DIAGRAMA 3 (1) (2) (3) (4) (6) (5) LEGENDA
Na unidade de fala em questão, temos um tópico: comentários sobre a palestra no Encontro de jovens no Rio, contextualizado por um frame "Encontro de Jovens" no qual ocorre uma palestra chamada pelos adolescentes de Frits, que é ativada no contexto textual, remetendo aos comentários sobre o desenvolvimento da palestra.
Nesse sentido, a enunciação pode identificar a co-construção de
O Frits ? porque você não participos? Não me convidaram...gostei mais do fritis do Rio /.../ falava muito bem mais, ah eu não...
eles
Zoaram muito com os padres...aquela educadora zoaram muito com ela /.../ zoaram com os padres ...mais são mó legais /.../
A platéia
Durante o Encontro de Jovens, os palestrantes padres foram muito satirizados pelos adolescentes principalmente os que não falavam o Português por serem italianos.
O encontro foi para os adolescentes produtivo, mesmo com as situações criadas com efeito humorístico.
(1) - Input 1 (2) - Input 2 (3) - Referenciador
(4) – Determinação referencial (5) - Espaço de integração conceitual
(EIC) ou Estratégia de construção de referentes
referentes através de relações cognitivas para a construção de espaços mentais, visto que é durante essa co-construção da fala que surge a anáfora pronominal eles, a qual só será identificada no nível da enunciação, ou seja, pelas estratégias de construção de referentes que ocorre por intermédio das relações cognitivas. Desse modo, a anáfora pronominal eles, além de não possuir uma âncora no co-texto, só pode ter seus referentes identificados através de inferências como: os adolescentes que participavam da palestra no Rio, entre outras pessoas que lá estavam como palestrante, os padres, equipe de apoio etc., que podemos designar pelo SN a platéia, identificada no número 4 no diagrama. Assim, a identificação do referente eles surge através da correspondência das informações selecionadas entre os dois espaços de inputs. Vejamos os números 1 e 2.
No segundo espaço (input 2) é possível inferir interpretações ou identificações a partir do espaço de base (input 1), relacionando as informações no frame Encontro de Jovens. Nesse sentido, a fusão de partes das informações advindas dos dois inputs vai para o espaço de integração conceitual por meio de uma projeção seletiva, dando origem a novos referentes: encontro de jovens, os palestrantes padres, os adolescentes, não falavam Português, italianos.
Mantendo ainda o mesmo frame, as informações contidas no espaço de integração conceitual desencadeiam outro espaço mental - quadro de propriedades (QP) –, o qual possibilita a ampliação de inferências com outros referentes: os adolescentes, encontro produtivo, efeito humorístico, como podemos observar no número 6 do diagrama. Assim, o QP permite a expansão do frame através do encaixe de elementos, conduzindo a uma interpretação mais ampla com estruturas conceptuais mais genéricas.
O segundo exemplo toma como ponto de partida a anáfora indireta nominal baseada em esquemas cognitivos e modelos mentais. Esse tipo constitui a AI ancorada em representações conceituais ou relações cognitivas encapsuladas em modelos mentais: frames ou enquadre, cenários, esquemas, scripts etc., que contêm focos implícitos armazenados na memória de longo prazo como conhecimentos de mundo organizados. Necessariamente, anáforas desse tipo não estão ligadas a itens lexicais, porém podem ser ativadas por eles. Sendo assim, trata-se de uma ampliação de conhecimento
semântico.
A ocorrência da anáfora indireta nominal sem antecedente co-textual baseada em esquemas cognitivos permite aplicar as estratégias de construção de referentes e os espaços mentais, propiciando a análise da (re)construção do referente ancorado.
Na unidade de fala que segue, com o tópico conversado: a contratação do ônibus, é evocado o frame excursão, partilhado pelos interlocutores. Esse frame evoca focalizações (significações) diferenciadas e está ligado a uma expressão lexical que ativa o conhecimento de mundo para adequar a informação discursiva ao contexto de fala. Essa informação é inferida para estabilizar informações no contexto
[No fragmento que segue, os informantes encontram-se reunidos à noite em um acampamento, num sítio, no interior de São Paulo. A conversa é entre duas adolescentes. Falam sobre vários assuntos e, em determinado momento, quando se referem ao ônibus de excursão que havia trazido os adolescentes do Rio que se uniram aos de São Paulo nesse acampamento, fazem os seguintes comentários:]
