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6. ANÁLISE

6.1. A Coreia do Sul

6.1.2. Décadas de 1980 e 1990

De acordo com Dall’Acqua (1991), até então, o modelo de desenvolvimento sul-coreano apresentava distorções na forma de alta dependência de capital estrangeiro e baixa produtividade industrial. Visando reduzir tais distorções, foi implementado o Quarto Plano Quinquenal (1977- 1981), que deu ênfase à inovação tecnológica, à melhoria na eficiência em gestão e buscou a geração de superávit comercial. Além disso, deu-se prioridade aos investimentos direcionados para a indústria de eletroeletrônicos e maquinaria, as quais apresentavam problemas em ganho de produtividade.

104 Ao final dos anos de 1970, assim como os demais países em desenvolvimento do mundo, a economia sul-coreana também passou por uma grave crise, provocada por choques internos e externos e que agravou os desequilíbrios estruturais dos país. No início da década de 1980, a Coreia do Sul enfrentava fortes disputas trabalhalhistas, contestação sobre o aumento da desigualdade de renda, aumento da competitividade com outros países asiáticos e baixa competitividade das indústrias eletroeletrônicas e de automóveis. Nesse contexto, implantou-se o Quinto Plano Quinquenal de Desenvolvimento (1982-1986), propondo uma profunda transformação na orientação do modelo de desenvolvimento sul-coreano. Tal plano buscou o aumento da eficiência econômica, redução da dependência externa e o desenvolvimento de indústrias intensivas em tecnologia. Segundo Dall’Acqua (1991), o quinto plano representou o turning point do modelo sul-coreano, promovendo a retomada ao crescimento.

Os efeitos do Terceiro, Quarto e Quinto Planos Quinquenais sobre a transformação estrutural sul-coreana puderam ser observados através dos Mapas em Árvore para os anos de 1975, 1988 e, em certa medida, 2001 (Figuras 6, 11 e 12).

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Figura 11 - Mapa em Árvore dos produtos exportados com RCA>1 pela Coreia do Sul em 1988. A área ocupada por cada produto é proporcional ao volume exportado do mesmo em relação ao total das exportações. FONTE: Atlas da Complexidade Econômica (2016)

Figura 12 - Mapa em Árvore dos produtos exportados com RCA>1 pela Coreia do Sul em 2001. A área ocupada por cada produto é proporcional ao volume exportado do mesmo em relação ao total das exportações. FONTE: Atlas da Complexidade Econômica (2016)

106 Em análise a tais mapas, tornou-se visível o significativo ganho de espaço dos produtos da categoria de “Maquinário e Transporte” nas exportações do país entre 1975 e 2001. Em 1975, os produtos de tal categoria apareciam em terceiro lugar em termos de participação nas exportações sul- coreanas e, em 1988, figuraram em primeiro lugar, com detaque à produção de meios de transporte (carros e embarcações) e eletrodomésticos (televisões, gravadores de vídeo e som e aparelhos de som). Já em 2001, os produtos desse grupo passaram a representar praticamente metade das exportações da Coreia do Sul e outros produtos passaram a ter mais destaque, como microcircuitos eletrônicos e hardwares de controle e periféricos.

Tal transformação também pôde ser verificada através da análise do Mapa de Espaço Produto sul-coreano para os mesmos anos (Figuras 8, 13 e 14). Em 1975, notava-se um grande aglomerado produtivo da indústria têxtil e de vestuário (nós azuis à direita) e outro, menor, relacionado a utensílios domésticos e de escritório (nós vermelhos) que, nos mapas de 1988 e 2001, foi perdendo espaço. Mesmo o nó referente à produção de calçados (maior dentre os azuis à direita), que ainda manteve tamanho significativo em 1988, acabou por desaparecer no mapa de 2001, indicando que a VCR no produto passou a ser menor que a unidade. Por outro lado, o aglomerado referente a produtos eletrônicos apresentou forte expansão no período, suplantando, em 2001, os outros dois em participação nas exportações.

Figura 13 - Mapa do Espaço Produto da Coreia do Sul em 1988. O tamanho dos nós é proporcional à exportação mundial do bem no respectivo ano. FONTE: Atlas da Complexidade Econômica (2016)

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Figura 14 - Mapa do Espaço Produto da Coreia do Sul em 2001. O tamanho dos nós é proporcional à exportação mundial do bem no respectivo ano. FONTE: Atlas da Complexidade Econômica (2016)

Em análise à Tabela 2, verificou-se que a diversidade sul-coreana ( ) cresceu aproximadamente 47,5% entre 1975 e 1990. Embora tal crescimento tenha sido menor que o apresentado para o período anteriormente analisado, ele não deixa de ser significativo. Uma transformação desse período em relação ao anterior é que a Coreia do Sul passou a ser mais diversificada que os países com cestas de exportações semelhantes ( ), ou seja, comparativamente, o país passou a apresentar um conjunto de capacidades produtivas mais amplo que seus semelhantes. No entanto, nesse mesmo período, houve um aumento da ubiquidade da cesta de exportações do país ( ), indicando que a diversificação sul-coreana direcionou-se a produtos mais comuns no mercado mundial ou que outros países direcionaram sua produção a bens já exportados pela Coreia do Sul. Independente da razão, o aumento da ubiquidade resultou na redução do Índice de Complexidade Econômica (ICE) para o período.

