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A CRISE DO ESTADO

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 85-123)

COMEÇA A REBELIÃO DAS MASSAS

5. A MASSA NA REVISTA DE OCCIDENTE

5.2 A CRISE DO ESTADO

Passaremos a bordar, então, a questão do Estado. Observando os volumes de 1930 e 1931, verifica-se a presença de textos preocupados com a crise dos valores europeus, frente ao surgimento da massa e do modo de vida americano, com o papel do Estado como instituição e, especificamente, textos que aludem a estas questões dentro da sociedade alemã.

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LÓPEZ CAMPILLO (1972, 94) indica que os principais colaboradores sobre o tema (Simmel, Ortega, Marañón e Jung) publicam com regularidade ao longo da primeira etapa da revista

Como vimos no sub-capítulo anterior, a questão das relações amorosas, o papel da mulher e do homem na construção de uma nova sociedade estavam na ordem do dia e se relacionavam com as mudanças advindas dos novos modos e comportamentos da massa. Mas a questão do que são atributos femininos e masculinos, como massas e minorias, não está isolada de uma reflexão maior acerca do papel do Estado e da cultura.

O motivo inicial do citado texto de Giménez Caballero é discutir se a Espanha passa por um período masculino ou feminóide, sendo a maior ou menor força do culto a San José, respectivamente, uma forma de comprovação de um ou outro estado. Da mesma forma, em Jung a análise do papel da mulher européia está relacionada à transformação necessária ao renascimento da Europa como um entreposto, um lugar intermediária entre o oriente “asiático” e o ocidente anglo-saxão (entenda-se, aqui,

Estados Unidos), separados por “abismos raciais e ideológicos”

En Occidente, la mayor libertad política y la mayor servidumbre personal; en Oriente, lo contrario. En el Occidente, un desarrollo inabarcable de la tendencia técnica y científica de la cultura europea; en Oriente, una erupción de todos aquellos poderes que amenazaron en Europa este impulso cultura. El poder del Oeste es material, el del Este es ideal. (JUNG, R. de O., t. XXVI, 02)

Esta é uma das preocupações centrais de Ortega em 1930. Vimos como na primeira parte de A rebelião das massas se estabelece o que o autor entende como dinâmica do crescimento das sociedades: a relação entre umas minorias seletas, responsáveis pela condução dos destinos de uma nação, e amassa vulgar, que deve seguir a orientação da minoria. É no não cumprimento dessa “lei social”, ou seja, no que

caracteriza como o impulso da massa em “asumir las actividades propias de las minorías” (ORTEGA Y GASSET, 1930, 19), fato característico do seu tempo, que

A partir desta conclusão, na segunda parte Ortega defende uma unidade européia a través da superação dos Estados Nacionais, comparando-a com os dois poderes emergentes de então: Estados Unidos e União Soviética. Para Ortega nem um nem outro se constituem como possíveis líderes mundiais na medida em que, por diferentes motivos, se constituem em nações jovens incapazes de prover o mundo de um novo espírito, porque no fundo os motores do desenvolvimento de tais nações não são outros que idéias originadas na Europa: o marxismo na Rússia e a evolução da técnica nos Estados Unidos.

Este triplo eixo de análise ganharia corpo em toda a dimensão editorial capitaneada pelo próprio Ortega. À publicação de La rebelión de las masas em El Sol, corresponde uma intensa produção na Revista de Occidente, tanto na revista em si quanto na Editora, sobre a crise dos valores espirituais da Europa (CAMAZON LINACERO, 2000, 381) e sobre a situação dos Estados Unidos e a Russia.

Desde a crise 1929 se observa a preocupação em estudar o fenômeno americano, cuja visão pragmática, de negócios, por um lado, e de frivolidades, por outro, não agradam ao rígido pensamento intelectual europeu, “La invasión del norteamericanismo es un problema que, en mayor o menor grado, está planteado hoy a casi todos los países europeos. Es un problema, no sólo económico, sino de cultura, del cual no podemos

desentendernos los occidentales.” (R. de O., t. XXVII, 1930, 377. nota introdutória ao

texto “El americanismo, realidad y tópico, de Teodoro Luddecke)

A publicação promove uma série de artigos que visam a destacar os aspectos

negativos da sociedade americana, que conectam com a idéia de Ortega da “América jovem”, sem experiência para se tornar líder mundial, e que ganham, depois do crack de