163 L2 éh agora ... vamos começá o Frits puta aquela parte matou [
164 L1 por que será que o Fabiano usou ...como é que era? ...
165 L1 e L2 usou calça jeans na cachoeira
166 L1 é por que será que Manaus só manda pepino pra gen::te ((risos))
167 L2 por que /como que a :: lavoura estragou 168 L1 e L2 faltou abóbora ... ((ruídos ))
169 L2 Puta cara mó comédia ...
170 L1 tinha varias engraçadas porque o ônibus do Rio desmonta
porque foi contratado pelo [ 171 L2 éh 1406 [ 172 L2 legos [
173 L1 mas você sabe porque que foi /que eles fez o 1406? a Julia me contou que o Padre Marcelo ligô e :: contratô o ônibus e nem foi ver o ônibus ligô e contratô nem quis sabê tá ligado? por isso que falaram que foi contratado pelo sistema 1406
[
175 L1 éh 176 L2 ele era da Urumpunga né? ? ...
177 L1 sei lá meu mas ele leva des/ meu [
178 L2 desde de no/ noventa [
179 L1 desde SEMpre cara ele leva o pessoal do movimento pra cá
[
180 L2 desde 90 ele falou pra mim
181 L1 dez anos ... [
182 L2 dez anos...
183 L2 ele se considera como se fosse do movimento ... 184 L1 hum ...
185 L1 vai em todas as peregrinações ... 186 L2 éh só não foi pra Salvador ... 187 L1 éh:: eu também não...
188 L2 também com esse ônibus aqui ir pra Salvador ... [
189 L1 hum não dá [
190 L2 não dá ... 191 L2 aquele ônibus lá era enorme meu...
192 L1 aquele ônibus era muito bom tinha dois motorista [
193 L2 dois televisões... banheiro bem lá embaixo ... tudo aqui não vai ficá fedendo um pouquinho
((risos)) 194 L1 mais também 36 horas dentro de um ônibus cê queri o quê?
[
195 L2 horas de dormir colocava Titanic ((risos))
200 L1 hum hum pra todo mundo dormir mesmo... 201 L2 aquele filme era uma visagem? ..
202 L1 hum... aquele filme era o quê uma viagem (Sit. de diálogo 4) O diagrama que segue representa os espaços mentais da unidade de fala destacada:
/.../ é por que será que Manaus só manda pepino pra gen::te ((risos)) por que /como que a :: lavoura estragou ... faltou abóbora ... ((ruídos )) Puta cara mó comédia ... tinha varias engraçadas porque o ônibus do Rio desmonta porque foi contratado pelo 1406 legos mas você sabe porque que foi /que eles fez o 1406? a Julia me contou que o Padre Marcelo ligô e
:: contratô o ônibus e nem foi ver o ônibus ligô e contratô nem quis sabê tá ligado? por isso que falaram que foi contratado pelo sistema 1406 esse ônibus aqui ainda bem que a gente já conhece ... Edgard
DIAGRAMA 4 (1) (2) (3) (4) (6) (5) LEGENDA | (1) - Input 1 (2) - Input 2 (3) - Referenciador (4) – Determinação referencial (5) - Espaço de integração
conceitual (EIC) ou Estratégia de
(6) -Quadro de propriedades
Sistema Eletrônico de vendas
1406
Julia me contou que o Padre Marcelo ligô e contratô o ônibus e nem foi ver o ônibus ligô e contratô nem quis sabê tá ligado? por isso que falaram que foi contratado pelo 1406 Puta cara mó comédia ...
tinha varias engraçadas porque o ônibus do Rio desmonta porque foi contratado pelo 1406
Para os adolescentes a contratação do ônibus pelo 1406 teve um efeito humorístico com a critica social de que não se pode comprar nada sem antes ver
A contratação do ônibus pelo 1406 feita pelo Pde Marcelo causa grande insatisfação nos adolescentes, o ônibus estava em mal estado como os vários produtos de consumo comprados pelo sistema eletrônico 1406 na TV
Nessa unidade de fala, temos um tópico: a contratação do ônibus por telefone através do número 1406 contextualizado por um frame: piadas contextualizada por tinha várias engraçadas, e a partir deste frame o diálogo se desenvolve. Para associação feita pelos adolescentes no nível cognitivo entre a contratação do ônibus e o sistema eletrônico de vendas na TV é preciso remeter a um contexto sócio-cultural do nosso momento histórico. Sabe-se que alguns canais de TV vendem vários produtos pelo telefone 1406 (sistema eletrônico de vendas) e em geral esses produtos não deixam satisfeitos seus clientes quando estes os recebem pelo correio. Esse exemplo permite que se relacionem os processos de categorização à dimensão social, mostrando que os processos cognitivos relacionam-se diretamente com a atividade sócio- histórica dos indivíduos, não sendo apenas atividades de operação sobre percepções sensoriais.
