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Art. 288 do CP – “Associarem-se mais de 3 pessoas, em quadrilha ou bando para o fim de cometer crimes: Pena – Reclusão, de 1 a 3 anos”.

Art. 288 do CP – “Associarem-se 3 ou mais pessoas para o fim específico de cometer crimes: Pena – Reclusão, de 1 a 3 anos”. Requisitos – união estável e permanente de

“mais de 3 pessoas” (número mínimo de 4 pessoas).

Requisitos – união estável e permanente de “3 ou mais pessoas” (número mínimo de 3 pessoas).

Nomen juris – quadrilha ou bando.

A doutrina questionava se havia diferença entre os dois termos, representando dois crimes ou crime único:

1ª Corrente (Heleno Cláudio Fragoso) – quadrilha = bando. Não se exige constituição formal, bastando uma organização de fato, podendo ser rudimentar, dispensando, inclusive que todos os membros se conheçam – MAJORITÁRIA.

2ª Corrente (José Henrique Pierangeli) – quadrilha ≠ bando. A lei não contém palavras inúteis, o CP utilizava a conjunção alternativa “ou”, não tendo sentido conferir dois nomes para um único crime. As diferenças eram:

a) Local de atuação – quadrilha (área urbana) e bando (área rural);

b) Estrutura hierarquizada – quadrilha (organização estruturada e separação hierarquizada de funções) bando (desorganização interna e precariedade na repartição das funções).

Obs.: contudo, a pena era sempre a mesma para ambos os casos.

Nomen juris – associação criminosa.

É a “associação estável e permanente de 3 ou mais pessoas com o fim específico de cometer uma série indeterminada de crimes, que pode ser de igual natureza (ou homogênea) ou de natureza diversa (ou heterogênea)” (BRASILEIRO, 2014, p. 602). Obs.: segundo Guilherme de Souza Nucci, a inserção da palavra “específico” não tem nenhum efeito prático, somente traz a ideia de que o tipo penal demanda ESTABILIDADE e DURABILIDADE para sua consumação, logo, associação criminosa não é um simples concurso de agentes.

PERGUNTA: Houve abolitio criminis do crime de quadrilha ou bando?

“Não há falar em abolitio criminis, pois a conduta antes incriminada como quadrilha ou bando continua sendo tipificada pela nova redação conferida ao artigo 288, caput, do Código Penal, agora sob o nomen iuris de associação criminosa. Se a tipificação do crime de quadrilha ou bando demandava a associação estável e permanente de pelo menos 4 (quatro) pessoas,

não se pode negar que tal conduta continua sendo tratada como tipo penal incriminador pelo art. 288, caput, do CP, que, doravante, exige apenas a presença de 3 (três) pessoas. Em termos bem simples, toda quadrilha ou bando composta por 4 (quatro) pessoas já caracterizava uma associação criminosa, que se satisfaz com o número mínimo de 3 (três) indivíduos. Por consequência, por força do princípio da continuidade normativo-típica, todo e qualquer preceito constante do Código Penal ou da legislação especial que faça referência ao antigo crime de quadrilha ou bando continua válido. É o que ocorre, a título de exemplo, com a figura qualificada do crime de extorsão mediante sequestro constante do art. 159, §1º, do CP, que prevê pena de reclusão, de 12 (doze) a 20 (vinte) anos, se o sequestro dura mais de 24 (vinte e quatro) horas, se o sequestrado é menor de 18 (dezoito) ou maior de 60 (sessenta) anos, ou se o crime é cometido por bando ou quadrilha. Todavia, onde se lê ‘quadrilha ou bando’, deverá se ler, a partir da vigência da Lei nº 12.850/13, ‘associação criminosa’” (BRASILEIRO, 2014, p. 602).

1.1. Sujeitos:

Ativo – crime comum (ou geral), qualquer pessoa pode praticar associação criminosa (artigo 288 do CP).

Passivo – crime vago, figurando como sujeito passivo a SOCIEDADE, que tem sua paz perturbada diante da atuação do grupo criminoso.

1.1.1 Inimputáveis como integrantes da associação criminosa (artigo 288 do CP):

ATENÇÃO: Doutrina e jurisprudência acordam que para a configuração do delito de associação criminosa (artigo 288 do CP), deve haver apenas um imputável no número mínimo de 3 pessoas que o dispositivo legal exige. Ou seja, havendo um maior e capaz e os demais menores, persiste o crime de associação criminosa (artigo 288 do CP), o maior respondendo por crime e os inimputáveis por ato infracional, nos termos da Lei nº 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA).

CUIDADO: É fundamental que o inimputável tenha certo discernimento para a prática do delito, sob pena de não ser computado no número mínimo de 3 pessoas (ex: Caio e Dalva utilizam seu filho Juninho, de apenas 4 anos, para praticar furtos no semáforo. Logo após o menino pedir esmola aos carros, o pai e a mãe enquadram os motoristas. Juninho sabe o que faz? A resposta só pode ser negativa, não configurando hipótese de associação criminosa – artigo 288 do CP).

1.1.2 Agentes não identificados:

PERGUNTA: O Ministério Público pode oferecer denúncia pelo crime de associação criminosa (artigo 288 do CP), para duas pessoas que foram identificadas, sendo que a terceira pessoa não fora?

Sim21, desde que haja certeza da existência desse terceiro componente integrante da associação criminosa (ex: testemunha, interceptação telefônica, documentos, etc.), sem prejuízo da continuidade das investigações policiais.

“O fundamento nessa hipótese, frise-se, é a convicção, a certeza cabal de que outras pessoas faziam parte do grupo criminoso, perfazendo o total mínimo exigido pelo tipo penal em estudo, vale dizer, 3 (três) pessoas. Isso será suficiente para a incriminação dos agentes que foram descobertos e denunciados” (GRECO, 2014, p. 914).

