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ANEXO E – CAPÍTULO 5 O PERFIL DA REVISTA

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 154-162)

A organização dos textos na revista de Occidente não variou muito nos seus treze anos de existência. Em formato 214 X 149 mm, destacavam a tipografia - segundo Gómez de la Serna (apud LÓPEZ CAMPILLO, 1972, 60), marcada por caracteres de

longas “pes y des” - e o verde das letras da Capa. Seu sumário dividia-se em duas

partes: artigos e notas, claramente diferenciados pelo tamanho das letras e o espaçamento entre linhas 69. Além destes, em poucos volumes, até 1928, constavam também uns comentários curtos, assinados pelos principais redatores, intitulados

“Asteriscos” ou “La flecha en el blanco”. (LÓPEZ CAMPILLO, 1972, 61)

A primeira parte continha, em geral, escritos de autores de reconhecida importância, ou nomes jovens que a publicação pretendia destacar como importantes. Uma grande parte estava dedicada à literatura, pelo menos até o ano de 1930, quando outras preocupações entraram em cena. Em geral eram textos mais longos (ensaios, capítulos de livros, fragmentos de romances, ou romances curtos, obras de teatro) que ocupavam cerca de 30 páginas, com exceção da poesia, que naturalmente necessitava de um espaço menor, mas nem por isso menos importante. Quando o texto era demasiado extenso a revista tinha o hábito de publicá-lo dividido em duas, ou se fosse o caso, três edições.

Em sua maioria vinham acompanhados somente do título e do crédito do autor, com exceção das colaborações estrangeiras, geralmente apresentadas através de um pequeno parágrafo introdutório. Situado entre o título e o corpo do texto (ou, nos anos em que houve, na seção de asteriscos), indicava-se assim a origem do autor e lugar de atuação, às vezes o título de suas obras mais importantes e uma explicação sobre a fonte

68Capítulo da minha dissertação de mestrado “A Revista de Occidente e suas estratégias de legitimação:

um estudo do ano de 1929.” Referência completa junto às referências bibliográficas.

do artigo e a pertinência de sua publicação. Uma das funções deste procedimento

consistia em “autorizar” a revista, legitimando uma rede de contatos culturais e

acadêmicos que lhe conferiam prestígio. (VÁZQUEZ, 2003, 12) Assim, por exemplo, ao apresentar na primeira parte o artigo “La nueva teoría del campo”, de Einstein (R. de O., t.xxiii, 129), a revista publica na seção de “notas” o seguinte comentário:

Hace poco más de un mes, el gran físico Alberto Einstein presentó a la Academia de Ciencias de Berlín una pequeña comunicación[...] Era la nueva teoría del campo único, que Einstein esboza en el primer artículo de este número. Descubrimiento de tal importancia tenía que repercutir en seguida en la revista de Occidente. Y hemos obtenido del señor Einstein el trabajo que encabeza nuestro sumario de este mes. Impresos ya los primeros pliegos, el señor Einstein nos escribe adviritiendo que quisiera perfeccionar la consideración geométrica con que termina su trabajo [...] (Revista de Occidente, t. xxiii, 01)

Nota-se na citação uma espécie de “autopropaganda” da revista, que ao mesmo tempo demonstrava atualidade, ao publicar o que de mais novo se pensava em física, e autoridade, ao receber de ninguém menos que o próprio Einstein o texto a ser publicado. Em outra ocasião, ao publicar por primeira vez um trabalho de A. S. Eddington, a revista apresenta diretamente o astrônomo em um parágrafo anterior ao seu texto.

