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A PSICOLOGIA DAS MASSAS

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 76-85)

COMEÇA A REBELIÃO DAS MASSAS

5. A MASSA NA REVISTA DE OCCIDENTE

5.1 A PSICOLOGIA DAS MASSAS

Como “psicologismo dos sentimentos” caracterizamos não só os artigos e notas cujo discurso se insere no âmbito da psicologia como ciência (textos normalmente escritos por intelectuais especializados nessa área do conhecimento), entre os quais se incluem os de fenomenologia clínica31, y caracterologia32, mas também aqueles que de alguma forma apresentam questões ligadas à psicologia ainda que esta não seja o foco principal do assunto (como podem ser textos filosóficos, antropológicos, sociológicos...).

Com tal preocupação aparecem em 1930 seis artigos e duas notas: “Lugar del

amor en la vida humana” (Bertrand Russel, t. XXIV, jan.), “El esnobismo como fuerza

intelectual en el mundo” (Franz Werfel, t. XXVIII, maio), “Las sensaciones táctiles”

(nota de Ledesma Ramos sobre el libro de David Katz, El mundo de las sensaciones táctiles, t. XXVIII, jun.), “El origen del pudor” (nota de Juan Dantín Cereceda sobre livro homônimo de Enrique Casas Gaspar, t. XXIX, ago.), “Fragmentos sobre la angustia” (Soren Kierkegaard, t. XXX, nov.), “La psicología del llanto” (B. Schwartz, t. XXX, dez.), Climaterio de la cortesía (G. Pittaluga, t. XXX, dez.).

31 A fenomenologia clínica surge fundamentalmente como aplicação do método de redução

fenomenológica (Husserl) aos fatos psíquicos, cuja operação consiste em “en abordar las realidades, sean externas y objetivas o precisamente íntimas y subjetivas, observándolas, con completa imparcialidad, tal como aparecen, excluyendo cualquier juicio de valor y las posibles relaciones de causa o efecto con otros hechos.” Como antecedentes, além de Husserl, se situam a filosofia do ser de Nicolai. Hartmann e principalmente as idéias de Max Scheler, da qual parte uma “fenomenologia dos sentimentos”, em cuja linha se observam os trabalhos de David Katz, promotor da psicologia da Gestalt, sobre a fenomenologia das cores, e os de Merleau-Pointy sobre a percepção. (Enciclopedia GER).

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Caracterología - Comprende los estudios relativos a lo que hay de específico en las diferentes variedades de individuos y a lo originalmente personal de los mismos; es, pues, el conocimiento y clasificación de los caracteres, tema implicado con el de los temperamentos, por lo que existen diversas clasificaciones según que los autores asimilen más o menos el carácter (v.) al temperamento (v.) o viceversa. (Enciclopedia GER).

Em 1931 contamos cinco artigos: “Esquema de los problemas prácticos y actuales del amor” (Rosa Chacel, t. XXXI, fev.), “La templanza” (Valentín Andres Alvarez, t. XXXI, fev.), “Berlín 1931” (Máximo José Kahn, t. XXXI, mar.), “El hombre arcaico” (Jung, t. XXXII, abril) e Amiel. Un estudio sobre la timidez (Gregorio

Marañón, t. XXXIV, dez.), além de um comentário da Revista a respeito da intenção de publicar um número monográfico sobre Max Scheler (t. XXXIV, nov.)33.

Em comum essas análises se relacionam com uma preocupação em identificar características do ser humano em estreita ligação com os valores éticos modernos. Assim se parte de determinado sentimento, ou sensação, para identificá-los a degenerações dos valores morais da sociedade de então. A partir das questões sobre o amor, ou o pudor, ou ainda o esnobismo se encontram valores negativos de uma sociedade que favorece o maquinismo, a mecanização do homem em detrimento da sua capacidade criadora universal. Cabe lembrar que não é nosso objeto de estudo proceder a uma profunda análise das correntes científicas e filosóficas citadas em relação com os debates específicos de seus respectivos meios acadêmicos. Nos referiremos a elas a partir da leitura que a Revista de Occidente faz de tais questões, entendendo que assim a publicação constrói o seu discurso a fim de se posicionar no campo intelectual.