1.1.3 A problemática inerente à admissibilidade da participação nos crimes de associação criminosa:

A doutrina sempre discutiu a respeito da possiblidade de participação, modalidade de concurso de pessoas, nos crimes de quadrilha ou bando, persiste a problemática na associação criminosa (artigo 288 do CP). Existem duas posições a respeito:

1ª Corrente – não é admissível a participação no crime de associação criminosa (artigo 288 do CP) em função do seu caráter PLURISSUBJETIVO, ou seja, aquele que de qualquer modo concorrer para a associação criminosa deve ser considerado autor.

2ª Corrente (Esther Figueiredo Ferraz) – admite a participação no crime de associação criminosa (artigo 288 do CP), quando sua conduta não é voltada para atos executórios de qualquer dos delitos. Explica Cleber Masson (2013, p. 398): “[…] é preciso que o crime esteja completo em todos os seus elementos, e o partícipe figure como pessoa diversa dos sujeitos essenciais, isto é, das quatro22 pessoas (no mínimo) indispensáveis para a constituição da associação ilícita” (MASSON, 2013, p. 398).

Ex: Jonas, sobrinho de Robert, famoso por deter uma associação criminosa que pratica roubos e furtos em caixas eletrônicos, empresta seu carro, sabendo que seria usado para fins ilícitos. Jonas auxiliou a associação criminosa de seu tio Robert, mas sem integrar sua estrutura.

1.1.4 Abandono por um integrante da associação criminosa depois de formada:

PERGUNTA: Na hipótese em que, depois de formada a associação criminosa (artigo 288 do CP), o agente desiste de integrar sua estrutura, abandonando-a, podemos aplicar a desistência voluntária (artigo 15 do CP)?

Não, vale recordar que a desistência voluntária (artigo 15 do CP) somente se aplica quando o agente não consumou a infração penal. Sua saída pode, dependendo do caso concreto, quebrar o número mínimo de 3 pessoas exigido pelo artigo 288 do CP.

1.1.5 Prática de delito pelo grupo, sem o consentimento de um de seus integrantes:

21 Nesse sentido: STF, HC nº 77.570/MG, rel. Min. Moreira Alves, 1ª Turma, julgado em 20/10/1998. Ainda que o referido julgado tenha sido proferido antes da Lei nº 12.850/2013 sua inteligência ainda se aplica aos casos atuais.

22 Leia-se 3 pessoas, já que o livro é anterior à Lei nº 12.850/2013, mas sua inteligência perfeitamente aplicável ao ordenamento atual.

A associação criminosa deve ser formada com caráter duradouro (jamais eterno), para a prática de número indeterminado de crimes, de igual natureza (homogêneos) ou de natureza distinta (heterogêneos).

Contudo, para que o sujeito ativo tenha responsabilidade sobre ato praticado pela associação criminosa é fundamental que detenha conhecimento, sob pena de incidir a responsabilidade objetiva.

1.1.6 Concurso de pessoas como qualificadora ou majorante de crime:

Determinados tipos penais tem qualificadoras ou majorantes pelo concurso de pessoas (ex: artigos 155, §4º, IV, 157, §2º, II e 158, §1º, 1ª parte, todos do CP), demonstrando maior reprovabilidade daquelas condutas. A doutrina se divide sobre a incidência ou não de bis in idem, quando os agentes praticam tais delitos em concurso com associação criminosa (artigo 288 do CP).

1ª Corrente (Weber Martins Batista e Cleber Masson – STF23 e STJ24) – não há que se falar em bis in idem, posto que a pluralidade de indivíduos é atestada em momentos completamente distintos. No mais, são crimes autônomos e que tutelam bens jurídicos distintos, com momentos consumativos também diferentes.

2ª Corrente (Rogério Greco) – a reunião de pessoas serve duas vezes para punir o agente, constituindo verdadeiro bis in idem. Nessa corrente não é permitido o concurso entre o crime de associação criminosa com qualquer outra infração penal em que o concurso de pessoas seja utilizado como qualificadora ou majorante.

1.1.7 A questão à imputação na denúncia: deve o MP detalhar a conduta de cada um dos membros da associação criminosa?

Duas correntes se dividem sobre o assunto:

1ª Corrente – o MP deve detalhar a conduta de cada um dos integrantes da associação criminosa (artigo 288 do CP), sob pena de se violar a ampla defesa (artigo 5º, LV da CRFB/1988), já que o acusado não saberia do que se defender, uma vez que sua conduta não fora individualizada.

2ª Corrente (STF e STJ) – admite-se a denúncia genérica, bastando para a satisfação dos requisitos da inicial a demonstração da associação de pelo menos 3 pessoas para a prática do crime.

1.1.8 Extinção da punibilidade de um dos integrantes da associação criminosa (artigo 288 do CP):

23 Nesse sentido: STF, HC nº 77.287/SP, rel. Min. Sydney Sanches, 1ª Turma, julgado em 17/11/1998 e HC nº 70.395/RJ, rel. Min. Paulo Brossard, 2ª Turma, julgado em 08/03/1994.

24 Nesse sentido: STJ, HC nº 123.932/SP, rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, 5ª Turma, julgado em 16/06/2009.

A extinção da punibilidade de integrantes da associação criminosa não tem o condão de afastar o crime, portanto, subsiste a acusação para os demais integrantes.

Ex: Caio, Tício e Mévio integram uma associação criminosa (artigo 288 do CP), em uma perseguição policial, Tício e Mévio foram alvejados por disparos e mortos, extinguindo sua punibilidade (artigo 107, I do CP), enquanto Caio fora capturado. Caio responde pela