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Aplicação da Prototipagem na Etapa de Produção

3 PROTOTIPAGEM

3.2 C ARACTERIZAÇÃO DA A TIVIDADE DE P ROTOTIPAGEM

3.2.5 Aplicação da Prototipagem na Etapa de Produção

Além da prototipagem focada no produto, existem também diversas abordagens de prototipagem que são mais focadas no processo de produção. Segundo Clark, Chew e Fujimoto (1992), a prática de experimentar e testar alternativas de sistemas de produção pode ser realizada não apenas por intermédio de uma produção-piloto, mas também no início da fase de produção propriamente dita, quando esta inicia com ritmo lento e gradualmente evolui para o ritmo desejado da linha de produção.

Clark, Chew e Fujimoto (1992) definem produção-piloto (pilot run) como a atividade de ensaiar a produção de um novo produto em uma linha de montagem fictícia fora ou dentro da fábrica ou ainda, na própria linha de montagem comercial. Ou seja, a produção-piloto constitui- se na experimentação da produção de um novo produto e visa ao treinamento dos operários e à identificação de problemas não solucionados nas etapas anteriores de desenvolvimento do produto.

Clark, Chew e Fujimoto (1992) esclarecem que quando a produção-piloto ocorre dentro da linha de montagem comercial, assegura-se maior grau de fidelidade ao ensaio da produção, uma vez que este ocorre no ambiente real. Em contrapartida, implica certa interferência no tempo de atravessamento dos produtos existentes na fábrica, tendo em vista a baixa velocidade de produção do produto-piloto.

Estudo piloto constitui-se em outro termo encontrado na literatura e relacionado ao ensaio de uma ação que envolve uma inovação ou uma mudança (TURNER, 2005). Para Turner, um estudo piloto é uma atividade conduzida com o propósito de melhorar o entendimento de uma mudança ou inovação, reduzindo o risco e a incerteza associada à nova situação.

Turner (2005) menciona que não há um consenso com relação à diferença entre protótipo e estudo piloto. Porém, para Field e Keller21 (1998) e Hayes, Wheelwright e Clark22 (1988) apud Turner (2005), a construção do protótipo precede o estudo piloto, sendo que o

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FIELD, M.; KELLER, L. Project management. London, UK: International Thompson Business Press, 1998

apud TURNER, R. J. The role of pilot studies in reducing risk on projects and programmes. 2005.

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HAYES, R.H.; WHEELWRIGHT, S.C.; CLARK, K.B. Dynamic manufacturing: creating the learning organization. New York, NY: Free Press, 1988 apud TURNER, R. J. The role of pilot studies in reducing risk on projects and programmes. 2005.

primeiro é construído na fase de análise da viabilidade da mudança ou inovação e o segundo é conduzido na fase que antecede a operação, quando a inovação é submetida ao ambiente de uso, gerando informações para reduzir o risco na etapa de operação. Ou seja, o entendimento de Field e Keller (1998) e Hayes, Wheelwright e Clark (1988) apud Turner (2005) no que diz respeito ao propósito e à forma de condução de um estudo piloto parece estar em sintonia com o que Clark, Chew e Fujimoto (1995) nomeiam produção-piloto. Entretanto, não está devidamente esclarecido se um estudo piloto tem a mesma abrangência da produção-piloto conceituada por Clark, Chew e Fujimoto (1995) e, portanto, estende-se até a operação da inovação no seu ambiente verdadeiro, ou se está restrito a um ensaio da operação em um ambiente fictício.

Clark, Chew e Fujimoto (1992) mencionam que, ao iniciar a fabricação comercial do produto final, há ainda oportunidade de prosseguir com o processo de experimentação. Os mesmos autores definem o termo ramp up como o aumento gradual na velocidade de produção até que a linha de montagem atinja toda sua capacidade. Os autores explicam que a melhoria na capacidade de produção ocorre por intermédio da prática de rastrear problemas não detectados nas etapas experimentais precedentes. Uma vez que a velocidade de produção desejada precisa ser atingida rapidamente, Clark, Chew e Fujimoto acrescentam que a etapa de ramp up impõe um desafio adicional em termos de experimentação, exigindo agilidade na identificação e resolução de problemas.