Sendo assim, ao mesmo tempo em que a publicação incluía uma considerável série de análises fenomenológicas, em consonância com a importância dada ao método em 192934, podia permitir a inserção de outros textos relativos à preocupação com os sentimentos que complementassem o debate. O caso de Kierkgaard é significativo, uma vez que cronologicamente não pertence ao debate fenomenológico, mas aporta uma

33 Neste comentário a publicação reafirma a intenção de produzir tal número monográfico, mas lamenta

que as urgentes ocupações e preocupações de “caráter nacional” dos principais colaboradores da revista impeçam a sua realização imediata. Tais ocupações se referem ao envolvimento do grupo de Ortega na elaboração da nova Constituição republicana, como veremos mais adiante.

34 Como afirmação sobre a importância do método fenomenológico aparecem em 1930 o artigo Ludwig

Klages y su lucha contra el "espíritu" (Gerda Walther, tomos XXIX e XXX, setembro e outubro, 1930), e duas notas escritas por Ramiro Ledesma Ramos, “De Rickert a la fenomenología” (tomo XXVIII, abril 1930) e “Esquemas de Nicolai Hartmann”

importante discussão que não só analisa o sentimento da angústia mas que o eleva como motor da vontade humana e deste modo se insere no debate com os demais textos em relação ao estudo dos sentimentos humanos. 35

Tal também é o caso do artigo “Lugar del amor en la vida humana” (Bertrand Russel, R. de O, t. XXIV, jan. 1930) Para Russell, por uma lado, a exaltação do dinheiro e do trabalho e o excessivo individualismo da época impedem que o ser humano cultive

o amor, “el medio principal de librarse de la soledad que aflige a casi todos hombres y

mujeres, durante la mayor parte de su vida [puesto que] [...] derriba las fuertes murallas en que el yo está encastillado.(R. de O., t. XXIV, 1930, 04). Por outro, tanto a educação convencional e a doutrina cristã, quanto a “confusa rebelião contra toda moral sexual”, presente entre juventude, constituem empecilhos para a vivência do amor segundo os seus ideais próprios e a sua moral intrínseca. Homens e mulheres se encontram, assim, frustrados: os primeiros, obrigados a viver exclusivamente para o triunfo econômico, relegando a vida matrimonial, e sexual, a segundo plano; as segundas, impedidas de encontrar o amor, pois são cerceadas pela exigência da virgindade.

“Si una muchacha ha de llegar virgen al matrimonio, ocurrirá muy a menudo que

se deje prender en una atracción sexual pasajera y fútil, que una mujer con experiencia

distinguiría fácilmente del amor”. .(R. de O., t. XXIV, 1930, 06). Não se trata de fazer apologia do sexo indiscriminado, mas de reconhecer a sexualidade como item importante das relações amorosas, que devem ser “livres, generosas, sem travas e de

“todo o coração”.

La significación pecaminosa que una educación convencional confiere al amor, incluso al amor en el matrimonio, obra a menudo subconscientemente en los hombres como en las mujeres, y en aquellos cuyas opiniones conscientes son libres como en aquellos en los que se adhieren a las tradiciones rancias. .(R. de O., t. XXIV, 1930, 06).

35. Poder-se-ia alegar que o objetivo da inclusão fosse divulgar a publicação, no mesmo ano, do livro El

concepto de la angustia, de Kierkgaard, pela Editora da Revista de Occidente mas, na verdade é a publicação do livro que revela a intenção de apresentar a obra do autor.

Tratando do mesmo tema, mas sob uma perspectiva fenomenológica, Rosa Chacel, no ano seguinte, aborda a questão do amor de um ponto de vista mais metafísico. Sua tese é a de que a questão da dificuldade de que o ser humano consiga amar consiste não em uma diferenciação de que existam a priori características inerentes do sexo masculino e do sexo feminino, como, segundo a autora, defendem Simmel e Jung, mas sim a partir da dificuldade que um ser em sua individualidade seja capaz de

compreender suficientemente outra individualidade “modalmente diferente de la mía

para poder ponerme en su lugar, aún concibiéndole como otro que no soy yo, como diferente de mí mismo, afirmando al mismo tiempo con calor emocioal y sin reserva

alguna su realidad, su modo de ser” (R. de O., tomo XXXI, 164)

Sua teoria parte de Max Scheler para afirmar que a retração da alma e da consciência a um centro íntimo, fenômeno que caracterizaria a época, constituem um retrocesso, uma volta ao ponto de partida que só se faz quando se pretende avançar

rumo ao seu “sentido interno”.

