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ANOMALIAS CONGÊNITAS E O USO DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS

No documento Análise Temporal Linear 2008 a 2015 (páginas 48-68)

ANEXO 6 - PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP (COMISSÃO DE

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.4 ANOMALIAS CONGÊNITAS E O USO DE DEFENSIVOS AGRÍCOLAS

O uso de defensivos agrícolas ou agrotóxicos é prejudicial à saúde dos trabalhadores e ao meio ambiente. Estes produtos vêm sendo utilizados extensivamente em vários tipos de culturas agrícolas, sendo muitas vezes desprovidos de controle e fiscalização pelos órgãos responsáveis. Os países em desenvolvimento consomem cerca de 30% dos agrotóxicos produzidos. Nesta realidade, o Brasil se destaca como maior consumidor individual de defensivos agrícolas da América Latina. (BRASIL, 2006;

SILVA et al., 2010).

Os agrotóxicos, podem ser classificados como poluentes orgânicos persistentes (POPs), que são produtos solúveis que se acumulam no organismo do ser humano, devido a sua composição lipídica e resistência metabólica. Os mesmos são pesticidas organoclorados (OCPs), bifenilos policlorados (PCBs), difenil éteres polibromados (PBDEs) e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAP), entre outros. (STAIF et al., 2005; REN et al., 2011).

Os POPs perduram na natureza por longo período e têm grande capacidade de imersão no meio ambiente e longo alcance. Sendo assim acumulam-se na fauna e flora, além de se bioacumular em tecidos humanos, biomagnificam-se nas cadeias alimentares, e têm potencial de gerar impactos significativos na saúde humana e no meio ambiente.

(PNUMA, 2010). Diante da gravidade desta ocorrência, e do fato de ser causador de sérios danos à saúde, como alguns tipos de câncer, anomalias congênitas, disfunções nos sistemas imunológico e reprodutivo, maior susceptibilidade a doenças e diminuição da capacidade mental, em 17 de maio de 2004, em Estocolmo, na Suécia, foi realizada a primeira convenção para a discussão do uso destas substâncias. E a partir desta estabeleceu-se o Tratado Internacional de Estocolmo, com participação de 170 países, inclusive o Brasil, visando a promoção da segurança química global, com o principal objetivo de proteção da saúde humana à exposição a estas drogas. (PNUMA, 2010).

Com esta Convenção de Estocolmo, e apoio da ONU (Organização das Nações Unidas), cria-se um Comitê de revisão de POP’s (POPRC). Este é constituído por 31 especialistas denominados pelos governos participantes, que avaliam a recomendação do uso ou não das substâncias. Mediante as avaliações as recomendações são classificadas

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em Anexos (Quadro 03), a saber: A - as Medidas que devem ser tomadas pelos países membros para eliminar a produção e o uso das substâncias químicas listadas nesse item;

B – as Medidas devem ser tomadas pelos países membros para restringir a produção e utilização das substâncias químicas listadas); e C- Medidas devem ser tomadas pelos países membros para reduzir as liberações não intencionais das substâncias químicas listadas. (PNUMA, 2010).

QUADRO 3- CLASSIFICAÇÃO DOS AGROTÓXICOS SEGUNDO TRATADO DE ESTOCOLMO, 2004.

Autores afirmam que a exposição aos POPs pode ser associada a uma ampla gama de efeitos adversos para a saúde, incluindo carcinogenicidade e teratogenicidade.

(STAIF et al., 2005; REN et al., 2011).

Alguns estudos epidemiológicos realizados em vários países sugerem a associação ao risco para nascimento com anomalias congênitas e o uso de agrotóxicos.

Outras pesquisas relacionam o uso de pesticidas agrotóxicos à deficiência de membros.

(KRISTENSEN et al., 1997 ; SHAW et al., 1999 ; ENGEL et al., 2000; CARMICHAEL et al., 2016).

Estes agentes químicos atuam nos hormônios do ser humano afetando todo o sistema endócrino, causando lesão celular, sendo associados ao comprometimento do desenvolvimento embrionário normal. (PATHAK et al., 2010; NAUFAL et al., 2010;

REN et al., 2011).

