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2. Enquadramento Profissional

2.7. Desafios do Professor no Séc XXI

Se antes a escola era apenas um lugar de aprendizagem, hoje em dia é muito mais que isso. E se antes o professor era um mero transmissor de informação, atualmente, o professor é psicólogo, educador, orientador, supervisor, intermediador, líder, gerente de emoções, entre outras. Compartilhar conhecimento já não é função única. O professor tem que se preocupar com o desenvolvimento do aluno nas suas diferentes formas, estimular a criação de relações saudáveis com o outro, gerir e ajudar a superar frustrações e fracassos. Com todas estas “novas” funções, o professor do século XXI tem o trabalho mais dificultado. Novos desafios e problemas é preciso enfrentar pois “O mundo não é, o mundo está sendo… (Freire, 1996) e a escola deve acompanhar essas mudanças.

Um dos desafios é o processo de desvalorização que a profissão enfrenta (Hagemeyer, 2004). Desconsiderado por governantes, encarregados de educação e alunos, “ser professor” enfrenta uma crise sem precedentes, nestas últimas décadas. Esta desvalorização não afeta só os professores, mas também os alunos. Como? Porque os professores sentem que não é reconhecida a sua importância e podem acabar por desistir. Então, o que fazer para valorizar a docência? O ano passado realizou-se em Edimburgo a 7ª

31 Cimeira Internacional da Profissão Docente. Foi apresentado o relatório Internacional da Educação que de forma breve considera que “os professores necessitam de um efetivo apoio dos governos ao seu trabalho, do reconhecimento da sua importância social e da satisfação de condições que confiram mais qualidade ao exercício da sua profissão.” Aqui está a receita! Agora é só seguir! Falar é fácil! Mas efetivamente a valorização deve começar nos cargos mais altos. O apoio dos governos faz com que haja uma forma diferente de ver a docência por parte dos governados. Auxílio não tem que ser necessariamente dinheiro. Apoio pode ser os outros dois aspetos mencionados acima: reconhecimento social e condições de trabalho. Reduzir o número de alunos por grupo, aumentar o número de docentes, e redução de precariedade e de oscilações no desenvolvimento profissional, formações apoiadas diversificadas, melhorar a ajuda aos professores que trabalham em contextos problemáticos e de isolamento. Os professores também têm que lidar com baixa autoestima, instabilidade emocional e sentimento de fracasso. E todas estas medidas dão melhores condições à profissão e ao professor, todas elas são uma forma de reconhecer a importância deste ator social numa sociedade tão “desgastada”.

A relação entre professor-aluno é algo que deve ser cultivado desde o início. E porquê? Somos seres relacionais. John Donne (séc. XVII) escreveu “Nenhum homem é uma ilha”, ou seja, precisamos uns dos outros para sobreviver individual e coletivamente, e por isso a ajuda mútua é essencial para a vida. Existimos em constante relação com o mundo, com as pessoas que nos envolvem e a forma como nos relacionamos afeta proporcionalmente a qualidade da nossa vida, não só para o bem como para o mal. Desta forma, esta relação deve ser construída todas as aulas, pois uma relação saudável contribuiu positivamente no processo de ensino-aprendizagem. Esta ligação, pode até, às vezes, contribuir para combater a falta de afeto e de preocupação que alguns alunos sentem e assim resolver alguns problemas de atitude, porque por vezes, esses comportamentos desviantes são apenas uma forma de chamar atenção. Mas mais do que se relacionar com o professor é relacionar-se com o outro. O trabalho em rede é fundamental em qualquer lado, é uma das competências básicas para qualquer trabalho. Fomentar a

32 cooperação e a sinergia de recursos permite que se aproveite o melhor que cada um tem para dar.

Desafio um pouco controverso. Ensinar vs educar! Será o professor, um educador? Compete ao professor educar os alunos? Conseguirá fazê-lo com apenas 3/4 horas semanais? Antigamente, a escola era apenas um lugar de ensinamentos, pois a família educava. E agora? A primeira escola deveria ser a família, transmitindo valores morais, afetivos e sociais. A família deixou de cumprir a sua função de educadora. No quotidiano, é cada vez mais frequente confundir ensinar de educar. E por isso estes dois termos são inseparáveis (Brostolin & de Oliveira, 2015), pois torna-se uma necessidade cada vez mais presente: educar ensinando e ensinar educando. Educar através do conhecimento de uma fonte de valores deve ser uma das preocupações dos professores. A sociedade atravessa uma grave crise de valores e a escola deve ser um ativista inato nesta matéria. Os alunos passam tanto tempo na escola, que porque não, aproveitar o tempo para expandir um pouco os horizontes dos alunos, de forma a poderem atingir uma formação mais completa e abrangente. Não é tarefa fácil, ninguém o disse, porém é preciso que o professor se comprometa e cumpra as suas funções.

Outro desafio passa por “ser quem é”. O professor deve respeitar a individualidade de cada um, incentivar que os alunos tenham curiosidade, que procurem mais sobre os assuntos que gostam, “pois somos seres éticos e inacabados” (Pereira, 2014). Não é papel do professor ridicularizar, humilhar e minimizar os gostos do aluno e as suas virtudes, porque só vai aumentar a insegurança e o receio de fracassar ou dizer algo de errado do aluno e isso, é um verdadeiro erro. Um professor assim pode afetar bastante um aluno, influenciar a personalidade do mesmo. Iniciar a “transformação” é o que todos nós procuramos. Procurar um mundo melhor, com mudanças que possam ser benéficas para o convívio entre todos.

Desafio a desafio ficamos a compreender que a vida de professor é complicada nos dias que correm. É necessário pensar nas metodologias, modelos, estilos de ensino que se usam hoje. Segundo Pereira (2014), o professor não deve ser um transmissor de conhecimentos, mas sim um

33 “(re)construtor do saber ensinado”. Através de modelos e metodologias focados neles, sentem que são parte integrante do processo de ensino, acabam por aprender melhor. Prensky (2007) refere que os professores perspicazes estão a aperceber-se de que aprender vem da paixão, não da disciplina. Este conhecimento, que não é apenas algo debitado, apresenta razões para ser aprendido, pois o sentimento de pertença está presente.

Criatividade! Ser diferente! Não ter medo de ousar! São expressões ouvidas várias vezes e em situações diferentes. Não são apenas os alunos que são diferentes entre si, os professores também o são e devem mostrar de facto que o são. Um professor deve procurar ser diferente, colocando os alunos em situações que os deixem desconfortáveis, para num futuro não ser tão desconfortável. Levar os alunos a debater e a refletir é algo importantíssimo para a formação dos mesmos. Saber falar sem engasgar é fundamental. Saber argumentar sem fraquejar é essencial. Saber lidar com o nervosismo, o fracasso a pressão é vital. Saber respirar e acalmar é capital. Tudo isto se pode trabalhar numa sala de aula, através de pequenas tarefas. Procurar ser diferente, é levar os alunos a serem também diferentes.

Cabe assim ao professor, não desistir nas situações mais complicadas e atuar para um futuro melhor para que estas crianças não caiam no esquecimento.

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