• Nenhum resultado encontrado

2 GÊNEROS TEXTUAIS: DA TEORIA À SALA DE AULA

4.1 Caracterização da pesquisa

O conhecimento de que dispomos hoje em dia acerca do mundo em que vivemos não pode ser desassociado da pesquisa científica. A cada dia, mais pesquisadores se debruçam diante dos mais diversos objetos de estudo, e na área da Educação não é diferente.

Consideramos, neste estudo, à luz das ideias de Bortoni-Ricardo (2015), que a pesquisa em Educação, mais precisamente acerca da sala de aula, pode ser inserida no campo da pesquisa social. Segundo essa autora, há pesquisas que se enquadram no paradigma quantitativo ou no paradigma qualitativo. Este último provém de uma tradição epistemológica conhecida como interpretativismo. Nesse contexto, consideramos esta pesquisa qualitativa, a qual se constrói com base no interpretativismo.

De acordo com as ideias interpretativistas, não é possível observar o mundo sem levar em conta as práticas sociais e os significados que elas nos trazem. Nas palavras de Bortoni- Ricardo (2015), “a pesquisa qualitativa procura entender, interpretar fenômenos sociais inseridos em um contexto.” Dessa forma, o objetivo de uma pesquisa qualitativa na escola é analisar como se dão os processos educativos no dia a dia escolar. Nessa perspectiva, é uma pesquisa que, muitas vezes, traz à tona especificidades que não são percebidas normalmente pelos atores que trabalham com Educação. Esse “não perceber sua própria prática” se dá, geralmente, pela rotina que se estabelece no ambiente escolar. Em outras palavras, segundo Bortoni-Ricardo (2015),

os atores acostumam-se tanto com as suas rotinas que têm dificuldade de perceber os padrões estruturais sobre os quais essas rotinas e práticas se assentam ou — o que é mais sério — têm dificuldade em identificar os significados dessas rotinas e a forma como se encaixam em uma matriz social mais ampla [...]. (BORTONI-RICARDO, 2015, p. 49)

Assim, é importante que fomentemos cada vez mais pesquisas no âmbito da Educação, já que, estando inserido na pesquisa como participante ou como observador, o pesquisador trará um olhar diferente sobre a prática docente, o que muitas vezes não é feito pelos profissionais que atuam em nossas escolas. Refletir sobre a prática com um olhar qualitativo pode ser uma alternativa para uma possível mudança de atitude, quando detectadas inadequações. Para isso, é preciso ter um objeto de pesquisa muito claro, um problema a ser investigado pelo pesquisador. Assim, esclareceremos qual é o objeto desta pesquisa, bem como as perguntas exploratórias que a conduziram.

Ao refletirmos sobre a prática de alguns professores da Educação Básica e ao ouvirmos suas inquietações a respeito da compreensão textual e da habilidade leitora dos estudantes que ingressam no 6º ano do Ensino Fundamental, passamos a nos preocupar sobre as seguintes questões:

 Por que alguns alunos, mesmo no 6º ano do Ensino Fundamental, não entendem o que leem?

 Será que o trabalho com a leitura nos anos iniciais do Ensino Fundamental tem explorado o texto de maneira ampla, considerando suas especificidades, o contexto de produção e a informatividade?

 Como trabalhar de maneira transdisciplinar a fim de que o estudante chegue aos anos finais do Ensino Fundamental com uma formação leitora mais crítica, humana e consciente?

Em suma, o objetivo geral que norteou esta pesquisa foi o de investigar como se dá a

abordagem do texto nos materiais didáticos utilizados em duas turmas do 5º ano do Ensino Fundamental e na prática de seus professores, procurando fomentar nesses profissionais o olhar transdisciplinar a partir da teoria dos gêneros textuais.

Nesse contexto, acreditamos que os profissionais da Educação, a partir do momento em que têm ciência das teorias que embasam o trabalho com o texto em sala de aula, serão estimulados a explorá-lo com seus estudantes, independentemente da disciplina que estiverem ministrando. Ratificamos, aqui, a ideia de que os gêneros textuais podem ser utilizados em sala de aula de forma transdisciplinar, uma vez que sejam abordados sob diferentes olhares.

Para alcançar esse objetivo, este estudo almejou fazer um levantamento do uso dos gêneros textuais em turmas dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Buscou-se, aqui, investigar como os professores de duas turmas de 5º ano utilizavam os gêneros textuais em suas aulas. Verificamos, também, como o texto é abordado no material utilizado, a saber, livros didáticos, fichas de aula, entre outros materiais de apoio.

É importante, ainda, contextualizar o alvo desta pesquisa, bem como o porquê da escolha desse público e do local em que atuam. Primeiramente, é relevante explicar que o Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS) tem um caráter interventivo, portanto, esta pesquisa visa à investigação das práticas de professores polivalentes no tocante ao uso dos gêneros textuais no Ensino Fundamental, visando intervir nessas práticas a fim de melhorá- las. Como as práticas de leitura e de escrita ocorrem desde os anos iniciais, foram escolhidos, para fins de observação, dois professores que ministram aulas no 5º ano na escola Municipal Karla Patrícia.

A escolha da escola se deu a partir da premissa de que este é um trabalho de intervenção, portanto, seria mais adequado aplicá-lo na escola de atuação da pesquisadora. Nesse contexto, o acesso aos materiais, bem como aos professores, seria facilitado. Além de a instituição escolhida ser a escola onde trabalhamos, nesta fase, os estudantes, em sua maioria, já dominam o sistema de escrita alfabético e já têm condições de ler textos de maneira autônoma e com maior criticidade. A escolha do ano também se deu porque os professores polivalentes têm um papel determinante na construção do letramento dos alunos no tocante à leitura e à escrita de textos, uma vez que atuam nos primeiros anos do Ensino Fundamental, formando uma base leitora importante nos estudantes.