Dentre as patologias associadas, podemos citar a atresia anorretal e a craniossinostose que podem agregar-se à doença da tireoide materna, destacando a

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ligação de pesticidas a problemas com os hormônios tireoidianos (RASMUSSEN et al., 2007; BROWNE et al., 2009; BOAS et al., 2012; BHASKAR e MOHANTY, 2014; CARMICHAEL et al., 2016)

Estudo brasileiro, realizado no Mato Grosso, a maior região consumidora de agrotóxicos no país devido à pobreza de seu solo, com mulheres que habitavam locais próximos a áreas de lavouras, encontrou 100% a mais de ocorrência de malformação congênita entre as crianças nascidas de mulheres expostas aos agrotóxicos durante o período periconcepcional em relação às demais. Identificou-se quatro vezes mais ocorrência de malformações entre recém-nascidos de mães que trabalharam em atividades agrícolas em períodos pós-fecundação, quando relacionadas às gestantes que não tiveram estas atividades neste mesmo período. (OLIVEIRA et al., 2014).

Outro fato confirmou a maior propensão de casos de AC em mulheres que viviam com companheiros, foi a ligação da ocorrência com o contato com vestimentas e utensílios usados pelo companheiro comumente trabalhando com agrotóxicos. Resultados similares foram observados por Benitez-Leite et al. (2009) que constatou maior ocorrência de filhos com malformações congênitas em mulheres que conviviam com cônjuges que trabalhavam com agrotóxicos, e lavavam suas roupas contaminadas. Existe também a possibilidade de que exposição materna esteja relacionada diretamente ao seu próprio trabalho, já que alguns estudos referem que mães que trabalham na agricultura tiveram mais filhos com malformações congênitas. (OLIVEIRA et al., 2014).

No estado do Paraná o setor de agropecuária possui grande destaque, sendo o segundo principal setor da economia (IPARDES, 2017), e este fato pode ser associado ao aumento de caso de AC nos últimos anos. Pois, mesmo com a redução da mortalidade infantil, a mortalidade por AC continua a subir, em 2010/2011 totalizava 25% da mortalidade infantil, chegando em 2015/2016 a 27%, evoluindo provavelmente para que nas próximas décadas ultrapasse a afecções do período perinatal como principal causa de morte, assim como ocorre nos Estados Unidos e Japão aonde a principal causa de mortalidade infantil é a Anomalia Congênita. (SILVA, et al., 2011; OPAS, 2012; XU, et al., 2014).

2.5 EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS DOS FATORES DE RISCO PARA

ANOMALIAS CONGÊNITAS: REVISÃO INTEGRATIVA

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Apresentam-se aqui, como excerto fiel da publicação, apenas os capítulos dos Resultados, Discussão e Considerações finais desta revisão integrativa desenvolvida para aprofundamento do conhecimento sobre Anomalias Congênitas utilizando-se do estado da arte relacionado ao tema. A referência é apresentada abaixo, e poderá ser consultada na página indicada.

Barros APMM, Freire MHSF, Migoto MT. Evidências científicas dos fatores de risco para anomalias congênitas: revisão integrativa. Revista de Enfermagem do Centro-Oeste Mineiro. 2017; 7:e1804. https://doi.org/10.19175/recom.v7i0.1681.

Disponível em:

http://www.seer.ufsj.edu.br/index.php/recom/article/view/1804/1735

2.5.1 Resultados Revisão Integrativa

Com base nos critérios de elegibilidade para este estudo são apresentadas no Quadro 4 e 5 as variáveis relativas às produções científicas. Identificou-se que 15 (78,5%) foram pesquisas internacionais, procedentes de dez países, como: EUA com quatro publicações (21,5%); Chile e Colômbia duas publicações (11%) cada um; e China, Canadá, Hungria, Sri Lanka, Reino Unido, Tanzânia e Croácia, uma publicação (5%) cada. Apenas quatro foram publicações brasileiras, equivalente a 21,5% das publicações em análise.