Publicamos en el número anterior un capítulo de la obra filosófica de Max Scheler, El puesto del hombre en el cosmos. A.S. Eddington estudia en el trabajo que damos a continuación cuál es el lugar del hombre en el universo, desde otro punto de vista completamente distinto. A. S. Eddington es profesor de la Universidad y director del Observatorio de Cambridge. Es, con Jeans – del cual hemos publicado varios trabajos-, la figura más alta de la astronomía contemporánea [...](Revista de Occidente, t. xxv, 01)

Como era a primeira vez que o cientista aparecia na Revista, o texto de apresentação justificava o porquê de sua inclusão ao defini-lo como “a figura mais alta

da astronomia contemporânea”, situando-o em relação ao astrônomo J. Jeans e ao

filósofo Max Scheler, já conhecidos do leitor. Deste modo estabelecia-se uma rede de afinidades, não necessariamente relativas a uma área de estudo, mas de problemáticas que constituíam a preocupação da revista. Como veremos nas análises dos volumes

publicação constitui uma particularidade da assimetria de um campo intelectual, no qual em uma mesma época podem conviver formas residuais, dominantes e emergentes. (SARLO, 1983, 84; WILLIAMS, 2000, 201)

Segundo Vázquez (2003,12), além da função de “autorizar” a revista, os textos

introdutórios pretendiam orientar e controlar a leitura, processo fundamental para uma instância do campo intelectual que se pretendia legitimadora. Ao adentrarmos no

território do “leitor” e nos referirmos aos mecanismos de que uma revista dispõe para

seduzi-lo, é preciso distinguir entre o leitor que a revista constrói, como implícito a todo

texto, e o leitor “real” da revista. Deve-se postular a existência de

un destinatario interno [...] aludido en el texto por el sistema de señales cuya interpretación exige dominar destrezas y supuestos socioculturales; y un lector empírico, colocado fuera del texto, cuyo habitus puede coincidir o no con el del destinatario interno. (SARLO, 1983, 109).

No caso das revistas culturais, é preciso levar em conta que elas articulam discursos alheios enquanto constroem um discurso próprio que pretendem legitimar.

Deste modo, é natural que tendam a “organizar su público, es decir el área de lectores que la reconozca como instancia de opinión intelectual autorizada” (SARLO, 1983, 96).

A revista surgiu de uma conversa entre Fernando Vela e Ortega y Gasset, quem

apontava a necessidade de colocar o leitor espanhol ao corrente “de todas las nuevas ideas en todos los dominios de la cultura” (apud LÓPEZ CAMPILLO, 1972, 59). Este

leitor era fundamentalmente culto, oriundo da universidade (estudantes e professores) e de setores mais abertos de profissionais liberais, entre os quais se reconhecia uma demanda por outras leituras além das estritamente universitárias e da sua área de trabalho. (LÓPEZ CAMPILLO, 1972, 66). (Se tratava, pois, do novo tipo de intelectual especializado, ao que aludimos no capítulo ___ da presente tese , minoria seleta com a qual Ortega pretendia dialogar.)

Uma considerável parte era jovem, muitos dos quais estudantes que possivelmente conheceram a revista através da “fama” de Ortega como professor ou da influência de outros colaboradores da publicação, também professores de Universidades e Institutos70. Além do contato através das instituições de ensino deve-se destacar o papel fundamental de outro lugar muito freqüentado por jovens: as “tertúlias de café”.

Ali “los temas culturales ocupaban un sitio por lo menos tan importante como los temas

políticos, [...] se difundían las informaciones sobre los últimos libros publicados, los nuevos artículos o las recientes conferencias.” (LÓPEZ CAMPILLO, 1972, 65).

Também colaborou a participação de Ortega no diário El Sol e nas publicações da Editora Calpe, que o tornou conhecido entre um público não ligado diretamente à filosofia. Como exemplo, destacamos a declaração de Eugenio D‟Ors ao descrever a

biblioteca de um jovem de dezoito anos, na qual se encontravam “varios números de la

Revista de Occidente” (apud LÓPEZ CAMPILLO, 1972, 65).

Este público, mais velho ou mais novo, localizava-se não só na Espanha, mas também na América Hispânica, para onde iam, como vimos (buscar a citação) a metade dos 3.000 exemplares de cada edição, comprados pela editora Espasa-Calpe. A própria experiência de Ortega, ao visitar a Argentina em 1916, contribuiu para identificar os países americanos de língua espanhola como um mercado em potencial.

