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24 Ver pág 94 VIEIRA, Liszt Idem.

3.2.1. PARTICIPAÇÃO POLÍTICA DOS ATLETAS

48 DEMO. Pedro. Pobreza da pobreza. Pág.30. 49 Ver pág. 18. Governo e sociedade civil

50 Ver MÉSZÁROS, István. A teoria da alienação em Marx. São Paulo: Boitempo, 2006. 51Ver pág. 237. MÉSZÁROS, István. Idem.

Em 1998 foi criado o Conselho Federal de Educação Física – CONFEF - por meio da Lei 9696. Essa Lei apenas cuidou de estabelecer a composição inicial do Conselho Federal de Educação Física, mas não indicou o número de Conselhos Regionais que seriam criados, nem tampouco quais seriam suas áreas de atuação ou suas respectivas estruturas e atribuições. O Conselho Federal, para afastar esse óbice, numa atitude antijurídica, criou, estruturou e definiu as atribuições dos vários Conselhos Regionais nos Estados brasileiros.

Porém, uma vez que o CONFEF é pessoa jurídica de direito público, que exerce atividade estatal delegada, qual a de fiscalizar o exercício de profissão, seria obrigatório que lei própria criasse e definisse sua estrutura básica, nos termos do art. 37, item XI, da Constituição da República. Na verdade, a Lei nº 9.696, de 1998, não só não criou os Conselhos Regionais, como também não autorizou o Conselho Federal a regulamentar essa lei, estruturando conselhos regionais. Pois apenas mediante lei se pode instituir entidade autárquica.

Apesar da ilegalidade de sua criação, os conselhos regionais iniciaram várias ações arbitrárias contra as academias de danças e artes marciais, exigindo que seus professores se registrassem no referido Conselho, pagando a anuidade, sem que haja previsão legal para esse fim, inclusive exigindo o pagamento de anuidades de anos anteriores. As ações do CONFEF além de ilegais e arbitrárias eram agressivas, pois invadiam academias de artes marciais ameaçando aqueles que não se registrassem nos seus quadros.

Foi feita uma representação ao Ministério Público do Distrito Federal com o objetivo de que cessassem as ações do CONFEF . Um dos objetos da ação foi o pedido de que se declarasse a inexistência jurídica do Conselho Regional de Educação Física do DF, região administrativa que impetrou a ação pública.

O argumento do Conselho Federal e seus conselhos regionais para exigirem a filiação dos profissionais de artes marciais, dança e ioga era a de que essas eram atividades que deveriam ser exercidas por pessoa formada em Educação Física. Porém, o que estava em jogo era a filiação de um contingente muito grande de profissionais. Em número bem maior que os

habilitados no curso de Educação Física. E, portanto a independência financeira e autonomia de vários desses conselhos que para funcionarem necessitavam de um número mínimo de filiados. Começou, por isso, ações enérgicas e violentas em busca desse quadro de filiados.

Porém, é sabido no campo esportivo que nenhum Profissional de Educação Física se habilita a dar aulas de danças, artes marciais ou ioga porque a formação acadêmica deles, obtida em geral em 4 anos de estudos, não lhes dá qualificação para ministrar aulas específicas nessas áreas.

As ações do CONFEF e de seus conselhos regionais caracterizavam acintosa tentativa de reserva de mercado para os Profissionais de Educação Física, até mesmo em áreas que lhes são estranhas.

Apesar desse quadro de ilegalidades que resultou inclusive em uma ação impetrada pelo ex-Procurador Geral da República, Cláudio Fontelles, requerendo a extinção do Conselho Federal e do ganho de liminares exigindo que vários conselhos regionais se abstivessem de exigir filiação dos lutadores, os atletas e profissionais de karate não se manifestaram, não obstante as inúmeras tentativas dessa autora de mobilizar a categoria.

Foram realizadas várias discussões em várias comissões do Congresso Nacional e três audiências públicas na Câmara Federal que só contou com a participação dos presidentes de confederações de artes marciais depois que eles entenderam que iam perder espaço. Esses presidentes só apareceram em Brasília quando já havia sido impetrada uma ação pública contra o CONFEF, ganha uma liminar contra ele, e quando já ia ser realizada a primeira audiência pública. Outros dois presidentes vieram nas duas outras audiências públicas. Porém, a participação dos atletas foi nula, apesar de muitos deles se sustentarem ministrando aulas de

karate e terem sofrido as arbitrariedades do CONFEF.

