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4. CAPACIDADES, TRANSFORMAÇÃO ESTRUTURAL E A COMPLEXIDADE

4.1. O Espaço Produto

4.1.3. Mapa do Espaço Produto

O Mapa do Espaço Produto é uma representação em rede da Matriz de Proximidade definida anteriormente. De acordo com Hidalgo et al. (2007), uma vez que há números muito pequenos na Matriz de Proximidade, a representação em redes torna-se uma forma adequada de apresentar os produtos, fornecendo uma visualização das ligações relevantes entre eles. A partir dessa visualização, é possível verificar onde os países estão no Espaço Produto e, a partir das medidas apresentadas acima, estudar suas possibilidades.

Hidalgo et al. (2007) partiram da Matriz de Proximidades para construir um “esqueleto” para a rede de produtos através de uma Árvore de Extensão Máxima (Maximum Spanning Tree - MST), subconjunto de arestas em um grafo7. Em síntese, a MST é o conjunto das n-1 ligações (arestas) entre os n produtos (nós) que conectam todos os produtos e maximizam a soma das proximidades da rede.

Usando a classificação dos produtos de Leamer (1984) para colorir os nós e levando em consideração os valores movimentados por cada indústria no comércio mundial, Hidalgo et al. (2007) chegaram ao primeiro8 formato de Espaço Produto ilustrado na Figura 1. A partir da coloração dos produtos em termos dos grupos de classificação de Leamer, é possível perceber que, no Espaço Produto, os produtos pertencentes à mesma classe encontram-se concentrados, formando clusters.

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Um grafo é um conjunto de vértices e um conjunto de arestas que ligam pares de vértices distintos (com nunca mais que uma aresta a ligar qualquer par de vértices). Um tipo especial de grafo é a árvore e, nesse caso, usou-se a árvore de extensão máxima, no qual as arestas possuem pesos cuja soma é máxima.

8 Outros formatos foram sendo criados a partir das diferentes classificações para os

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Figura 1 – Primeira representação do Mapa do Espaço Produto. FONTE: HIDALGO, et al.(2007), Pg. 09- (Supporting Online Material) OBS. A medida de Proximidade no trabalho de Hidalgo et al. (2007) é representada por .

Pela Figura 1, é possível perceber que o núcleo (ou core) do Espaço Produto é composto por produtos das indústrias metalúrgica, química e de maquinário (metalurgy, chemicals e machinery, respectivamente). O restante dos produtos coube à periferia. À periferia superior, encontram-se produtos da

57 pesca (fishing), agricultura tropical (tropical agriculture), cereais (cereals) e petróleo (oil). À esquerda, há dois clusters – produtos do vestuário (garments) e têxteis (textiles)9 – e produtos da pecuária (animal agriculture). Por sua vez, à direita estão localizados produtos oriundos da mineração (mining). Por fim, na parte de baixo do Espaço são encontrados os produtos eletrônicos (electronics).

Unindo o mapa do Espaço Produto ao valor associado a cada produto, o , Hidalgo et al. (2007) encontraram que bens produzidos por países ricos encontram-se no centro do Espaço, enquanto aqueles produzidos por países pobres estão na periferia. Para Jankowska et al. (2012), países cuja cesta de exportações está concentrada próxima ao centro do Espaço Produto (ou seja, a produtos de elevada) encontram-se em uma situação mais favorável à elevação do valor de suas exportações no futuro. Por outro lado, a concentração das exportações de uma economia em áreas remotas do Espaço indica que o conjunto de capacidades disponíveis à produção são específicas e incoerentes com a produção de bens com alto valor associado. Essa relação é ilustrada na Figura 2, na qual o tamanho dos nós corresponde ao valor associado ao produto.

Pela Analogia da Floresta, as árvores mais próximas às já ocupadas por macacos têm maior probabilidade de serem ocupadas num período próximo. Nesse sentido, as economias tendem a realocar recursos em direção à produção de bens próximos aos atualmente produzidos. A partir disso, Hidalgo et al. (2007) concluem que a estrutura do Espaço Produto de cada país, ou seja, a especialização produtiva individual, apresenta diferentes oportunidades de desenvolvimento a cada economia. Ainda, dentro de um grupo de países com nível similar de desenvolvimento, há significativa heterogeneidade entre as estruturas produtivas, com algumas economias atingindo crescimento contínuo e outras estagnando-se.

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A diferença entre Vestuário e Têxteis é que o segundo grupo de produtos representa somente tecidos e linhas, enquanto o primeiro trata da construção de vestimentas a partir dos tecidos e das linhas, bem como da atividade de cortadores e costureiros, por exemplo.

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Figura 2. O Espaço Produto e a PRODY. FONTE: HIDALGO, et al.(2007), Pg. 12- (Supporting Online Material).

Estudando o Espaço Produto dos países, Hidalgo et al. (2007) encontraram que:

Industrialized countries occupy the core, composed of machinery, metal products, and chemicals. They also participate in more peripheral products such as textiles, forest products, and animal agriculture. East Asian countries have developed RCA in the garments, electronics, and textile clusters, whereas Latin America and the Caribbean are further out in the periphery in mining, agriculture, and the garments sector. Lastly, sub-Saharan Africa exports few product types, all of which are in the far periphery of the product space. [HIDALGO et al. (2007): Pg. 485]

Sendo assim, o Espaço Produto é capaz de ilustrar a escolha de especialização de cada economia.

Partido do insight de que a maior participação de produtos no centro do Espaço Produto na cesta de exportações de um país indica maior grau de sofisticação, Felipe et al. (2012) desenvolveram uma forma de mensurar isso. Tal medida passou a ser chamada de Share Core, e nada mais é que o número

59 de produtos do núcleo (oriundos da indústria química, metalúrgica ou de maquinário) que determinada economia produz com .

De acordo com os Hidalgo et al. (2007), essas descobertas são importantes em termos de política econômica, uma vez que a promoção da transformação industrial em países em desenvolvimento é diferente da dos países subdesenvolvidos e desenvolvidos, por exemplo.

A construção dos Espaços de Produto de determinada economia por vários anos permite visualizar as transformações estruturais pelas quais passou essa economia. Ainda, de acordo com Hausmann et al. (2011), através do Espaço Produto é possível analisar a evolução da complexidade econômica dos países, a qual será apresentada na seção a seguir.