[...] la repercusión en los medios periodísticos, la respuesta positiva de un público amplio (no sólo profesores y alumnos de la universidad, sino también profesionales y mujeres), contribuyó a conformar en Ortega la percepción de que, más allá del atraso en materia filosófica, en América era posible encontrar un público excepcionalmente dispuesto a la novedad. (VÁZQUEZ, 2003, 05)

A percepção não estava equivocada, conforme se comprova na declaração de Juan Marichal (1993, 31)

[...] uno de mis más admirados y queridos maestros universitarios, el historiador mexicano Edmundo O‟Gorman, me contó cómo un grupo de

jóvenes escritores mexicanos se congregaban en una librería, el día que llegaba de madrid mensualmente, la Revista de Occidente.

É interessante observar como a descrição do público da revista coincide com o

perfil de leitor traçado nos “Propósitos”. Diferentemente do livro, que aspira a ser um

projeto de longa duração, lido por pessoas de várias épocas, as revistas culturais

pretendem estabelecer um “diálogo” com os seus contemporâneos, para discutir

problemáticas inerentes ao seu tempo (não importa se elas se referem ao passado ou ao futuro e sim como são vistas desde o presente). Sendo assim, é fundamental convencer

o “leitor”, atraí-lo, não uma vez, como um livro que lemos e, talvez, relemos uma ou

algumas vezes, mas mês a mês, número a número no caso de uma publicação mensal como a Revista de Occidente. Há uma relação mais direta, e o “leitor real”, ou empírico,

se aproxima bastante do “leitor implícito”, construído pela revista.

A definição desse leitor implícito é o primeiro aspecto abordado nos

“Propósitos”

Los propósitos de la Revista de Occidente son bastante sencillos. Existe en España e Hispano-América un número crecido de personas que se complacen en una gozosa y serena contemplación de las ideas y del arte. Asimismo les interesa recibir de cuando en cuando noticias claras y meditadas de lo que se siente, se hace y se padece en el mundo: ni el relato inerte de los hechos, ni la interpretación superficial y apasionada que el periódico les ofrece, concuerdan con su deseo. [...] Es la curiosidad ni exclusivamente estética ni ceñudamente científica o política. Es la vital curiosidad que el

individuo de nervios alerta siente por el vasto germinar de la vida en torno y es el deseo de vivir cara a cara con la honda realidad contemporánea (grifo nosso) (R. de O., t. i, 01)

Observe-se a forma sedutora da descrição. As palavras iniciais da sua primeira

edição revelam o aspecto provocativo das expressões “individuo de nervios”, “alerta”.

Somos levados, como leitores, a nos sentirmos mais importantes, diferentes, capazes de

viver “cara a cara” com essa “realidade contemporânea”. Embora a revista esteja feita

poucos e sim “un número crecido” de pessoas. Tal provocação sedutora seria mantida

ao longo dos anos.

Ao referir-se às pequenas apresentações que introduzem os textos estrangeiros,

Vázquez afirma que “Es posible ver allí – siguiendo las sugerencias metodológicas

planteadas por Roger Chartier – cómo, a partir de una representación previa de lectura, se activan estrategias de control y de seducción del lector”. (2003: 12) Ao mesmo tempo em que seduzia e convidava o leitor a conhecer o seu projeto, a revista necessitava orientar a leitura na direção do que pretendia demonstrar. Para realizar esta operação de

“orientação e controle da leitura” a revista lançou mão de dois conceitos também definidos nos “Propósitos”: “clareza” e “hierarquía”.

No basta que un hecho acontezca o un libro se publique para que deba hablarse de ellos (...) Nuestra Revista reservará su atención para los temas que verdaderamente importan y procurará tratarlos con la amplitud y rigor necesarios para su fecunda asimilación. (R. de O., t. i, 02)

Mesmo preconizando a chegada de um novo espírito, devia-se advertir o leitor de que não bastava ser novo para ser bom. À publicação cabia estabelecer uma

“hierarquia da informação”, selecionar os textos fundamentais para então promover o

debate do que fosse relevante. E o conceito de relevante se aplicava àquilo que servisse

para esclarecer as idéias (este é o sentido de “clareza”), ou seja, para abrir os olhos dos espanhóis aos “síntomas de una profunda transformación en las ideas, en los sentimientos, las maneras, en las instituciones.” (R. de O., t. i, 01).

