• Nenhum resultado encontrado

ANALISANDO O PERFIL DEMOGRÁFICO DOS GRUPOS DE INTERNAUTAS

Para analisar o efeito das características demográficas e dos meios de acesso à Internet nos diferentes grupos de habilidades, utilizou-se a técnica de regressão logística binária. Foram executados quatro modelos logísticos tendo os atributos binários que representam os clusters de habilidades como variável dependente. Os meios de acesso à Internet e as características demográficas foram adicionados ao modelo como variáveis independentes. Em virtude da alta correlação entre classe social e grau de escolaridade do indivíduo, optou-se por adicionar ao

PORTUGUÊS

modelo apenas o atributo socioeconômico. A Tabela 5 sintetiza os principais resultados da aplicação dos modelos logísticos.

Os dados da Tabela 5 evidenciam o efeito dos diferentes meios de acesso à Internet e características demográficas em cada um dos clusters de habilidades digitais. Com relação ao primeiro grupo, usuários com habilidades instrumentais, os resultados indicam que os integrantes desse cluster tendem a acessar a Internet preferencialmente por meio de computadores portáteis (laptop), de mesa (desktop) e celulares. Portanto, esses internautas possuem um perfil de uso multiplataforma, utilizando diversos dispositivos para acessar e utilizar os recursos on-line. Quanto às características demográficas, os membros desse grupo tendem a ser usuários na faixa de 16 a 44 anos de idade (odds ratio > 1). Ressalta-se que o grupo etário mais jovem (de 10 a 15 anos) não apresentou coeficientes significantes ao modelo, sugerindo que o perfil etário desse grupo é composto por indivíduos mais jovens e em idade economicamente ativa, isto é, que utilizam a Internet como ferramenta para atividades pessoais e profissionais específicas. Além disso, os dados desse modelo indicam que os membros desse grupo tendem a ser mulheres, provenientes das classes AB, logo, possuindo maior nível de instrução.

Com relação ao grupo de habilidades interativas, os resultados da Tabela 5 apontam um perfil distinto do primeiro grupo. Em particular, esses internautas utilizam a Internet unicamente pelo celular (os demais dispositivos possuem odds ratio < 1), evidenciando um padrão mais restritivo em relação aos dispositivos de acesso. Quanto às características demográficas, os dados da Tabela 5 sugerem que esses usuários são mais jovens (de 10 a 24 anos), do sexo masculino e provenientes das classes C e DE.

A regressão logística com os internautas de habilidades limitadas demonstra que o uso da Internet em qualquer um dos dispositivos adicionados ao modelo implica em redução da chance (odds ratio) do indivíduo pertencer ao referido grupo. Logo, sugerindo que o meio de acesso tem pouco impacto na discriminação dos membros desse grupo. Nesse modelo, os principais fatores discriminantes estão relacionados à classe social e ao sexo. Indivíduos das classes C e DE (menor nível educacional) e do sexo feminino tendem a apresentar maiores chances (odds ratio) de pertencer a esse cluster de habilidades restritas.

No grupo de internautas de habilidades amplas, o acesso à Internet em todos os meios implicou em aumento na chance de pertencer a esse cluster. Tal efeito também se repete no atributo geracional, já que todas as faixas etárias apresentaram valores odds ratio acima de 2.

Tal resultado sugere que o meio de acesso e a idade do indivíduo têm pouco efeito como determinantes de exclusão digital no grupo de habilidades avançadas. Assim como no grupo anterior, os fatores com maior impacto de diferenciação foram a classe social e o sexo. Porém, nesse caso, os membros do sexo masculino e das classes AB possuem maior chance de pertencer a esse cluster de habilidades sofisticadas. Tais achados reforçam o impacto do status socioeconômico (e a escolaridade) nos níveis de habilidades digitais. Assim como sugere que desigualdade social influencia e reforça as desigualdades no universo digital (Zillien &

Hargittai, 2009).

PORTUGUÊS

Masculino -0,347*** 0,218 *** -0,257*** 0,421***

(0,707) (1,243) (0,773) (1,523)

Faixa Etária (referência: De 60 anos ou mais) 

De 10 a 15 anos -0,799*** 0,899*** -0,979*** 1,159***

(0,45) (2,457) (0,376) (3,188)

De 16 a 24 anos 0,256* 0,394** -1,807*** 2,322***

(1,291) (1,482) (0,164) (10,193)

De 25 a 34 anos 0,406** 0,179 -1,376*** 1,967***

(1,501) (1,196) (0,253) (7,146)

De 34 a 44 anos 0,410** 0,045 -0,933*** 1,549***

(1,506) (1,046) (0,393) (4,707)

De 45 a 59 anos 0,151 -0,011 -0,425*** 1,032***

(1,163) (0,989) (0,654) (2,807)

Classe Social (referência: Classes AB) 

Classe C -0,405 *** 0,272*** 0,472*** -0,409***

(0,667) (1.313) (1,603) (0,665)

Classes DE -0,806 *** 0,215 *** 0,889*** -1,000***

(0,447) (1,24) (2,433) (0,368)

Área Geográfica (referência: Rural)

Urbano 0,053 0,014 -0,135 0,271*

(1,055) (1,014) (0,874) (1,312)

Nagelkerke R² 0,087 0,069 0,3 0,285

Observação: *p<0,10; **p<0,05; ***p<0,001 Fonte: Elaborado pelos autores.