Os karatecas podiam se filiar aos quadros dos conselhos somente depois de pagarem um curso de formação, que era oferecido pelo próprio presidente do conselho. Porém, não

podiam votar, nem se candidatar a cargos na diretoria dos conselhos. Recebiam carteirinhas provisórias e eram tidos como profissionais de segunda linha.

As ações do CONFEF violavam, vários dispositivos constitucionais. A Constituição declarou ser livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações e condições que a lei estabelecer, ou seja, a liberdade que se tem de escolher o trabalho, ofício ou profissão só pode sofrer a limitação imposta por lei e não por ato normativo emanado de qualquer órgão ou entidade. Assim, uma vez que ministrar aulas de danças e de lutas não são atividades profissionais legalmente regulamentadas, não podem ser prerrogativa do Profissional de Educação Física.

3.3. PATRIMONIALISMO

Na definição de Max Weber, denomina-se patrimonial toda dominação que, “originariamente orientada pela tradição, se exerce em virtude de pleno direito pessoal”.52Trata-se da mais conhecida forma decorrente do domínio tradicional. No patrimonialismo as regras são dadas do senhor para os seus subordinados, a partir de uma espécie de código de santidade, eternizado pelos costumes e tradições.

A pessoa do soberano perpetua a idéia do eterno ontem. A obediência não é determinada por princípios gerais, mas sujeição por fidelidade ao chefe.53Não se obedece a uma ordem estatuída, mas à pessoa delegada pela tradição.

Não há uma fronteira nítida entre os interesses particulares do soberano e os interesses públicos ligados ao seu cargo. Ele tem a coisa pública como se sua fosse.

No patrimonialismo, as ordens são legitimadas de duas formas: em parte, em virtude dos costumes seguidos como algo sagrado e que, por isso, devem ser seguidos pelo senhor, que tem o limite de suas ações na expectativa que os subordinados têm de que as tradições estarão sendo seguidas. A segunda forma é o livre arbítrio do senhor, permitido também pela tradição, fundamentado na idéia de piedade ao senhor.

As ações do senhor ao mesmo tempo em que estão amarradas aos limites tradicionais do poder, também estão “liberadas” por essa mesma tradição. “A natureza efetiva do exercício de dominação está determinada por aquilo que habitualmente o senhor e seu quadro administrativo podem permitir-se fazer diante da obediência tradicional dos súditos, sem provocar sua resistência.”54Quando ocorre a resistência, ela se volta contra a pessoa que transgrediu os limites da tradição.

52Ver WEBER, Max. Economia e Sociedade.Volume 1. Editora UnB, 1994.Pág.152. 53Ver FREUND, Julien. Sociologia de Max Weber.Pág.174.

Quando o senhor domina com um quadro administrativo subordinado a ele, a composição desse quadro é feita por vínculos de piedade, pessoas tradicionalmente ligadas ao senhor ou por relações de confiança.

Se o quadro administrativo é puramente pessoal do senhor, a dominação tradicional tende ao patrimonialismo, quando o grau de poder senhorial é extremado, ao sultanismo.

Se considerarmos um tipo puro de dominação tradicional, verificaremos que faltam ao quadro administrativo: competência profissional; hierarquia racional fixa; concurso ou nomeação por critérios fixos; ascensão profissional determinada por normas claramente definidas; e, muitas vezes, salários pagos em dinheiro.

Também a administração política é tratada como assunto inteiramente pessoal do senhor, e a propriedade e o próprio exercício político como parte do seu patrimônio pessoal.

Portanto, o senhor tem livre-arbítrio para agir, desde que a santidade da tradição não lhe imponha limites. Como muitas das decisões políticas que surgem não precisam se submeter a uma rigidez imposta pela tradição, porque não são previstas, o senhor tem limites para suas decisões muito elásticos, o que lhe permite decidir com base puramente pessoal.55

A ação tradicional é motivada pelo apego ao passado, ao costume. O sentido subjetivo, as causalidades que geram a ação estão vinculadas à idéia da santificação dos valores tradicionais.

Para que a dominação do senhor sobre os seus subordinados possa subsistir, ela é legitimada em parte pela força da tradição, em parte pelo arbítrio do senhor em interpretar essa tradição.