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A estruturação do GTT e a sua organicidade junto ao CBCE: a mudança do seu nome enquanto horizonte político e epistemológico

No documento Formação profissional e mundo do trabalho (páginas 84-88)

Considerando as intenções de buscar convergir discussões diversas em um único GTT, é possível afi rmar que, desde sua criação, no interior do GTT de Formação Profi ssional/Campo de Trabalho confl uíam temas provenientes de várias subáreas, tais como o currículo, a didática, o trabalho docente, o trabalho pedagógico, processos de ensino e aprendizagem6, a

regulamentação da profi ssão, entre outros.

A partir do XII CONBRACE, no ano de 2001, em Caxambu, o GTT de Formação Profi ssional/Campo de Trabalho começou a se estruturar de forma mais orgânica e coletiva. Na verdade, tal estruturação era proveniente de uma demanda da Direção Nacional do CBCE (DN), a qual orientava os seguintes eixos para confi guração de todos GTT: 1) polo articulador de pes- quisadores de determinado tema; 2) polo de refl exão, discussão e produção

4 Esta é a composição dos GTT que foi utilizada no X CONBRACE, em 1997. No XI CONBRACE

surgiu o GTT 12 – Educação Física/Esporte e Memória, Cultura e Corpo. A partir do XII CONBRACE, outras modifi cações nos GTT foram ocorrendo, entre elas a extinção do GTT Educação Física/Esporte e Processo de Ensino e Aprendizagem (XII CONBRACE), a criação e extinção do GTT Pós-Graduação (XII e XV CONBRACE) e inclusões do GTT Corpo e Cultura (XIV CONBRACE) e do GTT Gênero (XIX CONBRACE). Além das inclusões e extinções, houve modifi cações na ordem e nos nomes dos GTT. O GTT 5 – Educação Física/Esporte e Formação Profi ssional/Campo de Trabalho modifi cou-se para GTT 6 – Formação Profi ssional e Mundo do Trabalho. As discussões e motivações que levaram à modifi cação do nome deste GTT serão apre- sentadas no próximo item.

5 Note-se que antes dos GTT já havia a organização de apresentação de temas livres e comunicações

coordenadas em grupos, porém, tais grupos não se caracterizavam como uma estrutura no interior do CBCE, mas apenas uma divisão para a organização de apresentações no interior do CONBRACE. A divisão dos grupos de apresentação de temas livres e comunicações coordenadas normalmente era feita pelo critério disciplinar e, também a isto, veio a estrutura dos GTT se opor.

de determinado tema; 3) polo dos parâmetros norteadores das instâncias po- líticas do CBCE. Foi possível, no interior daquele evento, realizar discussões acerca da organização do GTT, que apontaram para o perfi l da coordenação e do comitê científi co, a ementa e os eixos temáticos. Tais eixos revela- vam sintonia com o conjunto de discussões que permeavam o GTT, sendo eles: a) políticas públicas de formação em Educação Física; b) Trabalho/ Educação/Educação Física; c) Produção de conhecimento; d) Currículo e prática pedagógica; e) Formação do professor e profi ssionalização docente. Não houve a aprovação da modifi cação da ementa do GTT, apesar de ter sido realizada discussão que chegou a formular uma proposta7. A coordena-

dora escolhida foi Celi Taff arel e o comitê científi co foi composto por seis membros titulares e três suplentes (GTT 05 – CBCE, 2001).

Na medida em que o GTT começava a se estruturar, foi participando mais organicamente das discussões que o próprio CBCE encaminhava. Uma discussão central à época era a da formação das DCNs. Desde a elaboração da primeira da proposta da COESP, em 1998, houve a participação em al- gum grau do CBCE, visto que Elenor Kunz, presidente à época da entidade científi ca, foi membro daquela comissão. Também a Revista Brasileira de Ciências do Esporte (RBCE) publicou as justifi cativas, proposições e argu- mentações daquela proposição (KUNZ et. al., 1998). Não obstante, o GTT de Formação Profi ssional/Campo de Trabalho só entrou organicamente nesta discussão em 2001, justamente por ocasião do XII CONBRACE e, posteriormente, pela participação no Fórum sobre Formação Profi ssional na Educação Física Brasileira, organizado pelo CBCE, em março de 2002, na