Uma indicação de que a diversificação da cesta de exportações sul- coreana não foi em direção a produtos mais ubíquos, ou seja, que, na verdade, outros países passaram a produzir os bens exportados pela Coreia do Sul, é o aumento de 84,8% na EXPY para o período, que apontou que a cesta de exportações do país passou a se assemelhar a de países com PIB per capita mais elevado e, consequentemente, a de países mais complexos

108 economicamente. Outro indício é o crescimento de 81,2% da Share Core, corroborando o aumento no número de nós do Mapa de Espaço Produto conforme verificado anteriormente.

Ainda nesse período, o PIB per capita permaneceu muito menor que o apontado pela EXPY, indicando que para o nível de complexidade do país, ainda haveria amplo potencial de crescimento.

Em análise aos Mapas de Possibilidades para 1975, 1988 e 2001, apresentados nas Figuras 10, 15 e 16, notou-se que houve um aumento gradativo na distância entre os bens já produzidos e os ainda não produzidos.

Figura 15 - Mapa de Possibilidades Produtivas da Coreia do Sul em 1988. O tamanho dos nós é proporcional à exportação mundial do bem no respectivo ano. FONTE: Atlas da Complexidade Econômica (2016)

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Figura 16 - Mapa de Possibilidades Produtivas da Coreia do Sul em 2001. O tamanho dos nós é proporcional à exportação mundial do bem no respectivo ano. FONTE: Atlas da Complexidade Econômica (2016)

No entanto, foi possível verificar que a possibilidade de produção se tornou mais próxima de bens das categorias “Produtos Manufaturados Diversos” – como vestimentas tecnológicas, jóias e relógios – e da categoria “Maquinário e Equipamentos de Transporte” – como motocicletas, baterias e maquinário industrial especializado –, uma vez que produtos de menor complexidade se distanciaram. Para os produtos da segunda categoria, em geral, o valor do Índice de Complexidade do Produto são maiores, como também pode ser verificado pelos Mapas de Possibilidades. Assim, notou-se, em parte, uma aproximação da produção sul-coreana em relação a produtos mais complexos e, portanto, tornou-se gradativamente mais fácil o país direcionar sua produção a bens de maior complexidade. Tal cenário pôde ser verificado também ao se analisar exclusivamente os mapas de 1975 e 1988, aumentando a possibilidade de a ampliação na ubiquidade produtiva sul- coreana tenha ocorrido em virtude da maior diversificação de outros países do mundo, principalmente dos concorrentes diretos do país como Hong Kong, Taiwan, Cingapura e Malásia.

110 Nesse contexto, foi possível perceber o sucesso dos Planos Quinquenais na promoção da transformação estrutural sul-coreana. Entre sua independência e o final da década de 1980, a Coreia do Sul passou de uma economia predominantemente agrária para uma economia fortemente industrializada. Contudo, cabe salientar que os Planos Quinquenais foram implementados em conjunto com diversas políticas públicas que tornaram possível seu sucesso.

De acordo com Dall’Acqua (1991), a consolidação do modelo exportador sul-coreano deu-se sob forte coordenação estatal, através do Economic Development Board, conselho responsável pelo planejamento e execução das estratégias de desenvolvimento. A ação desse conselho ocorria com forte participação de empresários sul-coreanos, que frequentemente se reuniam com as autoridades públicas de forma a definir estratégias e trocar informações acerca da viabilidade dos projetos a serem realizados. “Uma das principais características dessa dinâmica é a confiança mútua existente entre empresários e governo” [Pg.108]. Ainda, havia amplo fornecimento de dados pelas firmas em relação ao seu desempenho, reduzindo os riscos das intervenções governamentais.

Além de atuar diretamente na produção e no controle de preços, de salários e da taxa de câmbio, buscando conter a inflação, o governo exerceu profundo controle sobre a distribuição de crédito no país. Nesse caso, o Estado determinava os setores prioritários e, dentro desses setores, as firmas prioritárias ao recebimento de crédito. Essa política de controle rígido do crédito culminou na criação de grandes conglomerados industriais, os chaebols, cuja grandeza e diversificação estrutural reduziam os custos de se investir em novas atividades e aumentavam as chances da criação de economias de escala. Tal estrutura predominou até o início da década de 1990, quando passou-se a promover a desconcentração industrial.