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Módulo V: Presidente Dutra (Distrito do Sumarezinho) e Ribeirão Verde (Distrito do

5.3 CASO 2 Unidade Básica Maria Casagrande

5.3.3 Análises da visão do gestor

Neste tópico, serão apresentadas as análises das entrevistas sob a ótica do gestor sobre o papel da unidade e da necessidade de avaliação de desempenho econômico. A entrevista foi realizada com o gestor da unidade de prestação de serviço de saúde.

A unidade é recente (inaugurada em 2000) e, conforme anexo D, a região do município onde está instalada é distante do centro da cidade e das demais unidades básicas de saúde. Com a expansão da área oeste da cidade, foi necessário o estabelecimento de uma nova unidade básica de saúde. De acordo com a entrevistada, “a UBS é importante para a comunidade, pois, trata-se de um bairro distante”.

Assim, a entrevistada entende a importância da participação da UBS na vida da população e tenta buscar ferramentas para avaliar a qualidade da organização (entende-se qualidade de atendimento, da prestação de serviço médico e resolutividade).

A unidade segue o indicador de qualidade 156 do Sistema Monitora SUS. Seu objetivo é aprimorar o processo de marcação de consultas e os procedimentos, por meio da normatização de fluxos e pela comunicação com os usuários.

A meta deste indicador é definir o tempo de espera para a marcação e a realização da primeira consulta especializada, considerando a data de cadastro, junto ao centro de saúde, e a sua efetiva realização. As metas foram estabelecidas por ano, conforme gráfico 1:

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Gráfico 1. Indicador 156 para agendamento e realização de consultas. Fonte: Elaborado pela autora com base no Monitora SUS (2008)12

Além desse indicador, a entrevistada verifica o dia-a-dia da unidade para acompanhar e controlar seu desempenho de procedimentos e atendimentos. Não é realizado um acompanhamento de desempenho orçamentário ou financeiro.

Existem, ainda, coordenadores na SMS, que fazem o acompanhamento dos programas e metas que a UBS deve alcançar. O acompanhamento tem como objetivo avaliar a qualidade global da unidade, ou seja, tal acompanhamento não é específico para nenhuma área da unidade (entende-se que não é voltado para recursos financeiros ou humanos apenas, mas para terem uma visão global dos procedimentos na unidade).

Além disso, a UBS contempla a Estratégia da Saúde da Família que tem como meta a implantação da qualidade pelo PSF. Para que tal estratégia funcione a contento das diretrizes do SUS, é importante que se façam treinamentos aos médicos da saúde família. Estes treinamentos devem ser realizados pela SMS, de acordo com os preceitos estabelecidos na estratégia.

A entrevistada informou que existem dificuldades com relação a análises de dados da unidade. Alguns dados sobre recursos não são claros, ou seja, algumas vezes não é possível

saber se o consumo (gasto) da unidade é equivalente ao consumo de outra unidade do mesmo porte e estrutura organizacional.

Na Unidade em questão, existia um grupo de apoio de discussão de casos e processos. A entrevistada espera que esta atividade seja retomada no futuro, pois era de grande valia, no que se refere ao desempenho de procedimentos e no auxilio ao processo de tomada de decisão (mas tudo isto, somente com relação às atividades e não aos recursos financeiros).

De acordo com a entrevistada é importante saber a respeito de custos “(..) fundamental a compreensão sobre a importância de desempenho econômico. Falta noção clara de quanto se gasta na unidade, tem que ter noção de custos para avaliar (...). É importante para o andamento da unidade. Para avaliação de custos benefícios”. (informação verbal).13

Pelo fato da inexistência de um sistema de informações implantado na unidade, para realizar a avaliação de desempenho econômico, a entrevistada utiliza indicadores que tem por objetivo avaliar e medir o desempenho dos funcionários. Para tanto, são estabelecidas metas que possam estimular os funcionários.

A entrevistada relata que é preciso mudanças na postura de alguns funcionários. Para ela, isto não está ligado apenas ao salário, mas, também, à valorização e ao reconhecimento desses funcionários. Entende que, para melhorar o desempenho dos funcionários e, em conseqüência, o da unidade, é preciso estabelecer metas, gradativamente, (começando com metas menores até estratégias amplas) com objetivos realistas.

Além dos recursos humanos, a entrevistada faz um controle para que não haja desperdícios de materiais de procedimentos clínicos e administrativos. Segundo ela, há “(...) uso racional de materiais” (informação verbal)14. Entretanto, não possui conhecimento do

13 Informação fornecida pelo Gestor da UBS, 2008. 14 Informação fornecida pelo Gestor da UBS, 2008.

quanto dos custos envolvidos na prestação de serviços. “A informação é importante para a conscientização” (informação verbal)15.