Mediante la posesión y reconocimiento de su yo íntimo, el hombre concibe la identidad y la diferencia de otros orbes externos. Scheler define la conciencia de esa identidad de este modo: „El otro, en tanto que hombre, en tanto que ser viviente, posee el mismo valor que tú; todo valor que te es exterior debe ser situado en el mismo rango que los valores que te son propios‟. (R. de O., tomo XXXI, 164)

Mas, a diferença do próprio Scheler, e de Russell, Rosa Chacel não vê em termos de aspectos sociais, ou culturais, as dificuldades das relações amorosas. Não se trata da idealização da mulher em épocas anteriores, nem da supervalorização da importância social da mulher levada a cabo pelo movimento feminista, nem, muito

menos, da “virilização” dos valores de então, como sinônimos de “cerebralização, tecnicismo, praticismo ou finalismo” (este último o centro da discordância com

“este prurito de hallar el alma individual exenta de toda posible clasificación o

jerarquización que no estribe en su singular esencia, es el verdadero móvil íntimo de nuestra época.”36 (R. de O., tomo XXXI, 165)

Em comum os dois textos apresentam a preocupação em identificar as causas de uma crise de valores que marcam o fracasso das relações entre homens e mulheres. Esta

discussão aparece em outros artigos. Em “Climaterio de la cortesia”, a partir da pergunta “O que é a cortesia?” Gustavo Pittaluga analisa o fim da necessidade da

cortesia masculina, como um sintoma de “un conocimiento más exacto, perspicacia

mayor, intuición más fina de la realidad”, característica dos jovens de então, que através das novas formas de relação com a mulher, despertariam “un estado de espíritu más serio”. (R. de O.,t. XXX, 352)

Estaria o homem obrigado a abandonar as fórmulas de cortesia por exigência da mulher atual. “Es lo cierto que hoy la mujer es la que invita al hombre a esa renuncia. Es la mujer – hablo de las mujeres jóvenes – la que suprime las formas, la que desdeña el homenaje, la que se enoja del empalago de la finura, la que se ríe de los modales

refinados, la que prefiere el gesto sencillo.” (R. de O., t. XXX, 352) Embora essa descrição não venha acompanhada a princípio de uma valorização negativa do sexo feminino, pois para o autor a consequência desta mudança nas relações inter-sexuais é a demonstração da superioridade espiritual da mulher sobre o homem, no fim baseia tal superioridade no fato de que a mulher não precisa do subterfúgio da cortesia para se relacionar com o outro. “Una mirada, una sonrisa, los ademanes espontáneos de su persona, bastan para fijar la atención, para ejercer la atracción. Son sus calidades intrínsecas, corpóreas o espirituales, patentes por la sola virtud de la presencia, las que la sitúan y la hacen estimar”. (R. de O.,t. XXX, 358)

36Na verdade, a autora se contradiz ao ser obrigada, para defender o seu ponto de vista “supra-social”, a

Apesar de afirmar que no homem

“la renuncia a las formas de la cortesía le coloca en una situación de inferioridad [...] se queda pobre, falto de cualidades nativas capaces de atracción, entregado a la mera y escueta apreciación de sus capacidades técnicas [...] que depende más de circunstancias ajenas a la propia persona, de orden profesional o económico” (R. de O., t. XXX, 358)

o autor não questiona a distribuição inerente de papéis femininos e masculinos. Como símbolo da sua defesa do feminino argumenta que se por um lado tem razão Nietzsche ao afirmar que a mulher não é dada à invenção, característica masculina, por outro ela

“sugiere todas las invenciones, suscita en el hombre el deseo del invento, excita sus facultades lógicas, exalta su impulso para la acción.” (R. de O., t. XXX, 358)

Esta aproximação de Pittaluga, conservadora na medida em que os “valores inerentes” atribuídos a cada sexo coincidem com os valores morais tradicionais,

constituem a tônica de uma linha de pensamento que se expressa na revista com a corrente Jung, Simmel, Ortega, Marañón. (LOPEZ CAMPILLO, 1972, 104).

