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Os gêneros textuais na visão dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)

2 GÊNEROS TEXTUAIS: DA TEORIA À SALA DE AULA

2.6 Os gêneros textuais na visão dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)

Em sua introdução, os PCN remetem à Lei de Diretrizes e Bases da Educação — LDB (Lei Federal nº 9.394, aprovada em 20 de dezembro de 1996), a qual já sinalizava os objetivos da Educação Básica. Essa lei busca assegurar a todos os estudantes uma formação comum indispensável, levando em conta os princípios da cidadania e fornecendo-lhes meios para se

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Por mais que seja muito comum encontrarmos Bakhtin como base referencial dos estudos de gênero, é perigoso considerá-lo como o fundador ou precursor dessa temática. Constam, na história da Linguística, registros de preocupações anteriores nesse sentido, que apareciam desde a retórica clássica, por exemplo.

capacitar para o trabalho e posteriores estudos. Dessa forma, a LDB reforça a formulação de diretrizes que orientem o ensino e norteiem os conteúdos mínimos na Educação Básica.

É interessante, portanto, transcrever aqui como os PCN (1998) apontam esses objetivos já pretendidos pela LDB em 1996:

O ensino proposto pela LDB está em função do objetivo maior do ensino fundamental, que é o de propiciar a todos formação básica para a cidadania, a partir da criação na escola de condições de aprendizagem para:

I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;

II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores; IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social. (art. 32). Verifica-se, pois, como os atuais dispositivos relativos à organização curricular da educação escolar caminham no sentido de conferir ao aluno, dentro da estrutura federativa, efetivação dos objetivos da educação democrática.

Nesse contexto, a escola deve, então, se responsabilizar pela formação global dos estudantes, e isso se daria, principalmente, no Ensino Fundamental. No documento, almeja-se essa formação sem delimitar quais disciplinas seriam responsáveis por tal tarefa, pelo contrário: entende-se que essa é uma missão da escola, portanto, de todas as áreas do conhecimento.

De acordo com os PCN, anos finais (1998), em sua introdução, é preciso que a escola busque adequar seu currículo e seus conteúdos em busca dessa formação global dita anteriormente. Nesse sentido, é relevante transcrever como essa questão foi levantada no documento, como veremos a seguir.

Isso requer que a escola seja um espaço de formação e informação, em que a aprendizagem de conteúdos deve necessariamente favorecer a inserção do aluno no dia a dia das questões sociais marcantes e em um universo cultural maior. A formação escolar deve propiciar o desenvolvimento de capacidades, de modo a favorecer a compreensão e a intervenção nos fenômenos sociais e culturais, assim como possibilitar aos alunos usufruir das manifestações culturais nacionais e universais. No contexto da proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais se concebe a educação escolar como uma prática que tem a possibilidade de criar condições para que todos os alunos desenvolvam suas capacidades e aprendam os conteúdos necessários para construir instrumentos de compreensão da realidade e de participação em relações sociais, políticas e culturais diversificadas e cada vez mais amplas, condições estas fundamentais para o exercício da cidadania na

construção de uma sociedade democrática e não excludente. (BRASIL, PCN, 1998, p. 30).

Nesse contexto, é dever da escola oportunizar condições favoráveis de desenvolvimento para seus estudantes. No contexto escolar, pode-se ter acesso a diferentes níveis de conhecimento, amplia-se a cultura e desenvolve-se um olhar crítico diante do mundo. No momento em que a escola assume o papel de condutora nessa construção, o estudante passa a ter uma formação ampla e consistente. Ter esse direcionamento já nos documentos que embasam a elaboração dos materiais que serão usados pelos professores já é um bom caminho.

Dessa forma, é preciso pensar, na prática, como o estudante pode ser formado de maneira abrangente. No tocante ao aprendizado da leitura e da escrita, por exemplo, o contato com os mais diversos gêneros textuais pode fazer com que o estudante tenha uma visão ampla do mundo e de como se dá socialmente a comunicação humana. Isso, geralmente, fica a cargo do professor de Língua Portuguesa, uma vez que é na aula de Português que o indivíduo comumente tem a “obrigação” de ler e escrever textos. Todavia, os conhecimentos de outras áreas do conhecimento também se apresentam aos seus leitores por meio de gêneros textuais, uma vez que qualquer que seja o falante se utiliza deles para interagir socialmente.

Seguindo esse pensamento, Elias & Koch (2015) ressaltam que a quantidade de gêneros textuais existentes é incontável, daí a necessidade de buscar suas especificidades no universo em que circulam. Segundo elas,

esta lista é numerosa mesmo! Tanto que estudiosos que objetivaram o levantamento e a classificação de gêneros textuais desistiram de fazê-lo, em parte porque os gêneros existem em grande quantidade, em parte porque os gêneros, como práticas sociocomunicativas, são dinâmicos e sofrem variações na sua constituição, que, em muitas ocasiões, resultam em outros gêneros, novos gêneros. (ELIAS & KOCH, 2015, p. 101)

Assim, como apontaram as autoras, é muito grande a quantidade de gêneros utilizados pelos falantes em situações de interação. Por isso, compreender os gêneros textuais é uma competência muito importante na sociedade, visto que o leitor passa a entender melhor o meio que o cerca e pode agir de forma eficaz em suas interações. Ler mapas, organizar as informações lidas em resumos, confeccionar esquemas e gráficos, redigir resenhas ou simplesmente confrontar pontos de vista a partir da leitura de artigos científicos são habilidades necessárias em todas as disciplinas. Oportunizar essa amplitude fora dos limites

das aulas de Português tornaria a apreensão do conhecimento mais significativa para os alunos.

Sobre essa questão, Vieira & Silva (2014) também nos trazem reflexões interessantes a respeito da importância dos gêneros para a formação de leitores em nosso contexto atual. Para elas, “os textos produzidos socialmente circulam em padrões mais ou menos estáveis e circulam para serem lidos. Assim, não há como desconsiderar a interface entre gêneros textuais e a leitura.” Nesse contexto, os gêneros, cada um dentro de sua cultura e esfera de circulação,

indiciam as práticas sociais, as relações estabelecidas entre os participantes e também as representações construídas coletivamente por esses participantes sobre a sociedade em si e, também, sobre o modo de produzir, armazenar e divulgar conhecimento. Assim, a compreensão do que é ler não pode ser dissociada dos textos que se materializam em “padrões relativamente estáveis”. (VIEIRA & SILVA, 2014, p. 178)

Dessa forma, cabe à escola propiciar uma leitura realmente eficaz, não apenas nas aulas de português. Ler é uma atividade cognitiva e social, que envolve diversas habilidades e exigem um olhar atento do leitor, bem como seu conhecimento prévio, seu domínio dos modos de circulação dos gêneros, dos objetivos de cada texto, entre outros aspectos. Dar aos estudantes ferramentas para que aprendam a ler qualquer texto com proficiência é um desafio que deve ser abraçado pela escola e por todas as áreas.