Finalmente, Chew, Leonard-Barton e Bohn (1991) utilizam o termo on-line learning para designar a aprendizagem ocorrida na linha de produção, a partir da avaliação de uma nova tecnologia em operação. Estes autores citam outras possibilidades de aprendizagem, normalmente, utilizadas em etapas anteriores ao acompanhamento da produção. São elas:

− Aprendizagem a partir da experiência de outras pessoas;

− Simulação: aprendizagem a partir da construção de modelos artificiais da nova tecnologia e de experimentá-los;

− Prototipagem: aprendizagem a partir da construção e operação da nova tecnologia em pequena escala e em um ambiente controlado;

Em síntese, Chew, Leonard-Barton e Bohn (1991) entendem que on-line learning consiste em um método residual de depuração de problemas ainda não detectados pelas oportunidades anteriores de aprendizagem e que podem prejudicar o funcionamento normal ou esperado da nova tecnologia. As alternativas citadas por Chew, Leonard-Barton e Bohn (1991)

para a aprendizagem promovida pela experimentação no ambiente real não se restringem a um novo produto em uso, mas também, a um processo colocado em prática pela primeira vez. Ou seja, o que Chew, Leonard-Barton e Bohn (1991) denominam on-line learning pode ser considerado similar ao termo ramp up adotado por Clark, Chew e Fujimoto (1992).

Em suma, observa-se que a literatura faz uso de diferentes terminologias para as atividades de experimentação aplicadas na etapa de produção, tais como, estudo piloto, produção-piloto, ramp up ou on-line learning.

É importante esclarecer que, apesar do ramp up e on-line learning resultarem em protótipos físicos, diferem-se dos protótipos físicos tipicamente produzidos na fase de concepção do produto, na medida em que se utilizam do próprio processo de produção do produto final para investigação.

Outro ponto a ser destacado refere-se ao aproveitamento do produto gerado nas experimentações efetuadas ao longo das etapas de desenvolvimento do produto. Beynon-Davies, Tudhope e Mackay (1999) comentam que existe uma discussão a respeito do aproveitamento de protótipos como produtos finais, ainda que exista grande fidelidade entre ambos. Já, os protótipos físicos gerados pelo ramp up e on-line learning constituem-se no próprio produto final.

Outra peculiaridade do ramp up e on-line learning em relação aos demais protótipos físicos refere-se à fidelidade na representação do ambiente em que o produto resultante está inserido. Embora Clark, Chew e Fujimoto (1992) mencionem a possibilidade de inserção da produção-piloto na linha de montagem comercial, destaca-se que o produto-piloto não está sujeito à mesma pressão em termos de prazos e qualidade comparativamente ao produto final. No caso do produto-piloto, há um aumento no seu tempo de atravessamento porque se reserva um espaço de tempo para que as discussões ocorram livremente e para que diferentes métodos sejam experimentados. Além disso, eventuais problemas no produto-piloto não comprometem as relações com o cliente, uma vez que o mesmo não é comercializado. No caso do ramp up ou on-

line learning, os prazos originais de entrega ao cliente estão mais suscetíveis de serem afetados

pela imprevisibilidade dos problemas a serem solucionados na própria produção e eventuais problemas na qualidade produto final comprometem as relações com o cliente.

Embora existam diferenças entre a prototipagem que tipicamente é realizada na concepção de um produto e as atividades de experimentação da produção, é possível identificar semelhanças entre as mesmas. Todos os tipos de experimentação da produção mencionados:

estudo piloto, produção-piloto e ramp up ou on-line learning têm o propósito de reduzir o risco e a incerteza. Além disto, este propósito é atingido buscando-se uma especificação do objeto em estudo através de investigações conduzidas experimentalmente a partir de uma aproximação deste objeto.

Com base na definição de prototipagem apresentada na seção 3.2.1, entende-se que as atividades produção-piloto, ramp up e on-line learning também podem ser denominadas como prototipagem. Como o produto aproximado nestes casos é o processo de produção, estas atividades são entendidas como prototipagem do processo de produção.

Considerando a tendência de se realizar de forma simultânea as diversas etapas do processo de desenvolvimento do produto (ROSENTHAL; TATIKONDA, 1992; BROWN; EISENHARDT, 1995; REINERTSEN, 1997; PATTERSON, 1999; OTTO; WOOD, 2001), em muitas situações existe a necessidade de se realizar, em paralelo, protótipos voltados à concepção do produto e também à concepção do sistema de produção. De fato, algumas das técnicas de prototipagem mencionadas neste capítulo, podem ser utilizadas, em algumas circunstâncias, para ambos os tipos de prototipagem. Por exemplo, segundo Turner (2005), um estudo piloto pode contribuir para experimentar e aprovar o projeto do produto e o método de produção a ser adotado.

A seguir são apresentados os procedimentos e diretrizes para a implementação de atividades de prototipagem. Doravante será utilizado o termo prototipagem na produção para referenciar a prototipagem realizada na produção comercial (ramp up ou on-line learning).

3.3PROCEDIMENTOS E DIRETRIZES PARA A IMPLEMENTAÇÃO DA PROTOTIPAGEM