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6. ANÁLISE

6.1. A Coreia do Sul

6.1.3. Após a década de 1990

Dall’Acqua (1991) afirma que a concentração do poder econômico no país e a ampliação da influência dos chaebols sobre o governo passaram a gerar desconforto na sociedade. Uma vez que poucas empresas controlavam a

111 maior parte do produto sul-coreano, perpetuou-se uma grande concentração de riqueza e poder nas mãos dos mais ricos, embora o restante da sociedade permanecesse em situação relativamente parecida (a renda era relativamente bem distribuída e houve redução da pobreza no período). Além disso, a facilidade com que as famílias obtinham acesso a mecanismos de financiamento e a benefícios governamentais fez com que os chaebols se tornassem altamente endividados.

Além dos Planos Quinquenais e da formação dos conglomerados, outro aspecto foi de grande importância para o sucesso da transformação estrutural sul-coreana: a política educacional. Jankowska et al. (2012) afirmam que a formação do capital humano foi estratégica para o país na busca de facilitar a mudança estrutural e o aperfeiçoamento na produção. Durante a implementação dos dois primeiros planos, quando a ênfase na produção ainda era dada às manufaturas leves, o governo sul-coreano procurou universalizar a educação primária. Já no processo de promoção das indústrias pesadas, o governo buscou facilitar o acesso ao ensino secundário, uma vez que a atuação em tais indústrias requeria a operação de máquinas com maior tecnologia que as usadas nas manufaturas leves. Por conseguinte, com o apoio ao desenvolvimento de indústrias intensivas em tecnologia realizado pelo Quinto Plano Quinquenal, o governo deu ênfase ao ensino superior, principalmente engenharias e áreas relacionadas às ciências. Assim, a crescente demanda por mão de obra especializada passou a oferecer melhores salários aos mais capacitados, resultando num incentivo à educação em geral. O sucesso dessa política educacional pode ser verificado pelos Gráficos 3, 4, 5, 6 e 7, que mostram a alta escolaridade, o bom desempenho nas avaliações do PISA e o amplo número de profissionais atuando com Pesquisa e Desenvolvimento na Coreia do Sul.

Após o período de profunda intervenção estatal, no final da década de 1980 e início da de 1990, as autoridades governamentais passaram a implementar reformas estruturais, buscando aumentar a competitividade dentro da economia e a eficiência econômica da Coreia do Sul. Dall’Aqua (1991) chamou tais transformações de “esforços de liberalização”, uma vez que promovia a gradual redução das restrições às importações e eliminava a proibição da participação estrangeira em empreendimentos nacionais. Ainda,

112 passou-se a promover a competição entre as empresas nacionais, implementando-se leis antimonopólio e reduzindo-se as barreiras à entrada no mercado financeiro e, portanto, à obtenção de crédito.

De acordo com Jankowska et al. (2012), a partir da década de 1990, a Coreia do Sul passou a fornecer subsídios a capitais de risco no investimento em pequenas e médias empresas ligadas a bens de alta tecnologia, investir na criação de parques tecnológicos para promover a difusão de conhecimento e fortalecer a conexão entre as firmas e as universidades.

Como foi verificado em análise aos Mapas em Árvore das exportações sul-coreanas para 2001 e 2014, apresentados nas Figuras 12 e 17, a principal transformação no período foi a ampliação da participação de bens do grupo “Produtos Químicos e Semelhantes” no total exportado.

Figura 17 - Mapa em Árvore dos produtos exportados com RCA>1 pela Coreia do Sul em 2014. A área ocupada por cada produto é proporcional ao volume exportado do mesmo em relação ao total das exportações. FONTE: Atlas da Complexidade Econômica (2016)

Em análise às Figuras 14, 18 e 19, contendo os Mapas de Espaço Produto do país para os anos de 2001, 2008 e 2014 respectivamente, não foram observadas mudanças estruturais profundas. Entre 2001 e 2014, os produtos das indústrias têxtil e de vestuário pararam de apresentar VCR

113 superior à unidade e portanto, o aglomerado de pontos azuis à esquerda, antes tão forte, desapareceu. Por sua vez, o aglomerado de produtos eletrônicos à esquerda se fortaleceu e notou-se uma tendência à produção de novos produtos pertencentes ao núcleo do Mapa, onde se localizam maquinários de maior complexidade. Ainda, foi possível verificar o surgimento de um pequeno aglomerado de pontos roxos à esquerda, correspondentes a produtos da indústria farmacêutica e, nesse caso, de alta complexidade.

