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11.106/2005 LEI Nº 11.106/2005 LEI Nº 12.015/2009

O crime tinha a rubrica de TRÁFICO DE MULHERES, o que limitava o sujeito passivo.

O crime passou a chamar-se TRÁFICO DE PESSOAS, retirou a limitação quanto ao sujeito passivo, permitindo que homens também figurassem como vítimas.

Passou a chamar-se TRÁFICO DE PESSOAS PARA FINS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL, e acrescentou o §3º.

Segundo a ONU a expressão tráfico de pessoas significa “O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração” (Protocolo de Palermo).

5.5.1 Sujeitos:

Ativo – crime comum (ou geral), qualquer pessoa pode praticá-lo.

Passivo – crime comum (ou geral), após o advento da Lei 11.106/2005, homens ou mulheres podem ser vítimas deste delito.

É a moralidade sexual pública e, em sentido amplo, a dignidade sexual. 5.5.3 Objeto material:

É a pessoa traficada. 5.5.4 Núcleos do tipo:

“Promover” – é arregimentar (associar) as pessoas, fazer tudo o que for necessário para que o tráfico internacional seja bem sucedido. A doutrina destaca que neste núcleo a vítima está em posição passiva, o interesse maior é do agente.

“Facilitar” – é auxiliar, diminuir os entraves legais. Aqui a doutrina destaca que há um

comportamento ativo da vítima, um interesse.

Obs.: mesmo com o comportamento ativo para exercer a prostituição, o bem jurídico tutelado é de interesse coletivo, por isso indisponível. Ou seja, é irrelevante o consentimento da vítima.

5.5.5 Elemento subjetivo:

É o DOLO + especial fim de agir (elemento subjetivo específico), consistente na intenção do agente de colaborar com a prostituição ou outra forma de exploração sexual da pessoa que faz entrar ou sair do país.

Obs.: esse elemento subjetivo específico extrai-se do próprio nomen juris do crime. Não há previsão de modalidade culposa.

Artigo 231, §3º do CP – dispensa-se a finalidade de lucro, caso esta ocorra aplica-se a multa. 5.5.6 Consumação e tentativa:

Há polêmica na doutrina quanto à consumação do delito do artigo 231 do CP, uns dizem ser crime FORMAL (de consumação antecipada, ou de resultado cortado) outros ser crime MATERIAL (ou causal).

1ª Corrente (Luis Régis Prado e Cleber Masson) – para aqueles que reconhecem a natureza FORMAL do delito, este se consuma com o ingresso da pessoa estrangeira em território nacional, bem como com a saída de brasileiro (a) de nosso território, com a finalidade de exploração sexual.

2ª Corrente (Rogério Greco e Guilherme de Souza Nucci) – a redação do artigo 231 do CP não permite o reconhecimento do caráter formal deste delito, já que expressamente prevê resultado naturalístico quando diz “venha a exercer a prostituição ou outra forma de exploração sexual” (referindo-se a entrada de estrangeiro no Brasil) e “vá exercê-la no estrangeiro” (referindo-se à saída de brasileiro).

Quanto a tentativa, também, há polêmica doutrinária, mas prevalece o entendimento de que é possível em função do caráter plurissubsistente do crime (nesse sentido: Rogério Greco, Cléber Masson e Edgard Magalhães Noronha).

5.5.7 Ação penal:

Ação penal pública incondicionada. 5.5.8 Figuras equiparadas:

Artigo 231, §1º do CP:

O tipo penal do caput limita-se na entrada ou saída de pessoas com o fim de exploração sexual, sabemos que o fenômeno de tráfico de pessoas é muito mais complexo que isso, inclui “compradores”, “atravessadores”, “agenciadores”, entre outras espécies de pessoas ligadas à exploração sexual. Por essa razão o legislador previu a extensão de pena do artigo 231, §1º do CP.

“Agenciar” – empresariar, representar. Antes do advento da Lei nº 12.015/2009, existia o núcleo “intermediar”, concordamos com Cleber Masson sobre a inaplicabilidade do abolitio criminis, mas mera modificação formal (o fato continua revestido de tipicidade formal).

“Aliciar” – atrair, seduzir, recrutar.

 “Comprar” – reduz o ser humano à categoria de mercadoria, ou seja, adquirir a pessoa traficada.

“Transportar” – conduz ou leva para outro lugar.

“Transferir” – deslocar, mudar de local.

“Alojar” – acomodar, hospedar, abrigar.

Obs.: quanto aos três últimos núcleos é fundamental que a pessoa que transporta, transferi ou aloja tenha conhecimento da condição da pessoa traficada para fins de exploração sexual (o tipo exige o DOLO DIRETO).

5.5.9 Causas de aumento de pena: Artigo 231, §2º do CP:

A) Inciso I – menor de 18 anos.