Já em 1929 esta forma de percepção se apresentava no artigo “La mujer en

Europa (R. de O., t.XXVI, 1929), no qual Jung analisa o papel da mudança do comportamento feminino, fundamentalmente a sua entrada no mercado de trabalho e o questionamento das relações matrimoniais. Numa Europa arrasada pela Guerra, cujas consequências são físicas e psicológicas, onde o homem está ocupado em “reparar os

danos exteriores”, a mulher representa a possibilidade de “curar as feridas interiores” a

partir da remodelação das bases do casamento, marcado pelas relações supérfluas, rumo

a uma verdadeira aproximação “anímica” entre os sexos.

Embora pareça esperançosa, esta constatação é angustiante na medida em que o autor se dá conta de que a mulher, cuja característica fundamental é o Eros, acaba levando a dianteira e conduzindo um processo em que o homem, o verdadeiro portador do Logos, vai a reboque e na medida em que tal processo começa, contraditoriamente,

num aspecto ao mesmo tempo negativo e positivo para Jung: uma certa masculinização feminina.

Por um lado, no plano individual, esta masculinização constituiu um falseamento da mulher, que passa a ocupar profissões destinadas ao homem e a produzir certas opiniões que na verdade brotam da sua natureza masculina37, sendo resultado, muitas

vezes, de um processo inconsciente. São “colectivas y de carácter sexual opuesto, como

si las hubiera pensado un hombre, por ejemplo: su padre” (R. de O., t. XXVI, 10) Em alguns casos, essa opinião inconsciente pode levar ao choque com a sua verdadeira essência feminina, produzindo a neurose.

Por outro, frente ao medo de Jung em relação à falta de objetividade feminina, que se perde em caprichos, a aproximação com o Logos masculino talvez represente a possibilidade da elevação cultural feminina e, portanto, uma maior objetividade em alcançar a sua meta.

El método indirecto de la mujer es peligroso, porque puede comprometer su fin irremisiblemente. Por eso anhela la mujer del presente una conciencia más alta, un sentido y designación del fin, para escaparse ella misma de su ciego dinamismo natural. Ella busca en la teosofía y en toda clase de otras cosas que no le son peculiares [...] A este hambre reacciona el alma de la mujer, pues el eros es lo que une, allí donde separa el Logos. La mujer del presente tiene delante de sí una formidable tarea cultural que tal vez significa el comienzo de una nueva época. (R. de O., t. XXVI, 32)

Na mesma linha de discussão sobre o papel feminino, Giménez Caballero analisa o significado do mito de San Juan, cujo culto se intensifica, segundo o autor, na

segunda metade do século XIX, como resposta católica a uma maré “nórdica, liberal,

socialista: Ibsen, as promiscuidades de Zola, diabolismos de Dostoiewsky, os primeiros

escândalos do “sufragismo" em Inglaterra ou os livros socialistas sobre a mulher, Engels

e Bebel.

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Cabe destacar que em Jung um ser humano reúne em sua natureza o masculino e o feminino e, deste modo, um homem pode viver o feminino como uma mulher, o feminino.

Frente a la marea nórdica, liberal, socialista, es natural que Roma se apresara a una defensa. Y de la mano con la fiel y patriarcal España, procurase dejar en la conciencia de la mujer católica un límite romántico, de “neurosis”, de “mito”, sobre lo que venía planteándose en la calle radical, brutalmente, sin misticismo alguno. (R. de O., t.XXVII, 205)

Apesar de deixar claro o seu respeito à figura santa de São José, o autor conclui

definindo o culto “josefino” como um ideal de mulheres, dominadas por homens. “un

ansia sublime y secreta de matriarcas esclavizadas en un ambiente de tirana patriarcalidad. Por tanto: un culto romántico femenino”.

O autor, a partir de uma reconstituição do debate iniciado com Bachofen sobre as sociedades matriarcais, postula a existência de épocas patriarcais, baseadas no nomadismo, na ação, na virilidade (como a época da luta peninsular contra os árabes, ou a da Conquista da América), e outras de signo feminino, baseadas na tranquilidade advinda do sedentarismo, fundamentalmente românticas. Seu objetivo é observar a que signo pertencem os anos 30.

