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Mediação para servir a lascívia de outrem (artigo 227 do CP):

ESPÉCIE DE AÇÃO PENAL CRIMES EM ESPÉCIE:

5.1 Mediação para servir a lascívia de outrem (artigo 227 do CP):

Como se trata da primeira conduta prevista no Capítulo V do Título VI convencionou-se chama-la de LENOCÍNIO PRINCIPAL, em oposição as demais subsequentes denominadas de lenocínio acessório.

5.1.1 Sujeitos:

Ativo – crime comum (é o chamado PROXENETA ou ALCOVITEIRO);

Obs.: aquele que vê sua lascívia satisfeita não responde por nenhum crime, já que o tipo exige satisfação da lascívia de OUTREM (Rogério Greco, Rogério Sanches, Cleber Masson, entre outros).

Passivo – crime comum e, mediatamente, a coletividade.

Obs.: Prostituta não pode ser sujeito passivo (fato atípico), pois não é induzida, mas se presta, voluntariamente, à lascívia de outrem (TJSP, AC, Rel. Costa Lima, RT 487, p. 387).

IDADE DA VÍTIMA CRIME

18 anos ou mais Artigo 227, caput do CP

Maior de 14 anos e menor de 18 anos Artigo 227, §1º, 1ª parte do CP

Menor de 14 anos Artigo 218 do CP

No dia do aniversário de 14 anos Artigo 227, caput do CP14 5.1.2 Objetividade jurídica (ou bem jurídico tutelado):

14 Em sentido contrário, defendendo a figura qualificada descrita no artigo 227, §1º, 1ª parte do CP: ESTEFAM, André. Crimes Sexuais. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 103.

É a DIGNIDADE SEXUAL e a MORALIDADE PÚBLICA. 5.1.3 Objeto material:

É a pessoa induzida a satisfazer a lascívia de outrem. 5.1.4 Núcleo do tipo:

“Induzir” – no sentido de criar na mente, como também de convencê-la à prática do comportamento previsto no tipo penal.

ATENÇÃO: Diferentemente da Corrupção de Menores (artigo 218 do CP) a satisfação da lascívia abrange não apenas a contemplação passiva, mas, também, atos sexuais (conjunção carnal e outros atos libidinosos) e qualquer atividade direcionada ao prazer erótico.

A conduta deve ser direcionada à pessoa ou pessoas determinadas, pois o tipo penal prevê a elementar ALGUÉM. Se a conduta voltar-se para pessoas indeterminadas estaremos diante do crime de favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual (artigo 228 do CP).

Do mesmo modo, se verifica o artigo 228 do CP se a vítima recebe do terceiro alguma contraprestação em dinheiro.

5.1.5 A questão para satisfação da lascívia alheia e o artigo 241-D do ECA:

Em regra, a conduta “instigar” (reforçar a ideia já existente) não caracteriza crime (fato atípico), salvo quando voltada para criança (menores de 12 anos), e a instigação relacionar-se a ato libidinoso a ser realizado com o próprio instigador, estará caracterizado o crime de aliciamento de criança para fins libidinosos (artigo 241-D do ECA).

5.1.6 Consumação e tentativa:

Crime material (ou causal), é imprescindível a realização de algum ato sexual pela vítima, voltado à satisfação de lascívia de alguém. A tentativa é possível (crime plurissubsistente).

5.1.7 Ação penal:

Ação penal pública incondicionada.

ATENÇÃO: Aos crimes do Capítulo V não se aplicam as disposições do artigo 225 do CP. 5.1.8 Figuras qualificadas:

A) Artigo 227, §1º do CP:

1ª parte – diz respeito à idade da vítima (maior de 14 anos e menor de 18 anos). Parte final – diz respeito à qualidade do sujeito ativo.

Obs.: o rol da parte final do artigo 227, §1º do CP é TAXATIVO, não se admite analogia in malam partem.

B) Artigo 227, §2º do CP:

A lei impõe concurso material obrigatório entre a figura qualificada da mediação para servir a lascívia de outrem e o crime resultante da violência (lesão corporal de qualquer espécie, homicídio consumado ou tentado, etc), somando-se as penas.

Obs.: as vias de fato são absorvidas em razão da regra do artigo 21 do Decreto-lei nº 3.688/1941 (Lei das Contravenções Penais).