Pela enunciação pode-se identificar a co-construção do referente 1406 (sistema eletrônico de vendas) por meio de relações cognitivas que constroem espaços mentais pelos quais se desencadeia a progressão tópica (ver números (5) e (6) no diagrama). Assim, a identificação do referente 1406 é feita através da correspondência entre as informações colocadas nos inputs e selecionadas após a mesclagem na memória de curto prazo (correspondência), conforme números (1) e (2) do diagrama. Logo, a fusão das partes de informações advindas dos dois inputs permite a seleção, uma vez que vai para o espaço de integração conceptual (EIC), sendo acionada por meio da projeção seletiva e dando origem a novos referentes: o ônibus era ruim, estava em mau estado, insatisfação dos adolescentes ,etc
Mantendo ainda a seleção das informações no frame piadas, as informações agora contidas no espaço de integração conceitual geram um outro espaço – quadro de propriedades (QP) –, o qual possibilita a ampliação de informações por inferência de outros referentes: um efeito humorístico e motivo de piada para os adolescentes, porém com a critica social de que não se pode comprar nada sem antes ver e pesquisar. Assim, o QP permite a expansão de informações, conduzindo a uma interpretação mais ampla a depender dos conhecimentos partilhados entre os interlocutores.
Podemos observar que as relações cognitivas ativadas pela expressão lexical tinha varias engraçadas porque o ônibus do Rio desmonta porque
foi contratado pelo 1406 no co-texto aciona os conhecimentos de mundo (prévios) armazenados na memória de longo prazo. Esses conhecimentos fornecem a interpretação adequada para o contexto. Nota-se que, após ser proferida essa expressão, um dos interlocutores introduz um pequeno comentário (leigos), que parece demonstrar não ter entendido "o ônibus ser contratado pelo 1406", o que ocasiona a explicação dada pela outra informante mas você sabe porque que foi /que eles fez o 1406? a Julia me contou que o Padre Marcelo ligô e :: contratô o ônibus e nem foi ver o ônibus ligô e contratô nem quis sabê tá ligado? por isso que falaram que foi contratado pelo sistema 1406 . Após essa explicação, a mesma informante que proferiu leigos anteriormente, diz esse ônibus aqui ainda bem que a gente já conhece, demonstrando ter entendido. Assim, a co-construção do sentido vai ganhando estabilidade, continuidade tópica e coerência .
A âncora representada pelo SN "excursão" não é explicitada no co- texto, encontrando-se na situação de enunciação que desencadeia esses tópicos de fala, e levando para o co(n)texto elementos que englobam o frame "excursão" como: porque o ônibus do Rio desmonta porque foi contratado pelo 1406/ esse ônibus aqui ainda bem que a gente já conhece / ele era da Urumpunga/ vai em todas as peregrinações/ éh só não foi pra Salvador .../ éh:: eu também não.../ também com esse ônibus aqui ir pra Salvador .../ aquele ônibus lá era enorme meu... aquele ônibus era muito bom tinha dois motorista.
6.3 Número de ocorrências dos tipos de anáfora indireta pronominal e nominal
A tabela abaixo apresenta todos os tipos de anáforas indiretas nominais e pronominais encontradas nas 4 situações de diálogo analisadas que compõe o nosso corpus. As anáforas indiretas nominais sustentadas pelos Modelos Cognitivo idealizado (MCI) são as anáforas baseadas em relações semânticas inscritas nos SNs definidos, as quais têm sua representação conceitual no texto falado por meio de construções lexicais como a metonímia, a metáfora, a hiperonímia, os nomes genéricos e o campo lexical. Essas anáforas são solucionadas e/ou interpretadas por estratégias cognitivas fundadas em
conhecimentos semânticos armazenados no léxico, ou seja, na memória semântica do falante. Por isso, são sustentadas por conhecimentos produzidos social e culturalmente, possibilitando o uso de um vasto conjunto de conhecimentos adquiridos na vida diária. Observamos que, para esse tipo de anáfora, inexiste uma expressão antecedente ou subseqüente explicita para retomada durante o desenvolvimento tópico: há a presença de uma âncora, ou seja, uma expressão ou contexto semântico que serve de base decisiva para a interpretação da anáfora indireta. Por isso, essas anáforas são ativadas pelo conhecimento do léxico mental.
Por outro lado, as anáforas indiretas sustentadas pelas Molduras Comunicativas (MC), ou seja, os frames, scripts e enquadres, constituem os tipos baseados em espaços mentais, inferências, esquemas cognitivos, nominalizações. As MC são fundadas em conceitos e exigem estratégias cognitivas baseadas em conhecimentos conceituais (enciclopédico ou de mundo) que operam configurações no evento, conhecimentos que, no ato da enunciação, permitem identificar o que está sendo posto em movimento na interação. Assim, a retomada de anáforas, por exemplo, só pode ocorrer através da ancoragem em representações mentais ou relações cognitivas encapsuladas em modelos mentais: frames, enquadres, scripts etc., ou por inferências no modelo de mundo textual.
TABELA DAS ANÁFORAS INDIRETAS NOMINAIS E PRONOMINAIS