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CAPÍTULO 2 DO PRAGMATISMO DO CAMINHO ÚNICO Á PERSPECTIVA DE

2.6 Esperança de um outro caminho possível: uma outra globalização, um outro

2.6.1 Transição em marcha

A transição em marcha é termo cunhado por Milton Santos que revela que a ebulição latente dos atores “vindo de baixo” no processo de transformação da globalização.165

Esclarece que “para entender o processo que conduziu a globalização atual, é necessário levar em conta dois elementos fundamentais: o estado das técnicas e o estado da política166” e acrescenta:

160 SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

19º ed. Rio de Janeiro: Record, 2010.p.129.

161 SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

19º ed. Rio de Janeiro: Record, 2010.p.128.

162 SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

19º ed. Rio de Janeiro: Record, 2010.p.132.

163 SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

19º ed. Rio de Janeiro: Record, 2010.p.133.

164 FURTADO, Celso. O longo amanhecer: reflexões sobre a formação do Brasil. Rio de

Janeiro: Paz e Terra, 1999. p. 86-89.

165SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

A história fornece o quadro material e a política molda as condições que permitem a ação. Na prática social, sistemas técnicos e sistemas de ação se confundem e é por meio das combinações então possíveis e da escolha de momentos e lugares de seu uso que a história e a geografia se fazem e refazem continuamente.167

Importa destacar que “uma das conseqüências de tal evolução é a nova significação da cultura popular, capaz de rivalizar com a cultura de massas”.168

Inclusive, “o mercado vai impondo, com maior ou menor força, aqui e ali, elementos mais ou menos maciços da cultura de massas, indispensável, como ela é, ao reino do mercado, e a expansão paralela de formas de globalização econômica, financeira, técnica e cultural”.169

Nesta toada, observa-se que a “ racionalidade é mantida a custa de normas férreas, exclusivas, implacáveis, radicais. Sem obediência cega não há eficácia”.170

Emerge-se uma centralidade da periferia, na qual “a combinação hegemônica de que resultam as formas econômicas modernas atinge diferentemente os diversos países, as diversas culturas, as diferentes áreas dentro de um mesmo país”171, acabando por marcar os efeitos da globalização econômica:

A diversidade sociogeográfica atual exemplifica. Sua realidade revela um movimento globalizador seletivo, com a maior parte da população do planeta sendo menos diretamente atingida – em certos casos pouco atingida – pela globalização econômica vigente. Na Ásia, na África e mesmo na América Latina, a vida local se manifesta ao mesmo tempo como uma resposta e uma reação a essa globalização. Não podendo essas populações majoritárias consumir o Ocidente globalizado em suas formas puras (financeira, econômica, cultural), as respectivas áreas acabam por ser os lugares onde a globalização é relativizada ou recusada.172

166 SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

19º ed. Rio de Janeiro: Record, 2010.p.142

167 SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

19º ed. Rio de Janeiro: Record, 2010.p.142

168 SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

19º Ed. Rio de Janeiro: Record, 2010.p.143.

169 SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

19º ed. Rio de Janeiro: Record, 2010.p.143

170 SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

19º ed. . Rio de Janeiro: Record, 2010.p.146

171 SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

19º ed. Rio de Janeiro: Record, 2010. p.153.

172 SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

Milton Santos traz Importante distinção entre nação ativa e passiva, sendo a primeira:

Ao fazer valer tais postulados, a nação ativa seria a daqueles que aceitam, pregam e conduzem uma modernização que dá preeminência aos ajustes que interessam ao dinheiro, enquanto a nação passiva seria formada por tudo mais [...] a chamada nação ativa, isto é, aquela que comparece eficazmente na contabilidade nacional e na contabilidade internacional, tem seu modelo conduzido pelas burguesias internacionais e pelas burguesias nacionais associadas.173

E a segunda:

A nação passiva é estatisticamente lenta, colada as rugosidades do seu meio geográfico, localmente enraizada e orgânica. Essa nação passiva, mora ali onde vive e evolui, enquanto a outra apenas circula, utilizando os lugares como apenas mais um recurso a seu serviço, mas também sem compromisso.174

