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CAPÍTULO I − PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM, A PEDAGOGIA,

1.3. Destaque para Duas Ciências: a Pedagogia e a Aprendizagem Adulta pela

1.3.3. A Andragogia

A andragogia é também uma teoria sobre ensino e aprendizagem que preocupa-se com a educação exclusiva de adultos.

Arnaldo Marion (2007, p. 21) comenta o início do termo andragogia:

O primeiro documento conhecido e publicado, utilizando a terminologia “Andragogik”, foi em 1833 por Alexandre Kapp, um educador alemão, em sua obra: Platon’s Erziehungslehre (idéias Educacionais de Platão). Nessa obra descreveu a necessidade durante toda a vida de se aprender. Iniciando-se cedo na infância até a idade adulta com o título “Die Andragogik oder Bildung im

maennlichen Alter” (Andragogia ou educação na idade adulta). Kapp

(1833) argumenta que a educação, a auto-reflexão e a educação do caráter devem ser os primeiros valores de vida. A aprendizagem não acontecia somente por meio de professores, mas por meio de auto- reflexão e da experiência de vida.

De acordo com Cavalcanti e Gayo (2005, p. 45): “a palavra Andragogia deriva das palavras gregas andros (homem) + agein (conduzir) + logos (tratado, ciência), referindo-se à ciência da educação de adultos [...]”.

Cavalcanti e Gayo (2005), afirmam que após Alexandre Kapp, o termo voltou a ser usado por Eugene Rosenstock em 1921, ambos autores alemães.

Em sua obra “Aprendizagem de Resultados”, Knowles, Holton III e Swanson (2009, p.39) destacam que “[...] a educação de adultos é uma preocupação da humanidade há muito tempo. Mesmo assim, por vários anos, o adulto aprendiz foi seguido como uma espécie negligenciada.”

Arnaldo Marion (2007) menciona que após a fundação da Associação Americana de Educação para Adultos nos EUA, em 1926, e que, com suas contribuições nessa área, foi possível visualizar claramente duas linhas de questionamento, sendo a científica e a artística. A científica foi iniciada em 1928, por

Edward Lee Thorndike (1874-1949) que publicou Adult Learning (Aprendizagem

Adulta), cujos estudos evidenciaram que adultos podiam aprender, fundamentando cientificamente esse campo de pesquisa. A artística foi trazida em 1926, pela obra

de Eduard C. Lindeman (1885-1953), denominada The Meaning of Adult Education

(O Significado da Educação Adulta), que incluía os conceitos que relacionam a motivação do aprendizado adulto com o interesse e a necessidade que este irá satisfazer; a orientação dos adultos ao aprendizado é centrada em sua própria vida; a experiência é um recurso de muito valor na aprendizagem adulta; necessidade que os adultos têm em serem autodirigidos e que as diferenças entre as pessoas aumentam com a idade. Depois da publicação em 1926, por Lindeman, outros autores tiveram interesse pelo tema e, a partir de 1940, grande parte dos elementos requeridos para conceituação de aprendizagem adulta já haviam aparecido. Mas, ainda eram tratados de maneira isolados, não reunidos e integrados em um conjunto. (MARION, 2007).

De acordo com Cavalcanti (1999), a partir de 1970 as ideias de Lindeman foram trazidas à tona por Malcom Knowles que publicou diversas obras sobre andragogia, entre elas The Adult Learner – A Neglected Species (1973). Daí por diante várias obras apareceram sobre o assunto.

Knowles, Holton III e Swanson (2009) destacam que contribuições significativas à aprendizagem adulta vieram da psicologia clínica, dos quais se destacam Sigmund Freud, Carl Jung, Erik Erikson, Abraham Maslow e Carl Rogers.

O Quadro 4 apresenta, resumidamente, as principais contribuições dadas por esses psicólogos.

PSICÓLOGO CONTRIBUIÇÃO Sigmund Freud

(1856-1939) Identificou a influência da mente subconsciente sobre o comportamento. Carl Jung

(1875-1961) Apresentou a idéia de que a consciência humana possui quatro funções: sensação, pensamento, emoção e intuição. Erik Erikson

(1902-1994) Apresentou as “oito idades do homem”: oral-sensorial, muscular-anal, locomoção-genital, latência, puberdade e adolescência, jovem adulto, adulto e estágio final.