Além da seleção prévia dos textos e da sua apresentação quando necessário (como vimos no caso dos textos estrangeiros) um dos principais instrumentos de

orientação da leitura constitui a segunda parte da revista, intitulada “notas”. Tratava-se,

muitas vezes, de resenhas de livros, mas também apareciam comentários sobre filmes, sobre os artigos publicados na primeira parte da mesma ou de outras edições, sobre um evento considerado importante, homenagens (por morte, recebimento de prêmios...) etc.

Muitas vezes o estudo das notas relativas a um tema resultou ser mais relevante, para nosso trabalho, do que a leitura dos artigos em si, uma vez que revelavam o pensamento da revista sobre um tópico em específico, ou, principalmente, porque demonstravam

certa unidade de opiniões. Sob o rótulo de “seção de notas”, revestidas de uma “diversidade aparente”, disfarçadas de “pequenos” comentários secundários frente aos grandes “artigos”, apresentadas em espaço e fontes menores, a Revista de occidente

construía o seu discurso crítico. Efetivamente, destacados ensaios do grupo da revista aparecem neste espaço, como a nota “Vidas oblicuas” (R. de O., tomo xxvi, 251) sobre

o papel das biografias, de Benjamín Jarnés (SERRANO ASENJO, 2002, 13) ou “Anejo a mi folleto Kant” (R. de O., tomo xxv, 124), de Ortega y Gasset (um excelente texto para se entender a filosofia vitalista de Ortega).

Ao iniciarmos este capítulo, aludimos aos aspectos formais que configuravam a revista. Agora podemos afirmar que o modo como a publicação se organizou respondia a necessidades intrínsecas ao seu projeto. A relação entre forma e conteúdo é sempre uma relação de mútua construção em que o desenvolvimento de um responde e gera necessidades ao outro. A divisão em duas partes (artigos e notas) plasmava, fundamentalmente, os processos de seleção e orientação propostos nos conceitos de

“hierarquia e clareza”.

Por este motivo, e para efeitos de organização de nosso estudo, chamaremos

“artigo” a todo texto publicado na primeira seção da revista e “nota” aos pertencentes à

segunda parte. Obedecemos, deste modo, aos mesmos critérios usados por López Campillo e Vázquez em seus trabalhos. Veremos agora como o projeto da Revista de Occidente apresenta questões formais e temáticas resolvidas, ou pelo menos com tentativas de resolução, até 1929, quando outras demandas entraram em cena e o projeto

Tomo Vol. Ano Mes Corpo

Nota Título Autor Matéria Tipo texto página obs obs literatura tema

Tomo

XXVI LXXVI 1929 octubre artículo

Megalomanía espiritual

Friedrich

Gundolf sociología ensayo 57

Alemania /

literatura espacio

Tomo

XXVI LXXVII 1929 noviembre artículo

¿Un renacimiento católico? Liturgía y

espíritu

Luis de

Zulueta filosofía ensayo 203

Alemania - sobre la "Primavera alemana, la Reforma católica Tomo

XXVII LXXIX 1930 enero artículo Clima y evolución K. Olbricht ciencias ensayo 40

Bioclimática - orígenes del hombre, raza superiores e inferiores según latitud donde viven raza Tomo

XXVII LXXX 1930 febrero artículo

El proceso de neutralización de la

cultura

Carl Schmitt humanidades ponencia 199 autor "facha" -

germanista, cita raza

Tomo

XXVII LXXX 1930 febrero artículo Clima y evolución K. Olbricht ciencias ensayo 222

Bioclimática -

(cont.) raza

Tomo

XXXI XCIII 1931 marzo artículo Berlín 1931

Máximo José Kahn sociológía 298 sobre el papel de la mujer alemamna en la sociedad prosa? biografía de un lugar? Tomo

XXXII XCV 1931 mayo artículo

Hacia el Estado

Total Carl Schmitt sociología artículo 140

autor "facha" -

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 154-162)

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