Violência – é o emprego de força física contra alguém, mediante lesão corporal ou vias

de fato;

Grave ameaça – é a promessa de mal injusto, grave e passível de realização;

Fraude – é o artifício ou ardil utilizado para ludibriar alguém.

Obs.: tais meios de execução facilitam a prática do crime, pela coação ou pelo engano da vítima, e a ela causam maiores danos. Estes são os fundamentos justificadores do tratamento penal mais rigoroso.

5.1.9 Artigo 227, §3º do CP ≠ artigo 230 do CP (rufianismo):

ARTIGO 227, §3º DO CP ARTIGO 230 DO CP

Espécie de LENOCÍNIO MERCENÁRIO (ou QUESTUÁRIO).

Espécie de LENOCÍNIO MERCENÁRIO (ou QUESTUÁRIO).

Chamado de LENOCÍNIO PRINCIPAL. Chamado de LENOCÍNIO ACESSÓRIO. A pessoa explorada não se prostitui, e o

delito é INSTANTÂNEO, ou seja, para sua consumação basta um único ato de induzir alguém a satisfazer a lascívia alheia.

A pessoa explorada exerce a prostituição, e sua consumação reclama HABITUALIDADE, pois o agente tira proveito da prostituição alheia, participando diretamente dos seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça.

5.1.10 Mediação para satisfazer a lascívia de outrem e realização de ato sexual consentido com pessoa menor de 18 anos e maior de 14 anos de idade:

PERGUNTA: Pensemos um exemplo: Caio pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso, de forma consensual, com Lara, pessoa maior de 14 e menor de 18 anos de idade, mediado por Tício, um famoso proxeneta. Quais crimes devem ser imputados a Caio e Tício?

Caio – não há que se falar em estupro de vulnerável (artigo 217-A do CP), pois Lara é maior de 14 anos, tampouco, em estupro qualificado (artigo 213, §1º do CP), pois o ato fora consentido. Não há que se falar em mediação para servir lascívia de outrem qualificada (artigo 227, §1º, 1ª parte do CP), haja vista que o tipo se aplica somente ao proxeneta, e não ao destinatário do ato sexual. Finalmente, não há que se falar em corrupção de menores (artigo 218 do CP), pois a vítima não é menor de 14 anos. FATO ATÍPICO em face do vácuo legislativo.

Tício – será responsabilizado pela mediação para servir a lascívia d outrem, em sua forma qualificada (artigo 227, §1º, 1ª parte do CP), em decorrência da idade da vítima.

5.2 Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual (artigo

228 do CP):

Inicialmente, vale lembrar que a PROSTITUIÇÃO, em si, é um INDIFERENTE penal. Há quem sustente seu papel social, considerando um “mal necessário”, já que diminui os casos de violência sexual.

Existem três sistemas para o tratamento da prostituição:

a) O da regulamentação – tem escopo higiênico, a fim de prevenir a disseminação de doenças venéreas e também a ordem e a moral públicas. Restringe a prostituição a determinadas áreas das cidades e, submetem as prostitutas a exames médicos regulares (ex: Holanda). As pessoas prostituídas possuem carteira assinada, plano de saúde e aposentadoria.

CRÍTICA: altamente estigmatizante para os prostituídos.

b) O da proibição – a prostituição é tratada como infração penal (ex: EUA e países árabes).

CRÍTICA: elimina completamente a liberdade sexual.

c) O abolicionista – não se responsabiliza criminalmente quem se prostitui; no entanto, aqueles que contribuem para seu exercício são punidos (ex: artigo 228 do CP).

Contudo, após a Lei nº 12.015/2009 o tipo penal passou a ser mais abrangente, incluindo o ELEMENTO NORMATIVO DO TIPO15 “exploração sexual”. Como vimos, o I Congresso Mundial contra a Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes estabeleceu que existem quatro formas de exploração sexual: prostituição, pornografia, turismo sexual e tráfico de pessoas para fins sexuais.

ATENÇÃO: Exploração Sexual ≠ Violência Sexual ≠ Satisfação Sexual (entre adultos e capazes de discernir, visando o prazer).