Esta é a tese de Keyserling, cujo sugestivo título “El sobreestimado niño” (algo

como “A criança super-valorizada”) fere duplamente esta noção de jovialidade

americana: mais do de nação jovem inexperiente, América conta com adultos infantis, desde uma perspectiva psicológica. A socialização da criança americana que ocorre no

jardim de infância, em oposição à educação “do lar”, leva a uma homogeneidade do

caráter americano, ao seu espírito sempre infantil, alheio ao pensamento e suas abstrações. A culpa é do pai que ao não se dedicar aos filhos, por chegar cansado do

trabalho e ainda ter que realizar “tarefas femininas” relativas ao cuidado da prole, não consegue “susucitar en sus hijos el desarrollo de esa superioridad sobre la naturaleza, de

la que dependen tanto la individualización como la espiritualización, y que constituye la

verdadera diferencia entre el niño y el adulto”. (R. de O., t. XXVIII, 1930, 110)

Assim também os artigos de janeiro de 1929 de Waldo Frank, “La mujer

norteamericana”, e Las artes actuales en norteamérica, (R. de O., t. XXIII), para quem o êxito material americano é resultado de uma separação entre impulso e ação que impede o desenvolvimento espiritual em todos os sentidos, incapacitando o homem para o

amor, “Todo hombre cuyo impuso motor es el Poder, es un mal amante. Pues, ¿cómo puede hablar de amor quien no lo siente?” (R. de O., t. XXVIII, 1930, 110), e para arte

Y nuestra estabilidad política, de la cual estamos tan orgullosos, es el resultado de la misma insensibilidad ante nuestras instituciones, nuestros sentimientos y convicciones, y el mismo escape de éstos en gestos estereotipados que (hechos ya de antemano) nos dan la ilusión del éxito, nos hace pobres en arte. Su desorden es un signo negativo de vida; nuestro orden es una amenaza de muerte... (R. de O., t. XXIII, 85)

A partir de uma leitura do espaço, da arquitetura das cidades americanas, Paul

Fechter (“El espacio americano”) também localiza uma das origens do materialismo

“imigrante europeu que não sente o novo continente como a sua “terra” e sim apenas

como um lugar, e o solo que ocupa.

La comunidad europea – por muy escéptica que se juzgue – era, sin embargo, y en definitiva, una comunidad espiritual; en cambio, al otro lado se constituyó rápidamente una comunidad de negocios, sobre la que no flotaba – como ideal de unión – ninguna idea nacional, espiritual o religiosa, sino la simple idea de éxito. (R. de O., t.XXV, 185)

Como remate de pessimismo, duas análises sobre economia americana “El capitalismo norteamericano”, de Charlotte Lutkens (R. de O., t. XXXII, mayo 1931) e

“El sentido de la crisis norteamericana”, de M. J. Bonn (R. de O., t. XXXIV, out. 1931)40. Para LUTKENS o grande desenvolvimento econômico norte-americano não pode ser interpretado como um maior desenvolvimento do capitalismo como sistema nem e, como consequência, as suas instituições político-econômicas podem ser

consideradas modelos. Favorecida por uma “peculiar e excepcional situação das bases naturais da economia”, que não é a expressão de seu estado sociológico, o capitalismo americano não é mais do que “um pseudo-capitalismo tardio”.

Como pano de fundo, o que está em jogo é a necessidade imposta por Ortega de retificação das idéias européias a respeito dos Estados Unidos como portador das respostas à crise da civilização ocidental.41 Se a América não se constituía, portanto, em uma solução, também não convencia como alternativa uma adesão à revolução bolchevique, à qual se tecem várias críticas. Mas é curioso observar que, se sobre os Estados Unidos se plasmam uma série de artigos sobre os valores americanos, nesta mesma linha aprecem somente dois textos sobre Rússia: uma nota de Antonio Espina,

40 Ambos capítulos de livros publicados no mesmo ano de pela Editora Revista de Occidente.

41“Después de la Rebelión de las masas [...] se publicó el libro de Keyserling América, un libro lleno de

intuiciones certeras. Yo quise entonces tratar el asunto en todo su desarrollo. Inicié la versión de ciertas obras que aportaban una rectificación de las ideas europeas en torno a Estados Unidos, entre ellas la de Carlota Lutkens El Estadoy la sociedad en Norteamérica. “ Fragmento do artigo “Sobre los Estados Unidos”, publicado por Ortega y Gasset no periódico Luz, 27 de julho de 1932. Citado por LÓPEZ CAMPILLO, 1972, 137.

