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4 RELAÇÕES SOCIAIS NOS MERCADOS: RACIONALIDADE E

4.2 Estrutura social do mercado: vínculos em redes sociais

4.2.1 Estrutura relacional dos mercados: uma influência da nova sociologia

A análise das redes sociais são utilizadas para compreensão de mercados como construções sociais12, por um lado, de forma interpretativa e, por outro lado, para testar ou apresentar graficamente os relacionamentos pessoais e coletivos que são construídos por vínculos sociais. Portanto, os estudos apresentados nos próximos parágrafos utilizam o conceito de rede social como categoria analítica sociológica para análise de relações sociais que estruturam e influenciam os mercados.

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Existem estudos sobre redes sociais que abrangem realidades da vida social que não se restringem à esfera econômica. Para uma análise de redes sociais como fator explicativo da variação de eficácia na ação coletiva, ver PRATES, A. A. P. Redes sociais em comunidades de baixa renda: os efeitos diferenciais dos laços fracos e dos laços fortes. Revista de Administração Pública, v.43, n.5, p. 1117-1146, set./out. 2009; PRATES, A. A. P.

et al. Capital social e redes sociais: conceitos redundantes ou complementares? In: AGUIAR, N. (Org.)

Desigualdades sociais, redes de sociabilidade e participação política. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007,

p. 47-59. Para uma análise de redes de organizações não governamentais de tecnologias alternativas agroecológicas para agricultura familiar, ver ABRAMOVAY, R. A rede, os nós, as teias: tecnologias alternativas na agricultura. Revista de Administração Pública, v.34, n.6, p. 159-177, nov./dez. 2000. Para uma análise de organizações não governamentais em regiões periféricas de São Paulo (SP) a partir da metodologia de redes sociais, ver LAVALLE, A. G.; CASTELLO, G.; BICHIR, R. M. Atores periféricos na sociedade civil: redes e centralidades de organizações em São Paulo. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v.23, n.68, p. 73-96, out. 2008. Para uma análise de relações de intermediação de interesses entre atores públicos e privados nas políticas urbanas do Estado de São Paulo e do Rio de Janeiro a partir da metodologia de redes sociais, ver MARQUES, E.C. Redes sociais e o poder no Estado brasileiro: aprendizados a partir das políticas urbanas.

Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 21, n.60, p.15-41, fev. 2006; MARQUES, E. C. Redes sociais e

instituições na construção do Estado e da sua permeabilidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 41, n. 41, out. 1999. Para uma análise de redes de famílias do Estado do Paraná e da cidade de Curitiba, que possuem poder a partir de relacionamentos econômicos e políticos, ver OLIVEIRA, R. C. Famílias, poder e riqueza: redes políticas no Paraná em 2007. Sociologias, ano 9, n.18, p. 150-169, jun./dez. 2007.Para uma análise de redes sociais que interferem nos critérios de escolha das nomeações para o alto escalão do Banco Central do Brasil, ver OLIVIERI, C. Política, burocracia e redes sociais: as nomeações para o alto escalão do Banco Central do Brasil. Revista de Sociologia Política, n.29, p. 147-168, nov. 2007. Para uma análise de redes sociais de relacionamentos na internet e governança de políticas públicas, ver PROCOPIUCK, M.; FREY, K. Redes de políticas públicas e de governança e sua análise a partir da Websphere Analysis. Revista de Sociologia

Conforme Raud (2009), tradicionalmente a sociologia econômica desenvolvida no Brasil contemplou temas do trabalho, desenvolvimento e das elites empresariais. Entretanto com o crescimento da nova sociologia econômica novos temas são enfatizados, como a empresa, os mercados, as finanças e o consumo. Os estudos brasileiros têm uma forte tendência analítica para as relações entre economia e política, porém, a análise estrutural e cultural não está ausente nos trabalhos nacionais (RAUD, 2009).