5.2.1 Sujeitos:

Ativo – crime comum ou geral (qualquer pessoa pode cometê-lo);

Passivo – crime comum ou geral (qualquer pessoa pode ser vítima – homem ou

mulher).

Obs.: o Professor Guilherme de Souza Nucci entende que a pessoa já prostituída não pode ser sujeito passivo do delito. Acerta o autor quanto aos núcleos “induzir” e “atrair”, pois não se faz criar a ideia de prostituição em pessoa já inserida nesta vida. Porém quanto aos núcleos “impedir” e “dificultar” parece clara a intenção do

legislador em proteger os já prostituídos que almejam retirar-se dessa vida. Do mesmo modo, o verbo “facilitar” é dar facilidades a quem já se encontra prostituído (Nesse sentido: Luiz Regis Prado).

ATENÇÃO: Pelo Princípio da Especialidade se a vítima for menor de 18 anos ou que, por enfermidade ou doença mental, não tenha discernimento para a prática do ato estaremos diante do crime do artigo 218-B do CP.

5.2.2 Objetividade jurídica:

É a DIGNIDADE SEXUAL e a MORALIDADE SEXUAL. 5.2.3 Objeto material:

É a pessoa (homem ou mulher). 5.2.4 Núcleos do tipo:

São quatro verbos previstos no tipo penal:

“Induzir” – fazer nascer a ideia, convencer;

“Atrair” – fazer com que a pessoa se sinta estimulada, basicamente tem o mesmo sentido de “induzir”, são situações muito parecidas e de difícil separação (ex: prometendo perspectivas de riquezas, etc).

“Facilitar” – simplificar o acesso, quando o agente sem “induzir” ou “atrair” a vítima,

proporciona-lhe meios eficazes de exercer a prostituição, arrumando-lhe cliente, colocando-a em lugares estratégicos, etc.

INDUZIR ATRAIR FACILITAR

A vítima não se encontra prostituída.

A vítima não se encontra prostituída.

O agente permite que a vítima, já entregue ao comércio carnal, nele se mantenha com o seu auxílio, com as facilidades por ele proporcionadas.

“Impedir” – vedar ou obstar (ex: o explorador a mantém na prostituição para saldar dívidas extorsivas).

“Dificultar” – atrapalhar, criar embaraços.

Obs.: trata-se de TIPO PENAL MISTO ALTERNATIVO (crime de ação múltipla ou de conteúdo variado).

5.2.5 Elemento subjetivo:

5.2.6 Consumação e tentativa:

Nas modalidades “induzir” e “atrair” o crime se consuma quando a vítima dá início a exploração sexual, mesmo que, ainda, não tenha praticado qualquer ato vinculado ao comércio carnal.

Obs.: crime INSTATÂNEO (sua consumação ocorre em um momento determinado, sem continuidade no tempo). Na modalidade “impedir” a doutrina diverge sobre a permanência do crime.

Na modalidade “facilitar” o crime se consuma quando o agente (proxeneta) pratica algum ato que proporcione meios eficazes à prostituição.

Nas modalidades “impedir” e “dificultar” o crime se consuma quando a vítima está decidida a sair e o proxeneta não permite ou torna onerosa a concretização de sua vontade. Obs.: na modalidade “dificultar”, o crime estará consumado mesmo que a vítima supere os obstáculos e consiga abandonar a prostituição ou outra forma de exploração sexual.

Em todas as hipóteses o crime é MATERIAL (ou causal), pois a consumação requer o exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual pela vítima.

A tentativa é possível (em sentido contrário: Nucci). 5.2.7 Ação penal:

Em qualquer das suas formas a ação penal é PÚBLICA INCONDICIONADA. 5.2.8 Figuras qualificadas:

A) Artigo 228, §1º do CP:

A qualificadora relaciona-se à qualidade subjetiva do sujeito ativo. B) Artigo 228, §2º do CP:

Recordando que:

Violência – emprego de força física contra alguém, mediante lesão corporal ou vias de fato.

Grave ameaça – é a promessa de mal injusto, grave e passível de realização. Fraude – é o artifício ou ardil utilizado para ludibriar alguém.

Obs.: concurso material obrigatório. Salvo para vias de fato (artigo 21 do Decreto-lei nº 3.688/1941 – Lei de Contravenções Penais).

5.2.9 Proxenetismo mercenário: