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C LIMATÉRIO E R ELACIONAMENTO C ONJUGAL

Na reflexão sobre o climatério e o relacionamento conjugal e considerando o anteriormente exposto, emerge a dúvida sobre o que influência o quê, ou seja, será o climatério que influencia o relacionamento conjugal ou será este que vai influenciar uma vivência saudável do climatério.

Considerando que esta é mais uma etapa de transição do ciclo de vida familiar, a que está associado primeiramente a casais com filhos adolescentes e posteriormente à respectiva saída dos filhos de casa, pela sua autonomia e independência (actualmente esta situação acontece mais tardiamente uma vez que com o contexto socioeconómico os filhos tendem a sair de casa com mais idade). O “síndrome do ninho vazio” normalmente associado e descrito quando se fala da menopausa, e sempre na perspectiva da mulher mas, será que, analogamente, os homens não sentem também esta saída de casa, pois, embora se mantenham os laços afectivos (pais-filhos) a partilha do espaço fica de certa forma alterado.

O casal tem que se virar só para si mesmo. Têm que reaprender a viver juntos (só a dois), como foi no início do casamento, mas a maturidade individual e os contextos da vida provocaram alterações em cada um e no próprio relacionamento em si.

A crise de vida na mulher a partir dos 45 anos, está associado à menopausa e com a saída dos filhos de casa, este período de crise é socialmente reconhecido e desculpado. Nos homens a crise de vida não é reconhecida nem aceite, a crise verifica-se com a reforma (60-65 anos) mas, surge entre os 43 e os 52 anos com o fim da ascensão social e respectiva consciencialização do seu fim (Mimoun, 2003).

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A menopausa serve de atenuante para os conflitos conjugais agravados pela gestão do tempo, nomeadamente em casa após a reforma, onde o homem tenta um maior controlo da mulher (Mimoun, 2003).

As crises das relações são um efeito secundário habitualmente atribuído à menopausa. Todos os casamentos, mesmo os considerados muito bons, sofrem adaptações face às alterações hormonais durante a menopausa e peri-menopausa e, nem todos conseguem sobreviver a estas transformações (Northup, 2006).

A meia-idade, decorrente de alterações hormonais, traz uma espécie de sabedoria que dá à mulher uma perspicácia relativamente a desigualdades e injustiças e, a capacidade e a coragem de verbalizar, reacendendo-se o espírito da juventude, quando esta necessidade de escape não é satisfeita, a saúde da mulher é que se recente. A mulher tem que descobrir e aprender a entrar na segunda metade da vida de forma positiva, alegremente, resistente, saudável e consciente dos seus sentimentos e decisões (Northup, 2006).

No relacionamento homem-mulher, nesta fase da vida, por vezes as relações de poder invertem-se, com a aposentação ele perde a função de líder e pode ficar inseguro perante a mulher (habituada a desempenhar múltiplos papéis dentro e fora de casa), ela passa a ser o centro da atenção e do afecto (Negreiros, 2004).

Quando não existe satisfação na relação conjugal e cada um individualmente já alcançou um nível de maturidade e de autonomia, aliado provavelmente às eventuais alterações hormonais que como vimos podem ser acompanhadas de algumas transformações de ordem biológica, psicológica e social, a falta de amor e de interesse em manter o compromisso leva à ruptura e ao divórcio.

Efectivamente é nesta fase da vida que existe uma maior taxa de divórcios, a idade média de divórcios é de 40.4 anos na mulher e 42.7 anos nos homens (INE, 2011). Não significando esta situação que estes indivíduos não possam constituir novas famílias com vista ao equilíbrio e preservação da sua saúde.

Parece existir uma relação causal entre a saúde física e mental dos cônjuges e a qualidade e interacções dentro do casamento. Em casais insatisfeitos, as mulheres apresentavam níveis mais baixos de saúde física e psicológica do que os maridos, ser infeliz no casamento parece

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ser mais prejudicial para o bem-estar psicológico do que ser solteiro, divorciado ou viúvo (Fielder & Kurpius, 2005).

Pensamos que a qualidade do relacionamento conjugal é uma variável contextual essencial, que deve ser alvo de apreciação quando se estuda a vida dos casais.

Na contemporaneidade da relação do casal, há cada vez mais uma relação de interdependência entre a sexualidade e a relação conjugal e uma relação de reciprocidade na actividade sexual (Bozon, 2002).

Na resolução da crise conjugal, nomeadamente nos aspectos relacionados com a sexualidade, deve ter-se em atenção não só o período de transição da menopausa mas igualmente a dita andropausa (Mimoun, 2003).

Nas relações de suporte em que os casais demonstram cuidado e preocupação, carinho, disponibilidade e sensibilidade, um para com o outro, parece haver uma redução do desgaste emocional da relação (Fielder & Kurpius, 2005). Estes autores defendem, existir uma ligação positiva entre casamentos coesos, cooperativos e sociáveis e o estado geral de saúde e bem- estar dos parceiros conjugais.

Centrando-nos novamente nesta etapa da vida, consideramos que perante casamentos satisfeitos a mulher vivencia esta fase com tranquilidade de forma positiva e este pode ser um momento desafiante para o casal. Na medida em que aliado à maturidade individual e da relação, libertos de alguns factores stressantes, como sejam as pressões profissionais, os filhos, estabilidade sócio-profissional, podem dedicar-se a novas descobertas e mesmo recriar os processos de intimidade conjugal.

Na meia-idade pode-se viver de forma enriquecedora e gratificante, o impacto dos acontecimentos da vida são ponderados e dependem do desenvolvimento das tarefas enquanto casal ao longo do ciclo de vida familiar (Ribeiro, 2005).