Houve envolvimento de 37 locais, entre instituições acadêmicas e serviços de saúde, para o desenvolvimento das pesquisas, das quais sete (18,9%) foram brasileiras e 30 (81,1%) foram internacionais. Com relação ao idioma de publicação dos artigos 12 (63,1%) estavam publicados em inglês, quatro (21,1%) em português, e as demais (3;

15,8%) em espanhol. Em relação ao Qualis de classificação da revista de divulgação, nove (47,4%) apresentavam-se nível B, e as demais, dez (52%), não estavam incluídas neste ranking de classificação.

Identificaram-se 88 pesquisadores envolvidos nestas publicações, e a área profissional prevalente foi à medicina, com 65 representantes (73,9%); seguidos por quatro farmacêuticos (4,5%), quatro enfermeiros (4,5%), e outras categorias com menor representatividade proporcional, como os biólogos, odontólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e psicólogo, que totalizaram 13 profissionais (14%). Em duas publicações (2%) não foi possível identificar a categoria profissional dos autores.

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Quanto à abordagem dos estudos, 17 artigos (89,4%) tiveram abordagem quantitativa, um (5,3%) qualitativa, e um (5,3%) mista. Os estudos quantitativos apresentaram-se com delineamento populacional mais restrito ou ampliado, ou seja, desde populações de estudo restritas a serviços hospitalares até populações inteiras de nascidos vivos de municípios, regiões e países. Dentre as pesquisas quantitativas cinco (12,5%) apresentaram recorte temporal retrospectivo, duas (5%) com recorte prospectivo, e quatro (10%) de caso-controle. Apenas um (2,5%) estudo tipo revisão sistemática foi identificado associado a outro método.

55 QUADRO 4 PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS SEGUNDO PAÍS, ANO, PERIÓDICO, BASE DE DADOS DE PUBLICÃO E TIPO DE ESTUDO JAN. 2014 A JUN. 2016. ORDEMPAÍS/ANOPERIÓDICO/QUALISBASE DE DADOSABORDAGEM, TEMPORALIDADE E DESENHO DO ESTUDO. A (11)Colômbia 2014Biomédica/ B3 MedLine Quantitativo; Retrospectivo; Caso-controle. B (15)EUA 2014Journal of Perinatology/ B1 MedLine Quantitativo; Retrospectivo; Coorte. C (16)Brasil 2014Journal of Human Growth and Development*Lilacs Quantitativo; Descritivo; Transversal. D (17)Canadá 2015J allergy clin immunol* MedLine Quantitativo; Coorte retrospectiva. E (18)Hungria 2015Congenital Anomalies*MedLine Quantitativo; Caso-controle. F (19)China 2015Chinese Medical Journal* MedLine Quantitativo retrospectivo. G (20)Brasil 2014Epidemiol. Serv. Saúde/ B2 Lilacs Quantitativo; Descritivo. H (21) Tanzânia 2015 Pan African Medical Journal* MedLine Quantitativo; Caso-controle. I (22)Brasil- 2014Rev Paul Pediatr/ B3 MedLine Quantitativo; Retrospectivo; Caso-controle. J (23)Colombia 2014Colômbia médica* MedLine Quantitativo; Transversal; Observacional. K (24)Chile 2014Revista Médica de Chile/ B2 Lilacs Quantitativo; Transversal. L (25)Chile 2014Rev Med Chile/ B2MedLine Quantitativo; Retrospectivo. M (26)China 2015Chinese Medical Journal* MedLine Quantitativo; Retrospectivo. N (27) EUA 2014Reprod Toxicol* MedLine Quantitativo; Descritivo Prospectivo. O (28)EUA 2015Pediatrics and Neonatology* MedLine Quantitativo; Transversal. P (29)Reino Unido 2014 Wiley Periodicals, Inc.* MedLine Quantitativo; Retrospectivo. Revisão Sistemática. Q (30) Croácia 2014Medical Science Monitor* MedLine Quantitativo; Caso-controle. R (31)Sri Lanka 2014Ceylon Medical Journal* MedLine Quantitativo; Descritivo, Prospectivo. S (32)EUA 2014CID / B1 MedLine Qualitativo; Relato de um grupo de trabalho. Fonte: Publicações científicas em analisadas, organizado pelas autoras. Nota: *Não possui classificação Periódicos Qualis da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), Ministério da Educação (MEC), Brasil.

