUEM narrador - Paola)

(BC2) “Já conheci todos os