• Nenhum resultado encontrado

2 GÊNEROS TEXTUAIS: DA TEORIA À SALA DE AULA

6.2 Aplicação das oficinas

Inicialmente, tivemos alguns problemas quanto à escolha dos dias em que seriam aplicadas as oficinas. Foi-nos informado que os estudantes não poderiam ficar na sala de aula sem a presença dos seus respectivos professores. Por essa razão, escolhemos duas datas nas quais haveria expediente na escola, mas o quantitativo de alunos seria menor. Dessa forma, outro professor de apoio ou algum estagiário poderia ficar no lugar de P1 e de P2.

Nesse contexto, foram escolhidas as datas: 28 de outubro, um sábado, visto que, nesse dia, os professores estavam fazendo a reposição de um dia letivo, não trabalhado durante a greve ocorrida no mês de junho de 2017; e 30 de outubro, uma terça-feira que estava determinada no calendário como Conselho de Classe. Nessa última data, os professores colaboradores foram liberados para participar da oficina por estarem com o Diário Online atualizado.

6.2.1 Oficina 1: Gêneros textuais: características e funcionalidades

A primeira oficina teve como objetivo principal apresentar aos docentes a teoria dos gêneros textuais, já que foi observada, no período de coleta de dados, uma lacuna a respeito dessa questão. Além disso, era preciso oportunizar aos professores o contato com gêneros textuais diversos, pois não percebemos durante o acompanhamento das aulas o cuidado com uma seleção de textos para compartilhar com os estudantes; geralmente, eram trabalhados apenas aqueles que estavam disponíveis nos materiais didáticos. Outro ponto que quisemos destacar para os professores nessa oficina foi a diferenciação entre gênero textual e tipo textual, principalmente para P2, que demonstrou essa lacuna em uma de suas respostas apresentadas no questionário que foi aplicado no início deste estudo. Nesse contexto, procuramos fazer com que os docentes voluntários refletissem um pouco sobre sua própria prática, confrontando as teorias apresentadas pela pesquisadora com as atividades comumente desenvolvidas por eles no dia a dia.

No primeiro dia de oficina, os professores foram reunidos na biblioteca da escola, já que era lá que podemos montar os equipamentos de multimídia necessários para este primeiro momento (computador e Datashow). Inicialmente, foi disponibilizada aos professores uma série de gêneros textuais impressos para que pudessem analisá-los quanto à estrutura e à classificação.

Nesse momento, os professores agiram de maneira espontânea, expondo, sem nenhuma intervenção da pesquisadora, seus conhecimentos acerca de quais gêneros textuais estavam diante deles.

Complementando essa etapa, também foram projetadas, em slides, imagens de gêneros textuais não verbais e mistos (charges, tirinhas, anúncios publicitários, placas, entre outros). Nessas projeções, os professores entraram em contato com mais gêneros e, à medida que apareciam, iam falando a respeito do que se tratava. Nessa etapa, os professores puderam se expressar oralmente acerca das características composicionais de cada gênero exposto, a fim de nomeá-los. Após fazê-lo, deveriam comentar sobre como chegaram a essa conclusão.

Após esse momento, foram apresentados em slides os conceitos de tipo textual, gênero textual e domínio discursivo à luz das ideias de Marcuschi (2008/2012) e Antunes (2013), bem como o que esses teóricos trazem a respeito do uso desses textos em sala de aula. Assim, os professores puderam entrar em contato com questões teóricas sobre os gêneros textuais e debater, junto com a pesquisadora, sobre a estrutura deles, sua função social, além de questões como intencionalidade discursiva, intergenericidade e contexto de produção.

Após essa etapa teórica, foi distribuído aos docentes um material teórico impresso sobre as questões discutidas nos slides. O texto em questão foi “Gêneros textuais: configuração, dinamicidade e circulação”, de Marcuschi (In. KARWOSKI, 2012). O propósito da entrega desse texto aos docentes foi disponibilizar um material teórico que eles levariam consigo para posteriores leituras. Nesse contexto, alguns pontos do texto foram debatidos com os professores e foram relacionados às suas práticas em sala de aula, observadas pela pesquisadora durante o período de observação. Nessa ocasião, P1 expôs suas experiências em sala de aula e externou ter dificuldade de aplicar tais conceitos em sala de aula, devido à falta de tempo. Mesmo assim, demonstrou empolgação diante da possibilidade de rever sua prática em prol de um melhor desempenho leitor de seus estudantes.

Em seguida, retomamos os gêneros disponibilizados aos professores no início da oficina. Dessa forma, eles puderam analisá-los novamente por escrito à luz dos conceitos apreendidos. Essa experiência foi compartilhada oralmente pelos professores no final da atividade.

