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Antecedentes históricos das relações Angola – Namíbia

CAPÍTULO II – RELAÇÕES POLÍTICO-MILITAR UNITA-SWAPO (1961-1976)

3. Antecedentes históricos das relações Angola – Namíbia

Os grupos etnolinguísticos !Kun, Herero, Ovambo, Ovanyaneka-Nkhumbi (Nhyaneka-Humbe), Ovakavango, Ovimbundo, Ovabalose tinham formado reinos e ocupam a região localizada entre o rio Cunene e os rios Cuando e Cubango, que compreende desde o sul da República de Angola até à região norte da República da Namíbia367.Os ovambos apresentam um peso demográfico influente, constituindo cerca de 49,5 % da população atual namibiana368. Estes conjuntos sociais e políticos – antes da presença e conquista europeia, entre o século XIX e princípio do século XX–, formavam unidades políticas independentes a nível de uma nação, com suas leis, cultura, território e um rei a quem era reconhecido o poder. Estes reinos tinham estabelecido entre si relações comerciais, laborais e de amizades. Os ovimbundos dedicavam-se ao comércio na região de ovambo e de outros povos do sul de Angola e norte da Namíbia. A atividade comercial praticada por estes povos teria criado um ambiente fraternal entre eles.

De acordo com Helden Uulenga (2016), a população africana que vive, principalmente, na região situada entre sul de Angola e norte da Namíbia tem a mesma história e uma cultura semelhante. Existem povo bantu e povo não-bantu de origem africana nos dois lados da fronteira. Estes povos, no passado, praticavam o comércio nos dois lados da fronteira, mas depois da ocupação europeia o contexto mudou, dando azo a outra dinâmica e permitindo a emergência de novos atores369, no quadro das relações entre os habitantes da região.

A Conferencia de Berlim (1884-1885) motivou, entre outras a “corrida para a ocupação colonial da África” e instituiu princípios para as referidas ocupações. Neste quadro, a conquista europeia nesta região (entre Angola e Namíbia) foi marcada pela, inicialmente, confluência de interesse dos portugueses e alemães. A 30 de dezembro de 1886, foi rubricada a convenção luso-alemã que definiu a fronteira entre o sul de Angola e

366 O Acordo de Nova Iorque foram assinados entre Angola, Cuba e África do Sul, permitindo o fim da

intervenção das forças estrangeiras em Angola, proporcionou a implementação da resolução 435/78 da ONU, sobre a independência do Sudoeste Africano – que se concretizou a 21/03/1990 – e, consequentemente, estabeleceu bases para o fim do regime do apartheid na África do Sul, bem como o fim do comunismo e o fim da sua influência estrangeira na região. Ver em Júnior, Miguel (2014), p. 27.

367 Pélissier, René (2013), História das Campanhas de Angola, 3ª edição, Minho, Editorial Estampa, vol. 1, p.

79. Waals, W. S. Van Der (2015), Guerra e Paz: Portugal / Angola- 1961-1974, Alfragide, Casa das Letras, p. 55.

368 Rodrigues, António (2015), “Sam Nujoma”, em RA. Disponível em

http://www.redeangola.info/especiais/sam-nujoma/, consultado a 4 de agosto de 2017.

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o antigo Sudeste Africano. Nestes termos, os portugueses contentavam-se em ficar com o rio Cunene como limite costeiro das suas possessões, em troca do reconhecimento pela Alemanha de uma esfera de influência portuguesa aos territórios situados entre Angola e Moçambique a norte do Zambeze (mapa cor de rosa)370. O acordo luso-germânico (de 30 de dezembro de 1886) sobre a fronteira sul de Angola não destroçou a esperança da Alemanha em conquistar os territórios que correspondem atualmente ao sudoeste do território angolano371, nomeadamente o território Ovambo372, mas não teve sucesso. Depois de um período de resistência colonial desgastante e já com o exército reduzido, devido à traição de alguns dos seus comandantes militares e ao corte no fornecimento do material bélico por parte da Alemanha por causa da sua derrota na Primeira Guerra Mundial, estes povos sofreram pressão dos anglo-bóeres, a partir do Sudoeste Africano, e foram conquistados pelos portugueses, em 1917, após o suicídio do rei de Oukwanyma, Mandume ya Ndemufayo, marcou a conquista o último reduto africano independente na região sul de Angola, e em 1925 é conquistada a última região do leste, concluindo assim a ocupação efetiva portuguesa em Angola373. De acordo com John Reader (2002),

[…] Algumas fronteiras coloniais de África foram decididas na Europa por negociadores, que poucas considerações tinham pelas condições locais. As fronteiras atravessaram pelo menos cento e setenta e seis ″áreas culturais″ étnicas, dividindo unidades económicas e sociais preexistentes e distorcendo o desenvolvimento de regiões inteiras374.

