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3. A prática de ensino

3.3. Antes de começar (a sério) um olhar sobre

O programa curricular é um documento que permite garantir a coerência dos conteúdos entre as diferentes turmas, escolas e anos de escolaridade, organizado verticalmente do 1º ano ao 12ºano. Desta forma, os programas são um método de orientação, apresentando as competências e conhecimentos a adquirir em cada ano. Com este “mapa”, o professor pode optar pelos métodos, estratégias, exercícios, estilos de ensino que melhor se adequam à turma. Assim, concedendo esta liberdade e responsabilidade ao professor pelo processo de ensino-aprendizagem, pretende-se apresentar um ensino flexível e

55 que seja capaz de propiciar o desenvolvimento das potencialidades de cada aluno, superando as suas dificuldades.

O programa está desenhado com base em quatro pilares fundamentais: garantia de exercício físico ativo, não esquecendo a aprendizagem, aliada à saúde; ambiente propício à autonomia; resolução de problemas na organização de atividades e valorização da cooperação entre alunos.

Assumindo o programa como um mapa de orientação para o ano letivo, a primeira tarefa a cumprir era “estudar” o Programa Nacional de Educação Física (PNEF) do 3º ciclo. Nele está presente uma lista de objetivos definidos a dois níveis: gerais e específicos. Os primeiros referem-se a objetivos passíveis de concretização a médio e longo prazo, pois são as habilidades, conhecimentos, atitudes e valores transversais a todos as áreas. Já os objetivos específicos dizem respeito às competências a desenvolver em cada ano e em cada matéria, tendo um plano de concretização mais curto (Quina, 2009).

O programa nacional está dividido em duas partes no que às matérias diz respeito: uma primeira parte considerada nuclear e que é igual para todas as escolas, assegurando a homogeneidade do currículo. E a segunda parte alternativa, dando o poder de escolha a cada escola de acordo com a preferência dos alunos, condições específicas (recursos espaciais, materiais e humanos) da instituição de ensino ou até de acordo com a cultura desportiva local. Este tipo de organização possibilita que os alunos “tenham uma palavra a dizer”. Esta medida é significativa, principalmente no secundário, pois o sentimento de pertença, atribui um maior valor à aprendizagem. Permite também que se promova o desporto da localidade, podendo-se até aproveitar alguns recursos, envolvendo e fazendo crescer a comunidade mais próxima.

Numa visão pessoal, um programa curricular de multiatividades favorece um ensino baseado em experiências. Essas “experiências” permitem que o aluno conheça várias modalidades e a partir daí tenha informação “fomentada” para poder escolher o que praticar fora do horário escolar. A Educação Física na escola não se deve focar tanto na técnica, mas sim no sucesso que os alunos possam alcançar, para que se sintam bem na “pele” de desportistas.

56 3.3.2. … as Aprendizagens Essenciais (AE) e Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória (PA)

No início do ano letivo transato, a professora cooperante pediu-nos (estudantes-estagiários) para analisar alguns documentos formais, de acordo com a turma residente de cada um. Para além do já mencionado PNEF, tínhamos também as Aprendizagens Essenciais (AE) e o Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória (PA). Não sabia o que era isso, não tínhamos analisado nenhum desses documentos no ano anterior. Assim, algumas perguntas insurgiram: “O que é isto? Há aprendizagens mais essenciais que outras? O que é isto de perfil do aluno? Uma listagem de características ou competências que o aluno deve possuir quando acabar o 12ºano? Fará isto algum sentido?” Após pesquisa e leitura dos documentos apercebi-me que as minhas questões iniciais não eram assim tão descabidas, não fugiam assim tanto da realidade.

Estes dois documentos surgiram devido à implementação do Projeto de Autonomia e Flexibilidade Curricular dos ensinos básico e secundário, no ano escolar de 2017-2018, em regime de experiência pedagógica. Este projeto aponta para a promoção de aprendizagens de desenvolvimento de competências de nível superior, tendo as escolas, os alunos e professores um papel preponderante. Para alcançar a autonomia em educação é necessário a

gestão do currículo de forma flexível e contextualizada.2

As AE são mais um método de “orientação curricular base na planificação, realização e avaliação do ensino e da aprendizagem, e visam

promover o desenvolvimento das áreas de competências inscritas no PA.”3

Este delineamento foi construído a partir dos documentos curriculares existentes e é o denominador curricular comum, ao nível da aprendizagem de todos os alunos. A organização tem em conta o ciclo, o ano e a disciplina e procura assegurar a continuidade e articulação vertical, ao longo da escolaridade obrigatória.

2 Para consulta em https://www.dge.mec.pt/autonomia-e-flexibilidade-curricular 3 Para consulta em http://www.dge.mec.pt/aprendizagens-essenciais-0

57 Está estruturada de forma a apresentar um trio de elementos de aprendizagem, explicitando:

A) Conhecimentos - o que os alunos devem aprender;

B) Capacidades - os processos cognitivos a ativar para adquirir esse conhecimento;

C) Atitudes - o saber fazer a ele associado numa dada disciplina e na articulação entre outras disciplinas.