Figura 18 - Mapa do Espaço Produto da Coreia do Sul em 2008. O tamanho dos nós é proporcional à exportação mundial do bem no respectivo ano. FONTE: Atlas da Complexidade Econômica (2016)

Figura 19- Mapa do Espaço Produto da Coreia do Sul em 2014. O tamanho dos nós é proporcional à exportação mundial do bem no respectivo ano. FONTE: Atlas da Complexidade Econômica (2016)

Pelas informações da Tabela 2 para os anos entre 1990 e 2013, foi possível verificar um leve aumento da diversidade das exportações ( ) até

114 2010, o qual foi anulado por uma queda em 2013. Em termos de ubiquidade da cesta de exportações ( ), houve um aumento contínuo até 2010 e queda até 2013. O comportamento dessas variáveis pode ser justificado por conta dos efeitos da Crise de 2008, cujos efeitos se aprofundaram nos anos seguintes. Enfim, apesar da redução de tais variáveis no último período, o ICE, o EXPY e o Share Core aumentaram, indicando, novamente, aumento na Complexidade Econômica da Coreia do Sul.

Por fim, analisando os Mapas de Possibilidade para 2001 e 2014 (Figuras 16 e 20), confirmou-se a tendência da estrutura produtiva sul-coreana se aproximar da produção de produtos de maior complexidade. Na Figura 20 vê-se que a Coreia do Sul está atualmente mais próxima da produção dos bens de maior complexidade do que daqueles marcados pela baixa complexidade e, portanto, o país apresenta ampla quantidade e variedade de capacidades de forma a perpetuar seu crescimento.

Figura 20 - Mapa de Possibilidades Produtivas da Coreia do Sul em 2014. O tamanho dos nós é proporcional à exportação mundial do bem no respectivo ano. FONTE: Atlas da Complexidade Econômica (2016)

Cabe destacar que as transformações apresentadas nesse último período não foram tão radicais quanto as apresentadas para os outros dois períodos. Tendo a Coreia do Sul atingido o nível de renda alta, foi possível

115 supor que tal comportamento passou a assemelhar-se ao de países já desenvolvidos, nos quais a estrutura produtiva já apresenta alta complexidade e, portanto, não há mudanças estruturais profundas a serem promovidas de forma a aumentar o nível de desenvolvimento25.

De acordo com Hausman e Rodrik (2003), a Coreia do Sul foi bem sucedida em fornecer os incentivos adequados à redução dos Custos de Autodescoberta, entre os quais proteção tarifária, isenções tributárias e favorecimentos no acesso ao crédito estrangeiro. Além disso, a formação dos chaebols e os benefícios a eles oferecidos permitiu que o empreendedor pioneiro colhesse os frutos dos Investimentos de Autodescoberta, ou seja, as externalidades que seriam enfrentadas pelo Empreendedor Pioneiro foram eliminadas.

Em síntese, o sucesso da economia sul-coreana em transformar sua economia predominantemente agrária em uma nação desenvolvida e de renda alta é inegável. Tal transformação estrutural profunda fez com que a Coreia do Sul “desviasse” da Armadilha da Renda Média, enquanto diversos países de independência e industrialização anteriores entraram nessa situação e, atualmente, não apresentam perspectivas de saída. Nesse contexto, as informações obtidas e apresentadas acerca da Coreia do Sul corroboram o argumento de que a promoção da transformação industrial e o avanço tecnológico podem ser formas de saída da Armadilha.

Em seguida, foi realizada a análise para o Brasil, a Colômbia e o México, de forma a verificar se a estrutura desses países também evoluiu continuamente em direção a bens mais complexos, ou se houve um ponto de inflexão no qual a Complexidade Econômica em geral parou de crescer ou, até mesmo, diminuiu.