Estes povos africanos, em alguns casos, tiveram que desenvolver a luta de resistência colonial conjuntamente, apesar de não terem tido êxito, acabando assim por serem conquistados e explorados. Devido a estes factos, era, e ainda é, comum observar cidadãos namibianos que têm parentes em Angola, principalmente na parte sul, bem como cidadãos angolanos que têm parentes a viverem na Namíbia. Este quadro foi evoluindo após a conquista e a administração sul-africana no Sudoeste Africano, pois registou-se uma mobilidade massiva de cidadãos de Angola para o Sudoeste Africano, motivados pela natureza do colonialismo português em comparação com a colonização anglo-bóer.

Segundo Pedro Tongeni (2016), a política de trabalho forçado e de trabalho subcontrato (1928) do governo colonial português que estipulava um salário “magro” aos africanos – ao que se recusassem a um contracto livre eram contratados forçosamente pelo

370 Pélissier, René (2013), História das Campanhas de Angola, 3ª edição, Minho, Editorial Estampa, vol. 1, p.

209.

371 Pedro, Leonardo T. (2015), Proposta para uma Harmonização Gráfica da Toponímia da Comuna de Ondjiva:

Aldeias, Bairros e Ruas, Dissertação de Mestrado em Terminologia a Gestão da Informação de Especialidade, Faculdade Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, p. 14.

372 Existem variações gráficas que apontam para o nome deste grupo (Ovampo, Ambó, etc.). Os falantes

autodenominam Ovawambo, mas preferimos usar a grafia oficial e usada na língua portuguesa - Ovambo.

373 Guebi, António (2008), Resistência à Ocupação Colonial do Sul de Angola – região dos Va-nyaneka-va-

nkhumbi e dos Va-Ambo (1850-1917), 1ª edição, Luanda, Editora Arte e Vida.

374 Reader, John (2002), África – biografia de um continente, Tradução portuguesa, Santa Sinta, Publicações

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Estado, com a intervenção das autoridades coloniais (polícia, seculos, sipaios e dos sobas) – que prestassem serviços de interesse público nas minas, nos caminhos de ferros, nas pescas e nas fazendas privadas, etc., garantindo ao fazendeiro a mão-de-obra-barata e sem o poder de escolha dos contratados, as condições consideradas sub-humanas, bem como o código de trabalho promulgado em 1940 que garantia o pagamento de baixíssimos salários (50 Escudos / mês) foram os principais fatores que levavam muitos angolanos, como alternativa, decidirem migrar para o Sudoeste Africano, Rodésia, Congo Belga e Congo Léopoldville trabalhar nos caminhos de ferros, pescas, minas, hotelarias, fazendas e fábricas375. O fuxo de «mobilidade da fronteira» existente entre ambas as nações foi estabelecida devido aos laços tanto históricos, como etnológicos que fazem exclusivamente parte de Angola e da Namíbia376.

No Sudoeste Africano o recrutamento de operários esteve a cargo da Associação de Trabalhadores Nativos do Sudoeste Africano / South West African Native Labour Association (SWANLA). O contrato era feito entre o trabalhador africano e a SWANLA. Por sua vez, os patrões contratavam a SWANLA, para que esta arranjasse trabalhadores, cumprindo a função de uma agência de emprego/trabalho forçado377. O crescente interesse de empregados pelas empresas do Sudoeste Africano fez deslocar vários cidadãos de Angola, sobretudo do Sul, para a Namíbia, que iam com o objetivo de procurar um contrato de trabalho. Nessa sequência, as autoridades portuguesas procuraram tirar benefícios no quadro de protocolos firmados com a administração sul-africana, levando assim o governo da colónia de Angola a fazer deslocar uma delegação portuguesa ao Sudoeste Africano em abril de 1964378. Pedro Tongeni (2016) afirma,

[…] as pessoas iam para o interior de Angola quase à força. Eu já fui rusgado para ser levado ao trabalho forçado, mas tive que saltar do carro, aproveitando o momento em que o veículo ficou preso no areal, e fugi. Na Namíbia havia melhores condições de trabalho, melhor pagamento e melhores produtos. Geralmente, tudo era de qualidade em relação a Angola. Inclusive, os produtos para dotes de alambamento quando eram adquiridos em Angola eram aceites com algum receio pelas famílias da noiva e pela sociedade em geral, devido à pouca qualidade, pois eram chamadas de «roupa de macau» [sacos de sisal]379.

