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Anibal Correia Brito Neto Eliane do Socorro de Sousa Aguiar Brito

No documento Formação profissional e mundo do trabalho (páginas 152-154)

Emerson Duarte Monte

Introdução

No ano de 2019, completam-se oito décadas da promulgação da pri- meira legislação, de caráter nacional, que fi xou um padrão para a Formação Profi ssional daqueles que atuariam com a Educação Física e Desportos no país. Trata-se do Decreto-Lei n. 1.212, de 17 de abril de 1939, que, além de criar, na então Universidade do Brasil, a Escola Nacional de Educação Física e Desportos, estabeleceu critérios para a organização dos cursos, re- gulamentou o regime escolar e o perfi l dos candidatos, bem como defi niu as prerrogativas conferidas à diplomação (BRASIL, 1939).

Se até a transição para os anos 80 persistia, no âmbito dos dispositi- vos normativos, a primazia do diploma de Licenciado em Educação Física como exigência para o exercício da função de Professor de Educação Física nos estabelecimentos de ensino e também, como requisito à matrícula e obtenção do título de Técnico Desportivo, a chegada desta nova década materializou a intensifi cação dos questionamentos acerca desta perspectiva de formação profi ssional.

De acordo com o Parecer n. 215, de 11 de março de 1987, aprova- do pelo então Conselho Federal de Educação (CFE), entendia-se, naquele contexto, que as recomendações e conclusões expressas nas normatizações vigentes não estavam mais em consonância com as demandas profi ssionais.

[...] tanto sob o ponto de vista didático-pedagógico (graduação a ní- vel de licenciatura com apenas três anos de duração e um mínimo de 1800 horas/aulas) como quanto ao nível de sua habilitação técnica propriamente dita (a possibilidade da titulação do chamado Técnico

Desportivo ser obtida simultaneamente com a licenciatura, apenas com o acréscimo de mais duas matérias selecionadas na lista dos desportos oferecidos pela Escola e, principalmente, a completa omissão no que se refere ao Bacharelado). (BRASIL, 1987a, p. 10, grifo dos autores).

Com base nessa caracterização, a decisão ofi cial foi pelo deslocamento da titulação de Técnico Desportivo para a pós-graduação, em nível de espe- cialização, creditando aos cursos de graduação em Educação Física conferir os títulos de Bacharel e/ou Licenciado em Educação Física, de modo a com- patibilizar o currículo às peculiaridades regionais, ao contexto institucional e aos interesses e necessidades da comunidade escolar (BRASIL, 1987a).

Frente ao processo de institucionalização do Bacharelado em Educação Física, possibilidade de formação que passaria a coexistir com a tradicional formação em Licenciatura, defl agrou-se, provavelmente, a pau- ta de maior controvérsia na área dos últimos 30 anos, a saber: a questão sobre qual a concepção de formação e o perfi l acadêmico-profi ssional que deveriam orientar a intervenção dos egressos dos cursos de graduação em Educação Física.

De modo pioneiro, Faria Junior (1987) caracterizou os primeiros argumentos e formas de organização daqueles que defendiam a perspectiva da formação de um professor de Educação Física “generalista”, tido como um profi ssional formado sob uma perspectiva humanística, em Licenciatura Plena, com atuação em sistemas de educação formais e não formais, versus àqueles que interviam em favor de uma concepção “especialista”, que seria formado sob uma ótica pragmática e tecnicista, em Bacharelado ou habili- tação específi ca, a dedicar-se a um ramo da Educação Física.

Tal embate ganhou tamanho protagonismo, que passou a ocupar não apenas os principais fóruns da área, mas recentemente as diversas instâncias do sistema judiciário brasileiro, notadamente em função das interpretações das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos de graduação em Educação Física estabelecidas por meio da Resolução n. 7, de 31 de março de 2004, do Conselho Nacional de Educação (CNE), Câmara de Educação Superior (CES). (BRASIL, 2011a).

Embora desde 2005, a CNE/CES – órgão responsável por delibe- rar sobre as diretrizes curriculares para os cursos de graduação e analisar questões relativas à aplicação da legislação referente à educação superior (BRASIL, 1995) –, tenha começado a lidar com o persistente questiona-

mento acerca das possibilidades de Formação Profi ssional em Educação Física e os campos de atuação propiciados por elas (BRASIL, 2005), apenas, em 2011, esta Câmara instaurou o Processo n. 23001.000030/2011-72, aprovando a primeira comissão para apreciar a indicação referente à revisão do texto das DCN para o curso de graduação em Educação Física (BRASIL, 2011a).

Entre idas e vindas, somado à diversas recomposições da comissão (BRASIL, 2017) e à veiculação de uma minuta de projeto de Resolução que propunha a extinção dos cursos de Bacharelado em Educação Física (BRASIL, 2015), a aprovação das novas DCN do curso de graduação em Educação Física só se confi rmou com o Parecer CNE/CES n. 584, de 3 de outubro de 2018 (BRASIL, 2018a), e sua consequente Resolução CNE/ CES n. 6, de 18 de dezembro de 2018 (BRASIL, 2018b).

Portanto, diante desta recente reconfi guração dos marcos normativos da formação em Educação Física, os quais têm gerado historicamente um amplo debate sobre os seus limites e possibilidades, cabe reiterar a neces- sidade de questionarmos as principais modifi cações ensejadas por estes, principalmente no que se refere ao projeto de formação e o perfi l profi ssio- nal confi gurado, assim como as presumíveis implicações para a interven- ção dos profi ssionais egressos. De posse de tal caracterização, será possível discutirmos alternativas, diante da correlação de forças instaladas, que vão ao encontro da luta histórica por uma concepção de formação generalista/ ampliada em Educação Física.

Nesse sentido, a exposição deste estudo inicia com uma síntese dos fundamentos que distinguem os principais projetos formativos em dispu- ta nas três últimas décadas. Em seguida, analisam-se as novas referências normativas para os cursos de graduação em Educação Física, com o pro- pósito de evidenciar o projeto de formação subjacente. Por fi m, volta-se à apresentação de evidências que denotam a validade de uma formação, de caráter generalista/ampliado, para aqueles que dependem exclusivamente do seu próprio labor.

No documento Formação profissional e mundo do trabalho (páginas 152-154)

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