• Nenhum resultado encontrado

O DIMENSIONAMENTO EM APARTAMENTOS NOS DOMÍNIOS DA ERGONOMIA

2.1 A ERGONOMIA COMO FERRAMENTA PROJETUAL

Na abordagem ergonômica, de acordo com Iida (1998), o projeto não é uma atividade isolada, mas destina-se a desenvolver certas funções e habilidades que complementem aquelas do ser humano. Essa atividade projetual deve partir de uma visão ampla, considerando todos os elementos que influirão no seu desempenho. A qualidade desse desempenho estará diretamente relacionada com o grau dessa adaptação aos usuários.

Nesse contexto, Moraes & Mont’Alvão (2000) afirmam que a ergonomia se orienta em torno do conceito de sistema e de desenvolvimento e operação de sistemas, em que o desempenho humano só pode ser corretamente entendido a partir da organização do todo. As mesmas autoras também enfatizam, apoiadas em Hendrix, que a única e específica tecnologia da ergonomia é a tecnologia da interface ser humano-sistema. Então, como ciência, a ergonomia trata de desenvolver conhecimentos sobre as capacidades, limites e outras características do desempenho humano que se relacionam com o projeto de interfaces entre humanos e outros componentes do sistema. Como prática, a ergonomia compreende a aplicação da tecnologia da interface ser humano-sistema ao projeto ou modificações de sistemas para aumentar a segurança, o conforto e eficiência do sistema e da qualidade de vida.

Portanto, do ponto de vista ergonômico, os produtos não são considerados em si, mas apenas como meios para que os humanos possam executar determinadas funções. Tais produtos passam a fazer parte de sistemas ser humano-máquina-ambiente, onde as máquinas e os ambientes possam funcionar harmoniosamente com os seres humanos, de modo que o desempenho dos mesmos seja adequado (IIDA, 1998). Máquina, nessa acepção, deve ser entendida como todas as ajudas materiais que o homem utiliza no seu trabalho, englobando os equipamentos, ferramentas, o mobiliário e instalações.

Segundo Moraes e Frisoni (2000), a atividade projetual inicia-se com a verificação de uma oportunidade de negócio, prosseguindo com o planejamento do projeto, a problematização, o levantamento de dados sobre similares e sobre o usuário, a análise do produto a ser desenvolvido, a análise dos dados coletados e síntese dos mesmos, a geração de alternativas, a seleção de alternativas, a consolidação e validação, o detalhamento, retornando-se ao consumidor.

Numa situação ideal, de acordo com Iida (1998), a ergonomia deve ser aplicada desde o início das etapas projetuais de produtos e ambientes. Essas devem incluir o ser humano como um de seus componentes no intuito de considerar as características humanas com as características e restrições dos componentes mecânicos ou ambientais, para se adaptarem mutuamente uns aos outros.

29

O mesmo autor adverte que esta adaptação sempre deve ocorrer do projeto para os seres humanos. O sentido inverso nem sempre é possível, sendo muito mais difícil adaptar o ser humano ao projeto do que o projeto ao ser humano. Isso significa que a Ergonomia parte do conhecimento do ser humano para fazer o projeto, ajustando-o às capacidades e limitações humanas (IIDA, 1998).

Moraes e Frisoni (2000) propõem, a partir de Yap et alli, que na época em que os produtos usados pelas pessoas eram simples, era possível produzir projetos através de métodos intuitivos e empíricos. Quando os produtos se tornaram mais complexos, a abordagem empírica tornou-se insuficiente e foi preciso adotar abordagens científicas baseadas em considerações ergonômicas das capacidades e das limitações humanas. A consideração desses fatores aperfeiçoa e maximiza a funcionalidade, a segurança e a usabilidade do produto.

Moraes e Mont’Alvão (2000), afirmam, apoiadas em Pheasant, que se um produto, um sistema ou um ambiente é projetado para o uso humano, seu projeto deve estar baseado nas características físicas e mentais do seu usuário humano. Este é o princípio do projeto centrado no usuário que objetiva a melhor integração possível entre produto e usuários, no contexto da tarefa a ser desempenhada.

A partir de Porter e Porter, Moraes e Frisoni (2000) propõem que produtos são criados para ser usáveis, seguros e funcionais. Entretanto, atualmente, os produtos projetados não estão atendendo às necessidades, aptidões, habilidades e preferências da população usuária considerada. Muito diversificada, essa população inclui desde crianças, pessoas portadoras de deficiência e os idosos. A incompatibilidade na interface entre usuários e produto pode causar desconforto ou inconveniência, ferimentos e até fatalidades. Evitam-se desajustes quando se consideram as características humanas físicas e psicológicas da população focada, bem como as atividades que serão desempenhadas.

Desse prisma, a ergonomia é uma ferramenta de apoio projetual muito importante e, através de Chapanis, Moraes e Mont’Alvão (2000) a descreve como um corpo de conhecimento sobre habilidades, limitações e outras características humanas relevantes para o design. Sendo assim, o projeto ergonômico é a aplicação da informação ergonômica para definir ferramentas, máquinas, sistemas, tarefas e ambientes para o uso humano seguro, confortável e efetivo. A palavra design destaca-se como significante, porque nos separa de disciplinas puramente acadêmicas como antropologia, fisiologia e psicologia.

De acordo com Moraes e Frisoni (2000), a visão do sucesso de um produto baseada apenas em grandes insights está ultrapassada. A criatividade do projetista é relevante para elaborar produtos

novos e diferenciados, entretanto, a aparência já não é mais fator único e exclusivo de sucesso. Atualmente, trabalhar em equipe, saber usar instrumentos de trabalho, métodos e técnicas para prever resultados e, principalmente, ouvir e respeitar outras áreas de conhecimento e diferentes saberes é uma forma criativa para se destacar profissionalmente.

Soares (1998) expõe que os produtos ergonomicamente bem projetados consideram uma larga variedade de usuários – o usuário freqüente, o curioso, o idoso, a criança, a mulher, o homem, o saudável, aquele com saúde comprometida – oferecendo segurança, eficiência, conforto e satisfação estética, em condições normais de uso e previsíveis possibilidades de uso indevido. Para o autor embora nem todos os fatores de satisfação dos usuários estejam associados à ergonomia, os produtos ergonomicamente bem projetados visam à garantia da satisfação dos usuários.

Até o presente momento, foram apresentados princípios da ergonomia como ferramenta projetual de forma ampla e generalizada para todo tipo de produto. Contudo, cabe reafirmar que o objeto de estudo deste trabalho é o dimensionamento em apartamentos. Portanto, as questões a serem tratadas neste capítulo, a partir de então, irão recair, mais especificamente, no domínio da especialização da ergonomia do ambiente construído, definida como a área específica da ergonomia para tratar questões relacionadas ao projeto e avaliação do ambiente físico, local de todas as atividades humanas.