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Parece faltar ao dirigente uma postura mais empreendedora, voltada para o desenvolvimento da modalidade e que considere o prestígio que cada medalha conquistada pelos atletas geram para a entidade. Prestígio que poderia resultar em mais verba pública e patrocínios privados para os eventos e atletas da modalidade.

A atleta em questão chegou a ser incentivada pelo presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Nuzman, para ir para o taekwondô, outra modalidade de luta que já figura nos Jogos Olímpicos. A expectativa do presidente do COB era conseguir medalha com ela. Afinal, cada medalha conquistada pelo Brasil nos Jogos Olímpicos, aumenta o prestígio do Comitê e melhora a posição do país no ranking mundial e a possibilidade de sediar eventos olímpicos.

Apesar do atual estatuto da Confederação prevê que a expulsão só pode ocorrer por decisão do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (art.15, parágrafo 4º), a qual não prescinde do contraditório e da ampla defesa, a atleta mencionada não teve oportunidade de julgamento.

O princípio constitucional da Legalidade objetiva assegurar que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da Lei. É uma segurança dada ao cidadão de que não será surpreendido com sanções por ações que, sem previsão alguma, são consideradas criminosas. A legalidade é um atributo do poder que age em conformidade com as leis previamente existentes.100

A base desse entendimento está na crença na qual onde governam as leis, há justiça; onde governam os homens, há arbítrio. Uma das características com que mais constantemente é

estigmatizado o Governo tirânico é o de ser Governo de um homem acima das leis, não das leis acima dos homens.101

O Estado através da efetivação de um poder racional-legal, no qual as normas governamentais ficam sujeitas às Leis, concretizou o princípio da Legalidade. Segundo Max

100 Ver pág.282. ZIMMERMANN, Augusto. Obra citada. 101 Ver pág.283. Obra citada

Weber, neste poder racional-legal, o indivíduo já não obedece à pessoa do chefe, mas às leis, que submetem a todos. Governantes e governados se submetem ao conjunto sistemático e impessoal de direitos e obrigações legais.102

No campo político do caratê nacional vislumbramos, não só nas entidades nacionais de organização, as confederações, como também nas entidades de administração regional, as federações, várias atitudes que caracterizam o perfil patrimonialista, patriarcal, na direção administrativa das entidades que compõem essa estrutura política.

Max Weber conceitua patriarcalismo a situação em que, dentro de uma associação

(doméstica) muitas vezes primordialmente econômica e familiar, a dominação é exercida por um indivíduo determinado (normalmente) segundo regras fixas de sucessão. O poder, neste caso, se orienta pela idéia dos dominados de que a dominação apesar de ser um direito pessoal e tradicional do senhor, exerce-se como direito preeminente do associados.103

Quando essa dominação patriarcal tem um quadro administrativo pessoal, a dominação tradicional tende ao patrimonialismo e, em graus extremos, ao sultanismo, quando as formas de administração se baseiam no arbítrio livre.

O quadro administrativo da Confederação Brasileira de Karate tem aspectos que o caracterizam como bastante pessoal do senhor (presidente). Inclusive a entidade responsável pela compra das passagens aéreas dos atletas que competem nos circuitos internacionais pertence à filha do atual presidente. A CBK recebe dinheiro público e repassa para a agência da família que se encarrega da compra dos bilhetes de viagens.

Também verifica outros graus de parentesco no quadro de funcionários que trabalham na secretaria das entidades que, geralmente, são do círculo pessoal dos diretores. Não

102Idem

103Ver pág.151. WEBER, Max. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva.Volume 1. 3ª

são contratados de acordo com suas qualificações profissionais, mas levando em conta afinidade pessoal.

Observam-se similitudes encontradas no quadro de pessoal da entidade e nas características do quadro administrativo do senhor patriarcal no tipo de dominação tradicional, preconizada por Max Weber.

No dizer de Weber, o funcionalismo patrimonial, com as divisões de funções e racionalização pode assumir traços burocráticos. Mas, o seu caráter patrimonial distingue-se104.

Muitas das entidades de administração, por não manterem uma estrutura burocrática profissional, contam, na prática, só com a pessoa do presidente e de mais um auxiliar, que, algumas vezes, é o vice-presidente. Os outros cargos que compõem a diretoria são apenas formalidades estatutárias. Muitas vezes, a diretoria é formada com o nome dos alunos do presidente, o qual, costumeiramente, é dono de alguma academia.

As dificuldades econômicas impõem aos dirigentes esportivos que registrem a sede das entidades administrativas no endereço da sua própria academia apenas para obedecer às formalidades legais, necessárias para a expedição de alvará e registro de pessoa jurídica.

Esse hábito comum dos presidentes de federações, de sediarem essas entidades na sua própria academia, inibe os desafetos de participarem das reuniões que, via de regra, ocorrem sem comunicação impressa prévia e sem os demais requisitos formais para prepara o registro de reuniões institucionais. Somente o fato de acontecer em dependências físicas privadas já inibe a participação de opositores.

Por fim, é importante citar que um dos diretores da Confederação Brasileira de Karate, Aldo Lubes, denunciou (carta anexa) que foi exonerado porque requisitou ao presidente

104Ver pág.253. WEBER, Max. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva.Volume 2. 3ª

que apresentasse a prestação de contas da entidade na data da assembléia geral. Chegado o dia da assembléia, o presidente estava de posse de 13 procurações das federações filiadas e não apresentou nenhuma prestação. Prática usual, porém, dessa vez, foi questionado pelo então diretor. Alguns dias depois, o denunciante recebeu uma carta da entidade comunicando que estava exonerado do cargo que exercera por catorze anos.

A carta registra que assuntos considerados relevantes para o karate são decididos pelo presidente, unilateralmente. Denuncia que os atletas para representarem o Brasil devem pagar exames de faixa, as suas próprias expensas mesmo que a CBK receba dinheiro da União para custear essa despesa. Denuncia o valor cobrado pelos exames, a despesa cobrada dos árbitros para trabalharem nos campeonatos internacionais e que, como anteriormente citado, o estatuto é reformado sem consulta às federações filiadas.