Abraham Maslow

(1908-1970) Destacou o papel da segurança. Carl Rogers

(1902-1987) Conceituou uma abordagem de educação centrada no aluno, com base em cinco “hipóteses básicas”: 1. Não podemos ensinar a alguém diretamente; só podemos facilitar sua aprendizagem.

2. Uma pessoa aprende apenas as coisas que considera estarem envolvidas na manutenção ou aperfeiçoamento da estrutura de self; 3. A experiência que, se assimilada, envolveria uma mudança na organização do self e tende a sofrer resistências por meio da negação ou distorção da simbolização.

4. A estrutura e organização do self parecem se tornar mais rígidas quando sob ameaça e parecem relaxar os limites quando absolutamente livres de ameaças. A experiência percebida como inconsistente com o self só pode ser assimilada se a organização atual do self for relaxada e expandida para incluí-la.

5. A situação educacional que promove a aprendizagem de maneira mais significativa é aquela em que (a) a ameaça ao self do aprendiz é reduzida a um mínimo, e (b) a percepção de campo diferenciada é facilitada.

Quadro 4 − Principais Contribuições dos Psicólogos Clínicos

Fonte: Elaborado pelo Autor com base em Knowles, Holton III e Swanson (2009, p.51)

As Ciências Sociais também contribuíram para trazer conhecimentos novos sobre o processo de aprendizagem, o comportamento de grupos, conhecimentos sobre mudanças ocorridas com a idade em características como habilidades físicas, atitudes, valores, interesses, criatividade, habilidades mentais, estilo de vida, etc., sendo elas a psicologia do desenvolvimento, a sociologia, a psicologia social e a filosofia. (KNOWLES; HOLTON III; SWANSON, 2009).

De acordo com Kelvin Miller citado por Cavalcanti (1999, p.2) os estudantes adultos retêm apenas 10% do que ouvem, após 72 horas, porém, são capazes de lembrar-se de 85% daquilo que ouvem, veem e fazem, após o mesmo prazo, sendo

que as informações mais lembradas são aquelas que são recebidas nos primeiros 15 minutos de uma aula ou de uma palestra.

Cavalcanti (1999, p.2) afirma que “para melhorar estes números, faz-se necessário conhecer as peculiaridades da aprendizagem no adulto e adaptar ou criar métodos didáticos para serem usados nesta população específica”.

De acordo com Malcolm Knowles, referenciado por Cavalcanti (1999, p.2), as pessoas vão se transformando à medida que amadurecem. O Quadro 5 apresenta um demonstrativo do amadurecimento das pessoas.

DEMONSTRATIVO DO AMADURECIMENTO DAS PESSOAS

Passam de pessoas dependentes para indivíduos independentes, autodirecionados. Acumulam experiências de vida que vão ser fundamento e substrato de seu aprendizado futuro.

Seus interesses pelo aprendizado se direcionam para o desenvolvimento das habilidades que utiliza no seu papel social, na sua profissão.

Passam a esperar uma imediata aplicação prática do que aprendem, reduzindo seu interesse por conhecimentos a serem úteis num futuro distante.

Preferem aprender para resolver problemas e desafios, mais que aprender simplesmente um assunto.

Passam a apresentar motivações internas (como desejar uma promoção, sentir-se realizado por ser capaz de uma ação recém-aprendida, etc), mais intensas que motivações externas como notas em provas, por exemplo.

Quadro 5 − Transformações mediante Amadurecimento das Pessoas Fonte: Cavalcanti (1999, p.2)

Cavalcanti (1999) afirma que a partir desses princípios apresentados por Malcolm Knowles, foram realizadas diversas pesquisas sobre o assunto, sendo as mais significativas apresentadas no Quadro 6.

ANO PESQUISAS

1980 Brundage e MacKeracher - identificação de seis princípios de aprendizagem e de estratégias de planejamento e facilitação do ensino.

1989 Wilson e Burket - revisão de vários trabalhos sobre a teoria, com identificação de vários conceitos que dão suporte aos princípios andragógicos.

1992 Robinson - realizou pesquisa entre estudantes secundários e, comprovou vários princípios da Andragogia, especialmente o uso de experiências de vida e a motivação intrínseca em muitos alunos.

Quadro 6 – Pesquisas mais Significativas sobre a Andragogia Fonte: Cavalcanti (1999, p.2)