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1 O ENFOQUE PATRIMONIAL E A GESTÃO INTEGRADA E COMPARTILHADA DOS RECURSOS NATURAIS E

22 Conforme Morin e Kern (2003, p 151-152), torna-se importante a

1.8 ANALISANDO OS COMMONS: O FRAMEWORK DE OAKERSON

O modelo de análise de Ronald J. Oakerson (1990) dirige- se a investigar os usos que estão sendo feitos de recursos de uso comum por uma comunidade de produtores/consumidores. Embora os padrões de organização verificados em diferentes sociedades variem enormemente, a chave do problema, segundo o autor, permanece: como coordenar o uso por numerosos indivíduos em ordem a não levar à diminuição da disponibilidade dos commons para maior parte das pessoas. Com frequência, predominam características de propriedade privada ou pública, ou mesmo pode haver a mistura desses regimes. No entanto, ao contrário da utilização de bens públicos como a luz, os commons não podem ser compartilhados sem limites. A taxa de apropriação individual afeta a taxa segundo a qual o recurso pode reabastecer- se, o que requer restrições, que dependem da coordenação entre os usuários. Caso contrário, pode haver uma competição de uso que pode gerar uma destruição rápida (1990, p. 1-3)54.

53 Repensar o desenvolvimento implica uma reflexão sobre os objetivos de

longo prazo, formulados em termos de finalidades, constituindo opções éticas (WEBER; BAILLY, 2002).

54 Oakerson apresenta um framework que pode ser usado para coletar

informações e analisar os commons em diversas situações (modelo geral). O “truque” é desenvolver conceitos que identificam atributos-

O modelo de análise distingue quatro conjuntos de atributos ou variáveis que podem ser usadas para descrever os commons: a) Atributos físicos do recursos (estado dos ecossistemas) e a

base socioeconômica ou tecnológica que incide na área; b) Os arranjos institucionais (organização e regulamentação) que

norteiam as relações entre usuários e outros relevantes atores, podendo compreender as regras formais provenientes do Estado (leis) ou convenções diversas estipuladas por um grupo de usuários; c) os padrões de comportamento/interação entre os usuários; d) outcomes ou consequências.

Figura 1 - Modelo de análise de commons de Ronald J. Oakerson

Fonte: Oakerson (1990).

Mostra-se importante a identificação das relações entre as

variáveis, para permitir um diagnóstico do que está errado e qual

a razão para essa situação, possibilitando, assim, sugestões ou propostas para a melhora do quadro. Trata-se de uma estrutura fundamental (geral) que não foi pensada para constituir um modelo causal completo que inclui todas as relevantes microvariáveis e relações em todos os casos. É uma forma mais facilitada de pensar a lógica das situações e considerar possibilidades alternativas, sendo aplicável em diversos níveis de

complexidade (OAKERSON, 1990).

Em relação ao funcionamento do Gerco estadual, verifica- se que a sua área de incidência é bastante expandida, abrangendo inter-relações entre a porção territorial e marítima. Em relação à porção territorial (como será explicado no capítulo segundo), a influência dos instrumentos de gerenciamento

engloba a totalidade dos Municípios costeiros (e mesmo alguns que não são defrontes com o mar). O Zoneamento Ecológico-

chave comuns a todos os commons em suas muitas manifestações e que podem assumir diferentes valores em uma dada circunstância (1990).

Econômico e os Planos de Gestão não ficam restritos às porções geográficas tradicionalmente classificada como terrenos de marinha. Entende-se pertinente, assim, definir como foco do presente trabalho os arranjos institucionais formais externos do

Gerco estadual55. No entanto, é importante também trabalhar com um nível de complexidade acima desse (que corresponde ao Gerco Federal), a fim de que seja possível captar constrangimentos e traços característicos comuns às duas esferas.

Os padrões de interação (ou de comportamento) tem forte influência sobre as consequências (outcomes). As regras não garantem a emergência de um particular padrão de interação. As regras são vistas como leve constrangimento e são cumpridas por meio da compreensão e aceitação humanas, escolhas e ações. Os padrões de interação são influenciados também pelos padrões físicos (ecossistêmicos) e pela base socioeconômica (ou tecnológica). Diante das características ecossistêmicas, dos potenciais de exploração socioeconômica – pressão sobre os recursos - e dos arranjos institucionais, os atores sociais e os indivíduos fazem as suas escolhas (situadas nos padrões de interação), que envolvem uma análise dos obstáculos e dos benefícios de uma determinada alternativa (OAKERSON, 1990).

Adquire especial importância, diante dos dados empíricos do caso concreto, o exame das relações entre as macrovariáveis

acima descritas, que devem ser detalhadas por meio da eleição

de microvariáveis tidas como importantes diante dos dados existentes. Na presente pesquisa, não é estudada a percepção das comunidades costeiras sobre os encaminhamentos do gerenciamento costeiro estadual, tendo em vista as limitações existentes relacionadas ao tempo de conclusão do trabalho e às

55 Para Oakerson (1990), os arranjos institucionais podem ser divididos em

três subclassificações: a) regras operacionais (operational rules), que são efetivadas pelos usuários diretos dos recursos naturais, para se decidir sobre os usos possíveis e a convivência entre distintas utilizações; b) regras que estabelecem condições de escolha coletiva para o grupo mais próximo do recurso de uso comum; c) arranjos institucionais externos.

Esclareça-se que tais arranjos externos podem, ou não, favorecer a intensificação do uso das regras operacionais e das que estipulam condições de escolha coletiva (letras “a” e “b”).

dificuldades de obtenção de generalizações válidas. Prioriza-se,

assim, à implementação normativa e política do Gerco Estadual, com destaque para as insuficiências, lacunas e contradições que condicionam a implementação da gestão compartilhada e integrada do patrimônio natural e cultural costeiro.

Além dos arranjos institucionais externos formais, serão coletados dados a respeito dos encaminhamentos políticos concretos efetivados no período de 2009-2016. Nos padrões de

interação, será enfatizada a disponibilidade de abertura do Gerco estadual para a instalação e manutenção de um modelo de gestão integrada e compartilhada. Os padrões de interação prevalentes,

no caso concreto, em relação a esse aspecto específico, serão investigados por meio dos seguintes indicadores: a) pesquisa acerca do funcionamento do comitê gestor integrado (órgão central consultivo do governo estadual); b) funcionamento do comitê temático regional de Itajaí/SC; c) abertura para as discussões na fase inicial, que correspondeu à confecção do diagnóstico socioambiental (que serviu de base, posteriormente, ao zoneamento), com ênfase na regional de Itajaí.

2 O PLANO NACIONAL DE GERENCIAMENTO COSTEIRO EM