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Aos pobres uma realidade: a justiça é mais barreira intransponível que uma

CAPÍTULO 2 DO PRAGMATISMO DO CAMINHO ÚNICO Á PERSPECTIVA DE

2.4 O Estado e as Empresas Globais

2.4.2 Reflexões acerca da esfera pública e privada e o aparelho judicial brasileiro

2.4.2.1 Aos pobres uma realidade: a justiça é mais barreira intransponível que uma

Revela uma realidade que desgracadamente se impõe: para os pobres a justiça é mais barreira intransponível que uma porta aberta:

Para os pobres, a justiça é mais barreira intransponível que uma porta aberta. As manifestações de desalento e descrença quando uma ofensa ao direito é constatada muitas vezes mais numerosas que as palavras ou gestos de confiança, ou, ao menos, respeito, pelo aparelho judicial-policial. Além desses entraves propriamente processuais, contêm-se, no lado ideológico ou sociológico, com a inadequação ou desatualização em que se encontram muitos dos que são, oficialmente, guardiões da justiça e da paz social.113

Ainda sobre o aparelho judicial aponta certas ideologias particulares que são verdadeiras afrontas à cidadania:

A vida em sociedade se complicou ao extremo nestes últimos decênios, desafiando a hermenêutica, vistas as numerosas figuras novas introduzidas no conjunto das relações sociais. Certos preconceitos de muitos juízes - parra não falar de delegados de polícia - têm origem nessa incapacidade de captar a evolução social, levando-os a agir como se ainda estivéssemos vivendo antes da modernização do país ou, mesmo, antes da Segunda Guerra Mundial.Não é só isso. Certas comunidades desenvolvem ideologias particulares, reforçadas pelo espírito de clã que lhe parece

indispensável á sobrevivência do grupo (é o caso da polícia), e são tais ideologias particulares que levam os participantes do grupo a adotar, manter e preservar uma maneira bem específica de ver o mundo, a sociedade civil, os demais. Tais ideologias são, freqüentemente, ensinadas nas escolas de formação, vividas na prática cotidiana, reforçadas pelo uso da força. Substituindo a razão, a força funciona como um argumento respeitando pela ética de grupo. Esta, paradoxalmente, encontra seu fundamento numa ética de classe, estranha aos interesses fundamentais dos agentes como indivíduos completos. Por exemplo, a ideologia particular dos agentes da comunidade de segurança os impede, salvo casos extremamente esporádicos, de se manifestar como indivíduos completos.114

Entende-se que a consecução dos objetivos da República devem ser irradiados por todos os poderes institucionais, vez que se reveste como um imperativo de ordem constitucional.

2.4.3 Globalitarismo, consumismo e competitividade: realidade, desigualdade e emagrecimento moral

O atual processo de globalização é uma forma de utilizar os recursos que o Homem conseguiu produzir, sobretudo neste último século, no qual as técnicas e as ciências que poderiam construir um mundo de inclusão, acabam por privilegiar um grupo restrito de pessoas e ao invés de produzir melhores condições de vida a todos, acaba por se mostrar perverso, na medida em que promove cada vez mais desigualdade e miséria.

As antigas práticas imperialistas mostram novamente suas garras ainda mais afiadas nesta fase superior do sistema vigente através da doutrina do neoliberalismo, na qual as privatizações em nome de um suposto melhoramento na gestão pública e no discurso do enfraquecimento do Estado, este é “colocado a venda”, implicando em um intolerável interferência do interesse privado no público, não raras vezes advindos dos conglomerados globais que conseguem suplantar a soberania dos Estados.

A racionalização do mercado busca majorar os lucros dos grandes grupos e

conglomerados econômicos no processo de globalização que se amplia em dimensões e influencia no âmbito tecnológico, cultural, econômico, social e até mesmo político.

Ademais, a uniformização das culturas dos povos não é integralizadora e convergente a uma lógica de fraternidade, solidariedade e emancipação, mas ao contrário, pois segue uma lógica perversa de imposição da miséria e desigualdade.

A lógica desta atual globalização é a lógica da desigualdade, na qual surge o globalitarismo115 que existe para reproduzir a globalização.

Há, de fato outras formas de totalitarismo, na medida em que se exige um comportamento padrão, seguindo sempre um mesmo modelo, dentro de uma suposta integração mundial há promoção de um pensamento único, onde o lucro é o deus, e no qual a liberdade é suprimida, maculando o exercício da cidadania e que sem duvida irá ser alterado, na medida em que aumenta-se ebulição dos atores que cotidianamente vêem sua dignidade aviltada.

Para Marcos Peixoto Mello Gonçalves esta cidadania pode ser resgatada na medida em que, pelo Direito, nasça “a consciência daquilo que é injusto, como reivindicação de justiça”.116

Nos regimes globalitários com a promoção de seu pensamento único a busca incessante de mercados internacionais segue a lógica da busca voraz por lucros cada vez maiores onde o homem, a cidadania e sua dignidade estão distante de serem elementos centrais desta ótica.

Mostra-se esta forma de “totalitarismo muito forte e insidiosa, porque se baseia em noções que pareçam centrais à própria idéia da democracia - liberdade de opinião, de imprensa, tolerância -, utilizadas exatamente para suprimir a

115 Termo que significa a fusão de globalização com totalitarismo.

116 GONÇALVES, Marcos Peixoto Mello.Levante a mão e fale alto – Ética, Cidadania e Direito. 1º

possibilidade de conhecimento do que é o mundo, e do que são os países e os lugares”. 117

Sem dúvida que a globalização na atual forma afasta a democracia e é ela própria um sistema totalitário, ou melhor, globalitário e perverso, onde a ética sequer é alegoria, implicando no assassinato da política, sobretudo pela emancipação das empresas globais em face do Estado e a imposição de sua política em substituição a do Estado. Para Milton Santos, no mundo globalizado, “a competitividade, o consumo, a confusão de espíritos constituem baluartes do presente estado das coisas.”118

E esta “competitividade comanda nossas formas de ação. O consumo comanda nossas formas de inação”.119 Concluindo que a “confusão de espírito impede o nosso entendimento do mundo, do país, do lugar, da sociedade e de cada um de nós mesmos.”120

Preciso é Milton Santos ao dizer que a concorrência nos dias atuais não é a mais velha concorrência, principalmente porque surge eliminando toda a forma de compaixão, nesse sentido a competitividade tem a guerra como norma.121

Observa que “atualmente as empresas hegemônicas produzem o consumidor antes mesmo de produzir os produtos [...] daí o império da informação e da publicidade.122 Neste contexto “o consumismo e competitividade levam ao

emagrecimento moral e intelectual da pessoa, a redução da personalidade e da

117 SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

19º ed. Rio de Janeiro: Record, 2010. p.45.

118SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

19º ed. Rio de Janeiro: Record, 2010.p.46.

119 SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

19º ed. Rio de Janeiro: Record, 2010.p.46.

120 SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

19º ed. Rio de Janeiro: Record, 2010.p.46.

121 SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

19º ed. Rio de Janeiro: Record, 2010.p.46.

122 SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

visão do mundo, convidando também a esquecer a oposição fundamental entre a figura do consumidor e a figura do cidadão.123