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De acordo com os Consensos & Estratégias para a Saúde da Mulher na Pós-menopausa da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, climatério “é o período da vida da Mulher em que

ocorre um declínio progressivo da função ovárica. Com frequência está associado a um conjunto de sinais e/ou sintomas (irregularidades menstruais, calores, afrontamentos, transpiração nocturna, alterações do humor e do sono, entre outros) que no seu conjunto caracterizam o «síndrome do climatério»” (SPG, 2004, p. 20).

Subsequente das alterações hormonais inerentes, ocorre um conjunto de transformações físicas e psíquicas, nem sempre bem aceites pela mulher a atravessar esta fase do ciclo de vida (Correia, 2009). Muitos sintomas resultantes desta fase variam de mulher para mulher e podem ser ou não, encarados como normais, dependendo da sensibilidade e dos valores de cada mulher(Fernandes, 2006).

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As manifestações clínicas (sinais e sintomas) que habitualmente se observam nas mulheres na fase de climatério, decorrem das variações ocorridas nos sistemas nervoso, circulatório, endócrino e urinário (Candella et al., 1995).

Parece existir algum consenso no que concerne à sintomatologia relacionada com o processo de climatério decorrente da cessação da menstruação (menopausa), nomeadamente, sintomas

vasomotores (calores súbitos/afrontamentos, sudorese e cefaleias), sintomas

cardiovasculares (aumento da pressão arterial e do colesterol, pré-cordialgias e alterações

electrocardiográficas), sintomas psíquicos (irritabilidade, insónias e humor depressivo),

sintomas urogenitais (incontinência urinária, secura vaginal, dispareunia), podendo ainda

existir alterações das mamas e modificações esqueléticas, aumento de peso, alterações da pele e do cabelo (recuo da linha do cabelo), artralgias e dores ósseas.

No que concerne à sintomatologia física, predominam as perturbações neurovegetativas e as genitourinárias, com especial evidencia para os afrontamentos, presentes em cerca de 80% das mulheres, podendo surgir desconforto físico agudo (50% das mulheres) e perdurar por cinco ou mais anos (Bacelar-Antunes, 2005; Soares, 2000).

Devido ao hipoestrogenismo, surge uma predisposição para a vaginite atrófica, acompanhada por corrimento aquoso, prurido vulvar, diminuição da lubrificação vaginal e dispareunia, nas mulheres sexualmente activas podem acontecer pequenas hemorragias na sequência da atrofia vaginal (Bacelar-Antunes, 2005; Castelo-Branco et al., 2005; Castelo-Branco, 2007).

Relativamente aos sintomas psicológicos, considera-se, que as alterações de humor poderão ser o resultado das alterações hormonais (redução de estrogénio) decorrentes da menopausa (Ramos & Gomes, 2005) e que, as manifestações psicológicas mais frequentes são o nervosismo, a ansiedade, os sintomas depressivos ou a tristeza, a impaciência, a irritabilidade, a angústia e a sensação de solidão (Bacelar-Antunes, 2005; Gutierrez et al., 2006), a fadiga e a dificuldade de concentração e de memória (Pimenta et al., 2007), diminuição da libido/desejo sexual (Silva & Silva, 1999).

Defende-se também, que o bem-estar psicológico é influenciado pelos níveis de estrogénio e que concomitantemente às alterações fisiológicas, também se verifica o aparecimento de sintomas psicológicos, sendo ambos susceptíveis de ter um impacto significativo na vida da mulher (Pimenta et al., 2007).

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Atendendo às várias etapas ou estadios do climatério: pré-menopausa, peri-menopausa e pós- menopausa (SPG, 2004), nota-se que no decorrer da perimenopausa e pós-menopausa a mulher pode vivenciar: alterações físicas, como resultado do declínio das hormonas sexuais (estradiol e progesterona), e do envelhecimento; alterações psicológicas especialmente ao nível da auto-imagem, auto-estima e estrutura da personalidade; alterações sociais ao nível do papel e das relações sociais; alterações espirituais relacionadas com as expectativas e projectos de vida.