A literatura remete para um comprometimento da sexualidade aliada a alterações hormonais ováricas provocando secura vaginal e dispareunia, causando desconforto nas relações sexuais e provocando um ciclo de evitamento e consequente aumento desta sintomatologia. Mas, atendendo que a sexualidade só se desenvolve adequadamente quando é estabelecida uma relação afectiva com alguém (Galvão, 2000) e, em casais satisfeitos onde o processo de

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comunicação está bem estabelecido, falar sobre as eventuais dificuldades sexuais será uma das formas de colmatar e ultrapassar este incómodo.

Existem disponíveis no mercado um conjunto de alternativas terapêuticas que podem ser facilitadoras no controlo de alguma sintomatologia, manter uma saúde vaginal é fundamental para uma sexualidade activa e satisfeita.

Sem a preocupação de engravidar (após a menopausa) existe também um relaxamento e uma libertação da mulher e consequentemente no homem, a cumplicidade existente e a própria maturidade sexual será um factor de equilíbrio entre eles. A sexualidade é necessária ao equilíbrio emocional dos seres humanos, havendo uma correlação directa entre personalidade e sexualidade, as quais se influenciam directa e indirectamente (Galvão, 2000; Vidal, 2002).

Na meia-idade muitos casais descobrem que têm o tempo e o desejo para estarem totalmente um com o outro e vivenciam o melhor sexo das suas vidas e, torna-se necessário melhorar alguns aspectos do “velho” relacionamento (Northrup, 2006). Atendendo a uma resposta sexual mais lenta nos homens, as mulheres podem considerar este prolongar da excitação do homem como uma ajuda ao seu próprio orgasmo e vivenciar a sua actividade sexual por períodos mais longos e tranquilos (Papalia, 2000).

Num estudo realizado na Covilhã em pessoas de meia-idade, ambos os sexos apresentavam satisfação com a sua vida sexual embora os níveis fossem ligeiramente superiores nas mulheres, verificando-se correlação entre o índice de satisfação sexual e a qualidade de vida (faceta actividade sexual no domínio relações sociais do WHOOQOL-Bref) (Maia & Pessoa, 2009).

A literatura evidencia uma predominância de estudos ginecológicos e endócrinos, começando recentemente a emergir estudos de âmbito multidisciplinar, incidindo essencialmente sobre os aspectos negativos (depressão, osteoporose, cancro, entre outros) sendo escassa a informação relacionada com o bem-estar da mulher na peri e pós menopausa (Pimenta et al., 2007).

A qualidade de vida das mulheres na menopausa poderá ser avaliada através de diferentes instrumentos, nomeadamente a escala de Cervantes (Palacios et al., 2004), que faz parte de uma nova geração de instrumentos de qualidade de vida relacionados com a saúde específicos para aplicação na população feminina espanhola entre os 45 e 64 anos de idade. Este

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instrumento foi validado em Espanha e traduzido e adaptado pela Sociedade Portuguesa de Menopausa (SPM & AEEM, 2008).

Sendo o casamento uma construção conjunta da realidade, onde de acordo com as expectativas individuais e dos parceiros, para que um relacionamento conjugal continue satisfatório ao longo dos anos, é necessário fomentar o investimento na relação de forma a encontrar equilíbrio na conjugalidade e individualidade, partilhando interesses e relacionamento afectivo sexual, evitando o tédio e a repetição (Norgren et al., 2004).

Para este autor as relações conjugais duradouras e satisfatórias são o resultado do investimento na procura da felicidade, onde para além do amor perpetua-se o consenso, a resolução de conflitos, a comunicação e a flexibilidade. Pessoas casadas há muito tempo continuam a preocupar-se com os companheiros e a amarem-se, procurando alternativas.

Para a mulher casada, a principal fonte de apoio social pode ser o marido (Fielder & Kurpius, 2005). O que nos leva a acreditar que perante relações satisfatórias, esta será uma etapa de vida que vai ser vivida por ambos os membros do casal de forma positiva e saudável, na medida em que vão desenvolver estratégias minimizantes de alguns desconfortos.

O casal deve promover hábitos de vida saudáveis, como a alimentação, para evitar o excesso de peso e prevenir algumas doenças, bem como o exercício físico. Os passeios ao ar livre, encontram-se entre as estratégias que os casais podem recorrer de forma a impulsionarem momentos de descontracção e lazer propícios ao contributo para a melhoria da qualidade de vida.

Maria Helena de Carvalho Valente Presado Página 90 PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

P

ARTE

II

ESTUDO

Maria Helena de Carvalho Valente Presado Página 91 CAPÍTULO I – MÉTODO

CAPÍTULO

I

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Segundo Fortin (2009 p. 19), a metodologia de investigação pressupõe em simultâneo “um

processo racional e um conjunto de técnicas ou de meios que permitem realizar a investigação”, que visa a aquisição de conhecimentos. Diz-nos ainda que é um processo

sistemático de colheita de dados empíricos que têm como objectivo descrever, explicar ou predizer fenómenos e onde o rigor e a sistematização devem estar presentes. O desenho de investigação implica um plano organizado para atingir os objectivos, responder às questões de investigação e verificar hipóteses. Os principais elementos são: o meio, a população e amostra e o tipo de estudo.

Tendo em consideração a questão de investigação consideramos como objectivos do estudo:

 Identificar as representações sociais da menopausa de mulheres e homens de diferentes origens, classes sócio-profissionais.

 Analisar a influência do climatério/menopausa no relacionamento conjugal.

 Identificar as necessidades dos casais em termos de formação/educação e vigilância da saúde para uma vivência desta etapa da vida com qualidade e bem-estar.

 Propor estratégias, nomeadamente, intervenções dos profissionais de saúde, em particular dos enfermeiros, no âmbito da preparação para o climatério/menopausa e da promoção do bem-estar e qualidade de vida nesta etapa da vida.