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Os actuais conceitos de saúde entendem o homem como um ser social em constante interacção com o meio onde está inserido, adaptando-se às constantes mutações no sentido de manter o equilíbrio (físico, psíquico e sócio ambiental) e mais do que prevenir a doença é fundamental a promoção da saúde.

Esta preocupação da saúde como sendo um direito fundamental do ser humano, surge com a criação da OMS em 1945 e, começou cada vez mais uma preocupação dos países na saúde das suas populações. Esta preocupação comum, impeliu a que os responsáveis pela saúde de vários países se reunissem no sentido de definirem políticas e estratégias que melhorassem a saúde dos povos.

Um dos marcos mais importantes da “Saúde para Todos” foi a Declaração de Alma-Ata (WHO/UNICEF, 1978) resultante da Conferencia Internacional, tornando-se no pilar da criação dos cuidados primários de saúde ao reconhecer a importância de se envolverem as pessoas e a cooperação entre os vários sectores da sociedade para responderem a um conjunto de actividades essenciais (educação para a saúde, alimentação e nutrição apropriadas, água potável e saneamento básico, cuidados à grávida e à criança, vacinação, prevenção e controlo das doenças endémicas, tratamento básico dos problemas de saúde, provisão de medicamentos essenciais) para a saúde das populações.

Dos compromissos assumidos pelos países com a declaração de Alma-Ata, surge, a I Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, que teve como principal produto a Carta de Ottawa (WHO, 1986) sendo uma referência básica e fundamental no desenvolvimento das ideias de promoção da saúde em todo o mundo (Buss, 2000). A partir de então, a promoção da saúde começou a ser teorizada, debatida e valorizada (Martins, 2005).

A Carta de Ottawa define promoção da saúde como sendo um processo de capacitação da comunidade para actuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde (WHO, 1986).

Na conferência de Ottawa sobressaem como estratégias de promoção de saúde, a criação de ambientes de suporte (físicos e sociais), definição de políticas promotoras de saúde, reestruturação dos serviços de saúde, participação activa dos indivíduos e comunidades e desenvolvimento de aptidões e competências individuais (Ramos, 2004).

Maria Helena de Carvalho Valente Presado Página 18

Neste sentido, a promoção da saúde pressupõe o processo de capacitação dos indivíduos no controle e melhoria da sua saúde, através de uma abordagem psicossociológica da saúde a fim de criar contextos promotores de saúde, quer a nível local quer nacional e internacional (Ramos, 2004). Isto reforça a responsabilidade e os direitos dos indivíduos e da comunidade pela sua própria saúde (Buss, 2000) e implica “dotar a população de poder em matéria de

saúde, retirando-o aos profissionais, instituições e dirigentes” (Pais Ribeiro, 1998, p. 69).

Outras conferências internacionais permitiram aprimorar as pertinências das estratégias definidas e que resultou em cada país transformações profundas na organização e financiamento dos serviços de saúde bem como nas práticas e formação de profissionais (Buss, 2000).

Na Declaração de Adelaide (WHO, 1988) sobre “Políticas Públicas Saudáveis”, reforça-se a responsabilização do sector público pelas políticas sociais e económicas e seu impacto sobre a saúde e sistema de saúde dos países bem como a responsabilidade internacional da promoção da saúde onde o impacto das politicas de paises desenvolvidos deveriam ser positivos na saúde dos países em desenvolvimento.

No âmbito da Promoção da Saúde surge a Declaração de Sundsval (Suécia) sobre “Ambientes

Favoráveis à Saúde” (WHO, 1991) onde se denota uma interdependência entre saúde e

ambiente, para além das dimensões físicas e naturais. Nesta conferência enfatizam-se como aspectos para um ambiente saudável e promotor de saúde como as dimensões sociais, económicas, políticas e culturais devendo utilizar-se a capacidade e conhecimento das mulheres em todos os sectores (incluindo o político e o económico).

A Conferência de Jakarta (WHO, 1997) reconheceu que os métodos de promoção da saúde com base nas estratégias da carta de Ottawa são mais eficazes se forem utilizados diversos cenários (cidades, comunidades locais, escolas, locais de trabalho) que potenciem os resultados através de estratégias integradas. Foram definidas como prioridades na promoção da saúde: promover a responsabilidade social com saúde, aumentar o investimento no desenvolvimento da saúde (educação, habitação e outros sectores sociais), consolidar e desenvolver parcerias entre os diferentes sectores em todos os níveis (governo e sociedade), aumentar a capacidade da comunidade para influenciar os factores determinantes da saúde e definir cenários preferenciais de intervenção (escolas, locais de trabalho, associações).

Maria Helena de Carvalho Valente Presado Página 19

Na Declaração do México sobre Promoção da Saúde reconhece-se a consecução do nível de saúde, que a promoção da saúde é da responsabilidade dos governos, que apesar dos progressos verificados persistem muitos problemas de saúde e estão conscientes de que novas doenças ameaçam o progresso verificado em termos de saúde e concluem que para uma equidade e melhor saúde para todos, a promoção da saúde deve ser um pilar das políticas de saúde (WHO, 2000).

A Carta de Bangkok sobre determinantes da saúde, num mundo globalizado, segue os pressupostos da Carta de Ottawa e com a promoção da saúde surge a noção de “saúde como

um recurso” e de esta ser um empreendimento colectivo, estimulando ao reforço de parcerias

funcionais, redes fortes de promoção da saúde públicas e privadas com a finalidade de criar massa crítica em termos de promoção da saúde em diversas estruturas da comunidade (WHO, 2005).

Desde a Carta de Ottawa que o termo promoção da saúde está associado a um conjunto de valores (qualidade de vida, saúde, solidariedade, equidade, democracia, cidadania, desenvolvimento, participação e parceria, entre outros) e a uma combinação de estratégias (políticas públicas saudáveis, reforço da acção comunitária, desenvolvimento de habilidades pessoais, reorientação do sistema de saúde e de parcerias intersectoriais) (Buss, 2000).

As políticas governamentais têm, de alguma forma, sido reguladas pelos valores e princípios resultantes destas conferências internacionais (Martins, 2005).

Em Portugal, a melhoria das condições de vida da população e algumas das estratégias utilizadas (Serviço Nacional de Saúde, comissões específicas, articulação de serviços, parcerias, promoção de saúde, formação de profissionais) contribuíram para a melhoria dos indicadores de saúde.

Actualmente, atendendo ao período de crise sócio-económico que se vive, em que se verificam dificuldades financeiras das instituições e das famílias, espera-se que, não traduzam um desinvestimento político, individual e comunitário na saúde das populações, colocando em risco os resultados positivos alcançados ao longo destas últimas décadas.

Maria Helena de Carvalho Valente Presado Página 20