Uma diminuição do culto a São José seria o indício da entrada numa época matriarcal38, já que o culto só tem sentido como válvula de escape de uma repressão do masculino sobre o feminino. Apesar de não valorizar explicitamente nenhuma das épocas, Gimenez Caballero comparte o mesmo temor que Jung no que diz respeito ao comando transformador feminino. Como epílogo, aparece uma explicação do próprio autor de que o texto publicado foi inicialmente uma conferência proferida no Lyceum Club Femenino de Madrid, uma instituição criada em 1927 e destinada a defender os direitos da mulher.

A continuação esclarece que “escolheu” tal instituição para discursar, pois esta

lhe pareceu a única atual no sentido matriarcalóide que lhe interessa: por um lado abriga

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Vale destacar que para Giménez Caballero nenhuma época foi totalmente ginecocrática, uma vez que não se pode comprovar a existência de uma soberania exclusiva da mulher ou mesmo da existência de um Estado de mulheres. Se trata, portanto, originalmente de uma época de predomínio do feminino que se deu na passagem do nomadismo para o sedentarismo na Pré-História e que ele acredita possa se repetir ao longo da história mas de forma “atenuada”.

uma influência anglo-saxônica, protestante, liberal, mas por outro se baseia numa

“essência genuína” espanhola, o fato de que se deixar influenciar pela Igreja, já que

muitas associadas ao mesmo tempo que defendem a liberdade, participam da novena de São José e regem suas vidas pela “perfecta tradicionalidad española”. Sua esperança, e o

verdadeiro motivo de falar no “Club”, é que se neste processo “elas” talvez não escutem mais as idéias masculinas através da figura do “padre”, que agora elas escutam o que

dizem o seu correlato moderno: o intelectual

Bastante diferente é o texto Berlim 1931 de Maximo José Kahn, quem analisa a

mudança de comportamento da mulher alemã, que “em vez de ser mãe, que ser somente mulher”, o que leva a uma redefinição do papel do casamento e a uma mudança no

modo de encarar as relações sexuais. Kahn se aproxime mais a de Russell, ao ver nessa decisão um processo positivo.

Apesar das diferenças, podemos afirmar que, fundamentalmente, todos os textos anteriores se debruçam sobre este mesmo fato. Todos partem de uma realidade, pertencente a um senso comum: a entrada da mulher no mercado de trabalho durante a Primeira Guerra, fruto, entre outros fatores, da necessidade de assumir postos deixados pelos homens obrigados a ir para o campo de batalha, alterou a sua função social e levou a um questionamento das relações sexuais. Como uma espécie de clichê, todos se referem à crise do casamento, baseado no que eram relações de fachada, e à separação entre sexo e amor.

Todos, em última instância, aspiram, por um lado, ao desejo do amor livre, verdadeiro, (no sentido de comprometido com o ser amado e não com as regras morais

tradicionais), e todos “sublimam” este amor como verdadeiro novo motor da sociedade.

Mas, por outro, talvez à exceção dos textos de Russell, Kahn e Chacel, nem sempre o que se entende por amor ou novas relações são de fato relações que postulam a

ruptura do paradigma tradicional da submissão feminina. A associação entre mentalidade feminina e ordem e norma e mentalidade masculina e poder criador (único capaz de modificar a sociedade existente) permite estabelecer uma analogia entre a mentalidade feminina e o inconsciente coletivo (LOPEZ CAMPILLO, 1972, 105), o que relega o feminino ao âmbito da massa, passível, portanto, de se enquadrar na psicologia desta.

Embora esta preocupação com os fenômenos psíquicos que caracterizam o ser humano não desapareçam após 193139, cabe observar que aparição do tema se intensifica de maio de 1930 até abril de 1931, quando se interrompe até novembro de 1931, provavelmente devido à atividade política do grupo de Ortega, envolvido na elaboração da nova Constituição espanhola. Ortega, Gregorio Marañón e Gustavo Pittaluga (os dois últimos, médicos que colaboravam assiduamente na publicação) foram eleitos deputados para a assembléia constituinte em junho de 1931, cuja Constituição se publicou em dezembro do mesmo ano. Este envolvimento é um dos aspectos mais relevantes para a análise das questões políticas presente na Revista de Occidente no período de nosso estudo.

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 76-85)

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