56 QUADRO 5 PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS SEGUNDO TÍTULO E OBJETIVO JAN. 2014 A JUN. 2016. continua ORDEMTULOOBJETIVO A (11)Detección ecogfica de anomalías congénitas en 76.155 nacimientos en Bogotá y Cali, 2011-2012.Determinar la tasa de detección de anomalías congénitas mediante ecografía obstétrica y la tasa de falsos positivos, comparando poblaciones de Bogotá y Cali atendidas en servicios de salud de diferentes niveles de complejidad. B (15)Breech presentation at delivery: a marker for congenital anomaly?To determine whether congenital anomalies are associated with breech presentation at the time of birth. C (16) A importância das anomalias congênitas ao nascer.Analisar a ocorrência de anomalias congênitas em recém-nascidos em hospitais do município de São Paulo. D (17)Risk of congenital malformations for asthmatic pregnant women using a long-acting b2-agonist and inhaled corticosteroid combination versus higher- dose inhaled corticosteroid monotherapy.

To compare the risk of major congenital malformations in pregnant asthmatic women treated with a LABA/ICS combination and those treated with a higher dose of ICS monotherapy during the first trimester. E (18)Sex ratio of congenital abnormalities in the function of maternal age: A population-based study.To estimate the possible effect of maternal age of pregnant women for the sex ratio (SR) of their offspring affected with isolated CA in the national population- based large dataset ofthe Hungarian Case-Control Surveillance of Congenital Abnormalities (HCCSCA) F (19)The Survey of Birth Defects Rate Based on Birth Registration System. To investigate the surveillance trend of birth defects, incidence, distribution, occurrence regularity, and their relevant factors in Xi’an City in the last 10 years for proposing control measures. G (20)Características das crianças nascidas commalformações congênitas no município de São Luís, Maranhão, 2002-2011.Descrever as características dos nascidos vivos com malformação congênita em São Luís, estado do Maranhão, Brasil, no período de 2002 a 2011. H (21)Factors associatedwithmajor structural birth defects among newborns delivered at Muhimbili National Hospital and Municipal Hospitals in Dar Es Salaam, Tanzania 2011 2012.

To increase understanding of the magnitude of known risk factors, hence contributing to developing data driven birth defects prevention activities and demonstrating the value of developing a surveillance system for birth defects in Tanzania. I (22)Aspectos maternos e perinatais dos defeitos congênitos: um estudo caso- controle.Avaliar a prevalência de defeitos congênitos e investigar os aspectos maternos e perinatais associados a eles em uma amostra de recém-nascidos da cidade de São Carlos, São Paulo, por meio da análise das suas Declarações de Nascidos Vivos. J (23) Evaluation of prenatal diagnosis of congenital defects by screening ultrasound, in Cali, Colombia.The objective of the study was to determine the frequency of prenatal ultrasound diagnoses of subsequent newborns with congenital birth defects who were hospitalized on two neonatal intensive care units in Cali.