375 Tongeni, Pedro (2010), Da escravatura ao trabalho forçado e o sistema de contratado em Angola, Ondjiva,

Sem Editora, pp. 7-8.

376 Penemote, Germano (2015), O «pântano» onde eu nasci: panorama histórico-geográfico e cultural de

Owambo face às inundações de 2008 – 2009 e à seca na região, Lisboa, Alêtheia Editores, pp. 21-23.

377 Shipanga, Andreas e Sue Armstrong (1989), Namíbia - A Luta pela Liberdade, Lisboa, Bertrand Editora,

Produção de Maria Luísa R. Corrêa, p. 33.

378 AHDMNE – Ofício nº: 2156/E-4-3, de 08-05-1963: Recrutamento de Mão-de-obra para o Sudoeste Africano,

Residência do Governo Geral de Angola (Luanda) para o Gabinete dos Negócios Políticos, para o Gabinete dos Negócios Estrangeiros. Ver também em: AHDMNE – Proc.43, 32 EC36. 11-04-1964: para o Sudoeste Africano Do Gabinete dos Negócios Políticos, para o Gabinete dos Negócios Estrangeiros.

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Na região de Ondangwa (Namíbia) observavam-se longas filas de voluntários que procuravam contratos de trabalho. Os patrões escolhiam trabalhadores da sua preferência (consoante o tipo de trabalhos que ofereciam). Para os trabalhos mais pesados (minas e caminhos-de-ferro) eram necessários homens mais robustos. Os menos robustos serviam para os trabalhos menos pesados (construção, agricultura, pesca e pecuária). Depois de ser selecionado, o trabalhador recebia um código, escrito numa chapa de chumbo que pendurava no pescoço ou atava no pulso (conhecido entre os trabalhadores por okaholo), que indicava o número de processo de cada indivíduo na SWANLA. As pessoas eram capazes de esperar vários meses para a possibilidade de serem selecionadas e contratados380.

Entretanto, o sistema de contrato de trabalho no Sudoeste Africano negava aos trabalhadores os mais básicos direitos humanos e sindicais. Na sequência desta conjuntura de factos, nos anos 1971 e 1972, as atividades políticas e, principalmente a luta armada, em Angola e na Namíbia, intensificaram-se. O movimento operário e o movimento estudantil no Sudoeste Africano, essencialmente dos liceus e dos colégios de Odibo, Ongwediva e Oshinghombo, intensificaram as suas atividades políticas e sindicais na sequência de o CSNU, a 30 janeiro 1970, e o Tribunal Internacional de Justiça, a 21 de junho de 1971, terem declarado ilegal a presença sul-africana no Sudoeste Africano. Os respetivos movimentos organizaram manifestações de apoio à decisão do Tribunal Internacional de Justiça, pedindo a independência do Sudoeste Africano. Como resposta, as autoridades sul-africanas encerraram todos os liceus envolvidos e prenderam os líderes dos movimentos, maioritariamente ovambo do norte do Sudoeste Africano e sul de Angola, tentando abafar toda a ação anticolonial381.

Em julho de 1971, as organizações estudantis e a União Nacional dos Trabalhadores Namibianos / National Union of Namibian Workers (NUNW), afeta à SWAPO, decidiram convocar uma manifestação contra o sistema de contrato de trabalho da SWANLA. A respetiva greve foi realizada no dia 1 de novembro de 1971 em Windhoek, Tsumeb, Grootfontein, Kombat, Oranjemund Lüderitz, Walvis Bay, Swakopmund, entre outras, e nela participaram cerca de 50 mil trabalhadores contratados pela SWANLA382.

Os líderes dos movimentos estudantis e trabalhistas foram presos no Sudoeste Africano, entre eles estavam Kandindina Nehova "Kandy”, Nduma, Daniel Silema, Daniel Namunganga, David Mweshitombo, Hishiwana Dishena, Namola, Shikalepo ya Haufiku. Alguns destes por serem angolanos do então distrito do Cunene foram transferidos para as

380 Ibidem.

381 Tongeni, Pedro (2010), Da escravatura ao trabalho forçado e o sistema de contratado em Angola, Ondjiva,

Sem Editora, pp. 8-13.