6.2.2 Oficina 2: Um olhar transdisciplinar para a prática docente

A segunda oficina objetivou romper um pouco com a visão disciplinar no qual o ensino escolar é inserido. Para tanto, procuramos motivar os professores a chegarem ao conceito de transdisciplinaridade de uma forma mais lúdica: foram entregues aos professores alguns desenhos de mandalas e eles deveriam escolher uma delas para colorir. Após aproximadamente 15 minutos de atividade, foi exposto aos docentes que a mandala representava o conhecimento, e as cores, as diversas áreas existentes. Então, pedimos que, se fosse possível, um deles explicasse se essa relação fazia sentido.

Nesse momento, P1 respondeu que sim. Segundo ela, “as áreas que aprendemos nos ajudam a compor o que chamamos de conhecimento”. P2 preferiu não se posicionar a respeito. Objetivamos, com essa atividade, explicar justamente o que foi exposto por P1 em sua fala: que as diversas áreas estão conectadas e integradas e que contribuem para a formação global dos indivíduos. (cf. NICOLESCU, 1999).

Assim, pretendemos com esta oficina atingir os seguintes objetivos: apresentar aos docentes, por meio de slides, o conceito de transdisciplinaridade e diferenciá-lo de outros conceitos mais usuais na área da educação como multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade e interdisciplinaridade; refletir sobre essa necessidade de integração das áreas do conhecimento

no dia a dia escolar; disponibilizar aos professores exemplos de atividades que seguem princípios transdisciplinares, a fim de motivá-los e inspirá-los.

Essa oficina também foi destinada à ligação entre o conceito de transdisciplinaridade e o de gêneros textuais, já discutido com os professores no encontro anterior. Ainda nessa ocasião, foram esquematizados os próximos passos que seriam dados nesta intervenção, como a escolha do tema do projeto transdisciplinar que seria construído com eles, as datas das intervenções, bem como sua culminância.

Após a reflexão sobre a mandala, foram expostos aos professores alguns slides que traziam um resumo das ideias de Nicolescu (1999) a respeito da transdisciplinaridade, diferenciando esse termo de outros mais comumente utilizados. Em seguida, foi iniciado um debate sobre vantagens e desvantagens da organização disciplinar na escola. Nessa ocasião, P1 e P2 apresentaram opiniões distintas. P1 expôs que acredita na importância de se ensinar os conteúdos de maneira integrada, já que eram formados para isso. Porém, fez a ressalva de que não trabalhava dessa forma por temer não dar conta dos conteúdos previstos para o ano letivo. Já P2 prefere a organização disciplinar, pois pode trabalhar cada conteúdo com calma, cada um de acordo com as especificidades de cada área do conhecimento.

Após esse momento de discussão, entregamos aos professores cópias de quatro atividades que se propunham a trabalhar um conteúdo de maneira transdisciplinar (cf. Anexo 10), as quais estão presentes em Santos e Sommerman (2014). Fizemos a leitura e a análise de maneira compartilhada, elencando o que poderia e o que não poderia ser aplicado de acordo com a realidade deles e da escola.

Para a última etapa da oficina, e levando em conta o objetivo principal desse estudo, pensamos em construir com os professores duas sequências didáticas, baseadas em práticas transdisciplinares que tivessem como objeto principal de trabalho o texto. Para isso, era preciso que elencássemos que gêneros poderiam ser trabalhados dentro do tempo de que dispúnhamos. Nesse contexto, foram escolhidos, inicialmente, quatro gêneros textuais: poema, entrevista, comentário opinativo e peça teatral. Entretanto, percebemos que não haveria tempo para que conseguíssemos realizar sequências didáticas que dessem conta de todos esses gêneros de maneira eficiente. Portanto, optamos por trabalhar apenas dois gêneros textuais: entrevista e comentário opinativo.

Durante esta etapa da oficina, P1 sugeriu que escolhêssemos, além dos gêneros, uma dada comemorativa para utilizarmos como temática principal das sequências. Após descartarmos algumas possibilidades, foi escolhido, então, o Dia da Consciência Negra (20 de novembro) como tema inspirador das sequências didáticas que seriam construídas. Nesse

contexto, passamos a organizar o cronograma de montagem e aplicação dessas atividades. Assim, foi construído com os professores o seguinte cronograma:

Quadro 12: Cronograma de elaboração e Aplicação das sequências didáticas

DATA ATIVIDADES

02 a 05/11 Construção das sequências didáticas dos gêneros Entrevista e Comentário opinativo. 06 a 24/11 Aplicação das sequências didáticas

28/11 Culminância.