Um raio de esperança nos envolve o coração quando se enxerga que o processo atual de globalização não é irreversível, tampouco é verdadeiro o pensamento único, mas o que vislumbra é um mundo repleto de possibilidades em todos os sentidos:

É muito difundida a idéia segundo a qual o processo e a forma atuais da globalização são irreversíveis. O mundo definido pela literatura oficial do pensamento único, é somente o conjunto de formas particulares de realização de apenas certo número dessas possibilidades. No entanto, um mundo verdadeiro se definirá a partir da lista completa de possibilidades presentes em certa data e que não incluem não só o que existe sobre face da Terra, como também o que ainda não existem, mas é empiricamente factível.175

O Direito corrompido serve como instrumento de sustentação desta globalização perversa e não é raro que as regras estabelecidas pelas empresas afetem mais do que as regras criadas pelo próprio Estado:

173 SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

19º ed. Rio de Janeiro: Record, 2010. p. 156.

174 SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

19º ed. Rio de Janeiro: Record, 2010.p.157

175 SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

Assistimos, assim, o império das normas, mas também ao conflito entre elas, incluindo o papel cada vez mais dominante das normas privadas na produção da esfera pública. Não é raro que as regras estabelecidas pelas empresas afetem mais do que as regras criadas pelo Estado. Tudo isso atinge e desnorteia os indivíduos, produzindo uma atmosfera de insegurança e até mesmo medo.176

Milton destaca a esperança na reconstrução do mundo, na verdadeira integração que se consubstancia através da ideia da Consciência Universal. Assinala que:

A descoberta individual é, já, um considerável passo a frente,, ainda que possa parecer ao seu portador um caminho penoso, à medida das resistências circundantes a esse novo modo de pensar. O passo seguinte é a obtenção de uma visão sistêmica, isto é, a possibilidade de enxergar as situações e as causas atuantes como conjuntos e localizá-los como um todo, mostrando sua interdependência.177

Sobre nossa época de mundo globalizado, encontramos algumas respostas quando se põe a refletir a temática das técnicas e as ações na globalização:

A era da globalização mais do que qualquer outra antes dela, é exigente de uma interpretação sistêmica cuidadosa, de modo a permitir que cada coisa, natural ou artificial, seja redefinida em relação ao todo planetário. Essa totalidade mundo se manifesta pela unidade das técnicas e das ações [...] A grande sorte dos que desejam pensar a nossa época é a existência de uma técnica globalizada, direta ou indiretamente presente em todos os lugares, e de uma política planetariamente exercida, que une e norteia os objetos técnicos. Juntas, elas autorizam uma leitura, ao mesmo tempo geral e especifica, filosófica e prática, de cada ponto da Terra178.

Através da mutação tecnológica e a mutação filosófica da espécie humana, emerge-se uma outra globalização possível:

Uma outra globalização é possível desde se completem as duas grandes mutações ora em gestão: a mutação tecnológica e a mutação filosófica da espécie humana. A grande mutação tecnológica é dada com a emergência das técnicas de informação,

176 SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

19º ed. Rio de Janeiro: Record, 2010. p.163.

177 SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

19º ed. Rio de Janeiro: Record, 2010. p.169.

178 SANTOS, Milton. Por uma outra Globalização: do pensamento único à consciência universal.

as quais – ao contrário das técnicas das máquinas – são condicionalmente divisíveis, flexíveis, dóceis e adaptáveis a todos os meios e culturas, ainda que o seu uso perverso atual seja subordinado aos interesses dos grandes capitais. Mas, quando sua utilização for democratizada, essas técnicas doces estarão a serviço do homem.179

Em suma, Milton Santos, traduz uma crítica feroz de uma época marcada pela globalização globalitária, entretanto, brilha a esperança e o otimismo quando postula que esta por vir um novo tempo, pois esta globalização perversa que ai se impõe não é irreversível.

No próprio fenômeno da globalização busca-se e se encontram os elementos para suas mutações em trânsito, pulsantes e vivas: a mutação tecnológica e a mutação filosófica da espécie humana.