resenha do livro “Rusia a los doce años”. (R. deO., t.XXIV, abril 1929) e “Situación actual de la Rusia Soviética”, de Paul Fechter (R. de O., t. XXXII, jun. 1931).42

Isto não significa que o país passasse quase inadvertido pela publicação. Além das referências presentes em outros textos que tratam sobre os Estados unidos ou a Alemanha, observamos uma série de notas que comentam produções artísticas russas, cujo teor, a partir de 193043, revela um ponto de vista sobre a situação daquele país. Observamos duas tendências diferentes na avaliação sobre a Rússia. Por um lado, a de que, superada a violência inicial de um período de guerra, o país estaria entrando numa etapa de revolução instalada, que poderia ser construtiva.

Antonio Espina, na resenha do livro Rusia a los doce años, de Julio Alvarez del Vayo, indica que “A los doce años la situación es muy distinta. El régimen se afianza y la contrarrevolución desaparece como peligro material, para convertirse en inolvidable

ejemplo del pretérito”. (R. de O., t.XXIV, abril 1929, 128). Do mesmo modo, Francisco Ayala, comentando o livro Citroen 10 H.P., do escritor russo Eliá Erenburg, destaca que

o leitor “En seguida reconocerá allí la Revolución instalada, constuctiva, con su peculiar genio y su peculiar temperamento” (R. de O., t. XXX, nov. 1930).

42 Este último capítulo do livro La política económica de la Rusia Soviética , publicado, junto com o

citado de livro de Lutkens, dentro de uma coleção da Editora da Revista de Occidente intitulada Libros de Política . Esta coleção foi lançada em 1931 e só constou desses dois títulos.

43 Esta afirmação se refere somente aos anos por mim estudados, ou seja, de 1929 a 1932. De fato, à

exceção do texto de Antonio Espina, os outros textos de 1929 tratam de outros aspectos que não a Revolução. LÓPEZ CAMPILLO (1972, 131) assinala uma certa evolução dos artigos sobre a Rússia que passam “de una objetividad indulgente a una relativa apología del régimen (principalmente en Antonio Espina) y luego, a partir de 1931, a una actitud más crítica, pero a cargo de colaboradores extranjeros (Haensel, Waldo Frank, Liam O”Flaherty)”. Isto leva a autora a argumentar a favor de que a objetividade e a amplitude dos diferentes testemunhos apresentados colocam a Revista de Occidente no lado oposto à propaganda anti-soviética habitual nos meios conservadores espanhóis. No entanto, acreditamos que seria preciso um olhar mais atento ao momento de publicação dos artigos e notas para relativizar esta

afirmação. Seria importante considerar que este é um período conturbado da Revolução soviética, marcado pelo acirramento das disputas internas, do controle de Stalin, do plano quinquenal (1928-1932), da expulsão de Trostki (1929), do debate acerca do realismo socialista que culmina com o decreto de Stalin de 1932 e o Congreso de Escritores Socialistas de 1934. Assim nas notas sobre a Rússia aparecem confusas as figuras de Trostsky e Stalin, por exemplo. Não se pode desconsiderar que dois dos textos que analisamos foram escritos por russos que estão fora do país e outro por um visitante estrangeiro

Por outro lado se observa a partir de 1931 uma linha mais crítica a respeito das verdadeiras condições de vida e da Revolução marcada pela presença, em 1932, de dois

textos literários “El cadáver del zarismo”44, do escritor irlandês Liam O‟Flaherty (

