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SITUAÇÕES DE DIÁLOGO

3. A determinação referencial identifica os referentes apropriados em obediência ao que foi selecionado e sugerido nos inputs 1 e 2 por meio da correspondência (mesclagem) entre ambos.

6.2 Aplicação do novo modelo em situações de diálogo

A conexão entre os dois modelos descritos originou um terceiro modelo (ver diagrama 2), que utilizaremos para exemplificar a construção da anáfora indireta nominal e pronominal. Analisamos duas situações de diálogo, uma com a ocorrência de caso da anáfora indireta pronominal e outra com a ocorrência de caso da anáfora indireta nominal. O propósito é verificar a relevância e funcionamento dessas anáforas no modelo em unidades de fala.

Sabemos que esse tipo de textualização, sobretudo da anáfora indireta pronominal, tem maior produtividade na língua falada. Isso mostra que essas anáforas estabelecem na fala uma suposição de uso de conhecimento partilhados num grau mais elevado do que na escrita. Isso se deve ao fato de os interlocutores estarem em interação face a face, possuindo condições mais favoráveis de identificar os referentes discursivos durante a co-construção do sentido, a que se somam os elementos extralinguísticos que facilitam essa identificação. Isso decorre do fato de que, na interlocução, a fala vai sendo negociada por intermédio dos tópicos e da identificação dos referentes sem maiores dificuldades, contribuindo para a continuidade referencial e tópica.

Embora Marcuschi (2000) tenha desenvolvido seu Modelo das Operações para a Construção de Referente somente com vistas aos referentes pronominais, ou seja, a anáfora indireta pronominal, nesse novo modelo de operações estenderemos a análise aos referentes nominais, ou seja, a anáfora indireta nominal, o que é teoricamente possível, verificando os efeitos e as funções que esses referentes desencadeiam nas seqüências de turnos de fala. O primeiro exemplo escolhido tem como ponto de partida uma situação de enunciação apresentada no contexto de fala para construir um espaço

mental dentro do qual as operações cognitivas são aplicadas. Com isso pretendemos também verificar a adequação e pertinência do espaço de integração conceitual e/ou as estratégias de construção da anáfora indireta pronominal nesse modelo.

Nessa situação de diálogo, temos, então, a estratégia de Reenvio à situação enunciativa e a não identificação precisa da anáfora indireta pronominal. Trata-se de uma ocorrência da anáfora indireta pronominal sem antecedente co-textual.

[Essa unidade de fala contém dois tópicos: as aventuras na cachoeira e a reunião do movimento de jovens com os adolescentes do Rio de janeiro (Frits do Rio) que ocorre durante o encontro do Movimento de Jovens em Minas gerais entre adolescentes do Rio de janeiro, São Paulo e Minas. O diálogo é entre duas adolescentes paulistas que estão no ônibus de volta a São Paulo, após esse encontro, e elas falam basicamente do comportamento dos jovens durante a reunião na qual os adolescentes do Rio se manifestaram]

85 L2 éh:: fa/ mais foi legal mais eu achava que num ia ser muito não... 86 L1 -- cê já tinha ido pra cachoeira? ...

87 L2 não .. mais eu tinha ido lá pra:: hotel não né? ... num lugarzinho lá....

88 L1 casa dos (romeros) [

89 L2 éh ... nossa aquele dia foi maravilhoso né? que quando ficô cheio de nuvem...nossa parecia um tapete meu

[ [

90 L1 éh:: 91 L1 no primeiro dia as nuvens tavam... passando entre a gente eu lembro que eu saí bem de manhã ... i:: eu ficava no meio das nuvens.. aí no segundo dia as nuvens tava abaixo da gente... tava lindo ... a noite aquele monte de gente...acho que eu

[

92 L2 éh muito legal

nunca tinha visto o céu tão bonito... sem poluição [

93 L2 éh muito bonito... e a gente subindo nas pedras...

95 L2 éh:: eu raspei o pé lá tá doendo até agora...

96 L1 eu escorreguei tinha um buraco lá eu quase que cai a noite eu não tinha visto...

97 L2 hã é mais legal ainda ver o céu lá da pedras ( ) [

98 L1 ver as luzes da cidade [ 99 L2 éh:: muito legal [ 100 L1 legal muito bonito... de lá do altão ...éh:: -- o Frits? ((riso))

101 L1 porque você não participou?

102 L2 não sei não me convidaram...num tava nem:: [

103 L1 mais eu gostei mais do:: Frits do Rio

[

104 L2 éh:: eu também...

105 L1 aquele menino falava muito bem... aque/ aquele que fingiu que era jornalista lá...

[

106 L2 éh:: ele falava muito bem 107 L2 mais eles zoaram muito cum/ com os padres aquela / aquela educadora como ela chama?

[

108 L1 Neus/ [

109 L2 Niu/ Nê... zoaram muito com ela... zoaram de mais...

[

110 L1 coitada

111 L1 a gente gostô da (ZeZé) da Piedade apesar dela não gostá ... mó confú né? ... ninguém

112 L2 éh:: achou graça quando falou de (Jacy) de São Paulo e Rio... só na primeira quando foi a

[

primeira? ... 113 L2 éh::

114 L2 ah eu não lembro direito... 115 L1 ah eu também não lembro...falô do Tietê lá ...ah – eles zoam

com o padre mais os padres são mó legais... quem tava lá o:: Marcelo o Virgílio...i o:: que fala italiano lá ... como é que

[ [ [ 116 L2 éh:: 117 L2 o Pepino 118 L2 tinha mais um lá é o Stefano 119 L2 Padre Stefano [

120 L1 não conseguiu mesmo né? [

121 L2 éh:: ele só falava algumas coisas i o:: Marcelo traduzia...

122 L1 num dava não sabia Português... não sabe (Sit. de diálogo 3) O diagrama que segue representa os espaços mentais da unidade de fala destacada:

/.../ o Frits? porque você não participou? não sei não me convidaram...num tava nem:: mais eu gostei mais do:: Frits do .Rio éh:: eu também... aquele menino falava muito bem... aque/ aquele que fingiu que era jornalista lá... éh:: ele falava muito bem mais eles zoaram muito cum/ com os padres aquela / aquela educadora como ela chama? Neus/ Niu/ Nê... zoaram muito com ela... zoaram de mais... a gente gostô da (ZeZé) da Piedade apesar dela não gostá ... mó confú né? ... ninguém achou graça quando falou de (Jacy) de São Paulo e Rio... só na primeira quando foi a primeira? ah eu não lembro direito... ah eu também não lembro...falô do Tietê lá ...ah – eles zoam com o padre mais os padres são mó legais... quem tava lá o:: Marcelo o Virgílio...i o:: que fala italiano lá ... o Pepino ... tinha mais um lá ... é o Stefano /.../ (Sit. de diálogo 3)

MODELO DAS OPERAÇÕES PARA A CONSTRUÇÃO DA ANÁFORA