7 Antes da realização do XII CONBRACE, a ementa que constava para o GTT é a mesma de hoje:

‘Estudos acerca dos distintos aspectos do processo de formação profi ssional concernente à área de conhecimento Educação Física. Estudos sobre a relação da formação e a inserção do profi ssional desta área de conhecimento no mundo do trabalho’. Apesar de discussões de mudanças de ementa no período que compreende os anos 2001 a 2003, o GTT não chegou a modifi cá-la. No XII CONBRACE, a proposta em discussão, que não obteve aprovação devido ao pouco tempo que restou para o debate era: ‘Estudos das relações Trabalho/Educação e Educação Física, considerando políticas públicas, produção de conhecimento, currículo e prática pedagógica, formação do professor e profi ssionalização docente’ (GTT 05 – CBCE, 2001). Já o relatório técnico-científi co do período de 2001 a 2003 do GTT aponta que no XIII CONBRACE fi cou acertado que a ementa fi caria: ‘Estudos das relações entre formação profi ssional na educação física e o mundo do trabalho” e que deveria ser aprofundada até sua defi nição no XIV CONBRACE (TAFFAREL, 2003a). Também na ata de reunião do Comitê Científi co após o XIII CONBRACE, em dezembro de 2003, em Vitória, consta a reformulação da ementa para ‘Os estudos das relações, nexos, contradições, possibilidades e determinações da formação humana e profi ssional – trabalho pedagógico, currículo, formação inicial e formação continuada – frente ao mundo do trabalho e sua caracterização, regulação e normatização em diferentes modos de produção’ (COMITÊ CIENTÍFICO GTT FORMAÇÃO PROFSSIONAL E MUNDO DO TRABALHO, 2003a, p. 2), indicando a discussão via internet até a SBPC de 2004. Houve várias discussões no grupo de e-mails do GTT, porém, sem uma con- clusão que pudesse aprofundar a defi nição por outra ementa no XIV CONBRACE.

cidade de Campinas. Mostrou-se lá ofi cialmente representado por quatro membros do Comitê Científi co (FIGUEIREDO; ANDRADE FILHO, 2002).

O momento era de reformulação da proposta da primeira COESP, visto que esta última havia entrado em confl ito com o Parecer CNE/CP 09/2001 (BRASIL, 2001), que tratava das Diretrizes para a Formação de Professores. Tais Diretrizes apontava para a terminalidade e integralidade própria da licenciatura, o que confl itava com a estrutura da primeira pro- posta da COESP, na qual a licenciatura em educação física seria apenas um dos campos de aplicação, concluída em uma segunda fase da formação, após uma fase comum a todos os tipos de campos (NOZAKI, 2004). Do ponto de vista crítico, entidades tais como a Associação Nacional pela Formação dos Profi ssionais em Educação (ANFOPE) denunciavam a falta de legiti- midade do processo de elaboração das DCNs de todas as áreas em razão da falta de diálogo do governo federal com as entidades da sociedade civil, tendo em vista a perspectiva de reforma educacional em curso para atender às exigências do Banco Mundial e do FMI (FIGUEIREDO; ANDRADE FILHO, 2002).

O Fórum sobre Formação Profi ssional na Educação Física Brasileira, organizado pelo CBCE, contou com a participação, além do GTT de Formação Profi ssional/Campo de Trabalho e da DN, de representantes de mais de 40 escolas de educação física, de membros das COESPs e da Executiva Nacional de Educação Física (ExNEEF). Ao fi nal dos trabalhos, foi elaborada uma proposta de Diretrizes Curriculares (FÓRUM SOBRE FORMAÇÃO PROFISSIONAL NA EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA, 2002), “[...] visualizando a proximidade da defi nição, por parte do Conselho Nacional de Educação, das Diretrizes Curriculares para os cursos de nível superior – Graduação - em Educação Física” (FIGUEIREDO; ANDRADE FILHO, 2002, p. 1). Não obstante, tal esforço não logrou êxito, visto que, em abril de 2002, um mês depois do Fórum organizado pelo CBCE, o CNE aprovou o Parecer 138/02 (BRASIL, 2002a), que acatava para as DCNs da educação física a proposta discutida nos Fóruns Regionais do sistema CONFEF/CREFs (NOZAKI, 2004). De qualquer modo, o GTT de Formação Profi ssional/Campo do trabalho começava a ganhar protagonismo no interior do CBCE para a formulação teórico e política concernente à formação profi ssional.