382 Shipanga, Andreas e Sue Armstrong (1989), Namíbia - A Luta pela Liberdade, Lisboa, Bertrand Editora,

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prisões de Angola. Também foram repatriados todos outros angolanos e retornados para o norte todos sudoestino-africanos contratados que estavam em greve para as suas terras de origem, principalmente, no norte do Sudoeste Africano e sul de Angola. Como consequência, o governo sul-africano perdeu número significativo da mão-de-obra barata por ter sido obrigado a abolir o sistema de contrato de trabalhadores, e o governo português perdeu as verbas que cobrava anualmente à SWANLA por cada trabalhador de Angola contratado, cerca de trezentos milhões de escudos anual. Nesse sentido, os trabalhadores ganharam muito no âmbito dos direitos reclamados refletidos nos objetivos da greve383.

Como consequência desta revolta, muitos cidadãos, considerados suspeitos, foram detidos e levados para a cadeia de São Nicolau (atual Bentiaba) e para as cadeias de Ondjiva, tendo sido libertados após o “25 de Abril de 1974”. Vários angolanos (provenientes, principalmente do distrito do Cunene) que se encontravam no Sudoeste Africano sob forma de contrato, formaram elementos ativos contra a política do regime sul-africano, através de manifestações e outras ações organizadas pelas duas alas da SWAPO384.

Não estamos perante a um caso novo, pois a 21 de fevereiro de 1965, no colóquio organizado pelo Movement for Colonial Freedom, Fanuel Jariretundu Kozonguizi, presidente do West African National Union (SWANU), movimento nacionalista do Sudoeste Africano, teria afirmado que “o Sudoeste Africano seria utilizado como base para uma invasão de Angola”, se porventura obtivesse a independência antes de Angola. Tal autonomia era sustentada num quadro de princípio étnico e ia ao encontro da política de concessão de autonomia sul-africana, defendida no Relatório da Comissão Odendaal para o Sudoeste Africano. Neste contexto, tudo indicava que qualquer Ovambo, mesmo nascido fora do Sudoeste Africano – no quadro de um eventual processo de independência da Ovambolândia –, teria direito de um voto, isto significava que qualquer cidadão do grupo étnico Ovambo da colónia de Angola poderia vir a ser considerado cidadão da Ovambolândia, desde que passassem a residir permanentemente neste território, cujo limite é uma linha imaginária partindo do rio Cunene até ao Cubango385.

No entanto, no período em que a autonomia da Ovambolândia (norte da Namíbia) se encontrava perto de ser consumada, as autoridades de Angola já admitiam a possibilidade desta ação ter tendências separatistas nativistas e pró-comunistas, que se desenvolviam, sobretudo, no norte da Namíbia, e que isso pudesse vir a ter reflexos, num

383 Entrevista a Pedro Tongeni, em Ondjiva, 02 de dezembro de 2016.

384 Tongeni, Pedro (2010), Da escravatura ao trabalho forçado e o sistema de contratado em Angola, Ondjiva,

Sem Editora, pp. 8-13.

385 AMU-GNP, Ofício nº U.L.352, informação nº 1235, a Independência de Ovambolândia e as suas

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futuro próximo, no sul de Angola386. À partida seria conveniente saber como o Governo- geral de Angola encarava a situação que podia decorrer desta circunstância387.

Estas relações sociais, económicas e políticas, consideradas simbióticas, entre o povo de Angola e o da Namíbia, continuaram durante o período de luta pela independência dos dois países e ainda existem. As relações de cooperação entre os povos autóctones e/ou movimentos de libertação de Angola e da Namíbia ocorreram em paralelo com a cooperação institucional entre os governos coloniais de Portugal e da África do Sul. Tudo girava em torno do desejo de conservar o último reduto da hegemonia na minoria branca na África Austral, face ao surgimento de movimentos de libertação nacional, que, por sua vez, passaram a cooperar entre si na luta contra o colonialismo e o racismo na região austral. Relativamente a esta temática, Ronald Dreyer (1988) afirma que,

[…] a África do Sul e Portugal [procuraram] manter o controlo colonial português em Angola numa tripla estratégia económica, política e militar, com vista a manter a hegemonia regional sul-africana. […] a África do Sul buscou um objectivo comum e muito familiar, criando um contexto político, económico e também militar para a segurança e prosperidade da República388.