R. de O., t. XXXV, jan.), introduzido por um artigo de Antonio Marichalar acerca do autor45,

e “La alegre ventura, do escritor russo Mikhail Zochtchenko (R. de O., t.XXXVIII, nov). O primeiro é o resultado de uma visita a Rússia, na qual o escritor se mostra decepcionado pela visão de Leningrado, uma cidade desolada, o próprio cadáver do

czarismo, onde “ninguém sorria e todas as caras tinham “una expresión oprimida de

miedo, hambre y agotamiento nervioso”.(R. de O., t. XXXVIII, 71). A construção da imagem negativa do país vai se afirmando no contraste do diálogo entre o visitante e um médico russo que lhe serve de guia no percurso que vai do porto até a casa do doutor anfitrião. O efusivo discurso revolucionário do médico russo aparece como algo mecânico, decorado, diametralmente oposto à realidade que vai descrevendo. Frente à

sugestão de O”Flaherty de irem nas carruagens que ele lera nos livros o médico replica:

“- Comprenda usted – me dijo - . La realidad es ésta. Esos coches son una reliquia del zarismo. Es el deber de nuestro proletariado liquidarlos. [...] Es imposible para todo amigo del soviet ruso favorecerles utilizando sus servicios. No; iremos en tranvía [bonde], que es un método científico de transporte, y el que emplea comúnmente el proletariado.” (R. de O., t. XXXVIII, 70).

Depois de uma série de peripécias que vão desde a tentativa de tentar no bonde

lotado, passando pelo “inconveniente” de estar misturado entre uma multidão “malcheirosa”, disputando espaço entre socos e pontapés, até o fato de só conseguirem

saltar dois pontos depois do lugar desejado, a conclusão do narrador não poderia ser outra: “Esto es lo que él llama transporte científico – pensé yo maliciosamente. [...] Si

44 O primeiro era um capítulo do livro Como está Rusia (no original I went to Russia) a ser publicado pela

editora Espasa-Calpe.

me hubiera quedado algún aliento le hubiera dicho lo que pensaba del transporte científico, del plan quinquenal y de toda su maldita tierra. .(R. de O., t. XXXVIII, 72).

O segundo é um conto que relata a história de um jovem russo, Sergio (em espanhol), que convida uma moça para ir ao cinema, mas não tem dinheiro. Depois de várias tentativas de consegui-lo, marcadas pela angustia da contagem regressiva do tempo até a hora do início da sessão, decide pedir emprestado a uma tia distante, de quem será o único herdeiro. Para sua sorte a tia falece e ele se casa com a jovem e passa a ter uma situação razoável. A ironia reside no fato de que o autor se dirige ao leitor par dizer que pretende escrever uma história amena, feliz, ao contrário do que estão fazendo atualmente os escritores russos. No entanto, há uma contradição entre o suposto final feliz e a condição miserável de Sergio e da Rússia, marcada pela descrição do mercado público e das baratas que sobem pela casa da tia, e os desejos materialistas do jovem, que não sente a mínima compaixão pela morte do seu parente mais próximo, pois seu único desejo é o de se encontrar com a jovem Katucha.

Ambos autores tinham sido comentados na nota “Ironías rusas”, de Antonio

Marichalar. (R. de O., t. XXXIII, set. 1931) O autor parte do rechaço à atitude da crítica russa de condenar uma peça de teatro do diretor russo Meyerhold não pela sua falta de qualidade mas sim por seu desenvolvimento inoportuno, porque atenta contra o “dogma comunista”. Segundo Marichalar, na Rússia a obra não precisa ser de qualidade, o que não pode é colocar o sistema em dúvida e por isso não pode admitir a ironia. Isto é o

que diferencia o trabalho de Zochtchenko e O”flaherty. Apesar da crítica inscrita em

ambos, o primeiro, mesmo sendo comunista, é incapaz de transmitir uma impressão

irônica, seu texto é pesado “gruñón y sombrío”. Para Marichalar, “No es Zochtchenko

un rebelde. Sirve al gobierno ruso y, entre burlas y veras, propaga su política y su credo forzando los opacos destellos del humorismo.” (R. de O., t. XXXIII, 1931, 345).

Já o texto do irlandês “que se considerava comunista”, é, para o autor, o primeiro

livro irônico escrito sobre a Rússia, que paradoxalmente é menos rígido justamente por ser mais ambíguo, como explica melhor no texto introdutório ao artigo de Liam

O‟Flaherty. Se por um lado O‟Flaherty “repugna del fanatismo bolcehvique” por outro

se identifica com os aspectos humanos universais da vida russa. “Encuentro que la humanidad en Rusia es esencialmente la misma que en cualquier otro país; que las gentes tienen las mismas necesidades, las mismas ambiciones, las mismas virtudes, los mismos vicios. “ (apud MARICHALAR. R. de O., t. XXXIII, 1931, 58). O Bolchevismo seria, então, o verdadeiro antídoto religioso ao materialismo do século XX.

