• Nenhum resultado encontrado

5 METODOLOGIA

5.1 Antecedentes: caminho percorrido

Este trabalho aborda sociologicamente um mercado, independente do seu enquadramento econômico como mercado cultural ou criativo13, e seu interesse está na realidade da vida cotidiana dos moradores do município de Resende Costa (MG), que constroem o mercado da tecelagem tradicional. A realidade atual desse mercado chama a atenção da sociedade do Campo das Vertentes e, a partir da década de 1990, de uma instituição de ensino superior que nela se localiza, a Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ). Entretanto, a especificidade desse fenômeno socioeconômico também chamou a atenção de outras instituições de ensino superior – Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – que a partir do final da década de 2000 e associadas com pesquisadores da UFSJ iniciaram estudos sobre a produção regional associada às atividades econômicas locais.

Santos e Silva (1997) e Santos et al. (1998) realizam os primeiros estudos para compreender a produção da tecelagem tradicional do município de Resende Costa (MG). A equipe responsável por esses trabalhos foi composta por docentes e discentes de cursos de graduação da UFSJ. Santos e Silva (1997), analisando aspectos geográficos e históricos do município, identificaram a primeira expansão do número de estabelecimentos comerciais que escoavam a produção têxtil local. Por

13

Abordagens que buscam compreender características, similaridades e diferenças entre mercado cultural e criativo podem ser analisadas em: CAVES, R. E. Criative industries: contracts between art and commerce. Cambridge: Harvard University Press, 2002; HARTLEY, J. Creative industries. Londres: Blackwell, 2005; MILLER, T. A view from a fossil: the new economy, creativity and consumption – two or three things I don’t believe in. International Journal of Cultural Studies, v. 7, n.1, p.55-65, mar. 2004; OAKLEY, K. Not so cool Britannia: the role of the creative industries en economic development. International Journal of Cultural

Studies, v. 7, n.1, p.67-77, mar. 2004; POTTS, J.; CUNNINGHAM, S.; HARTLEY, J.; ORMEROD, P. Social

network markets: a new definition of the creative industries. Journal of Cultural Economics, v.32, n.3, p.167- 185, sept. 2008; SEAMAN, B. Competition and the non-profit arts: the lost industrial organization agenda.

Journal of Cultural Economics, v. 28, n.3, p.167-193, Aug. 2004; SHORTHOSE, J. A more critical view of the

creative industries: production, consumption and resistance. Capital & Class, v. 84, p. 1-9, 2004; URICCHIO, W. Beyond the great divide: collaborative networks and the challenge to dominant conceptions of creative industries.

meio da história oral, os referidos autores relacionam a tecelagem do final do século XX com a produção doméstica têxtil herdada pelos moradores do local14. Santos et

al. (1998) visitaram moradores de 1.322 domicílios15, o que correspondeu a aproximadamente 97% dos domicílios registrados no perímetro urbano do município pelo Censo Demográfico de 1991, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com o objetivo de identificar quantos domicílios produziam a tecelagem tradicional desse território.

No início da década de 2000, outros trabalhos monográficos de cursos de graduação e pós-graduação “Lato Sensu” da UFSJ analisaram a produção têxtil do município. Os trabalhos de Resende, L. M. (2000) e Resende, R. L. (2005) fazem uso dos dados apresentados em Santos et al. (1998) para indicar possíveis impactos da produção têxtil na economia municipal. Já o trabalho de Resende, A. P. M. (2001) aborda o cotidiano das mulheres do Distrito da Lage que se ocupavam da produção doméstica têxtil na primeira metade do século XIX.

Com uma abordagem regional, Abreu (2002) reconhece alguns municípios do Campo das Vertentes como polos produtivos locais. A tese defendida na UFRJ propõe uma metodologia de ação para o desenvolvimento de redes dinâmicas em aglomerados de empreendimentos de base artesanal16 de quatro municípios da microrregião de São João Del Rei, em Minas Gerais. A definição da aglomeração de base artesanal é realizada com a atividade coureira nos município de Dores de Campos e Prados, a tecelagem de Resende Costa e a produção de biscoitos de São Tiago. Esse autor propõe que ações em rede apoiadas por mecanismos de integração poderiam propiciar efeitos multiplicadores de esforços para a criação de ganhos competitivos e de perspectivas de fortalecimento dos atores envolvidos.

14

Foram realizadas entrevistas com quatro artesãs reconhecidas localmente como detentoras dos conhecimentos sobre a tecelagem tradicional com a pioneira na comercialização de retalhos, com um tropeiro que comercializou produtos da tecelagem nas décadas de 1940 e 1950 e com duas proprietárias pioneiras de estabelecimentos comerciais de artigos da produção têxtil.

15

Esta pesquisa foi não probabilística, composta por uma amostra intencional, a partir do critério de relacionamento direto dos moradores e seus domicílios com alguma etapa do processo produtivo da tecelagem.

16

Para Abreu (2002, p. 58): “Empreendimentos de base artesanal são aqueles que produzem artefatos que emprega a técnica, ou o tirocínio do artesão”.

No final da década de 2000, as dissertações de mestrado de Oliveira (2006) e Pereira (2008)17 abordam aspectos ergonômicos e do ponto de vista do trabalho dos

tecelões diante das exigências competitivas da tecelagem do município de Resende Costa no princípio do século XXI. Os estudos apontam que o atendimento às pressões de demanda por aumento da produção têxtil podem acarretar aos trabalhadores problemas de saúde ocupacional (OLIVEIRA, 2006) e, no processo produtivo da tecelagem, a dispersão do conhecimento tradicional no decorrer das gerações dos moradores do município (PEREIRA, 2008).

Este trabalho pode ser considerado consequência de uma trajetória de formação de um pesquisador no trato de um fenômeno socioeconômico, por estar direta e indiretamente envolvido com a coleta dos dados, estudos e reflexões que foram desenvolvidos entre os anos de 1996 e 2008, especialmente nos referentes à realidade do mercado de produção da tecelagem tradicional do município de Resende Costa.