Já no que se refere à sua estruturação, uma importante discussão foi a mudança do seu nome, pois continha, em si, elementos de orientação não só epistemológica, como política. Desde o XII CONBRACE, em 2001, ocorreu a discussão sobre a modifi cação da ementa, mas também sobre

a mudança do nome do GTT para ‘Formação Profi ssional e Mundo do Trabalho’ (GTT 05 – CBCE, 2001). Contudo, não houve, tal como no caso da ementa, uma aprovação da modifi cação do nome, deixando-a para ser aprofundada no XIII CONBRACE.

No XIII CONBRACE, novamente na cidade de Caxambu, foi mon- tada uma programação de maneira que, antes da apresentação de trabalhos, houvesse 30 minutos de um espaço denominado ‘palavras iniciais’ as quais os membros dos GTT, juntamente com professores convidados de outros GTT ou da DN, fariam exposições de temas tais como ‘conjuntura nacio- nal e internacional’, ‘mundo do trabalho, da formação de professores e dos conselhos profi ssionais’, ‘reformulação das DCNs dos cursos de educação física’, ‘produção do conhecimento sobre formação de professores e da prá- tica pedagógica’ e ‘políticas públicas do governo Lula para a formação de professores’ (TAFFAREL, 2003a). No que se refere à exposição do tema sobre o ‘mundo do trabalho, formação de professores e dos conselhos pro- fi ssionais’, Hajime Nozaki fez a defesa da modifi cação do nome do GTT, baseado na diferenciação conceitual entre as noções de mercado e campo de trabalho e o conceito de mundo do trabalho.

Argumentou Nozaki (2005) que o mercado de trabalho, termo muito utilizado na educação física, tem como referência as análises imediatistas em torno das possibilidades da venda da força de trabalho, sem a análise mais aprofundada das contradições concernentes à exploração do trabalho humano. Tratar-se-ia, portanto, de uma noção ideológica que visa adap- tar o trabalhador às condições mais precárias, considerando as estratégias contemporâneas da gerência do capital. Reconheceu, por outro lado, que a noção de campo de trabalho utilizada pelo GTT até então avançava com relação à noção de mercado de trabalho, porém, ainda era restrita, posto que se restringia aos locais e espaços de trabalho, sua ocupação pelos pro- fessores, portanto, não tratava das análises das forças que se contrapunham enquanto forças motrizes das relações sociais. Assim, defendeu a análise do mundo do trabalho, que supunha estudar, para além da ocupação e atua- ção dos espaços, os aspectos estruturais das relações de confronto capital e trabalho que determinavam as condições em que o trabalho se caracteriza no seu tempo histórico. Tratava-se, pois, de uma defesa política de um setor que vinha da tradição de lutas dos anos 1980 e que buscava centralizar a categoria trabalho no GTT, para o enfrentamento de discussões tais como as DCNs e a regulamentação da profi ssão.

Naquele momento, era possível identifi car três posições epistemoló- gicas e políticas no interior do GTT que se confrontavam para escolher o seu nome. A primeira delas defendia o nome ‘formação de profi ssionais e

intervenção profi ssional’, caracterizada por uma visão sistêmica de sociedade e fracionada de intervenção entre a escola e fora dela e, consequentemente, a fragmentação da formação entre licenciatura e bacharelado. A segunda posição defendia o nome ‘formação profi ssional e campos de trabalho’ cal- cada em uma percepção fenomênica de sociedade, baseada em elementos supraestruturais, tais como o cotidiano, a cultura, o gênero, a memória e o corpo. E, a última posição, com base no marxismo, que reivindicava o nome ‘formação profi ssional e mundo do trabalho’, considerava como eixo o tra- balho pedagógico – práxis social – na formação, produção do conhecimento e nas políticas públicas (TAFFAREL, 2003a). Após as discussões elaboradas no interior do XIII CONBRACE, foi decidido a modifi cação do nome do GTT para ‘Formação profi ssional e mundo do trabalho’, a ser aprofundada

no XIV CONBRACE e depois modifi cada no XV CONBRACE8.

Das disputas internas para a disputa com a DN: a carta de Vitória e a

No documento Formação profissional e mundo do trabalho (páginas 84-88)

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