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conclusão K (24) Factores de riesgo de ocurrencia y gravedad de malformaciones congénitas.El objetivo de este estudio es identificar factores de riesgo de MFC y comparar el riesgo de ocurrencia de MFC sen gravedad, dados estos factores. L (25)Prevalencia al nacimiento de malformaciones congénitas en las maternidades chilenas participantes em el ECLAMC en el período 2001-2010.Dar a conocer el estado actual de la prevalencia al nacimiento de las malformaciones congénitas más relevantes em los hospitales chilenos participantes en el ECLAMC en el período 2001-2010. Comparar las tasas de prevalencia al nacimiento con las de peodos anteriores ya publicados:1982-1988, 1989-1994,1995-1993-5. M (26)The Survey of Birth Defects Rate Based on Birth Registration System. To investigate the surveillance trend of birth defects, incidence, distribution, occurrence regularity, and their relevant factors in Xi’an City in the last 10 years for proposing control measures. N (27)Perfluorooctanoate Exposure and Major Birth Defects.To examine the association between estimated maternal prenatal PFOA concentration and maternal report of birth defects across several body systems. O (28) Congenital Malformations in the Newborn Population: A Population Study and Analysis of the Effect of Sex and Prematurity.To provide up-to-date estimates of the current CM prevalence in the United States. P (29)Sex Prevalence of Major Congenital Anomalies in the United Kingdom: A National Population-Based Study and International ComparisonMeta- analysis.

To estimate sex ratios in specific major CA diagnoses using a large source of routine healthcare data representative of the United Kingdom (U.K.) population and to examine the effects of sociodemographic and maternal factors on these ratios. Q (30) The OSR1 rs12329305 Polymorphism Contributes to the Development of Congenital Malformations in Cases of Stillborn/Neonatal Death. To investigate the role of the OSR1 rs12329305 silent mutation located in exon2 at position 19353152, rs9936833 intergenic/unknown mutation near FOXF1, and HOXA1 rs10951154 mis-sense, transition substitution, and intragenic mutation located in the 5’near gene region at position 27095695 in cases of stillborn/neonatal deaths due to different organs malformations in comparison with a control group of healthy children. R (31)Pattern of clinically recognisable congenital malformations in babies born in a tertiary referral centre in Sri Lanka. To estimate the rate and sex ratio of Congenital Malformations, identify types of CM and aetiological factors in new born babies born at a teaching hospital over a period of six months. S (32) Assessment of Congenital Anomalies in Infants Born to Pregnant Women Enrolled in Clinical Trials.Summarize the workgroup’s discussions that focused on assessment of congenital anomalies occur among infants born to women enrolled in clinical trials. Fonte: Publicações científicas em analisadas, organizadas pelas autoras.

58 2.5.2 Discussão Revisão Integrativa

a) Variáveis relativas às Mães

Em relação à idade materna não foi identificada significância quanto ao risco de nascimentos com AC neste estudo. A maior quantidade de nascimentos com AC foi de mães com idade entre 20-34 anos. Isto pode ter ocorrido devido a tratar-se do período de maior fertilidade da mulher, devido a isso o maior número de nascimentos nesta faixa etária com AC. (MOSTELLO et al., 2014; LAURENTI et al., 2014; DORFMAN et al., 2015; ELTONSY et al., 2015, CESERMELY et al, 2015).

Estudo brasileiro, realizado em São Luís, no Maranhão, confirma que a maioria dos nascidos vivos com AC, tinham mães com idade entre 20 a 34 anos (70,0%), e quase 21% das mães tinham até 19 anos. (RODRIGUES et al., 2014). Estudo internacional, realizado na Tanzânia, confirma esta informação, em que 77,5% dos nascidos vivos que apresentavam AC, eram de mães entre 20 a 35 anos, idade média de 25,9 anos.

(KISHIMBA et al., 2015).

Porém pesquisa realizada em Porto Alegre, Rio Grande do Sul destacou maior incidência de recém-nascidos com AC entre mães adolescentes, com gestações não planejadas, e com tentativas de aborto, podendo estar presente à associação à automedicação e/ou tabagismo. (NHONCANSE et al., 2014).

Ressalta-se que a idade materna avançada foi considerada uma fragilidade para este tipo de problema de saúde pública em outros estudos. (NHONCANSE et al., 2014;

SALDARIAGA-GIL et al., 2014; CANALS et al.,2014). Pois aumenta o risco de ter um filho com AC, especialmente de origem cromossômicas, como trissomias 21, 13 e 18.