B) Inciso II – trazida pela Lei nº 12.015/2009. C) Inciso III – condição do sujeito ativo.

D) Inciso IV – Violência – emprego de força física contra a vítima, mediante lesão corporal ou vias de fato; Grave ameaça – é a promessa de mal injusto, grave e passível de realização; Fraude – é o artifício ou ardil destinado a ludibriar a vítima.

Tais meios de execução facilitam a empreitada criminosa, pois subjugam ou enganam a vítima, reduzindo sua possiblidade de resistência.

5.5.10 Competência:

Artigo 109, V da CRFB/1988 – trata-se de CRIME À DISTÂNCIA17. O Brasil é signatário da Convenção para a Repressão do Tráfico de Pessoas e do Lenocínio (Decreto 46.981/1950), portanto, competência da JUSTIÇA FEDERAL (nesse sentido: STJ, CC nº 47.634/PR, 3ª Seção, Rel. Min. Paulo Medina, DJ 27/08/2007, p. 188).

5.6 Tráfico interno de pessoa para fim de exploração sexual (artigo 231-A do CP):

Mais uma vez nosso legislador cria um tipo penal autônomo desnecessário, o que demonstra grave falta de técnica legislativa. Bastava criar um tipo de tráfico de pessoas para fins de exploração sexual, e na sua redação especificar os casos nacionais e internacionais.

Trata-se de crime criado pela Lei nº 11.106/2005 e alterado pela Lei 12.015/2009, que acrescentou a finalidade “exploração sexual” ao nomen juris do tipo e mais dois parágrafos.

NÃO analisaremos o tipo penal do artigo 231-A do CP por ser muito semelhante ao artigo 231 do CP, vamos nos ater às diferenças:

ARTIGO 231 DO CP ARTIGO 231-A DO CP

“Promover ou facilitar a entrada, no território nacional […] ou a saída de alguém […]”.

“Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional […]” Pena – Reclusão, de 3 a 8 anos.

A pena mais grave para o tráfico internacional justifica-se em razão dos riscos e privações ocasionados pela entrada em território desconhecido.

Pena – Reclusão, de 2 a 6 anos.

Competência – Justiça Federal (artigo 109, V da CRFB/1988 e STJ, CC nº 47.634/PR, 3ª Seção, Rel. Min. Paulo Medina, DJ 27/08/2007, p. 188).

Competência – Justiça Estadual.

CUIDADO: A atribuição da PF e NÃO se confunde com a competência da Justiça Federal. Caso haja repercussão interestadual, a PF poderá investigar (artigo 144, §1º, I da CRFB/1988.

6. Do ultraje público ao pudor (Capítulo VI do Título VI do CP –

artigos 233 e 234 do CP):

Segundo Aurélio (1993, p. 450) a palavra “pudor” consiste em “sentimento de vergonha, de mal-estar, gerado pelo que pode ferir a decência, a honestidade, a modéstia; pejo”. Trata-se de conceito mutável com o passar dos anos, com o lugar de consumação do ato atentatório ao pudor (variável no tempo e no espaço), portanto, o PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL deve servir de “termômetro” para determinar o pudor médio.

A principal demonstração deste termômetro são as questões de liberdade de expressão, devemos lembrar que o Direito Penal funciona como ultima ratio e existem outros

17 Sua execução tem início em território nacional, e o resultado ocorre ou ao menos deveria ocorrer em país diverso, ou vice-versa.

meios (ex: crítica) para deliberar questões que afrontam o pudor público e ao mesmo tempo são manifestações da liberdade de expressão (nesse sentido: STF, HC nº 83.996/RJ e STJ, HC nº 7.332/SP).

O que o Direito Penal tutela são aqueles atos verdadeiramente ofensivos às pessoas, que denotam uma afronta ao sentimento público de moralidade e pudor, ainda que nos dias de hoje esse seja um conceito de difícil precisão.

6.1 Ato obsceno (artigo 233 do CP):

Veda a prática de atos obscenos, estes podem ser praticados de diferentes maneiras, contudo, é fundamental que advenha da EXPRESSÃO CORPORAL DO AGENTE (conduta positiva). Portanto, as palavras obscenas não configuram o delito do artigo 233 do CP, podendo, a depender do caso concreto, se amoldar à contravenção penal de IMPORTUNAÇÃO OFENSIVA AO PUDOR (artigo 61 do Decreto-lei nº 3.688/1941 – Lei de Contravenções Penais), ou até um CRIME CONTRA A HONRA.

Trata-se, pois, de um conceito eminentemente normativo, que demanda juízo de valor para sua total compreensão. Como dito alhures, o Princípio da Adequação Social deve servir de termômetro para identificação do pudor médio (GRECO, p. 801).

Por lugar público, aberto ao público e exposto ao público compreendemos: