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Formação de professores no Brasil, políticas curriculares e a tentativa de construção de uma política de valorização da docência: e a educação física

No documento Formação profissional e mundo do trabalho (páginas 39-42)

com isso?

Essa discussão das diretrizes curriculares da Educação Física remonta à década de 1980, quando da publicação da Resolução CFE nº 3, de 16 de junho de 1987. Esse recorte se justifi ca pelo início da possibilidade de oferta do bacharelado no cenário da Educação Física brasileira.

Essa resolução permitiu às Instituições de Ensino Superior (IES) ofe- recer a formação de professores para a área escolar por meio da licenciatura plena, bem como criar o curso de bacharelado visando à atuação na área não escolar. Apesar de a formação diferenciada para o bacharel e para o licenciado ter sido possibilitada, a maioria das IES continuava a ofertar apenas o curso de licenciatura em Educação Física, já que o egresso desse curso atuava em espaços escolar e não escolar.

É importante destacar que, desde então, entidades acadêmicas e sindicatos ligados à educação básica tentavam construir e impulsionar políticas de valorização do magistério. Esse movimento resultou na publicação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, considerada um marco legal de mudanças na educação brasileira, apesar das inúmeras emendas parlamentares que modifi caram em muito o documento-base original.

Além das reformas curriculares, a regulamentação da profi ssão, por meio da Lei nº 9.696, de 1º de setembro de 1998, trouxe repercussões para os cursos de Educação Física e acabou reforçando o confl ito entre a licenciatura e o bacharelado, já que o sistema do Conselho Federal de Educação Física (CONFEF) passou a impedir o licenciado de atuar em áreas não escolares.

Poucos anos depois, em 2001, essa política de valorização da docência toma proporções signifi cativas, com o Parecer CNE/CP nº 09/200118 e as

Resoluções CNE/CP 01/200219 e 02/2002,20 que tratam da formação de

professores para atuação na educação básica. O objetivo dessa legislação era reforçar a identidade própria da formação de professores em nível de licenciatura.

18 Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores da educação básica, em

nível superior, dos cursos de licenciatura de graduação plena.

19 Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação de professores da educação básica, em

nível superior, nos cursos de licenciatura de graduação plena.

20 Institui a duração e a carga horária dos cursos de licenciatura, de graduação plena e de formação de

No Parecer CNE nº 009/2001, a licenciatura ganha “terminali- dade e integralidade própria em relação ao Bacharelado, constituindo-se em um projeto específi co. Isso exige a defi nição de currículos próprios da Licenciatura que não se confundam com o Bacharelado ou com a antiga for- mação de professores que fi cou caracterizada como modelo ‘3+1’” (Parecer nº 009 do CNE/CP, 2001, p. 6).

No que se refere à organização da matriz curricular, esse parecer indica as seguintes diretrizes para as IES: pensar formas inovadoras de or- ganização dos conhecimentos para além da organização em disciplinas; pro- mover atividades coletivas e interativas de comunicação entre os professores em formação e os professores formadores; incentivar estudos disciplinares que possibilitem a inter-relação entre os conhecimentos mobilizados na formação; articular a formação comum com a específi ca; articular os co- nhecimentos educacionais e pedagógicos com os de formação específi ca; e articular teoria e prática desde o início da formação.

Essas orientações consubstanciaram a publicação da Resolução CNE/ CP 01/2002, que instituiu as diretrizes curriculares nacionais para a for- mação de professores da educação básica, em nível superior, dos cursos de licenciatura de graduação plena.

E os projetos curriculares da Educação Física, ante essas políticas curriculares de valorização da docência? Do ponto de vista institucional, podem-se mapear duas “respostas” para essa pergunta. Uma, voltada àquelas IES que investiram na construção de propostas curriculares com integralida- des próprias, mas com interfaces possíveis entre a licenciatura e o bachare- lado, com sólida formação de professores baseada nas diretrizes e no campo acadêmico, não desconsiderando o mundo do trabalho, mas também não permitindo que este determine os rumos da formação universitária; outra, voltada à elaboração de propostas curriculares propícias à oferta das duas formações (licenciatura + bacharelado) no mesmo curso, voltadas à captação de estudantes e de formação mais aligeirada.

Nesse contexto, a Educação Física, por necessidade legal – mas não epistemológica – de acompanhar essas mudanças, cria, em meio a confl itos, a Resolução CNE/CES nº 07/2004, que passa a defi nir a formação especí- fi ca para graduandos nessa área.

Na mesma esteira da formação de professores para atuar na educação básica, reforçando os princípios das Resoluções CNE/CP nº 01/2002, e 02/2002, publicou-se a Resolução nº 2, de 1º de julho de 2015, com o fi to de esclarecer ainda mais os pressupostos fundamentais que deveriam ser contemplados em quaisquer cursos de licenciatura. Além disso, a carga

horária dos cursos aumentou de 2.800 para, no mínimo, 3.200 horas de efetivo trabalho acadêmico em cursos com duração de, no mínimo, 8 (oito) semestres ou 4 (quatro) anos.

Essa resolução, que estabelece diretrizes curriculares nacionais para a formação inicial e continuada dos profi ssionais do magistério da educação básica, avança mais um pouco no que se refere aos desafi os para a forma- ção de professores. Para além da formação inicial, contempla a formação continuada, considerada fundamental para o bom exercício da profi ssão.

Mais uma vez, alheios a essa conquista21 que representam as Diretrizes

Curriculares Nacionais (DCNs) para a formação de professores no País, percebem-se no âmbito da Educação Física manifestações de resistência de alguns grupos. Foram e ainda são expressas na área a defesa da possibilidade de oferta de um só curso capaz de formar o docente para atuar profi ssional- mente em diferentes frentes de trabalho.

Na contramão do esforço de consolidar políticas de formação de professores condizentes com os estudos dos campos da formação docente e do currículo, dirigido a uma formação com identidade e integralidade próprias em cursos de licenciatura, foi encaminhada uma proposta de mi- nuta de Projeto de Resolução, propondo novas DCNs para os cursos de graduação em Educação Física. Esse documento previu a criação de uma licenciatura ampliada e a extinção dos cursos de bacharelado, como eviden- ciam os artigos 7º e 8º.22

Por outro lado, alguns discursos compreendem as propostas de for- mação alternativa presente nas DCNs como algo que em nada colabora com uma formação ampliada. Pereira (2014) trabalha com a hipótese, corrobora- da por nós, de que as propostas de licenciaturas ampliadas ou unifi cadas têm se preocupado mais com a oferta de uma formação voltada ao atendimento de demandas do mercado do que propriamente com a compreensão da totalidade dos conhecimentos da área.

21 Mesmo considerando as críticas a essa política, dirigidas por SCHEIBE e BAZZO, 2013; e

FREITAS, 2002; 2007).

22 Art. 7º Os cursos de Bacharelado em Educação Física atuais entram em regime de extinção, a partir

do ano letivo seguinte à publicação dessa Resolução.

Art. 8º As instituições de educação superior que mantêm cursos de Bacharelado em Educação Física poderão transformá-los em cursos de Licenciatura, elaborando novo projeto pedagógico, obedecendo ao contido nesta Resolução (BRASIL, 2015).

As recém-publicadas diretrizes curriculares nacionais dos cursos de

No documento Formação profissional e mundo do trabalho (páginas 39-42)

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