PORTUGUÊS

CONCLUSÃO

Os achados da investigação apontam que os internautas brasileiros podem ser diferenciados em quatro grupos de competências digitais: (i) instrumentais; (ii) interativas; (iii) limitadas; e (iv) amplas, com maior concentração no grupo de habilidades limitadas. Os integrantes do grupo de habilidade instrumental caracterizam-se por possuírem maiores níveis de habilidades relacionadas às atividades de busca de informação e educação e trabalho, atividades essas de maior capital-enhacing. Eles tendem a acessar a Internet por meio de diversos dispositivos (desktops, laptops e celulares), são majoritariamente do sexo feminino, pertencentes a classes sociais de maior nível educacional e com idade variando entre 16 e 44 anos. Em linhas gerais, os resultados sugerem que os integrantes desse grupo utilizam a Internet como ferramenta para fins pessoais, profissionais e educacionais.

Os usuários do grupo de habilidades interativas se caracterizam por terem maiores níveis de habilidades de criação de conteúdo e multimídia. Os membros desse grupo tendem a pertencer a uma faixa etária mais jovem (entre 10 a 24 anos), utilizam Internet preferencialmente do celular, além de serem majoritariamente das classes C e DE e do sexo masculino. Os usuários do grupo amplo apresentam o maior nível de habilidade digital em todos os seis domínios analisados, enquanto que os usuários limitados possuem o perfil oposto, isto é, menor nível de habilidade digital. Em ambos os grupos, a classe social é o principal fator de discriminação, no qual membros das classes C e DE (de menor instrução) tendem a apresentar perfil de habilidades restritas e limitadas, enquanto membros das classes AB tendem a ter habilidades digitais amplas.

Os achados desta investigação contribuem para uma maior compreensão do fenômeno da exclusão digital no Brasil, principalmente no que tange a evidenciação das desigualdades nos níveis de competências digitais e caracterização de uma tipologia de habilidades do internauta.

Do ponto de vista da prática, tais resultados podem sugerir o desenvolvimento de políticas públicas de inclusão digital focada nas características de grupos específicos, tais como ações que visem o desenvolvimento de habilidades de maior capital-enhancing e a disponibilização de serviços públicos em dispositivos móveis.

REFERÊNCIAS

Bartholomew, D., Steele, F., Moustaki, I., & Galbraith, J. (2002). The analysis and interpretation of multivariate data for social scientists. London: Chapman & Hall CRC Press.

Bido, D. S., Mantovani, D. M. N., & Cohen, E. D. (2017). Destruição de escalas de mensuração por meio da análise fatorial exploratória nas pesquisas da área de produção e operações. Gestão & Produção [versão eletrônica]. Recuperado em 9 abril, 2018, de http://dx.doi.org/10.1590/0104-530x3391-16

Brandtzæg, P. B., Heim, J., & Karahasanovi , A. (2011). Understanding the new digital divide – A typology of Internet users in Europe. International Journal of Human-Computer Studies, 69(3), pp. 123-138.

Comitê Gestor da Internet no Brasil – CGI.br (2016). Pesquisa sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação nos domicílios brasileiros: TIC Domicílios 2015. São Paulo: CGI.br.

PORTUGUÊS

Dewan, S., & Riggins, F. J. (2005). The digital divide: Current and future research directions. Journal of the Association for Information Systems, 6(12), pp. 298-337.

Hair, J. F., Black, W. C., Babin, J. B., Anderson, R. E., & Tatham, R. L. (2009). Análise multivariada de dados (6ª ed.). Porto Alegre: Bookman.

Hargittai, E. (2002). The second digital divide: Differences in people’s online skills. First Monday, 7(4).

Helsper, E. J., & Eynon, R. (2013). Distinct skill pathways to digital: Engagement. European Journal of Communication, 28(6).

Litt, E. (2013). Measuring users’ Internet skills: A review of past assessments and a look toward the future.

New Media & Society,15(4), pp. 612-630.

Mota, F. P. B. (2016). Uso da internet: Análise do relacionamento entre tipos de atividades, fatores de rejeição e condições sociodemográficas. Anais do 19º Seminários em Administração, São Paulo, SP, Brasil.

Nemer, D. (2015). From digital divide to digital inclusion and beyond. The Journal of Community Informatics, 11(1).

Scheerder, A., Van Deursen, A., & Van Dijk, J. A. G. M. (2017). Determinants of Internet skills uses and outcomes: A systematic review of the second- and third-level digital divide. Telematics and Informatics, 34(8), pp. 1607-1624.

Srinuan, C., & Bohlin, E. (2011). Understanding the digital divide: A literature survey and ways forward.

Proceedings of European Regional Conference of the International Telecommunications Society, Budapeste, Hungria, 22.

Van Deursen, A., Helsper, E. J., & Eynon, R. (2016). Development and validation Internet Skill Scale (ISS).

Information and Communication & Society, 19(6).

Van Dijk, J. A. G. M. (2005). The deepening divide: Inequality in the information society. California: Sage Pub.

Van Dijk, J. A. G. M. (2012). The evolution of the digital divide: The digital divide turns to inequality of skills and usage. In J. Bus, M. Crompton, M. Hildebrandt, & G. Metakides (Ed.), Digital enlightenment yearbook (pp. 57-75). Amsterdam: IOS Press.

Van Dijk, J. A. G. M., & Hacker, K. (2003). The digital divide as a complex Dynamic phenomenon. The Information Society, 19(4), pp. 315-326.

Van Dijk, J. A. G. M., & Van Deursen, A. J. A. M. (2014). Digital skills: Unlocking the information society.

London: Palgrave Macmillan.

Whitacre, B. E., & Mills, B. F. (2007). Infrastructure and the rural: Urban divide in high-speed residential Internet access. International Regional Science Review, 30(3), pp. 249-273.

Zillien, N., & Hargittai, E. (2009). Digital distinction: Status-specific types of Internet usage. Social Science Quarterly, 90(2), pp. 274-291.

PORTUGUÊS

DESAFIOS PARA A REALIZAÇÃO DE PESQUISA