A entrevistada acredita que o sistema implantado (Hygia Web®) será importante como ferramenta gerencial, no que tange às informações sobre faltas dos pacientes e dos médicos. Com base nesse sistema pode-se estabelecer índices de faltas das UBS, as quais no ano de 2008 esteve em torno de 35% na média geral das unidades (lembrando que a referida UBS possui um índice inferior, de 20%). Além disso, há uma orientação aos pacientes para que não faltem às consultas com especialistas16.

No entanto, o sistema, ora implantado, ainda não possui módulos de gerenciamento de recursos financeiros e nem existe uma ferramenta de controle de custo. O gestor entende que tais informações, conforme já mencionado, são importantes para refletir o desempenho da unidade.

Com relação à autonomia no processo decisório, ela entende que há sim um relativo grau. Entretanto, existem exigências dos coordenadores do SMS, como por exemplo, redirecionar recursos humanos de acordo com campanhas. Tais alterações podem gerar, de acordo com a ela, uma sobrecarga na linha de frente para poder atender todos os programas. Quando existem sobrecargas de recursos humanos afeta diretamente o desempenho da UBS.

Conforme teorias apresentadas no capítulo 3, por tratar-se de uma instituição pública, é importante que haja transparência e prestação de contas à sociedade. A entrevistada descreveu o processo de prestação de contas à sociedade. A SMS divulga em Diário Oficial, envia carta convite para os gestores das unidades de saúde, informa a Comissão Local de Saúde e publica aos funcionários notícias (no portal do sistema Hygia Web®) de que haverá

15 Informação fornecida pelo gestor da UBS, 2008

16 A orientação ao paciente é exaustivamente realizada. Isto ocorre porque as consultas com especialistas são realizadas por meio de encaminhamento dos médicos generalistas. Assim estas consultas são agendadas e geralmente existe um tempo relativamente longo de espera, isto pode causar “esquecimento” por parte do paciente, gerando ineficiência no sistema.

uma sessão pública para a prestação de contas da saúde, de acordo com a Lei Federal 8689, artigo 12° de 27/7/1993 e de acordo com a Emenda Constitucional 2917, artigo 7°.

Entretanto, estes dados são compilados e consolidados, ou seja, são dados estatísticos globais. Sendo assim, o resultado apurado é comum para todas as unidades. Estas sessões ocorrem trimestralmente e são apresentados dados em blocos, por exemplo, a Atenção Básica é referenciada como Bloco da Atenção Básica e não são publicados dados por unidade, conforme já mencionado ao longo deste estudo. Para uma melhor ilustração, a tabela 2 mostra a publicação do Orçamento da SMS referente ao 3° trimestre de 2008:

Tabela 2 – Composição do Orçamento de 2008

Federal

Bloco Atenção Básica (PAB + PSF) R$ 14.152.940,00 6,31% Bloco MAC - Média e Alta Complexidade (SAMU + CEO) R$ 49.098.400,00 21,88% Bloco Vigilância em Saúde (VISA + Sanitária) R$ 1.861.000,00 0,83% Bloco Assistência Farmacêutica (Básica + HDAR + TA

Estado) R$ 2.012.000,00 0,05%

Bloco Gestão do SUS (Convênio RH + Nutrição) R$ 110.000,00 0,90%

Outros Repasses* R$ 6.807.000,00 3,03%

Sub-total R$ 74.041.340,00 33,00%

Estado** R$ 1.829.500,00 0,82%

Município R$ 148.522.560,00 66,18%

Total R$ 224.393.400,00 100,00%

* - Outros repasses – CEREST, DST/AIDS, QUALISUS, VIGISUS, REORIENTAÇÃO PRÓ-SAÚDE, DST/SAE, Farm. Popular

** - Estado = T.A. Tuberculose, Tiras de Glicemia, Medicamentos At. Básica e Penitenciária

Fonte: Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto (2008b, p.10)

De acordo com a entrevistada é importante a divisão do orçamento e das receitas por unidade para uma melhor alocação de recursos e controle. Ela acredita que se tiver maiores informações é possível uma melhoria na organização da atenção e, conseqüentemente, uma melhor resolutividade no fluxo dos demais setores de prestação de serviços de saúde.

Esclarece, ainda, o papel da humanização do atendimento que sua unidade presta à comunidade, pois entende que, conhecer a realidade dos pacientes e ficar mais próximo deles melhora todo o processo de saúde e doença e, ainda, o desempenho global da organização.