Estudo realizado no Chile evidenciou que a síndrome de Down possuiu uma taxa de incidência, bem importante, de 2,5 casos a cada mil nascimentos, que sugere que o planejamento familiar seja realizado entre as mulheres com idade avançada. (CANALS et al., 2014; NAZER; CIFUENTES, 2014). Outro trabalho ressalta que mulheres com menos de 18 ou mais de 34 anos, os extremos de idade, apresentaram duas vezes mais probabilidade de gerar um recém-nascido com AC. (ELTONSY et al., 2015).

Além do que a idade paterna elevada associada à idade materna também elevada, também se apresentou como fator de risco para as anomalias congênitas mais graves. (CANALS et al., 2014; KISHIMBA et al., 2015).

A baixa escolaridade materna, igual ou inferior a oito anos, mostrou-se predominante nas mães que tiveram filhos com AC no estudo da Maternidade de São

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Carlos (São Paulo, Brasil) (p=0,047). (NHONCANSE et al., 2014). A pesquisa realizada na Tanzânia mostrou que 73,3% das mães de filhos com AC tinham apenas quatro anos de estudo. (KISHIMBA et al., 2015).

Acredita-se que a baixa escolaridade da mãe no início do pré-natal, eleva o risco a exposição de medicamentos ou outros fatores teratogênicos, devido à falta de conhecimento de seus malefícios. E a mulher com maior nível de escolaridade, desenvolve-se como fator protetor para os nascimentos com AC. (NHONCANSE et al., 2014; MOSTELLO et al., 2014; CANALS et al., 2014; KISHIMBA et al., 2015).

Em pesquisa realizada com todos os NV com AC em São Luís, estado do Maranhão, de 2002 a 2011, identificou-se que 58,3% das mães tinham de 8 a 11 anos de estudo. (RODRIGUES et al., 2014).

Os fatores socioeconômicos e culturais impactam no acesso ao atendimento pré-natal, que resulta em prejuízos à saúde materno-infantil com aumento dos nascimentos com AC, principalmente nas regiões de condições vulneráveis. (GARCIA et al., 2014; NHONCANSE et al., 2014; MOSTELLO et al., 2014; SALDARRIAGA-GIL et al., 2014; ELTONSY et al., 2015). Estudo internacional, da Colômbia, aponta que a baixa renda pode estar associada à falta de condições para a realização de exames de imagem, como a ultrassonografia, para diagnóstico de AC ainda no pré-natal, resultando em realização tardia ou ausência do mesmo. (MOSTELLO et al., 2014;

SALDARRIAGA-GIL et al., 2014).

Quanto ao estado civil, o estudo descritivo de São Luís, apontou que 63,4% das mães de 876 nascidos-vivos com AC, viviam sem companheiro, as demais, eram casadas ou amasiadas. (RODRIGUES et al., 2014).

O local de moradia apresenta significância estatística (P<0,01) com maior incidência de AC na área rural (8,11%) quando comparada as áreas urbanas (7,56%), também relacionadas ao baixo peso ao nascer (P <0,001). (YU et al., 2015).

A história familiar de presença de malformação congênita, ou seja, a presença de malformações congênitas na família foi a variável que se mostrou a aumentar em quase três vezes a chance da ocorrência (OR=2,74) de malformações de maior gravidade no RN, conforme estudo de caso-controle desenvolvido com dados do ECLAMC - Estúdio Colaborativo Latino Americano de Malformaciones Congénitas-, em hospitais do Chile, de 2001 a 2010. (CANALS et al., 2014).

E ainda, neste estudo, evidenciaram-se os fatores físicos, ou seja, a exposição das mulheres gestantes a radiações odontológicas, tórax ou abdômen (OR=1,55); e as

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enfermidades agudas da mãe no primeiro trimestre gestacional (OR=1,20) como fatores que também aumentam a chance da ocorrência de malformações graves, as quais mais incidem sobre a morbimortalidade infantil. (CANALS et al., 2014).

