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O trabalho sob múltiplos aspectos: uma visão de mundo na globalização

CAPÍTULO 2 DO PRAGMATISMO DO CAMINHO ÚNICO Á PERSPECTIVA DE

2.2 Antecedentes históricos da globalização

2.2.2 O trabalho sob múltiplos aspectos: uma visão de mundo na globalização

Após estes pontos e contrapontos acerca da pobreza, necessário retomar parte da reflexão anterior. Talvez seja necessário reconhecer que tenha sido a partir da influência da concepção de trabalho e seu fim, tal com o enfoque aos predestinados ditos por Calvino que passou a ter o cunho individualista sedimentado na sobrevivência que exalta a competitividade irracional e afasta a solidariedade,

característica marcante que possui até hoje, na medida em que esta concepção acerca do trabalho moldou a vida econômica, social e política.

Visão que não coloca o trabalho como emancipador do Homem ou promotor do bem comum, mas como o produto da venda de uma mercadoria: a força de trabalho.

O alemão Max Weber em “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, publicado no início do século XX, trata do elemento religião como influenciador no desenvolvimento do espírito econômico.

Nesta obra Max Weber avança a tese de que a ética e as idéias puritanas influenciaram o desenvolvimento do capitalismo em oposição a Karl Marx que tinha o elemento econômico preponderante e determinante de todas as estruturas sociais e culturais, inclusive a religião.

Certo é que este individualismo tão presente em nossos dias guarda relação direta com este “espírito” que faz do lucro um dever. Esta idéias mostram-se bastante conveniente aos interesses de um grupo de pessoas ávida a riquezas e ao lucro.

Time is money70, vê-se com frequência nos cantigos cotidianos de cupidez moderna. Não se poder “perder tempo”. E se tempo é dinheiro, como tentam incutir nas mentes e nos corações, “a perda de tempo é, assim, o primeiro e em princípio o mais grave de todos os pecados”.71

Trabalhar para ser rico é um fim que se alcançado glorificaria o Divino, contudo, esta concepção parece estar tão distante ao que se observa no Sermão da Montanha, que seria uma síntese do cristianismo.

70 Expressão inglesa que significa: tempo é dinheiro.

71 WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo.Trad. Antônio Flávio Pierucci.

A racionalização e uma moral conveniente e peculiar destacam os puritanos como precursores de uma ética que viria a ser impulsionadora do que hoje se entende por capitalismo, na visão weberiana. Mas, e o ócio nesta perspectiva?

O ócio tido por pecado e o trabalho exaltado, mas uma visão de trabalho bastante singular e conveniente aquelas idéias:

[...] a valorização religiosa do trabalho profissional mundano, sem descanso, continuado, sistemático, como meio ascético simplesmente supremo e a um só tempo comprovação o mais segura e visível da regeneração de um ser humano e da autenticidade de sua fé, tinha que ser, no fim das contas, a alavanca mais poderosa que se pode imaginar da expansão dessa concepção de vida que aqui temos chamado de “espírito” do capitalismo.72

Em contraponto, tratando-se se de ócio Domenico de Masi o aborda sob uma perspectiva bastante singular quando cunha sua obra Ozio creativo73, que uniria o trabalho ao estudo e ao lazer.

Tería-se então um a tríplice elementar nas relações de trabalho: criatividade, liberdade e arte. De Masi, inclusive ao final da obra faz menção ao arquiteto Oscar Niemayer, propõe desenhar os modelos de trabalhos e o ideal, qual ele chama de Ócio Criativo:

[...] o homem que trabalha perde tempo precioso [...] o futuro pertence a quem souber libertar-se da idéia tradicional do trabalho como obrigação e for capaz de apostar numa mistura de atividades, onde o trabalho se confundirá com o tempo livre e o estudo. Enfim, o futuro é de quem exercitará o "ócio criativo" [...] o ócio pode transformar-se em violência, neurose, vício e preguiça, mas pode também elevar-se para a arte, a criatividade e a liberdade. É no tempo livre que passamos a maior parte de nossos dias e é nele que devemos concentrar nossas potencialidades. [...] Quando trabalhamos, devemos trabalhar. Quando jogamos, devemos jogar. A nada serve tentar misturar as duas coisas. O único objetivo deve ser aquele de desempenhar um trabalho e de ser pago por isso. Quando o trabalho estiver terminado, pode então começar o jogo, mas não antes. [...] Aquele que é mestre na arte de viver faz pouca distinção entre o seu trabalho e o seu tempo livre, entre a sua mente e o seu corpo, entre sua educação e a sua recreação, entre seu amor e a

72 WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo.Trad. Antônio Flávio Pierucci.

Companhia das Letras: São Paulo, 2004. p. 156-157.

sua religião. Distingue uma coisa da outra com dificuldade. Almeja, simplesmente, a excelência em qualquer coisa que faça, deixando aos demais a tarefa de decidir se está trabalhando ou se divertindo. Ele acredita que está sempre fazendo as duas coisas ao mesmo tempo.[...] Oscar Niemayer, que dedicou noventa e dois anos da sua vida à arquitetura, escreveu na parede dês eu estúdio uma linda frase que, creio, diz assim ”Mais do que a arquitetura, contam os amigos, a vida a este mundo injusto é que devemos resgatar”. É este o lugar: é o Brasil, neste país tão puro e tão contaminado, que eu gostaria de alimentar o meu ócio criativo.74

Por sua vez, ultrapassado este breve exame acerca do ócio, tem-se que as relações entre capital e trabalho se revelam mais claras quando traz-se à reflexão o trabalho em seus múltiplos aspectos como promotor do bem comum e da dignidade humana, sobretudo como emancipador do Homem enquanto singular e coletivo.

Em síntese fez-se um apanhado bastante amplo dos elementos que tornaram os ingleses pioneiros da dita Revolução Industrial. Apresenta-se um contraponto da religião, bem como a influência da desta na visão de Max Weber do elemento religioso, sobretudo calvinista, ser grande propulsor do capitalismo e que se contrapunha a de Karl Marx, que por sua vez concebia o elemento econmico preponderante e determinante de todas as estruturas sociais e culturais, inclusive da religião.

Tratou-se também, ainda que superficialmente, da questão do trabalho que entende-se importante na medida que a relação entre capital e trabalho irá tomar os contornos da globalização. Aquela mentalidade presente no capitalismo incipiente é pulsante ainda no cotidiano e talvez possa fazer-se compreender seus mecanismos modernos de manutenção na dinâmica do mundo atual e os caminhos para sua superação, pelo estudo, coragem e análise crítica.