De acordo com Luís Fernando Machado Barros (2012), as relações do governo colonial de Angola e da Sudoeste Africano/África do Sul podem ser discriminadas em três períodos: entre 1951 e 1960; entre 1960 e 1967; e entre 1968 e 1974. Segundo este autor, o primeiro período (entre 1951 e 1960) foi marcado pela tentativa de Pretória de assumir a hegemonia política no sul de África, pelo reforço do apartheid e pela desconfiança de Portugal das pretensões sul-africanas de assumir a primazia política de uma aliança de defesa militar para África a sul do Sahara. Estes fatores que motivaram uma certa relutância a Portugal em assumir qualquer compromisso oficial na África do Sul. As atenções de Portugal estavam mais viradas para a sua inclusão na NATO, empenhando-se em fazer valer a posição estratégica dos Açores para a defesa do Ocidente e, depois, para a preparação de uma ofensiva diplomática para a sua entrada na ONU. Com o apoio da Inglaterra, França e Bélgica esperava-se um alinhamento político que favorecesse o seu objetivo: a manutenção da soberania no ultramar, pelo que qualquer aproximação a Pretória, por causa do apartheid, poderia ter consequências desastrosas. O governo

386 AMU-GNP – doc. 307/15.009.8 (1), proc. nº 413, pasta H-9-8- Comissão Odendaal para o Sudoeste Africano,

(09-02-1962).

387 Arquivo do Ministério do Ultramar - Gabinete dos Negócios Políticos (AMU-GNP), Informação de

27/03/1967 (s/classificação), a independência da Ovambolândia e suas repercussões em Angola: a anexação da África Austral-ocidental (Sudoeste Africano).

388 Dreyer, Ronald (1988), The Search for Independence and Regional Security (1966-1988), Programme for

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português via a relação intensa com Pretória como um fator secundário da sua política externa389.

O segundo período, entre 1960 e 1967, é marcado pela forte pressão internacional anti-apartheid e pelo início da guerra colonial em Angola, considerada por Pretória uma importante barreira na sua defesa avançada. Devido ao afastamento dos seus aliados (EUA – administração Kennedy e Johnson –, França e Inglaterra), Portugal procurou uma aproximação a Pretória, sem o compromisso político que pudesse pôr em causa a sua “bandeira do multirracialismo”. O início dos confrontos em Angola tornou inevitável a colaboração de Pretória com Lisboa. À medida que o tempo passava, o governo sul- africano consolidava a ideia de que Portugal não conseguiria resolver sozinho o problema e, para além disso, colocava a possibilidade da queda de Salazar. Tais premonições acentuavam ainda mais a preocupação da África do Sul com o futuro da África Austral. Angola e Moçambique deveriam ser mantidos, enquanto colónias portuguesas, para evitar que o nacionalismo africano chegasse às portas da África do Sul, constituindo assim a sua primeira linha de defesa, onde se incluía também a Rodésia. Assim, em 1967, a África do Sul entrou definitivamente na estratégia operacional em Angola depois de convencer Salazar a aceitar intervenções diretas no sul da "província"390.

O terceiro período, entre 1968 e 1974, é marcado pela acessão de M. Caetano e a entrada de Richard Nixon na Casa Branca, que muda a política externa norte-americana para a África Austral, com o determinante papel de H. Kissinger como conselheiro para a Segurança Nacional da administração Nixon. O National Security Study Memorandum 39 (NSSM 39), o investimento norte-americano na África do Sul, a ameaça de expansão do comunismo e a influência soviética no Atlântico Sul e no Índico, que punha em causa o controlo da rota do Cabo, constituíam as principais questões no panorama dos assuntos externos dos EUA. No entanto, M. Caetano deixou os argumentos de defesa dos valores do Ocidente e do pluricontinentalismo e passou a referir a importância geoestratégica dos territórios portugueses na estratégia de defesa da NATO. Dos contactos entre África do Sul, Rodésia e Portugal surgiu em outubro de 1970, como uma evolução do "Plano de Contingência entre os Estados da África Austral", o "Exercício ALCORA”, que coordenava estratégias político-diplomáticas de defesa da África Austral bem como ações militares391.

389 Barroso, Luís F. Machado (2012), A Manobra Político-Diplomática de Portugal na África Austral (1951-

1974), Tese de Doutoramento em História, especialidade em Defesa e Relações Internacionais, Instituto Superior de Ciências do Trabalho e do Emprego – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Lisboa, pp. 11- 12 e p. 153.

390 Barroso, Luís F. Machado (2012), A Manobra Político-Diplomática de Portugal na África Austral (1951-

1974), Tese de Doutoramento em História, especialidade em Defesa e Relações Internacionais, Instituto Superior de Ciências do Trabalho e do Emprego – Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Lisboa, pp. 12 e 153-154.

391 Ibidem, pp. 12-13 e 337. Para mais informação sobre as relações e os esforços entre Portugal e África do

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Tendo em conta os objetivos deste trabalho, não pudemos descrever de forma profunda estudos sobre as relações entre Portugal e África do Sul, no quadro dos esforços para manter o domínio colonial nos seus territórios.