Pesquisa desenvolvida junto a uma comunidade do estado de Virgínia Ocidental, Estados Unidos, buscou relacionar a contaminação da água que esta população consumia pela substância Perfluorooctanoate (PFOA), possivelmente teratogênica, consequente ao funcionamento de uma fábrica de produtos químicos. Como resultado foi observado relação entre a concentração de PFOA no pré-natal e defeitos cerebrais entre os nascidos vivos, mas o risco em número reduzido; e não encontrou associação entre a exposição à substância e o aumento do risco de anomalias cardíacas, como alguns estudos anteriores havia demonstrado. (STEIN et al., 2014).

Quanto à paridade a história anterior de aborto ou nascimento com AC evidenciou elevação do risco para este desfecho. (MOSTELLO et al., 2014; CANALS et al., 2014; YU et al, 2015).

Outro estudo, quantitativo realizado em Xi'an City, na China, revelou que 4,85%

das puérperas que tiveram filhos com AC, relataram história reprodutiva anormal, incluindo: natimorto (1,30%), aborto (2,77%) e defeitos de nascimento (1,28%). (YU et al., 2015). Bem como, a gemelaridade associada a risco moderado (NHONCANSE et al.

2014; MOSTELLO et al., 2014), especialmente as monozigóticas, se associa as AC.

(RODRIGUES et al., 2014).

Não foi observada significância estatística, na distribuição de gestações únicas ou múltiplas entre as crianças com e sem AC, possivelmente devido ao pequeno número de gestações múltiplas identificadas nos estudos selecionados. (NHONCANSE et al.

2014).

Em relação ao tipo de parto, a escolha pelo parto cirúrgico se mostra relevante ao nascimento com AC, devido à realização do diagnóstico ainda no pré-natal.

Favorecendo a redução de complicações no momento do parto, como o sofrimento fetal, bem como AC como a gastrosquise ou hérnia diafragmática que tem como indicação a realização da cesárea eletiva. (MOSTELLO et al., 2014; LAURENTI et al., 2014;

RODRIGUES et al., 2014).

Estudo realizado no Maranhão, identificou aumento da cobertura das consultas de pré-natal em sete ou mais, de 17,7% em 2002 para 35,2% em 2011, e cerca de 48,3%

haviam realizado de 4 a 6 consultas. (RODRIGUES et al., 2014). O aumento do número de consultas no pré-natal é fator protetor para os riscos da AC, pois favorece os cuidados

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em relação aos riscos para os defeitos congênitos como, por exemplo, exposição a teratógenos.

A hipertensão e a infecção materna durante a gravidez foram evidenciadas como fator associado ao risco de defeitos congênitos estruturais em estudo internacional em Dar es Salaam, na Tanzânia. (KISHIMBA et al., 2015).E o tratamento para asma moderada ou severa com ß2-agonista (LABA) combinado com corticoide inalatório foi pesquisado em mulheres gestantes comparativamente a altas doses de monoterapia com corticosteroide, em Québec, para verificar o risco de AC. Os autores concluíram que terapia combinada leva a 20% a mais de chance de malformações congênitas do que o tratamento com altas doses de corticosteroide, e o risco é duas vezes maior, se associada à terapia a mulher tiver idade menor do que 18 e maior do que 34 anos. (ELTONSY et al., 2015).

b) Variáveis do Recém-Nascido

O estudo de caso-controle realizado em uma maternidade de São Carlos, estado de São Paulo, com 12.199 nascidos vivos de 2003 a 2007, e 47 declarações de nascidos vivos com AC registradas (prevalência de 0,38%), encontrou que as crianças com AC nasceram com peso e valores de Apgar, no 1o e 5o minutos, significativamente mais baixos (p<0,001) quando comparadas aos recém-nascidos do Grupo Controle. E é sabido que o baixo peso ao nascer está fortemente relacionado com a Mortalidade Infantil, especialmente no período perinatal. (NHONCANSE et al., 2014). Estudo internacional, realizado entre 2011 e 2012 na Tanzânia, revelou que houve uma associação entre peso ao nascer e AC, os nascidos com baixo peso (<2.500g) tiveram maiores chances de AC em comparação aos nascidos com peso adequado (≥2.500g). (KISHIMBA et al., 2015).

