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O DIMENSIONAMENTO EM APARTAMENTOS NOS DOMÍNIOS DA ERGONOMIA

2.4 CONSIDERAÇÕES ANTROPOMÉTRICAS

2.4.4 APLICAÇÃO DA ANTROPOMETRIA À ARQUITETURA

Progressivamente, a antropometria vem sendo considerada nos projetos de arquitetura. O uso de dados antropométricos, cada vez mais acessíveis, relaciona-se com parâmetros para o

dimensionamento de espaços adequados aos requisitos humanos. Tais configurações são determinantes da carga física relacionada às atividades nos ambientes e permitem assegurar a integridade física e psíquica dos usuários, além de garantir um desempenho de uso mais satisfatório.

Os edifícios são construídos para pessoas e para serem habitados por elas. Sendo assim, no projeto arquitetônico, as dimensões e os movimentos do corpo humano são os determinantes da forma e tamanho dos equipamentos, mobiliário e espaços ou pelo menos deveriam ser (BOUERI, 1999a).

O conhecimento das dimensões do corpo humano e da sua mecânica de articulação, portanto, é imprescindível quando se procura melhorar a relação do edifício com aqueles que farão uso dos espaços edificados. Esse enfoque físico-morfológico é inegavelmente fundamental na busca do conforto nos espaços arquitetônicos, porém não é o único. Sobretudo porque um projeto ergonomicamente adequado não pode ser definido apenas com preocupações antropométricas, sendo fundamental tomar o usuário na sua total complexidade de ser humano.

Segundo Panero e Zelnik (2002), a interface entre usuário e ambiente projetado, ou adaptado aos seres humanos, deve garantir conforto, segurança e uma vivência eficiente. As alturas das superfícies de trabalho, os espaços livres para circulação entre os móveis, as alturas de prateleiras em apartamentos, as larguras de corredores, tudo isso deve refletir as configurações das dimensões corporais. Em geral, projeta-se para grupo de usuários bastante variado, ou então, uma população específica – crianças, idosos, portadores de deficiência física. Entretanto, as necessidades desses usuários, só poderão ser atendidas de forma adequada reconhecendo-se o estudo das dimensões corporais e suas implicações ergonômicas.

Cada projeto requer a seleção dos dados antropométricos adequados e relacionados aos percentis específicos. Para Panero e Zelnik (2002), se o projeto requer que o usuário alcance algo, o dado referente ao alcance do braço, deve selecionar o percentil 5. Esse dado indica que 5% da população alcança uma distância menor, enquanto que 95%, ou a grande maioria terá maiores graus de alcance. Atendendo ao usuário com menor capacidade de alcance, também se atende ao usuário de maior capacidade de alcance, conseqüentemente o oposto não é verdadeiro. Se o requisito do projeto é definir espaços livres ou altura de passagem, a lógica é adequá-los aos usuários com maiores dimensões, assim o menor também será favorecido. Nesse caso, o oposto tampouco é verdadeiro.

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Para efeito de uma melhor compreensão dos significados da antropometria para a arquitetura, cumpre destacar, apoiados em Guimarães (2001), que existem dois tipos de variáveis antropométricas a serem consideradas com essa finalidade: as estáticas (estruturais) e as dinâmicas (funcionais).

• A antropometria estática: baseia-se em medidas estáticas, que indicam as dimensões físicas do corpo parado. Essas medidas estruturais são bastante utilizadas em projetos, porém nem sempre são adequadas para situações que envolvem movimentos. Nesse caso, recomenda-se utilizar dados da antropometria dinâmica;

• A antropometria dinâmica: inclui alcances, ângulos e forças de movimento na tomada de medidas dinâmicas. As medidas funcionais são tridimensionais. Os poucos dados existentes informam sobre os movimentos de partes isoladas do corpo, mantendo-se o resto do corpo estático. No entanto, o corpo conjuga vários movimentos simultaneamente.

No entanto, Panero e Zelnik (2002) destacam que grande parte dos dados antropométricos disponíveis são baseados em medidas estáticas mais relacionadas com o término das atividades. A capacidade de alongar-se, por exemplo, é um fator que influencia a dinâmica da atividade e, de alguma forma e em determinado grau, afeta esse movimento. Nesse caso, cabe ao projetista ficar atento às limitações inerentes aos dados estruturais tentando conciliar a sua natureza estática com a realidade dinâmica dos movimentos corporais. Assim, qualquer tentativa de simulação gráfica dos padrões dinâmicos dos movimentos corporais sempre envolve três dimensões.

De acordo com Iida (1998), além dos espaços relacionados com as características anatômicas e fisiológicas, o indivíduo ainda precisa de um espaço adicional em torno do seu corpo, para se sentir psicologicamente confortável. Logo, todos possuem um espaço pessoal, que ao serem desconsiderados provoca desconforto e estado de stress, refletindo na redução do seu desempenho.

Segundo Panero e Zelnik (2002), um espaço é considerado adequado quando as pessoas conseguem movimentar-se nele sem esbarrar em nada ou em ninguém. Essa dimensão, diferente das medidas antropométricas, não é física. Ao acomodar o corpo ao ambiente, os fatores envolvidos não podem se limitar às medidas e distâncias, no sentido absoluto. Apoiados em Hall, os autores citados afirmam que há certas “dimensões ocultas” que estão baseadas na natureza da atividade ou interação social.

Nesse contexto, cada ser humano tem uma projeção interna do espaço imediatamente circundante. São as “zonas de amortecimento corporal”. O tamanho, forma e grau de invasão dessa zona relacionam-se com os eventos interpessoais e à história cultural e psicológica do indivíduo. Essas afirmações foram demonstradas nos Estados Unidos por Horowitz (PANERO; ZELNIK, 2002).

Os dados antropométricos, entretanto, nunca devem ser encarados como método infalível para as questões dimensionais. Tais dados devem ser relacionados como uma das várias fontes de informação ou ferramentas disponíveis para o projeto. A dimensão corporal é apenas uma das inúmeras configurações humanas que têm impacto na fixação das dimensões dos espaços.