Por fim, a análise sociológica está escrita por Paul Haensel,um intelectual russo refugiado, ex-professor da Universidade de Moscou. Do livro La situación actual de la Rusia soviética, se publica na revista o capítulo que trata da questão da falsa democracia sob controle forte do Estado e do insignificante, ou melhor, humilhante papel que exercem os intelectuais na Rússia soviéticas, subordinados à ditadura da massa operária inculta. Embora se trate de um livro sobre os aspectos econômicos do novo sistema, é emblemático que o capítulo publicado na revista seja o alusivo às precárias condições do intelectual. Haensel descreve os baixos salários de professores, engenheiro e médicos (menores que os dos operários) e a constante perseguição pelos membros do Partido Comunista.

A partir da presença de tais textos, o leitor não pode menos que ir construindo uma opinião negativa. Em comum os três textos têm a autoridade de terem sido escritos por pessoas ligadas à Rússia, os dois últimos por intelectuais russos exilados e o primeiro, por um irlandês convertido ao comunismo.

Cabe destacar que as duas “tendências” aqui sinalizadas não constituem

divergências teóricas profundas entre os intelectuais da Revista de Occidente. No fundo,

a leitura “esperançosa” sobre a Rússia constitui uma reflexão sobre os prós e os contra dessa nova experiência “colossal”, em palavras de Espina, a qual não se pode fechar os olhos, em contraposição a uma “serie degradatoria de imperialismos alucinados” que se

vê na Europa. Nem Espina nem Ayala percebem o sistema de governo russo como uma superação histórica do capitalismo. O primeiro pretende destacar a importância russa

como o único freio ao que denomina “Internacional de imperialismos alucinados”, na medida em esta constitui um “fermento de insurreição” temido pelas nações capitalistas

(R. de O., t. XXIV, 128). O segundo elimina esta dicotomia ao ver o capitalismo

moderno “tan semejante en ciertos rasgos fundamentales al socialismo soviético [...]

como divergente en otros. (R. de O., t. XXX, 262)

Por outro lado a “costura” que Marichalar faz dos textos de Zochtchenko e O‟Flaherty permanece no campo da ambiguidade, da ironia, dentro de uma distância

que não discute a teoria comunista em si e que inscreve os artigos no âmbito do anedótico, criando uma imagem vaga e patética da Ditadura do Proletariado também com uma forma de governo que não funcionou.

O que fazer, então, se a Europa estava imprensada por duas formas de governo que não correspondiam às suas necessidades vitais? Porque no fundo, para Ortega se tratava um problema de Estado. Na segunda parte de La rebelión de las masas, o ensaísta indica que a crise dos valores europeus não consistia, como creia Spengler, na decadência e morte da cultura européia, e sim, ao contrário, no fato de se encontrar esta civilização com excesso de energia vital impedida de se desenvolver pela limitação dos Estados nacionais europeus, pequenos em tamanho para um grande empreendimento expansionista.

Só a superação rumo a um novo Estado Europeu forte manteria a civilização à frente do mundo. Num mundo regido pela lei natural da composição minorias-massas - segundo a qual em todos os povos existe uma minoria seleta destinada a saber mandar na maioria, a massa, cujo papel consiste em saber obedecer - também existem as nações-massa, destinadas a reconhecer e estimar a superioridades das nações destinadas a mandar. É imperativo de todos os tempos que haja sempre um grupo que mande no mundo, se ele for globalizado, como o de Ortega, certamente terá um só mandante. Se for o mundo antigo, por exemplo, disperso em vários focos organizados, deve-se

perguntar que manda em cada “grupo de convivência”.

Residia para Ortega (1930, 206) este direito de mandar, atribuído à Europa durante toda a Idade Moderna, não na força, que em última instância só pode ser um instrumento deste poder quando ele já estiver instaurado. O que o caracteriza é um

“mandar natural”, baseado no “exercício normal da autoridade”, que por sua vez se

funda na opinião pública. Mas o que entende por opinião pública Ortega y Gasset?

O que revela como “opinião pública” ou mando natural não é outra coisa que a

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 85-123)

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