O Perfil do Aluno é um documento que vai “beber” muito daquilo que são as AE e pretende ser uma matriz que orienta a tomada de decisão dos atores educativos de forma a promover o desenvolvimento curricular, de acordo com os nossos jovens de hoje em dia. Com a possibilidade desta “flexibilidade curricular”, figura um maior compromisso que é necessário assumir por parte não só da escola (órgãos de gestão, professores, auxiliares, alunos), mas também dos pais e encarregados de educação (também eles devem ter um papel ativo na comunidade escolar e na educação do seu educando). O PA tem como objetivo fomentar o jovem adulto de ferramentas (valores e competências) que o permitam utilizar o livre-arbítrio de forma cívica, ativa, consciente e responsável. Desta forma, as áreas de competência assumiram um papel significativo na planificação de cada modalidade lecionada, tendo sido feito um esforço para tentar incluir o maior número de áreas de competência e que pelo menos cada uma delas fosse abordada uma vez. As áreas de competência são as que se apresentam de seguida:

i. Linguagens e textos

ii. Informação e Comunicação

iii. Raciocínio e resolução de problemas iv. Pensamento crítico e criativo

v. Relacionamento interpessoal

vi. Desenvolvimento pessoal e autonomia vii. Bem-estar, saúde e ambiente

viii. Sensibilidade estética e artística ix. Saber científico, técnico e tecnológico

58 x. Consciência e domínio corporal

3.3.3. … o planeamento anual

De acordo com Bento (2003), o plano anual é a primeira etapa das fases do planeamento. Assume um entendimento universal que permite relacionar o programa de ensino no contexto particular em questão. O mesmo autor defende que é “um plano sem pormenores da atuação”, no entanto é necessário um trabalho prévio metódico de análise assim como reflexões de controlo e avaliação. Desta forma, temos mais um documento que serve de meio orientador para nos ajudar a organizar, estruturar e calendarizar as matérias ao longo do ano.

Neste nível de planeamento, as variáveis a ter em conta foram as modalidades a lecionar (previamente escolhidas), o roulement de instalações, o número de aulas e o nível de cada matéria. Devido ao sistema de trabalho por rotações e visto estarmos reféns das condições meteorológicas, a capacidade de mudança deve ser maior.

De acordo com o PNEF, o 3º ciclo está dividido em três áreas diferentes: atividades físicas, aptidão física e conhecimentos. No caso da primeira área, o objetivo é desenvolver as competências essenciais em 5 matérias de nível introdução, em diferentes subáreas, apresentadas no quadro 1.

Quadro 1 - Planeamento anual das atividades físicas

Período Modalidades Nº de aulas Nível Espaço a utilizar

Ginástica Rítmica

(corda, bolas e arcos) 10

Introdução

Ginásio

Andebol 16 Polidesportivo e Exterior

10 (14) Ginástica de Aparelhos (trampolim, minitrampolim e trave) 8 (5) Ginásio

Ténis de Mesa 7 (4) Ginásio

Atletismo (estafetas, lançamentos, velocidade, barreiras e salto em altura) 5 Polidesportivo, Exterior, Pista e Ginásio 10

Orientação 5 Polidesportivo e espaço

59 As modalidades a lecionar foram escolhidas pelo grupo de Educação Física. A escolha baseou-se na continuidade do currículo, ou seja, nas matérias a serem lecionadas nos outros anos e ciclos de ensino, de modo a não se repetirem modalidades em anos consecutivos (exceto nas opções de escolha pelos alunos).

No âmbito da aptidão física, o grupo de EF decidiu utilizar o programa FITescola em todas as turmas. O programa traduz-se na avaliação da aptidão física e atividade física de crianças e adolescentes através de uma bateria de testes projetada pela Faculdade de Motricidade Humana e a Direção Geral de Educação. Desta forma, têm uma plataforma online onde promovem estilos de vida saudável e onde permite o acesso a alunos e professores. Assim, em cada período seriam disponibilizadas 3 aulas de 50 minutos para efetuar os testes selecionados. Após conversa com a professora cooperante, julgamos ser necessário “aproveitar” os testes, não só para a avaliação, mas também para tentar criar algum impacto ou significado para os alunos. Porque a realidade é só uma: os alunos estão cansados de repetir o mesmo todos os anos, sem que aquilo tenha algum significado prático. Mas como produzir significado para eles? Depois de um silêncio profundo, alguém propõe utilizarmos as funcionalidades da plataforma com os alunos: entregar os relatórios aos alunos e fazer uma espécie de análise guiada numa primeira fase e depois fazer um trabalho mais profundo nos períodos seguintes.

“No final da aula foram entregues os relatórios FITescola relativos à avaliação intermédia. Relativamente a este projeto considera-se que mais do que os alunos se situarem individualmente numa tabela de valores de referência que em função dos resultados obtidos determina uma zona não saudável, uma zona saudável e um perfil atlético, importa que cada um interprete o percurso que faz ao longo das 3 aplicações (inicial, intermédia e final) e sobretudo que perceba o que deve alterar nos seus hábitos de vida para melhorar os valores alcançados. Neste sentido, a análise do relatório com os alunos e a entrega do mesmo para conhecimento do encarregado de educação permite um maior envolvimento e significado de aprendizagem deslocando a

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atenção dos meros aspetos avaliativos.” (Reflexão – “reflexão nº

69 e 70” – 24 de Abril)

Na componente dos conhecimentos para se atingir os objetivos de identificar os benefícios do exercício com a saúde e interpretar a dimensão sociocultural dos jogos olímpicos e paralímpicos, optamos por duas metodologias. A primeira atividade planeada foi realizar um diário de desportista, como se fosse um portefólio onde iam recebendo alguns questionários sobre os mais diversos temas como perfil do aluno, curiosidades sobre a família, desporto, relatórios de aptidão física do FITescola, nutrição e alimentação e personalizando da maneira como queriam, usando também a criatividade e as artes plásticas. A segunda mais relacionada com os Jogos Olímpicos seria utilizando a TAÇA CNID (projeto do Desporto Escolar) realizar um desfile como de apresentação dos Jogos utilizando alguns dos elementos dos mesmos como as bandeiras, os juramentos, a tocha e o hino.

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