De acordo com a literatura analisada, sete estudos apresentaram associação dos nascimentos com AC, como um importante fator de risco para o baixo peso ao nascer e a prematuridade, pois, o que se observa na prática profissional é que algumas malformações podem desencadear o parto prematuro. (NHONCANSE et al., 2014; MOSTELLO et al., 2014; CANALS et al., 2014; LAURENTI et al., 2014; RODRIGUES et al., 2014; EGBI et al., 2015; KISHIMBA et al., 2015).

A prematuridade não é fator de risco para nascimento com AC, estudo de coorte retrospectivo, realizado em Missouri, nos EUA, aponta que a prevalência de partos prematuros de RN com AC, variou entre 11,6% a 20,1%; enquanto nos partos à termo, esta variação é menor, entre 4,6% a 9,4%. A relação entre o parto prematuro e a AC foi independente quanto ao tipo de apresentação, se pélvica, cefálica, entre outras.

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(MOSTELLO et al., 2014). Já em pesquisa realizada no município de São Luís, estado brasileiro do Maranhão, com dados do SINASC, de 2002 a 2011, total de 876 nascidos-vivos com AC, a maioria (85,4%) nasceu à termo (37 ou mais semanas de gestação), e com peso igual ou superior a 2.500g (76,1%). (RODRIGUES et al., 2014).

Ressalta-se, em estudo chileno com 22.039 nascimentos (casos e controles pareados), mediante análise de modelo de regressão, que as variáveis idade gestacional (OR=0,94) e peso ao nascimento (OR=0,99) seriam fatores que reduzem o risco de malformações congênitas, no entanto, o retardo de crescimento intrauterino (OR=1,54) é fator de risco para a sua ocorrência. (CANALS et al., 2014).

Estudo norte-americano revelou relação da AC com o tipo de apresentação do feto no momento do parto, nasceram de partos pélvicos a termo especificamente crianças com AC relacionadas ao Sistema Nervoso Central, ao Sistema Musculoesquelético e as Anomalias Cromossômicas. E as apresentações pélvicas em partos prematuros tiveram como defeitos mais incidentes as fissuras orais, dessa forma se confirma que AC estão associadas à apresentação pélvica tanto para nascimentos a termo quanto pré-termo.

(MOSTELLO et al., 2014).

Entretanto, não se pode considerar a apresentação pélvica na raiz causal da maioria das doenças congênitas. De maneira objetiva, como esta apresentação é um fator facilmente identificável no momento do nascimento, é importante que se tenha conhecimento de que pode sinalizar a presença de uma anormalidade subjacente. Assim cabe destacar que recém-nascidos pélvicos merecem uma atenção maior no exame físico para detecção de anomalias. (MOSTELLO et al. 2014).

Em cinco estudos relacionaram AC com sexo masculino, segundo Canals et al (2014), Rodrigues et al (2014), Nazer e Cifuentes (2014), Kishimba et al (2015), Eltonsy et al (2015) e Yu et al (2015), observa-se que a predominância de um dos sexos para a ocorrência de AC, pode estar relacionada com a etiologia da anomalia como limitada, relacionada, ou limítrofe entre o sexo feminino ou masculino. (CESARMELY et al., 2015). Estudo transversal, realizado em quatro hospitais na cidade de São Paulo, mostrou

Em cinco estudos relacionaram AC com sexo masculino, segundo Canals et al (2014), Rodrigues et al (2014), Nazer e Cifuentes (2014), Kishimba et al (2015), Eltonsy et al (2015) e Yu et al (2015), observa-se que a predominância de um dos sexos para a ocorrência de AC, pode estar relacionada com a etiologia da anomalia como limitada, relacionada, ou limítrofe entre o sexo feminino ou masculino. (CESARMELY et al., 2015). Estudo transversal, realizado em quatro hospitais na cidade de São Paulo, mostrou

No documento Análise Temporal Linear 2008 a 2015 (páginas 48-68)