Magalhães e Abramovay (2007), Radomsky e Schneider (2007) e Lopes Júnior (2009) interpretam o fenômeno da construção social de mercados específicos a partir de redes sociais, por meio de pesquisas documentais, bibliográficas e de métodos qualitativos. Magalhães e Abramovay (2007) analisam a trajetória histórica da construção social de um mercado de microfinanças no sertão do Estado da Bahia, que possibilitou a inserção de populações rurais de baixa renda em mercados. Radmsky e Schneider (2007) mostram a importância das relações de reciprocidade para a formação de redes sociais de trabalho no município de Veranópolis (RS) e seus arredores. Lopes Júnior (2009) analisa as redes sociais do crime organizado a partir de transações econômicas e de instituições com a análise de relatórios de operações da Polícia Federal e de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) da Câmara de Deputados e das Assembleias Legislativas do Estado de São Paulo e do Rio Grande do Sul.

Neves e Helal (2007) e Varanda (2007), a partir de técnicas estatísticas de regressão logística, mostram os efeitos da participação em redes e associações em mercados específicos. Neves e Helal (2004), com o objetivo de analisar o efeito das redes de relacionamento, como capital social no mercado de trabalho da Região Metropolitana de Belo Horizonte (MG), testaram a hipótese de que “[...] mesmo controlando-se por variáveis de capital humano e origem socioeconômica, quanto maior o capital social de um indivíduo maior será sua chance de estar empregado” (p. 65). Chegaram à conclusão de que o capital social apresenta importante efeito na alocação dos indivíduos no mercado de trabalho, entretanto chamaram atenção para o fato de que este “[...] é um recurso que talvez seja melhor instrumentalizado por

aqueles que já têm maior estoque de outros tipos de capital (financeiro, humano ou cultural)” (p. 70). Varanda (2004) analisa o fracasso de ações de modernização do mercado comercial de um centro cultural de uma cidade portuguesa. Especificamente, a ação de modernização se referia à proposição de abertura dos estabelecimentos comerciais aos sábados à tarde. A hipótese formulada e confirmada foi de que, mesmo estando próximos fisicamente, esses segmentos não estavam articulados em uma rede associativa, o que impossibilitou a modernização do mercado.

Minella (2007) e Marques (2009a e 2009b) utilizam a metodologia de análise de redes para representar graficamente estruturas sociais de mercados. Minella (2007) apresenta, graficamente, a estrutura social das relações entre associações representativas de instituições financeiras e a origem dos ocupantes de suas diretorias por instituições, grupos ou conglomerados financeiros, ou seja, o ator econômico privado. O universo de pesquisa desse autor foi composto por um conjunto de 24 associações, que possuíam 229 diretorias e estavão localizadas em 17 países da América Latina. Minella (2007) mostra uma representação gráfica da estrutura social dessa relação e indica os atores econômicos centrais que ligam essas associações em diversos países.

Marques (2009a) mostra representações gráficas de redes sociais de 209 indivíduos pobres e 30 indivíduos de classe média habitando regiões periféricas da cidade de São Paulo (SP), identificando, por meio de estatística descritiva e de análise multivariada de dados, que existem nessas redes associações entre padrões de relação e sociabilidade dos indivíduos no acesso a bens e serviços disponíveis no mercado. Marques (2009b) dá continuidade ao seu estudo sobre famílias pobres da periferia de São Paulo. Entrevista 20 pessoas e observa que o acesso aos bens e serviços obtidos fora do mercado, como construção de habitações, pequenos reparos domiciliares, cuidados com crianças e acompanhamento de pessoas com doenças crônicas, apresenta níveis diferenciados de custos (material e afetivo) e de confiança entre os indivíduos. Em ambos os estudos de Marques (2009a, b), é destacado que o acesso ao primeiro emprego de jovens ou de trabalhadores

emigrantes de outras partes do país e também de trabalhadores com pouca ou nenhuma qualificação depende de relações familiares para o acesso ao mercado de trabalho.

Os estudos apresentados nos parágrafos anteriores utilizam a categoria analítica rede e até mesmo, de forma parcial, a metodologia de redes sociais. Entretanto, nenhum desses trabalhos relaciona a estrutura a medidas que expressam a intensidade dos vínculos, como sua densidade e a posição dos atores na rede. Essas análises quantitativas são possíveis, como mostrado no capítulo 5, com a utilização de análises de dados por meio de softwares que representam as estruturas dos vínculos entre atores e mostram o posicionamento destes em suas redes sociais.