A pré-menopausa “inclui toda a idade fértil (…) é o período de tempo decorrido entre o

declínio da função ovárica e a menopausa” (SPG, 2004, p. 20).

A perimenopausa encontra-se definida como o período “imediatamente anterior à

menopausa, quando se iniciam as alterações endocrinológicas, biológicas e clínicas da aproximação da menopausa, e o primeiro ano após a menopausa.” (Cavadas et al., 2010, p.

228) e engloba a pré-menopausa até um ano após a menopausa (SPG, 2004).

A pós-menopausa “é o período após a menopausa natural ou induzida” (SPM, 2009, p. 2) e

“denomina o periodo de tempo após a ultima menstruação” (Cavadas et al., 2010, p. 228).

As manifestações clínicas mais visíveis na pós-menopausa incidem na atrofia da mucosa vaginal; na atrofia da pele; na flacidez mamária e na menor densidade óssea (com a falta de síntese do colagénio ósseo, há uma menor formação óssea e maior reabsorção – pode contribuir para a osteopénia, osteoporose e fractura).

A incidência de enfarte do miocárdio nas mulheres, aumenta a partir dos 50 anos, contribuindo para que as doenças cardiovasculares sejam a principal causa de morte nas mulheres pós-menopausicas (Silva & Silva 1999; Bacelar-Antunes, 2005).

A intensidade dos sintomas mais comuns na menopausa, pode ser medida pelos itens da tabela criada pelos médicos alemães Blatt e. Kupperman em 1953 e actualizada em 1964 pelas médicas Neugarten e Kraines. A intensidade da sintomatologia (leve < 19; moderada (20-35) e forte > 35) auxilia no diagnóstico e tratamento da menopausa.

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QUADRO 1. Índice de Blatt-Kupperman: Avaliação da intensidade de sintomas da

menopausa

Sintomas Factor

Severidade dos Sintomas

(Factor x Intensidade)

Leve Moderada Forte

Onda de calor 4 4 8 12 Parestesia 2 2 4 6 Insónia 2 2 4 6 Impaciência e nervosismo 2 2 4 6 Depressão 1 1 2 3 Cansaço 1 1 2 3

Artrodinia e/ou Mialgia 1 1 2 3

Cefaleia 1 1 2 3

Palpitação 2 2 4 6

Zumbidos 1 1 2 3

Totais 17 34 51

Código de sintomas: nenhum = 0; leve = 1; moderado = 2 e severo/intenso = 3 Fonte: Adaptado de Alder (1998)

A intensidade da sintomatologia varia de mulher para mulher em função da idade e do tempo de distancia da menopausa (peri-menopausa) (Mishra & Kuh, 2012).

Fonte: Mishra & Kuh, 2012 – British Medical Journal Publishing Group.

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As consultas de vigilância de saúde nesta etapa de vida, constituem uma oportunidade para uma avaliação clínica mais abrangente e para a realização de exames complementares de diagnóstico no eventual despiste de doençascrónicas mais prevalentes.

Os rastreios do cancro, nomeadamente, de mama, vulva, vagina, colo do útero, endométrio, ovários, cólon e pulmões são de uma importância fundamental, uma vez que, a incidência é mais elevada nesta etapa da vida.

Salienta-se ainda o aumento progressivo na incidência de diabetes mellitus (DM Tipo 2) e do hipotiroidismo em mulheres acima dos 50 anos de idade.

A prevenção de manifestações clínicas associadas à menopausa deve começar muito antes da fase de climatério, sob pena de ser ineficaz a sua intervenção apenas nesta etapa da vida.

Na base da vigilância de saúde, rastreios e controle ginecológico, devemos aprimorar o estímulo de hábitos de vida saudáveis como sejam alimentação equilibrada, pobre em hidratos de carbono e rica em cálcio e vitamina D, moderado consumo de álcool, sem hábitos tabágicos, evitar sedentarismo através da prática de exercício físico diário com caminhadas em lugares solarentos e procurar ter uma vida sexual, familiar e social activa (Guirao et al., 2009).